Nota do autor: este live review foi escrito entre os dias 10 e 11 de abril de 2016 e postado originalmente nesta mesma época na nossa página do Facebook. Como nesta semana estamos homenageando o Accept com uma semana temática, achei legal repostar a resenha. Espero que gostem!
Se existe uma banda veterana que se encontra em uma fase tão excepcional, onde além de lançar discos que não devem nada para sua fase áurea, ainda é dona de performances ao vivo simplesmente arrasadoras e acima de qualquer ressalva, esta banda se chama Accept.
Os assisti no Monsters Of Rock em 2015, quando literalmente roubaram a cena e protagonizaram o que, para muitos dos presentes, foi a melhor apresentação do festival, mas isso não passou de uma pequena prévia do que aconteceria na noite do dia 08 de abril, no Carioca Club, em São Paulo.
A tradicional casa de shows situada na região de Pinheiros recebeu um ótimo público e, mais uma vez, demonstrou ser o local mais apropriado para apresentações de médio porte. A acústica é perfeita e de qualquer lugar da pista a visão do palco é excelente. Não houve banda de abertura, portanto, passando apenas alguns minutos das 19 horas, a introdução de “Stampede” começou a tocar nos falantes e o frenesi do público foi imediato. As cortinas se abriram e lá estavam eles, os grandes ícones Wolf Hoffmann e Peter Baltes, acompanhados por Mark Tornillo (o cara que deu nova vida a banda) e os recém integrados Uwe Lillis (ex-Grave Digger) e o novato Christopher Williams.

A sequência inicial com três faixas presentes nos últimos trabalhos, apenas confirmaram a receptividade extremamente positiva do público com a nova fase. A qualidade das composições ajudaram, já que “Stampede”, “Stalingrad” e “Hellfire” formaram uma trinca muito funcional e, principalmente, em “Stalingrad”, a interação com a plateia aconteceu de forma impressionante. Todos os presentes cantaram junto com Mark Tornillo, fato este que se repetiria diversas vezes ainda.
A tradicional introdução cadenciada de bateria e baixo anunciou a execução do primeiro clássico da noite e, diretamente do álbum “Balls To The Wall”, “London Leatherboys” contagiou a todos com seu refrão grudento. “Living For Tonite” foi a próxima a marcar presença, seguida da bombástica “Restless And Wild”. Desnecessário dizer que a casa quase ruiu com a execução destes hinos. Mais uma da chamada era de ouro foi tocada, “Midnight Mover”, e é notória a facilidade com que Mark Tornillo canta as canções originalmente gravadas por UDO Dirkschneider. O “novo” frontman faz com que cada clássico seja apresentado de maneira extremamente fiel e com uma performance impecável.

Duas do mais novo registro, o ótimo “Blind Rage” (2014), vieram para dar uma pequena revigorada na plateia. A tipicamente Accept, “Dying Breed” e a acelerada e detentora de um ótimo refrão, “Final Journey”, cumpriram bem o seu papel e serviram como uma ponte perfeita para uma das melhores composições da banda nesta nova fase, a candidata a clássico “Shadow Soldiers”.
O set list parece ter sido escolhido a dedo e a execução de “Starlight” fez com que os presentes entrassem numa maquina do tempo e voltassem diretamente ao ano de 1981, quando o álbum “Breaker” foi lançado. Mostrando a pré-disposição de tocar músicas marcantes de todas as fases, seguem com “Bulletproof”, do muitas vezes esquecido, “Objection Overruled” e, logo depois, a porrada “No Shelter”, do disco que marca o ressurgimento do grupo, o irretocável “Blood Of The Nations”.
Wolf Hoffmann durante todo a apresentação demonstra por que é reconhecidamente um dos maiores guitarristas do Heavy Metal. Sua presença de palco é absurda e, se nunca foi um músico extremamente técnico ou virtuoso, certamente, recebe nota máxima nos quesitos feeling, criatividade e carisma. Um dos pontos mais altos da noite estava para se iniciar e o experiente guitarrista seria o responsável por transformar o Carioca Club num misto de emoções e sensações. Os riffs que anunciavam a chegada de um dos maiores clássicos de toda a trajetória do Accept foram desferidos e todos ali presentes sabiam que chegava a hora de “Princess Of The Dawn” ser cantada em uníssono.

Foi necessário um tempo para se restabelecer depois de tal momento e, como perfeitos cavalheiros, a banda tocou duas canções mais amenas, porém não menos marcantes. “Fall Of The Empire” e “Dark Side Of My Heart”, antecederam o início da parte final do set, que começou com a matadora “Pandemic”. Podemos dizer que já se trata de um clássico e os fãs merecidamente a tratam desta maneira.
O final estava próximo e todos sabiam que alguns hinos máximos do Metal mundial ainda estavam por vir. Foi neste clima de expectativa que a introdução de uma das canções mais emblemáticas do Accept invadiu os auto falantes do Carioca Club para ser interrompida bruscamente pelo grito rasgado e potente de Mark Tornillo. Sim, chegava a hora de “Fast As A Shark”. A pista se transformou num verdadeiro inferno na terra e todos os presentes cantaram, gritaram, agitaram e foram a loucura.
Com a certeza de estar vivenciando uma noite totalmente atípica, os integrantes da banda saíram do palco com largos sorrisos estampados em suas faces. Após um breve instante, retornaram para um bis memorável que iniciaria com nada menos que “Metal Heart”. A canção é sempre uma das mais aguardadas pelos fãs e, como não podia deixar de ser, foi cantada a plenos pulmões pela plateia, que deu um show à parte ao interagir com Wolf em um dos solos de guitarra mais memoráveis de todos os tempos.

O bis ainda contou com “Teutonic Terror”, que devido sua aceitação, parece ser um faixa da década de 80. Para o fechamento, além de “Son Of A Bitch” com seu riff marcante, refrão forte e uma letra “feita para se cantar em família”, tivemos a música de maior sucesso da banda. “Balls To The Wall” incendiou pela última vez a pista do Carioca Club e fazer todos os presentes gastarem o seu último reservatório de energia.
Quem teve o privilégio de comparecer a algum show recente do Accept, sabe o quanto é prazeroso ver um grupo com tantos anos de estrada, tocar um set list com mais de duas horas de duração e não demonstrar nenhum sinal de cansaço. Mais uma vez, não investiram em apetrechos de palco, efeitos visuais ou qualquer outro artifício que pudesse tirar o foco da parte mais importante do show: a música.
Apresentação impecável, desta que é, certamente, uma das melhores bandas veteranas em atividade.

“Watch the damned, God bless ya
They’re gonna break the chains, hey
No, you can’t stop them, God bless ya
They’re coming to get you and then
You’ll get your balls to the wall, man
Balls to the wall“
Set List:
- Stampede
- Stalingrad
- Hellfire
- London Leatherboys
- Living for Tonite
- Restless and Wild
- Midnight Mover
- Dying Breed
- Final Journey
- Shadow Soldiers
- Starlight
- Bulletproof
- No Shelter
- Princess of the Dawn
- Fall of the Empire
- Dark Side of My Heart
- Pandemic
- Fast as a Shark
- Metal Heart
- Teutonic Terror
- 21. Son of a Bitch
- 22. Balls to the Wall