Lá se vão quase 50 anos desde que o Saxon iniciou suas atividades e ingressou na NWOBHM. Durante todo esse tempo, lançaram mais de 20 álbuns de estúdio, se transformaram em um dos nomes icônicos do estilo e o resto é história. Pense comigo, o normal para qualquer banda nestas condições seria estar encaminhando uma despedida dos palcos. E digo isso porque não é corriqueiro ver um grupo de Rock/Metal durar 5 décadas, ainda mais sabendo que não houve paradas ou longos hiatos. Mas é ainda mais difícil encontrar um que consiga ser relevante para a cena atual depois de tanto tempo.
Analisando este histórico, poderíamos pensar que “Thunderbolt” seja apenas um álbum ok, que foi feito para cumprir tabela, talvez um pouco burocrático e sem o pique de antigamente. Só que a realidade é outra. O Saxon está se lixando para padrões de normalidade e, mesmo com essa bagagem, podemos afirmar que o quinteto é a melhor veterana em atividade. Talvez dividindo o posto com o Accept e o Judas Priest. A empreitada em questão nesta análise demonstra uma banda com muito gás e disposição parecida com a de jovens sedentos e apaixonados pelo que fazem. Aliás, em espírito o Saxon jamais envelheceu!

Emersos no formol
Qual seria o truque para tamanha longevidade? Talvez este segredo jamais seja revelado, mas o que realmente nos interessa é que “Thunderbolt” é um disco com pedigree. Já faz bastante tempo que o nome Saxon é sinônimo de qualidade, porém as vezes os coroas conseguem se superar e apresentar um registro com aquele toque a mais de brilhantismo, e é exatamente o que podemos conferir nas 11 composições que integram este álbum.
A primeira observação relevante é com relação a diversidade musical encontrada no disco, há faixas velozes e cheias de energia, canções épicas com refrões grudentos e músicas mais cadenciadas, pesadas e com andamento mid-tempo. Pode-se dizer que “Thunderbolt” traz um mix muito interessante de quase tudo que o grupo já produziu em sua longa trajetória e, essa variedade, aliada a uma disposição de faixas bem assertiva, faz com que a audição não se torne cansativa em momento algum.
Este é um álbum que você escuta e o tempo parece passar mais rápido que o normal, tanto isso é verdade que ao chegamos ao final da última música, o pensamento que vem a mente é, “nossa! Já acabou?”.

Pé na porta!
A abertura com a introdução “Olympus Rising” culmina nas ótimas “Thunderbolt” e “The Secret Of Flight”, neste ponto a impressão é a de que teremos um disco conceitual e baseado na mitologia grega. A arte da capa desenvolvida por Paul Raymond Gregory deixa algumas pistas de que esta tese se confirmaria, porém a grande realidade é que temos alguns temas épicos ligados ao assunto, mas há também diversidade lírica acompanhando a variedade musical. Sobre as faixas, “Thunderbolt” é aquela composição tipicamente Saxon, com um riff inicial marcante e um refrão poderoso, enquanto isso, “The Secret Of Flight” possui um ritmo energético carregado de ótimas melodias que servem de base para a história de Ícaro, personagem mitológico que tenta deixar a cidade de Creta voando, mas que tem suas asas incendiadas e cai nas águas do mar Egeu.
“Nosferatu” traz um ritmo cadenciado e é repleta de ótimas climatizações. Em algumas poucas audições, o refrão “Nosferatu/ Creature of the night/ Nosferatu/ Darkness Kills the light”, ficará gravado no seu subconsciente e vai te fazer um enorme favor. Você nem vai perceber, mas estará cantarolando esta maravilha involuntariamente e finalmente poderá esquecer os funks que seu vizinho escuta no último volume.
“They Played Rock And Roll” é um capítulo á parte nesta audição, um dos maiores destaques do trabalho, sobre ela falarei mais detalhadamente adiante. O disco segue com a pesadíssima “Predator”, com riffs e linhas de guitarra que lembram um pouco o Accept na fase “Objection Overruled” e os vocais guturais de Johan Hegg (Amon Amarth), que se encaixaram inesperadamente bem junto com a voz de Biff Byford.
Mais alguns hinos para a coleção
Em “Sons Of Odin”, voltamos a ter uma canção épica e, sem demagogia, Biff ao longo dos seus quase setenta anos idade (na época), ainda canta muito e faz inveja a muitos novatos por aí. Depois desse hino (sim, essa faixa é um hino!), temos a veloz “Sniper”, com um riff fantástico e a energia necessária pra te fazer sacudir loucamente esse pescoço cheio de torcicolo.
“A Wizard’s Dream” nos traz uma dose de clichês, com alguns “ô ô ô’s” bem encaixados e uma letra que resgata Rei Arthur, Merlin, Lancelot e toda a Távola Redonda. Nos aproximando do final, “Speed Merchant” é despojada, possui linhas de guitarra e solos excelentes e, sejamos francos, se Biff é um fenômeno, Mr. Paul Quinn não deixa por menos e, juntamente com Doug Scarratt, formam aqui uma dupla impecável nas seis cordas. O fechamento deste belíssimo registro vem com “Roadie”s Song”, uma composição que nos remete ao início da carreira desses velhinhos fantásticos e encerra a audição com aquele gostinho de quero mais.

We’re Motorhead… and we play Rock and Roll!
Como prometido, vamos nos aprofundar um pouco em “They Played Rock And Roll”, a composição que mais me chamou a atenção em “Thunderbolt”. Todos sabem que está uma faixa que homenageia Lemmy Kilmister e o Motorhead, mas diferente de outras muitas homenagens (e sem menosprezar qualquer uma delas), o Saxon conseguiu realmente fazer algo digno, emocionante e, acima de tudo, verdadeiro.
A música é veloz, resgata o espírito indomável do líder do Motorhead e possui uma letra cheia de citações emblemáticas. É arrepiante escutar a voz de Lemmy no meio da canção repetindo a icônica frase “We’re Motorhead, and we play Rock and Roll!”. Parabéns ao Saxon por este tiro certeiro cheio de sentimento, homenageando um dos maiores ícones do Rock de todos os tempos!
Para concluir, e é impossível finalizar esta análise sem falar de produção, o trabalho do produtor Andy Sneap é fantástico. Todos as timbragens soam perfeitas e pode-se afirmar que Andy é “o cara” no que diz respeito em produzir bandas veteranas de Heavy Metal. Seu trabalho é consistente e seria muito interessante vê-lo produzir um álbum do Iron Maiden, afinal, se vem dando certo com Accept, Saxon e Judas Priest, por que não com a velha Donzela?
Nota: 9
Integrantes:
- Paul Quinn (guitarra)
- Biff Byford (vocal)
- Nigel Glockler (bateria)
- Nibbs Carter (baixo)
- Doug Scarratt (guitarra)
Faixas:
- Olympus Rising
- Thunderbolt
- The Secret of Flight
- Nosferatu (The Vampires Waltz)
- They Played Rock and Roll
- Predator
- Sons of Odin
- Sniper
- A Wizard’s Tale
- Speed Merchants
- Roadie’s Song
- Nosferatu (Raw Version)
Album impecavel de fato para mim o melhor desse seculo ,e bom do inicio ao fim a musica que mais curti foi “Nosferatu”, nao sabia que tinha uma homenagem ao lemmy no album isso e novidade para mim.