Metal Blade Records
O Midnight, one-man-band encabeçada por Athenar, está de volta aos nossos holofotes com um novo material. Trata-se do álbum “Let There Be Witchery”, quinto álbum de canções sujas, velozes e ríspidas, sempre voltadas para o Black/Thrash Metal, boas pitadas de Speed Metal e com uma veia bem Punk. Lançado no dia 4 de março via Metal Blade Records, “Let There Be Witchery” sucede o ótimo “Rebirth By Blasphemy” (2020). A arte de capa é assinada por William Lacey. Assim como mencionado em outros momentos, o título é uma combinação dos títulos das músicas “Let There Be Sodomy” e “Szex Witchery”, na qual Athenar mantem a tradição de usar seis sílabas.
O cavaleiro solitário da távola sombria é natural de Cleveland, Ohio, nos EUA. Com seu arsenal de cordas e percussão cheios de sujeira concentrada e adquirida via submundo do planisfério terrestre, Athenar busca manter o solo rachado e escaldante o suficiente para reerguer as forças do mal. Se o efeito da nova magia negra sonora é forte o suficiente para ser reconhecida e digna de consumo contínuo, isso iremos conferir a partir do próximo parágrafo.

O bar noturno em que cérebros sem uso são abatidos é um dos locais por onde a besta visita e, trazendo todo o inferno consigo, a trama inicial chamada “Telepathic Nightmare” se desenvolve, tendo como característica os riffs dissonantes e gordurosos, oriundos do consolidado Black/Thrash Metal, subgênero este que causa confusão até mesmo para os próprios músicos ao divulgar o estilo de som tocado pelos mesmos. Porém, tudo isso tem uma breve introdução aguda, harmoniosa e misteriosa, que cai como uma luva de ferro para Athenar liberar as feras dos dezoito portões do inferno, ou seja, um verdadeiro pesadelo telepático para quem já comprara a ideia de seu cavaleiro das sombras! Destaque também para os solos e diferenciais em meio a toda a poeira jogada no já rarefeito ar. Sem te deixar respirar temos em mãos e ouvidos o doce e flamejante néctar do sacrifício e alma castigada pelo destino cruel e obsoleto. Estamos falando de “Frothing Foulness”, faixa esta que conta com riffs sujos e simples em seu princípio, mas que continua a despejar todo o óleo da maldade, fritando e corrompendo a sua alma, defumando suas entranhas e cozinhando seu coração apodrecido pelo tempo. A levada possui momentos de pausas, elevando o discurso proferido por Athenar, enquanto enfeita o quadro de imagens grotescas com seu ríspido som. Solos de Metal com veia Rock n’ Roll, proporcionando uma boa ligação com o eterno Motörhead. A parte final é para acabar… E, já acabou? Sim! Estamos fechando a trinca inicial com “In Sinful Secrecy”, faixa com levada mais Speed de modo sujo e indo de encontro ao Venom de Cronos, além de carregar na lembrança o castelo de Lemmy em sua carcaça imunda. A profanação do útero e o deleite ao apreciar a carne da vulva tão suculenta abrem vantagem para a inalação (roubo da alma ao melhor estilo Shang Tsung de Mortal Kombat) do perfume de essência da vítima em êxtase frenético.
Cantemos juntos!
“In sinful secrecy we must remain
In sinful secrecy leaving a stain
In sinful secrecy others may know
In sinful secrecy prepare for below”

O plano de copulação segue em andamento, se alinhando e motivando novos detalhes a serem esclarecidos em meio aos acordes sujos e moribundos. O nome da “dádiva”? “Nocturnal Molestation”, que foi o primeiro single lançado pela cavalaria de apenas um corcel indomável! Está bom para você, pequeno girino dos sete lagos de acrílico? O alvo com suas madeixas jogadas ao vento parece estar gostando ao perceber que os apêndices começam a se contorcer diante da sonoridade oferecida. O espírito Punk acende a quarta tocha da caverna úmida e depilada, escorregadia e com o perigo de nunca mais sair de lá, aviso enfatizado pelo breve solo. Agora você tem a chance armada de escolher entre ser um anjo ou demônio. Não importa a sua escolha, pois você irá perder e eu também. Athenar também perde. Todos perdemos com esse tormento contínuo e irreversível. “More Torment” é ousada e começa de forma distorcida e cadenciada, dando um toque especial e nefasto ao disco. Momento de tormento e propício para novos experimentos, mesmo que dentro do padrão clínico do paciente tradicional. Os riffs principais lembram certos momentos de Zakk Wylde no álbum “Down To Earth” (Ozzy Osbourne, 2001), mais especificamente em faixas como “Facing Hell” e “Junkie”.
Após a diversão da madrugada regada a velhos pactos e sacrilégios, surge “Let There Be Sodomy” com a sodomia da mulher demônio, contendo inúmeros roubos de almas e julgamentos finais a sangue frio. Estava com saudade da correria desenfreada? Pois acontece a junção excelente entre o Speed e o Black/Thrash. Lembrando ao leitor que nesse caso são dois subgêneros, pois o Black/Thrash é um estilo híbrido e sólido. A velocidade exercida nos riffs, linhas de baixo corridas e bateria segura/constante, incluindo uma intensa sodomia que se eleva entre couro e rebites.
A introdução da próxima canção induz o ser impuro a seguir por um caminho que o seduz a ponto de se entregar para a figura demoníaca sedenta pela lascívia. Acrescentado a esse momento fervoroso, temos o pano de fundo ideal para mencionar em verso que com a mente depravada nenhum hímen é salvo e no sangue vaginal nos banhamos. Dedilhados que simulam o predador à espreita iniciam os compassos e entregam o bastão para uma parte mais Heavy, até que destoam para o tradicional Black/Thrash, com direito a notas harmônicas e slides para performar a canção, tornando-a “chique no úrtimo”. Os prazeres sombrios da carne corrompida te esperam lá embaixo ao seguir por um corredor estreito que se alonga, conforme caminha e se abre ao exibir à sua frente um salão oval. É lá que o demônio da perversão te espera. Conheça “Devil Virgin”. Não bastando a perversidade também nos deparamos com o o beijo de língua bifurcada dado pela serpente venenosa em “Snake Obsession”. É como uma injeção letal perfurando a carne e abalando as estruturas extra sensoriais em questão de poucas notas. Boa versatilidade, solos de deixar espíritos em frangalhos, e equilíbrio no peso são o segredo para a segurança por aqui.

No rodapé do alicerce predial temos mais duas peças importantes no cenário. São elas: “Villainy Wretched Villainy” e “Szex Witchery”, primeiro single lançado pelo exército da meia-noite de um homem só. Os cursos da danação danação foram lançados sobre os permanecentes e crescentes pensamentos de luxúria, o fascínio ao sádico, tudo isso indo de encontro a uma extravagante bruxa do leste (se for da Zona Leste de São Paulo, sabemos bem como funcionam tais poderes) O “Z” entre o sexo do título da canção serve para evitar maiores conflitos dentre os que já existem e une a trama nada apaixonante e puramente luxuriosa, pífia, patética, pênalti à brasileira… A primeira declara o baixo como melhor ator coadjuvante deste curta metragem. Mais vagarosa, tornando o novo álbum bem diversificado, explora mais a criatividade do músico ao mesmo tempo em que este se aproveita com propriedade dos momentos propícios para os solos de guitarra, todos em ótimo estado de composição. Quanto ao single, o mesmo segue em boa velocidade na pista de lava, enchendo as alamedas com o mais sujo Speed/Heavy sem medo de ser infeliz (no melhor dos sentidos!). E quanto aos solos? Mais uma vezes são muito bem encaixados e executados, sem ressalvas. Depois ainda tempos uma mudança de andamento feita através de um cadenciado dedilhado, brevemente se assemelhando à clássica introdução da fantástica “South Of Heaven”, faixa do magistral, inesquecível e homônimo álbum lançado pelo glorioso Slayer no ano de 1988. E se lembra coisa tão boa assim, mesmo que de relance, é para ser apreciada com a devida atenção.
Se vai lavar a louça enquanto escuta o novo disco do Midnight, lave e enxugue como gente responsável e ouça o álbum com calma para não correr o risco de bater a testa de amolar serrote na torneira, correndo o risco de rachar o globo e quebrar o cano, ou seja, destruindo a sua cozinha. Se tomar cuidado, poderá ingerir umas naquele bar em que a besta costuma degustar seus drinks semanais, citado no início da nossa prosa.

Observações:
Apesar do tema simplório apoiado pela sujeira característica do estilo de som praticado pelo Midnight, as peças se encaixam e ditam um ritmo muito bom, valorizando o novo trabalho que conta com ótimos momentos e diferenciais específicos que funcionam a ponto de deixar o álbum bastante original, mesmo sem ser tão potente quanto o disco anterior. A linhagem pútrida segue firme em pauta e os fãs podem agradecer. Afinal, o Midnight tem muito a oferecer por anos a fio.
“Witch of east extravagant
The powers you give will
Possess me eternally, eternally
Bestow to me szex witchery
Szex witchery”
Nota: 8,6
Integrantes:
Athenar (todos os instrumentos)
Faixas:
1. Telepathic Nightmare
2. Frothing Foulness
3. In Sinful Secrecy
4. Nocturnal Molestation
5. More Torment
6. Let There Be Sodomy
7. Devil Virgin
8. Snake Obsession
9. Villainy Wretched Villainy
10. Szex Witchery
Redigido por Stephan Giuliano