A história sobre o rompimento do Sepultura com o vocalista/guitarrista Max Cavalera ocorrida em 1996 é amplamente conhecida dentro do universo do Heavy Metal. Ao mesmo tempo, diversos pontos são nebulosos e nunca foram totalmente esclarecidos. Muitos fãs especulam o que de fato aconteceu nos bastidores, mas a resposta segue dúbia.
Cada vez que os músicos resolvem falar abertamente sobre o tema, percebemos novas nuances e indicações do que de fato se passou naquela época. E cada vez mais, entendemos que ambas as partes tinham suas parcelas de razão e, obviamente, suas parcelas de culpa.
Em uma nova entrevista concedida a Benjamin Back, do podcast Benja Me Mucho, o guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, falou novamente sobre este período conturbado da carreira da banda.
Andreas falou sobre a demissão da empresária Glória Cavalera, bem como sobre a saída de Max e os motivos que levaram a tal desfecho. O ponto mais interessante é certamente quando Andreas menciona uma briga de egos e assume que ele também tinha o ego inflado.

Preste atenção nos detalhes e tire suas próprias conclusões. Andreas começou dizendo o seguinte:
“Pô, quando nós mandamos a Glória Cavalera embora da banda, que o contrato dela tinha expirado, isso foi em dezembro de 96, quando o Max decidiu sair da banda junto com ela. Quando a gente recebeu as finanças, era uma caixinha de sapato com três talões de cheque e uns papeis. Eu falei, ‘mano, what the fuck? É isso?’. Então a gente teve que reconstruir tudo do zero, praticamente. Não só essa parte financeira, mas toda a estrutura da banda de criar uma empresa nova e fazer o negócio direito, como a carreira musical, achar outro empresário, outro vocalista…”
Questionado sobre tudo isso não ser nada fácil, Andreas prosseguiu:
“A gente não perdeu só o Max, né? A gente perdeu toda a estrutura que a gente demorou 10 anos pra construir até aquele momento. E como a gente começou do Brasil, e depois as coisas começaram a crescer muito rápido, na verdade, de 92 a 96 o negócio (fez um gesto de explosão), do ‘Arise’ pro ‘Roots’ foi assim (fez o gesto de uma subida vertiginosa). Em pouco tempo eu tava com uma casa em Phoenix gigantesca, com piscina e tudo mais, indo e vindo pro Brasil.”
Benjamin Back perguntou se nessa época, Patrícia (a esposa de Andreas) precisou virar para ele e dizer, ‘abaixa a bola’?
“Várias vezes. A Patrícia me salvou. Totalmente. Ela falava, ‘volta pra casa’. Porque você tá esperando a sua toalha no camarim, né? ‘Cadê meu drink?’ (risos). Você se acostuma com esse ritmo e aí você chega em casa e acha que é a mesma coisa. Então, a Patrícia realmente me botou no chão. Isso foi fundamental pra mim, pra ter esse equilíbrio, de voltar pra casa, de cuidar da família, de levar filho e buscar na escola e ir lá no banco pagar conta, enfim, fazer as coisas do dia a dia. Isso foi muito importante principalmente naquele período.”

Adiante, Kisser foi questionado sobre a rotina das bandas, assim como sobre e o convívio entre os músicos. Neste ponto, o guitarrista disse o seguinte:
“Você passa mais tempo com a banda do que com a própria família. É foda. Eu acho que é até mais difícil do que um casamento. Porque no casamento o fator ego acho que não entra tanto quanto numa banda. O ego é foda, pô, querer aparecer. Teve umas épocas que tava aparecendo na capa da revista o Max e o filho dele (em tom de incômodo). Tipo, mano? (tom questionador) Qual o contexto desse negócio, sabe? Assim, de você ter uma representação daquilo que acontece realmente, né? E isso foi muito problema.
Cara, eu incluo meu ego também. Não tô falando que eu sou santo e nem nada.”
Questionando se houve momentos em que o próprio ego inflou, Andreas diz que sim:
“Sim, óbvio, mano! E não me arrependo de nada. Porque é uma coisa de defender o seu ponto de vista, seja ele errado ou certo. Cada um vai definir isso ou não. Essa coisa de sentar numa mesa pra resolver um problema, vai ter que ter sempre um juiz ou alguma pessoa de fora pra falar: ‘ó, é isso ou é aquilo’. Porque nós mesmos nunca vamos chegar num consenso, você tá vendo seis e eu to vendo nove.”
Percebendo o momento, Benjamin Back questiona se não seria o empresário que põe os pingos nos i’s nesse tipo de situação. Andreas responde:
“Empresário também faz um jogo, né? Ele sabe como conversar com o Andreas Kisser, ele sabe como conversar com o Max Cavalera. E sabe conversar com o Paulo e com o Igor. Cada um tem um jeito e o empresário que souber mexer melhor com isso… enfim, até hoje é assim. Nós temos hoje quatro empresários que funciona muito bem.”
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Assista a entrevista na íntegra: