Quatro anos após a chegada do bem recebido álbum autointitulado em 2021, o Helloween ataca novamente com “Giants & Monsters”, décimo sétimo disco de estúdio e segundo com a formação estendida que apresenta os dois membros clássicos, Kai Hansen (guitarra/vocal) e Michael Kiske (vocal), somando forças com Andi Deris (vocal), Michael Weikath (guitarra), Sascha Gerstner (guitarra), Markus Grosskopf (baixo) e Dani Löble (bateria).
O álbum foi lançado no último dia 27 de agosto (no Japão) e 29 de agosto (no resto do mundo), através do selo Reigning Phoenix Music. Se você andou vendo por aí afirmações sobre não se tratar de um disco de Power Metal melódico, esqueça completamente esse tipo de análise tresloucada. “Giants & Monsters” é majoritariamente Power Metal. E nem poderia ser diferente, já que a época de experimentações se resumiu a um único registro polêmico lançado há mais de 30 anos atrás. O famigerado “Chamaleon” (1993) gerou críticas negativas, brigas internas, demissões e, além do mais, a própria banda o renega veementemente. Não teria o menor cabimento se arriscar novamente neste ponto da carreira, e a banda não fez isso, fique tranquilo!

Um álbum de Power Metal com o padrão Helloween de qualidade
Devemos nos lembrar que as mudanças mais ousadas que os alemães fizeram — tirando “Chamaleon” da equação, obviamente — foi compor um disco um pouco perdido depois da saída de Kai Hansen — “Pink Bubbles Go Ape” (1991) — e depois adicionar camadas maiores de peso em “The Dark Ride” (2000). E foi apenas isso. Dos 17 trabalhos de estúdio apenas 1 muda o foco do Power melódico e 2 possuem nuances um pouco diferentes, mas com as principais características musicais intactas. “Giants & Monsters” é um disco padrão do agora septeto, com todos aqueles elementos e padrões amplamente explorados no passado. Está tudo presente e absolutamente nada é capaz de causar estranhamento aos fãs que acompanham os lançamentos do grupo há mais tempo.
O novo álbum do Helloween é mais simples e menos elaborado que o anterior, mas isso não significa que é pior ou melhor. Se compararmos os dois trabalhos, chegaremos a conclusão que são diferentes, mas carregam o mesmo tipo de sonoridade. De alguma forma, a banda conseguiu se destacar desta vez fazendo músicas mais simples, e isso podemos colocar na conta dos ótimos compositores que integram a atual formação. Há faixas de Michael Weikath, de Andi Deris, de Sascha Gerstner e, a cereja do bolo, há mais participações de Kai Hansen. Se em “Helloween” (2021), apenas uma canção foi creditada a Kai, em “Giants & Monsters” temos três músicas do todo poderoso papai do Power Metal. E sim, isto fez a diferença.

Respeitando a própria história
Para quem se incomoda com faixas mais alegres, comerciais ou voltadas ao Hard, precisamos lembrar que esta é uma das principais características da banda. Desde os primórdios, ao mesmo tempo que podíamos encontrar composições complexas, também estavam lá as faixas despojadas. A mesma banda que gravou “How Many Tears”, “Halloween”, “Keeper Of The Seven Keys”, “Mission Motherland”, “Revelation”, “The King For A 1000 Years” e outras, também é dona de músicas como “I Want Out”, “Dr. Stein”, “Why?”, “Perfect Gentleman”, “I Can”, “Hey Lord”, “Mrs. God” e “Waiting For The Thunder”.
Esperar um disco novo do Helloween sem esse tipo de composição é pedir para se decepcionar. E diga-se de passagem, a chance dos caras abordarem somente um tipo de musicalidade é quase nula. Este não é o habitual e, sendo assim, prepare-se, pois “Giants & Monsters” tem de tudo um pouco. O Power Metal veloz com bumbos duplos na velocidade da luz, especialidade de Weikath, o Power Metal épico trabalhado e técnico, especialidade de Kai Hansen, a balada clichezuda e o Hard farofa, especialidades de Andi Deris, e ainda houve espaço para que Sascha Gerstner se aventurasse pelo reino dos “Keepers Of The Seven Keys” e outras surpresas que vamos comentar de maneira mais detalhada à seguir.

O “Happy Happy Helloween” está de volta!
O tracklist inicia com uma grande surpresa, “Giants On The Run”, a primeira criação que reúne Andi Deris e Kai Hansen como dupla de compositores. Talvez cause estranhamento por ser a faixa de abertura e não se encaixar naquele padrão de música veloz e frenética, mas alguns pontos precisam ser destacados. O primeiro é que Andi é ótimo em refrões de Power Metal, e temos um realmente bom aqui, mas não podemos esquecer das partes com os vocais de Kai Hansen. E são várias essas partes.
O homem dá as caras de verdade em “Giants & Monsters” e aparece cantando em trechos de várias músicas. Devemos dizer que sempre com algum destaque especial ou proporcionando aquela parte diferente que só ele sabe fazer. Apesar de ser um Power padrão, é daquelas que mudam de ritmo várias vezes e você fica na expectativa do que vai acontecer à seguir. Como eu desconfiava, é uma faixa que cresce demais nas audições posteriores e quanto mais você ouve, mais você gosta.
“Savior Of The World” chega em seguida e, agora sim, é a hora da porrada Power. Weikath é especialista neste tipo de música e, obviamente, ele não nos decepcionaria. Música bem clichê, mas que ainda funciona uma barbaridade. Todos os vocais principais são de Michael Kiske e, só por isso, a musicalidade já remete à fase “Keepers”.
Subindo e descendo a montanha russa de emoções
“A Little Is A Little Too Much” é aquele Hard padrão Deris, mas com um dueto mais do que bem vindo entre ele e Michael Kiske. Possui um refrão chiclete de excepcional inspiração, além de linhas de teclado muito boas. Apesar das músicas serem muito diferentes, não pude deixar de me lembrar de “If I Could Fly”, por causa de ter quase um riff de teclado guiando as bases de guitarra. O clipe compartilhado no dia do lançamento é daqueles vídeos brincalhões que o Helloween sempre usou e abusou. A conotação da música é meio sacana/sexual e remete as primeiras experiências de Deris na adolescência, quando ele ainda apenas sonhava em fazer sexo, mas não sabia como seria de verdade. Veja:
De um universo a outro, saímos de uma faixa festeira para nos lembramos que não é só Michael Weikath que sabe compor aquele Power Metal veloz que tanto amamos. Kai Hansen é outro expert na matéria e “We Can Be Gods” é outra porrada neste modelo de música que o próprio Helloween ajudou a inventar. Nela temos logo no início um riff característico de Kai Hansen, além de um grito visceral — também de Kai. Logo depois, é Michael Kiske quem assume como cantor principal, mas em diversos trechos, ouvimos Kai cantando e, mais uma vez, acertaram em cheio nessa. O refrão é muito bom e os solos chamam a atenção, lembrando um pouco dos ótimos momentos do Gamma Ray.
Especialidades da casa
Mais uma vez, somos direcionados de um ponto a outro dentro das muitas especialidades dos alemães. Chegamos na baladinha “Into The Sun” e, agora sim, podemos dizer, finalmente temos uma bela balada com esta formação estendida! É verdade que “Into The Sun” já era para ter sido lançada no álbum anterior, mas Andi Deris não gostou do resultado final naquela época e achou que era necessário trabalhar um pouco mais na canção. Quatro anos depois, aqui está ela, retrabalhada, rearranjada e pronta para abalar corações dos baladeiros de plantão.
Segundo Michael Kiske, existe pelo menos mais duas outras versões gravadas desta música, uma somente com Deris nos vocais e outra apenas com a voz de Michael Kiske. Em algum momento estas variações devem receber lançamento adequado pela banda, mas que fique registrado, esta presente no álbum é simplesmente ótima.
“This Is Tokyo” é a próxima e, apesar de várias pessoas terem reclamado de seu direcionamento Hard quando a mesma foi apresentada como single, é aquela típica música de Andi Deris com refrão pegajoso e solo sensacional de Kai Hansen. Nada que nunca tenhamos visto em algum álbum do Helloween. O detalhe é que seu posicionamento no tracklist fez com que ela crescesse muito e, com isso, ganhou um brilho extra na audição do álbum completo.
Sascha em foco
Chegamos em “Universe (Gravity For Hearts)”, uma música padrão “Keeper Of The Seven Keys”, portanto, outro Power Metal melódico para a conta. O adendo é que esta foi escrita por um integrante que sequer sonhava em estar na banda na época em que os álbuns foram lançados. Esta é surpreendentemente uma canção de Sascha Gerstner e, sem dúvida, trata-se de uma das melhores contidas em “Giants & Monsters”. Aliás, é uma das melhores que o Helloween gravou nos últimos tempos.
Detentora de vários elementos clássicos da banda, entre eles o riff inicial e as linhas vocais soberbas de Michael Kiske. O refrão é um absurdo de bom e aquele trecho com ritmos diferentes e vocais meio malucos de Kai Hansen são um deleite que remetem diretamente àquelas brincadeiras musicais feitas nos primórdios.
“Hand Of God” é outra música de Sascha, mas desta vez o guitarrista propôs algo bem diferente. Podemos dizer que trata-se da composição mais fora dos padrões do Helloween em todo o álbum. É cadenciada, mas não chega perto de ser um Hardão festeiro e, além disso, possui uma abordagem mais séria.
Apesar de não se parecerem musicalmente, me lembrou “Handful Of Pain” do álbum “Better Than Raw”, não pela criação em si e nem sequer pelas melodias, mas por ser o momento diferentão daquele disco. Precisa de mais audições para que se possa absorver a proposta, mas vale a pena investir.
Do despojo ao Power épico
Perto do fim temos o velho “happy happy Helloween” dando as caras com “Under The Moonlight”. Esta é a faixa mais descompromissada, festeira, engraçada e cheia de levadas alto astral. É onde o grupo aperta o “botão do foda-se” e você percebe que eles fizeram isto simplesmente para se divertir como nos velhos tempos.
E se a proposta aqui é diversão, dá para afirmar que acertaram em cheio. Música muito bacana e que remete a coisas como “Livin Ain’t No Crime”, algumas faixas de “Pink Bubbles Go Ape”, além de “A Little Time”, “I Want Out” e outras com este mesmo tipo de sonoridade.
Ainda me impressiona ver que muitos ouvem os discos do Helloween e esperam uma banda séria. E olha que desde sempre os caras possuem este lado irreverente aflorado. Música que representa a alma da banda e, portanto, necessária no track.

Para encerrar, “Majestic”, a “canção Kai Hansen” do álbum. O que isto significa? Bem, é simples. Significa que trata-se de longe da criação mais trabalhada, apresenta diversas viradas, mudanças rítmicas, trechos épicos, muitas camadas vocais, solos mega elaborados… enfim, papai Hansen nos presenteando com aquele tipo de som que ouvimos e na mesma hora percebemos a influência do músico pesando na composição.
Um Power Metal épico com pouco mais de 8 minutos de duração, um refrão classudo e participação com destaque de todos os 7 integrantes da banda (uau!). É aquela faixa que você vai dar vários repeats e, possivelmente, vai ficar se pensando se “podia ter mais umas duas neste mesmo molde no track”, exatamente como vimos em “Skyfall” no registro passado.
O mais do mesmo que dá certo
Em “Giants & Monsters”, o Helloween nos concede mais uma porção caprichada daquele mais do mesmo saboroso que nunca enjoa. A fórmula está há anos por aí, e foram eles mesmos que a inventaram. Reza a lenda que o segredo está em não abusar na dose e diversificar os velhos elementos com sabedoria. Parece que esses caras são experts nisso.
Disco de fácil absorção e com diversas faixas com potencial para se tornarem presenças garantidas nos shows. Ao que tudo indica, esta formação realmente conseguiu se alinhar e, contrariando muitas previsões, deve se manter em atividade por muitos anos ainda. Tudo parece estar funcionando bem e, é claro, sentimos o reflexo disto na música.
Álbum para ouvir de cabo a rabo e um dos candidatos a melhor do ano na categoria Power Metal. Se bem que… dependendo de onde você estiver buscando informações é capaz de tentarem te vender a ideia que o Helloween abandonou o gênero e agora está investindo no AOR. MUITO CUIDADO!
Nota: 9
Integrantes:
- Kai Hansen (guitarra/vocal)
- Michael Kiske (vocal)
- Andi Deris (vocal)
- Michael Weikath (guitarra)
- Sascha Gerstner (guitarra)
- Markus Grosskopf (baixo)
- Dani Löble (bateria)
Faixas:
- 01 “Giants on the Run”
- 02 “Savior of the World”
- 03 “A Little Is a Little Too Much”
- 04 “We Can Be Gods”
- 05 “Into the Sun”
- 06 “This Is Tokyo”
- 07 “Universe (Gravity for Hearts)”
- 08 “Hand of God”
- 09 “Under The Moonlight”
- 10 “Majestic“