Quando se lembra da banda alemã de Thrash Metal, Necronomicon, é automaticamente inserido à pauta o debut autointitulado, e por menos vezes o segundo álbum que atende por “Apocalyptic Nightmare” (1987). Mas, a banda parou por aí? Não há mais nada de relevante para o dito fã de Metal além disso? Ou será que o marketing quase nulo e a falta de interesse do público fez com que “Escalation” ficasse soterrado nas areias do esquecimento?
Seja qual for o motivo, o fato é que algum potencial esse disco possuía para alçar voos pouco maiores que os costumeiros. Isso ocorre muito por conta do fã que só se atenta aos dois primeiros trabalhos de uma banda, dando a entender que, a partir do terceiro ato não funciona mais, ou sendo mais enfático, não presta mais. O Necronomicon é o tipo de banda que pode ser comparada a outras bandas compatriotas de mesmo porte e pouco espaço conquistado à época como Living Death, Darkness, Deathrow, Violent Force, Accu§er e outras. Ao mesmo tempo é considerada cult por conter um material rico, na qual quem se arrisca a desvendar os mistérios de sua discografia, acaba por colocar em seu catálogo de bandas das quais o indivíduo aprecia.

Falando sobre “Escalation”, aquele que fecha a trinca inicial de discos dos germânicos, este foi lançado em outubro de 1988 pelo selo Tales Of Thrash e apresenta uma capa diferenciada, que lembra muito os traços contidos em HQ’s. O álbum foi masterizado no SST Brüggemann GmbH, tendo a produção assinada pela própria banda, juntamente com Robert Baumann. E se o ano em questão era 1988, o que de fato estava ocorrendo com relação ao Thrash Metal mundo afora? Fácil não era se for pensar em competição, tanto em vendas de discos quanto em agendas de shows. Afinal, as lendas que conhecemos e admiramos, estavam reinando com toda pompa nessa época.
A inauguração de “Escalation” acontece através de “Death Toll” e “Black Frost”.
A primeira estocada de lança pontiaguda e afiada acontece após o início da balada mortal do sino entristecido pelas perdas nas guerras. O sonar guitarrístico é ligado e o pulsar da bateria é acionado para que seja disparado o canhão do contrabaixo. Tudo perde o controle do modo mais insano e visceral após a entrada do refrão, que termina em um solo, além do próprio baixo entrando em ação com completo destaque. Uma abertura de cortinas para ninguém botar defeito! Os backing vocals ressoam de forma enérgica e magistral. Mudanças de andamento tornam a canção mais encorpada, o que garante mais solos até o seu final, sempre inserindo linhas de baixo tão na linha de frente que podem ser confundidas como solos também.
O segundo arremate contra o oponente surge com a chegada de uma geada negra e sombria. Seguindo o almanaque da proposta do disco, a velocidade se faz presente com riffs potentes, refrãos rápidos e rasteiros. Diferente de sua antecessora, esta opta pela cadência no procedimento, porém sem se perder durante a queda brusca de orvalho congelado. Entre a introdução e o início avassalador em termos de ataque incisivo, temos o que pode ser chamada de segunda introdução, aquela em que os instrumentos convocam a presença do público para abrir a roda da morte e desenterrar toda sua revolta. O trio de ferro, Freddy, Axel e Jogi, mostra a destruição que um power trio diabólico pode ocasionar. Embora o refrão utilize a mesma forma de sua antecessora, tanto a canção quanto os solos são mais breves.

Na sequência temos “Dirty Minds” e “Skeletal Remains”.
Temos aqui uma catapulta arremessando duas bolas de fogo imponentes e escaldantes, onde a primeira delas incendeia as mentes mais densas e sujas presentes no recinto. Com a alma Rock ‘n’ Roll, a mente insana de Freddy simula algo que só pode ser contado ou visto depois das 22h. Os vocais rasgados dão lugar a uma linha mais Hard e cheia de sarcasmo. Os solos acompanham esse ritmo mais despojado e engraçado. Baixo e bateria seguram a faixa pelas mãos e levam a mesma até o outro lado da rua em segurança, assim encontrando a parte mais Thrash do caminho.
Já a subsequente acerta em cheio o alvo, deixando apenas o rastro dos restos esqueléticos pelo caminho. Conforme manda a regra do Thrash direto ao ponto, a intro acontece de forma breve e a sonoridade descamba para o Thrash germânico autêntico e triturador de ossos vitaminados por gororobas cheias de música que não presta. Os solos curtos funcionam e caem como uma luva de boxe para desferir jabs nos corpos ocos e sem alma presente.
“Skeletal Remains (Skeletal!)!
Skeletal Remains!
Skeletal Remains (Skeletal!)!
Skeletal Remains!”
“Murder Of Profit” é a quinta escalada na montanha germânica. Lá do alto pode-se avistar um lucrativo assassinato causado por uma intervenção sonora crescente, que amplia o seu campo gravitacional, sufocando e pressionando sua vítima ao solo. Os vocais anunciam a chegada da mesma, logo seguidos pela guitarra, até que todo o alicerce é fortalecido. A trama é desenvolvida pelas baquetas velozes de Axel, que se utiliza dos poderes de seus pedais duplos para promover mais um som ríspido e espontâneo. Os solos aumentam a velocidade e a energia da faixa, sempre deixando os moldes prontos para a aparição do baixo durante a jornada. Seu final se assemelha ao término de uma canção ao vivo, sendo que esta já emenda com…
“… And The Night Will Be Silent”, sendo a sexta aparição da assombração devota do Thrash Metal. Os primeiros riffs cavalgados entregam de cara o que está por vir. O trem-bala pega impulso e segue trilho afora a todo vapor. O atropelamento contínuo diz que será uma noite silenciosa após o massacre. Os riffs promovem algo próximo do Speed Metal, mas que pertencem totalmente ao seus moldes tradicionais. Os backing vocals inclusos nos refrãos ajudam sempre a tornar o som mais ríspido do que poderia aparentar. Variações, pausas e dedilhados formam os diferenciais do som, além dos solos que podem ser colocados como os melhores do álbum. O desfecho final coloca novamente a banda em alta frequência.

A penúltima canção possui um nome bem peculiar que lembra certo rei do Pop. O nome da convocada é “Mosh The A B C”. Agora fica mais claro sobre quem estou mencionando nas entrelinhas, não é mesmo? Em se tratando da canção do Necronomicon, esta não guarda muitos segredos não. Ela é do tipo, “abra a caixa de ferramentas e se divirta”. Ou seja, sem firulas e direta ao ponto. Não existem novidades quanto ao seu formato e uso dos refrãos curtos com vocais de apoio, apesar dos versos para a segunda voz serem maiores que o das outras canções. Sua duração é o mesmo que um piscar de olhos e mesmo assim, carrega um dos melhores dedilhados do disco, além de ótimos solos iniciados aos 50 segundos de música. O final é emendado por uma sátira de circo, finalizando a atração em pouco mais de 2 minutos de som de qualidade exemplar. O A B C do mosh foi passado aos alunos com sucesso.
Encerrando o domínio territorial temos para degustação, “Cold Ages (Darkland III)”, com um belo dedilhar de violão, acompanhado levemente pela bateria, na qual tudo isso é transportado direto para o verdadeiro som dos cidadãos de Lörrach, Baden-Württemberg. As Eras congeladas começam a derreter suas calotas polares através de riffs incessantes e capazes de provocar rachaduras no cérebro de quem não aguenta cortes secos e sequências como navalhas de seis cordas ultra afiadas. O andaime montado para mais essa façanha sonora segue firme e com a bússola inspiradora voltada para seus compatriotas do Iron Angel, Kreator, Living Death e os “estrangeiros” do Megadeth. Os solos variam entre os mais velozes aos mais versáteis, intuitivos e cativantes. A agressividade retoma o percurso para fechar a obra esquecida por muitos com a maestria de uma excelente banda de Thrash Metal. Sim, os melhores solos estão por aqui e são os mais extensos de todo o álbum. O fim vem à apoteose com a consagração vinda dos aplausos do povo da terra obscura, gélida e misteriosa.
Considerações finais e informações adicionais:
Vimos de fato que o terceiro álbum dos alemães possuía a capacidade não só de aprumar a embarcação, mas também de ampliar o seu alcance com relação ao público, quesito esse não explorado à época. Isso aconteceu com milhares de bandas ao redor do mundo, e vale ressaltar que “Escalation” foi lançado no mesmo ano de “The Mourning After”, terceiro álbum do Tankard, além do segundo álbum do Darkness, “Defenders Of Justice”, o debut do Protector chamado “Golem”, entre outros, se livrando da concorrência de peso de Destruction, Kreator e Sodom, ambos com álbuns lançados um ano antes. A estratégia parecia assertiva, porém a banda a ficou perdida na neblina do esquecimento e hoje em dia, este que fecha a primeira trinca de discos é tido como cult pelos fãs garimpeiros do Metal. Ou seja, um grande clássico injustiçado do underground mundial.
“Cold Ages (Darkland III)” é o terceiro capítulo da saga “Darkland” que teve início no debut autointitulado, lançado em 1985. Portanto, tivemos “Darkland” em “Necronomicon”, “The Following Century (Darkland II)” em “Apocalyptic Nightmare”, e finalmente, “Cold Ages (Darkland III)” em “Escalation”.
As canções do lado A foram compostas por Freddy e as lado B por Jogi. E o sobrenome do excelente baterista Axel é muito divertido de se pronunciar. Confira a seguir e se divirta também, caso ainda não saiba!
Nota: 8,9
Integrantes:
- Volker “Freddy” Fredrich (vocal, guitarra, vocal de apoio, baixo)
- Jürgen “Jogi” Weltin (guitarra, vocal de apoio, baixo)
- Axel Strickstrock (bateria)
Faixas:
1. Death Toll
2. Black Frost
3. Dirty Minds
4. Skeletal Remains
5. Murder Of Profit
6. … And The Night Will Be Silent
7. Mosh The A B C
8. Cold Ages (Darkland III)
Redigido por Stephan Giuliano