Antes mesmo de ser lançado fisicamente, “Brasil Visceral” (2025), o novo disco dos mineiros do Drowned, já figurava como um dos lançamentos mais provocadores do underground nacional ao lado dos últimos trabalhos do Ratos De Porão, Dorsal Atlântica e Manger Cadavre.
Quem ouviu ou se só acompanhou as notícias relacionadas aos trabalhos citados acima já sabe bem do que estou falando.
Passando seu recado de forma visceral
Ainda na fase de divulgação iniciada em 2024, a cada um dos dez vídeo clips promocionais que iam para o ar, o grupo passava por críticas por parte de algumas pessoas que se sentiam incomodadas pelo seu conceito abertamente contra o governo Bolsonaro e principalmente a tríade “Boi, Bala e Bíblia” (nome dado a bancada do Congresso Nacional que representa os interesses de grupos ligados ao agronegócio, em prol da desregulamentação do controle de armas e das pautas conservadoras das religiões neopentecostais, respectivamente). Curioso é que grande parte dessas críticas virtuais vieram de pessoas do próprio meio do Metal.
Não que precisasse se justificar, mas no encarte esclarecem do que o disco trata:
“É um álbum que retrata um Brasil eternamente em construção, mas que enquanto não superar sua visão tacanha, não souber dar fala e respeitar os diferentes, sem discursos totalitários, sem falsos patriotismos (e muitos se expressam em inglês para ferir o próprio país que dizem defender), não irá evoluir”.

Ou seja: “Brasil Visceral” (2025) é um disco com viés político? É sim. Seu conteúdo vai desagradar tanto parte do público, quanto da mídia que cobre o Metal? Com certeza. A banda está preocupada com isso? Nem um pouco. Já se vão 30 anos de estrada, nove discos lançados e experiência suficiente para saberem das tretas que teriam pela frente ao abordar de forma tão crítica determinados temas.
Ame ou odeie
Para passar suas duras mensagens, pela primeira vez, todos os vocais foram gravados em português. Ou seja, mesmo gritados/urrados, para o Drowned não basta que as pessoas escutem, elas devem compreender o que é dito, concorde ou não – direito de todos que o grupo deixou bem claro em vários posts ao lidar com as críticas. A mudança das letras do inglês para o português não aliviou em nada o peso do Thrash/Death Metal do grupo e ainda facilitou a eles passarem suas mensagens de forma tão visceral (perdoem o uso do termo).
E se nas letras o Drowned não poupou ninguém, posso garantir que no instrumental também não amaciou, ou como eles mesmos registraram, “Blast beat é o caralho, aqui tem metranca!!!”. Nas doze faixas (uma é instrumental acústica), como dizemos aqui em BH, eles “desceram a marreta”: a faixa título vai abrir muita roda de mosh nos shows; “Ecocídio Napalm” tem um riff cortante matador; “Misoginia Em Cristo”, além do peso, resgata um áudio já histórico de Ricardo Boechat mandando um “recado” para o pastor Silas Malafaia; “Expresso 1888” aborda o ainda presente racismo na sociedade e “Desgraça Urgente” encerra a porradaria sonora com um Thrash bruto.

Chama muito a atenção o capricho com a arte do disco, obra do vocalista Fernando Lima, que já fez artes/capas para Sepultura, Sarcófago, Chakal, The Mist, In Nomine Belialis, Overdose, etc. Além dos citados dez vídeos promos, o Drowned também caprichou na parte física: o encarte gordo, um dos maiores que vi nos últimos anos, contém as letras de cada faixa acompanhadas por ilustrações temáticas, além de muitas boas fotos dos integrantes.
Feito em casa!
Ainda no quesito “feito em casa”, a mixagem e masterização feita pelo guitarrista Marcos Amorim (Impurity, Mortifer Rage, Preceptor) entrega um bom trabalho, porém, achei o som do bumbo um pouco mais alto do que deveria e algumas faixas ficaram sem intervalos, virando uma música só.
“Brasil Visceral” (2025) foi lançado pela Cogumelo Records/Voice Music em CD com embalagem slipcase e vem acompanhado por um pôster dupla-face 24×24 cm.
Nota: 8
Formação:
- Rodrigo Nunes (baixo)
- Marcos Amorin (guitarra)
- Beto Loureiro (bateria)
- Fernando Lima (vocal)
- Rafael Porto (guitarra – convidado)
Faixas:
- 01 Deplorável Mundo Novo
- 02 This Message Is For You
- 03 Brasil Visceral
- 04 Que A Forca Esteja Com Você
- 05 Ecocídio Napalm
- 06 Ao Pó Voltarás
- 07 A Bancada Do Pistoleiro feat. Nienna Ni
- 08 Misoginia Em Cristo
- 09 Deus Me Livre De Deus
- 10 Positivo Inoperante
- 11 Expresso 1888
- 12 Sem Lugar De Fala (instrumental)
- 13 Desgraça Urgente