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Black/Thrash Metal: a origem e consolidação de um subgênero do Metal extremo

O subgênero híbrido mais sólido do Metal

O Heavy Metal é marcado principalmente pelas suas duas principais fases que serviram de escopo para a construção da vertente mais pesada que o próprio Rock. Estamos falando tanto da década de 70, quando o Black Sabbath, entre outros, ajudaram a construir e moldar o que passariam a chamar de Heavy Metal para diferenciar do Prog Rock e do Hard Rock, ambos muito praticados nessa época, e também da década de 80, unido ao estouro da NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal), que culminou na revelação de grandes bandas, além de modificar o que era feito até meados de 1978, com distorções mais carregadas com aquele ar de Rock ‘n’ Roll, dando início à fórmula consagrada e realizada junto ao movimento clássico citado. Sempre lembrando que bandas icônicas como Cream, Led Zeppelin e Deep Purple jamais aceitaram utilizar determinada alcunha, permanecendo com suas linhagens sonoras tradicionais, o que a meu ver foi um grande acerto. Afinal, quem “destoava” desse time em prol do que viria a ser o Heavy Metal era realmente o Black Sabbath do eterno Riffmaster Tony Iommi.

   

Houve a explosão do Punk Rock por volta de 1977, e a NWOBHM foi meio que uma resposta às bandas dessa vertente, afinal, quem tocava Heavy Metal não queria ser confundido, e conforme o tempo ia passando, esse movimento acabava por ganhar mais força. E realmente ganhou, se tornando inesquecível para os fãs que puderam presenciar toda magia de perto. Perante isso, bandas mais antigas como Judas Priest, Motörhead e o próprio Black Sabbath adentraram a este grupo de novatos com a intenção de capturar elementos sonoros dos quais as bandas novas vinham fazendo, e, ao mesmo tempo influenciando várias destas bandas, tanto que o próprio Judas Priest com seu segundo álbum, “Sad Wings Of Destiny” (1976), já vinha trabalhando suas músicas com a fórmula que seria lapidada na virada da década. Não apenas fixando os olhares para a Inglaterra, a Alemanha presentou seus adeptos com o Accept, que através de um de seus maiores clássicos, o quarto álbum chamado “Restless And Wild” (1982) possuía um som mais áspero que as bandas britânicas, mas que se encaixava perfeitamente neste termo. Dessa leva ainda podemos destacar o Saxon, Blitzkrieg, Tygers Of Pan Tang, Angel Witch, Diamond Head, Def Leppard (que depois partiria para outros caminhos) e o Iron Maiden em primeiro plano, dentre tantas outras bandas que muitos de nós gostamos bastante.

As ramificações do Metal já não estavam mais intactas, se é que algum dia estiveram. Elas foram tomando forma paralelamente ao efeito da NWOBHM, tanto em bandas que iniciaram tais linhas, quanto em bandas que serviram de inspiração para que mais adiante fosse criado algo novo para a época. Após a queda constante da nova onda, movimentos menores começaram a tomar forma e alcançar os holofotes do underground europeu e americano. Bandas como Iron Angel, Savage Grace, Crossfire, Acid, Maniac, Living Death, Razor e Exciter contribuíram para o surgimento do Speed Metal ao buscarem inspiração nas lendas Judas Priest e Motörhead, e com o advento do debut do Anthrax, “Fistful Of Metal” de 1984, o novo estilo deu as caras. E ao mesmo tempo em que isso ocorria, era dada a largada para o que conhecemos por Thrash Metal. Voltando ao Motörhead, esta definiu o que aconteceria com o lado mais sujo e visceral do Metal, sendo uma das verdadeiras influências das bandas de Speed e Thrash Metal, conforme fora mencionado.

Se formos observar as datas dos primeiros lançamentos voltados para cada vertente colocada até então, veremos que tudo aconteceu quase que simultaneamente. Afinal, de 1976 a 1984 não é tanto tempo assim. E você pode até iniciar a contagem a partir de 1980 que isso tudo fica ainda mais claro. Mas… O que tudo isso tem a ver com o título do texto?

Tem tudo a ver por estar interligado com toda a história do Metal. Um grande exemplo de banda que serviu de inspiração para um subgênero, mas que não tocava esta vertente era o Venom, banda que foi um dos fatores mais preponderantes para o surgimento do Black Metal, ao lado dos brasileiros do Sarcófago. Somente essas duas influências já trazem uma boa explicação com relação ao formato das canções feitas nesta plumagem. A consolidação do Black Metal se dá com a soma de bandas do porte de Bathory, Hellhammer e Celtic Frost, sendo muitas destas influenciadas pelas bandas do Big Four do Thrash americano e também o Big Four teutônico.

Cronologicamente, podemos pontuar que a NWOBHM teve seu auge entre 1978 e 1983. Alguns dizem mais, outros dizem menos, portanto, essa é a média final. Já o Thrash Metal iniciou após o lançamento de “Kill ‘Em All” (1983) do Metallica, que foi o pontapé oficial para a largada do estilo que passamos a conhecer com o passar dos anos. Antes disso, o Exodus já possuía material a gravar. Mas, a história dá o troféu para Lars e cia. Quase que ao mesmo tempo, as bandas germânicas iniciavam a sua trajetória, mas percorrendo um caminho diferente, mais rústico e com menos melodias. Influenciados pela “podreira” proporcionada por Venom, Hellhammer, e bandas desse porte, Kreator, Sodom, Destruction, Tankard, Violent Force, Assassin, Necronomicon, Accu§er e Darkness iniciavam o que se tornaria grandioso logo adiante, trazendo um lado mais sujo e ríspido ao subgênero Thrash Metal, com umas explorando mais essa área e outras um pouco menos. Enquanto o pessoal da famosa Bay Area de San Francisco executava um som mais limpo que os europeus, estes, por sua vez, traziam à tona toda a sujeira que pudemos conferir através de seus respectivos discos. Isso fez com que o fã pudesse optar por algo mais sujo ou mais límpido.

Se arredondarmos as datas, temos a nova onda em 1980, o início do Speed e do Thrash em 1983, o início do Death Metal em 1984, e o Black Metal vindo logo na sequência em 1985. É certo simplesmente dizer isso? Não, pois ninguém ficou anotando no calendário o que era criado. Isso é apenas uma linha do tempo pensada para podermos juntos separar todos esses caminhos para, enfim, chegarmos ao nosso destino, que é saber sobre a origem do Black/Thrash Metal.

Nossa pesquisa encontrou relatos sobre a presença de “In The Sign Of Evil”, EP de 1985, e “Obsessed By Cruelty”, full length de 1986, ambos dos alemães do Sodom como fatores primordiais para a junção do Black Metal ao Thrash Metal. O histórico também aponta para os álbuns “Endless Pain” (1985) e “Pleasure To Kill” (1986) do Kreator, juntamente com “Infernal Overkill” (1985) e “Eternal Devastation” (1986), ambos discos do Destruction. Isso sem contar o EP “Sentence Of Death” de 1984 que apresenta todas essas características. “Morbid Tales” (EP de 1984), do suíço Celtic Frost ajudou e muito a forjar essa junção, até por ser fator preponderante na sonoridade das bandas alemãs, inicialmente. O também e EP “Emperor’s Return” e o álbum “To Mega Therion”, ambos de 1985, colocaram ainda mais molho nessa receita, e isso é contado por diversos integrantes de bandas de Black/Thrash Metal. Ou seja, se temos um influenciador inicial e de grande destaque, podemos dizer que é exatamente o Celtic Frost, mesmo que a fase inicial aberta pelo Hellhammer também se faça relevante para a trama. E também não podemos jamais deixar de lado o histórico EP “Apocalyptic Raids” (1984) do Hellhammer.

Podemos ver as bandas começando de forma atabalhoada como o Hellhammer e que depois acabam se acertando ao evoluir para o Celtic Frost. Aliada ao Venom, a mistura começa a tomar forma e abrindo um novo caminho para as bandas do Metal extremo. Agora, saindo um pouco do eixo América-Europa, encontramos em terras nipônicas o bravo Sabbat, que surgiu em 1983 com o nome “Evil”, e que logo no verão do ano seguinte mudou de nome. Seu primeiro registro oficial é um single de mesmo nome lançado em 1985, ano em que o Slayer lançou o clássico “Hell Awaits”, provando que muitas bandas estavam buscando essa trilha pantanosa com cheiro de enxofre e sabor de ferrugem com poeira de séculos atrás. Desde o seu surgimento, o japonês Sabbat tem carregado a bandeira da junção do Black Metal com o Thrash Metal, e isso faz com que a mesma seja uma das precursoras deste subgênero híbrido.

Outro expoente bastante conhecido entre os adeptos de tal sonoridade é o alemão Desaster, que surgiu em 1988 e lançou sua primeira demo em 1989, intitulada “The Evil Dead Will Rise Again”. E para ampliar os horizontes temos o Necrodeath da Itália, que surgiu em 1984 com o nome Ghostrider, durando até 1985. Ainda no mesmo ano a banda foi reformulada e foi batizada como Necrodeath. Com o novo nome, foi lançada sua primeira demo nomeada “The Shining Pentagram” no ano de 1985. Já no Brasil, temos o Holocausto como principal figura, tendo lançado sua inaugural demo, “Massacre”, em 1985, e aliado a esse fator encaixa-se o Sarcófago, pela aura suja e corrompida de seu som, principalmente nos primeiros trabalhos. É claro também que podem ter outros nomes oriundos de outros países sem tantos holofotes voltados para si, mas que contribuíram de forma positiva para a construção do alicerce dessa união de vertentes do Metal.

Com este pequeno estudo, podemos alinhar cada fase para chegarmos a uma conclusão sobre como foi formada toda essa história rica em “múzga” suja, veloz e agressiva, das quais o dono do nanquim virtual aprecia sem moderação. Vejamos:

   

O Venom surgiu em 1981 querendo ser mais satânico que o Black Sabbath, mais performático que o KISS e mais pesado que o Motörhead. A partir daí, a jornada foi encontrando novos fatores originários de vários caminhos percorridos por outras bandas que foram surgindo. O suíço Hellhammer apareceu na cena em meados de 1982, e em 1984 se transformou no Celtic Frost. O Sodom foi fundado em 1981, e em 1983 lançou a demo “Witching Metal”. Soma-se isso ao nascimento das bandas Necrodeath em 1984, Sabbat entre 1983 e 1984, e Holocausto em 1985, e temos um belo esboço do que vem a ser o Black/Thrash Metal. Não cito o Desaster, pois esta, como vimos acima, iniciou suas atividades somente em 1988, ou seja, ela foi influenciada por todas essas bandas que foram destacadas e que surgiram antes. E ainda temos o reforço dos discos de Slayer, Kreator e Destruction, principalmente, para emoldurar essa sonoridade que até hoje é nova e até mesmo desconhecida para muitos adeptos. “Bestial Invasion Of Hell” (1984) do Destruction e as demos “Blitzkrieg”, “End Of The World”, ambas do Kreator que se chamava Tormentor, tendo sua fundação datada em 1982, são registros muito consideráveis aos moldes do que viria a ser o Black/Thrash Metal.

O Black/Thrash Metal é talvez o subgênero híbrido mais sólido que se tem notícia, pois ele traz consigo toda uma junção completa dos dois estilos, sem que eles escapem um do outro ou que algum deles prevaleça sobre a linha distinta. É como se criassem uma nova vertente, mas que na verdade é uma união bastante compacta e cheia de vida, pois possui identidade própria. Diferente de junções como Black/Speed Metal e Black/Death Metal, aonde é percebido o momento em que cada vertente aparece em relação à outra. Ainda temos a inversão, quando o estilo normalmente secundário prevalece sobre aquele que figura em primeiro normalmente. Estamos falando sobre Speed/Black Metal e Death/Black Metal. Acompanhado disso, existem outras três formas que são ligadas ao Black/Thrash Metal – Blackened Thrash Metal, Thrash/Black Metal e Black/Thrash Metal (sem que os estilos se unam conforme fora explicado). O mesmo ocorre com Black/Speed Metal e Speed/Black Metal. Isso sem contar que em diversos momentos é colocada a forma mais fácil e tranquila de falar, a exemplo de Death/Thrash Metal que possui um jeito melhor de pronunciar do que Thrash/Death Metal. E isso implica numa confusão grande, caso não haja uma descrição mais aprofundada de determinado disco e banda.

Blackened Thrash Metal – costumeiramente associada ao Slayer (fase entre o EP de 1984, “Haunting The Chapel”, e o disco “Hell Awaits” de 1985), o estilo é básico e completamente voltado para o Thrash Metal, tendo a sua aura contornada por elementos do Black Metal, mas que não fazem parte do catálogo sonoro das canções desse estilo, apenas funcionando como um pano de fundo macabro, e climatização única dessa fórmula. O maior exemplo é o sueco Witchery. Aproveitamos para indicar o Urn da Finlândia e Bastardizer da Austrália, para mostrar que o Metal segue mais vivo do que nunca.

Thrash/Black Metal – nada mais é do que o Thrash Metal se sobrepondo ao Black Metal, na qual as canções possuem muito mais características do Thrash Metal, sendo complementadas por partes de Black Metal, e tendo em sua figura principal o Thrash. Ao invés de destacar bandas dessa linhagem, mencionaremos que boa parte das bandas que frequentam os ares do Black/Thrash e do Blackened Thrash lançam um ou mais discos com mais ênfase no Thrash, o que não a descaracteriza, já que se trata apenas de um trabalho em específico, e não é sobre a receita de bolo tradicional da banda em si.

Black/Thrash Metal sem junção – ao contrário da formação de um híbrido sólido e identificável, este tipo de vertente é mais comum por exibir tanto o lado do Black Metal quanto do Thrash. É muito parecido com o Thrash/Black Metal por apresentar os dois caminhos em separado, mas que tende mais para o Metal negro do que para o Metal arruaceiro. Um exemplo bem recente disso é o Valdaudr da Noruega, que acabara de lançar o álbum “Drapsdalen”.

Analisando todas essas predominâncias, notamos que somente dos quatro caminhos explanados, dois fazem parte do Black/Thrash Metal, obviamente. E dois são predominantes do Thrash Metal. Porém, a história não termina aqui. Ainda existe um outro tipo de Black/Thrash Metal em que o Black Metal se destaca quase que por completo, enquanto somente alguns elementos de Thrash são apresentados e tal sonoridade. Talvez aí esteja a maior dificuldade para uma análise e encaixe em uma lista por estilos. Quando isso acontecer, o correto a dizer é que a banda ou o disco analisado é somente de Black Metal.

Dentre o fim dos anos 80, passando pela década de 90 até os dias de hoje, temos representantes de respeito dentro do Black/Thrash Metal, que tem ampliado a sua presença com o passar dos anos. Aqui estão algumas dicas para reforçar o dito de que o Metal está vivendo um de seus melhores momentos em questão de bandas novas, e também bandas mais antigas que estão a todo vapor. Os representantes são: All Hell (EUA), Nekkromaniac (Alemanha), Nocturnal Witch (Alemanha), Witchtrap (Colômbia), Desaster (Alemanha), Deströyer 666 (Austrália), Nocturnal (Alemanha), Transilvania (Áustria), Evil (Japão), Bunker 66 (Itália), Sick Violence (Chile), Craven Idol (Inglaterra), Nuclear Revenge (Espanha), entre várias outras bandas dessa estirpe dos mais diversos países.

A conclusão deste estudo inicial pode ser resumida em pilares para a formação do estilo tratado durante essa jornada arqueológica, com estes pilares representados primeiramente pelo Venom, seguido por Sodom e Kreator, incluindo a fase em que a banda era chamada Tormentor. O reforço para a consolidação de mais uma vertente criada se viu através dos lançamentos dos álbuns de estreia das duas bandas alemãs. O Destruction foi uma influência menor para o estilo, mas pode ser apontado também. E o Venom é o responsável por toda a parte teatral, a aura negra, o espanto e o medo causado nas pessoas que não estavam acostumadas ou preparadas para dar de cara com essa roupagem, e tudo isso somado aos vocais esganiçados de Cronos, que desenvolveram um papel muito importante para o mergulho nas profundezas de um tipo de som que ganharia forças ao unir o Black Metal ao Thrash Metal, tornando o subgênero híbrido com identidade única e apropriada a ponto de dizer que se trata do subgênero mais sólido dentre aqueles que possuem tais conceitos e formatos.

A origem do Black/Thrash Metal pode não ter sido analisada até então, mas a sua consolidação está mais do que clara. Resta a nós desfrutarmos de tudo isso após a leitura.

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