A descoberta e evolução de um estilo: o Speed Metal!
“You know I’m born to lose, and gambling’s for fools
But that’s the way I like it baby, I don’t wanna live forever
And don’t forget the Joker”
Se esse trecho de uma das grandes músicas de toda a história do Rock te trouxe nostalgia, empolgação, fez sua alma festejar de emoção, sabe bem do que se trata e também deve considerar a mesma como uma das grandes pilastras inaugurais do subgênero mais acelerado do Metal: o Speed Metal, que é carinhosamente apelidado por “Rock Veloz”, conforme o enunciado.
Introdução: a aparição da velocidade sonora
Surpreendentemente para os mais novos, talvez, o Motörhead foi uma das peças-chave para o surgimento de algo que seria mais ríspido e rápido que o próprio Heavy Metal.
Inegavelmente, o eterno Lemmy Kilmister sempre carregou consigo a alma do Rock ‘n’ Roll. Porém, com todo o peso, velocidade, sujeira e destruição que o Metal pede. Assim sendo ainda mais sujo e ignorante (no melhor dos sentidos!) que boa parte das bandas que surgiram junto ao movimento que conhecemos pela famosa sigla N.W.O.B.H.M.
Embora o Motörhead seja parte fundamental para essa história ser contada nos dias atuais, o Judas Priest também contribuiu para a abertura das portas desse universo que se confundia com o Metal tradicional à época. Tudo isso muito por conta da new wave britânica estar fervilhando e girando em torno de algo em comum que é o Heavy Metal.
O subgênero criado dentro do movimento britânico
Bem como o sucesso que seria breve para muitas e prolongado para outras poucas bandas, a nova onda fez com que determinadas bandas começassem a unir novos elementos em busca do estrelato.
Enquanto certas bandas optavam pelo Heavy por si só, outra parcela seguia com sua bússola musical apontada para o Hard Rock, passando até pelo Doom, e por fim, boa parte das bandas se arriscaram em terrenos mais perigosos e então, desconhecidos.
Decerto, que o Heavy Metal carrega consigo as raízes do Rock, que passeiam pelo Blues, Jazz, Soul, e de grande parte dos subgêneros dos estilos citados, é fato constatado e sentido. Portanto, o Speed Metal leva em seu âmago boa parte destas gratas influências também, sendo mais calcado no Rock dançante de forma mais acirrada. Um ritmo mais vibrante e com guitarras ainda mais nervosas a ponto de tocar o terror por onde passa. Daí o apelido de Rock Veloz.
O subgênero detentor da aura mais ríspida e cortante do Metal acabou por nascer junto à N.W.O.B.H.M. como um direcionamento a mais para as bandas que percorriam esse caminho. Devido à explosão do Heavy Metal em sua nova e gloriosa fase, o Speed Metal só alcançou maior destaque pouco tempo depois, conforme veremos de acordo com os anos de lançamento de alguns dos grandes clássicos da época e da vertente.
Músicas que supostamente ajudaram a criar um novo estilo
Determinadas músicas são apontadas como fatores preponderantes para o nascimento e desenvolvimento do então, novo subgênero do Metal. Seja de forma direta ou indireta, podemos apontar algumas músicas clássicas de bandas que não tocavam, ou não seguem a linha do Heavy Metal.
Dentre as tais, podemos citar:
Deep Purple, com faixas rápidas como a antológica “Highway Star” (“Machine Head”, 1972) com seus solos memoráveis como se estivessem apostando corrida em alguma estrada reta longa, e a monstruosa “Fireball” (álbum autointitulado, lançado em 1971) com seus bumbos duplos, além de “Speed King” (“In Rock”, 1970);
Led Zeppelin, com “Immigrant Song” (“Led Zeppelin III”, 1969), com uma das introduções vocálicas agudas mais conhecidas do mundo, além dos riffs diretos e certeiros, e “Rock And Roll” (“Led Zeppelin IV”, 1971) com a bateria iniciando a arquitetura clássica a todo vapor;
Fechando a trinca, Queen, com a alucinante “Stone Cold Crazy” (“Sheer Heart Attack” de 1974), com sua pegada intensa e direta, e a emulsificante “Sheer Heart Attack” (“News Of The World”, 1977) com rispidez e vocais que acompanham o nível de velocidade da jornada.
Obviamente, que outras mais podem ser colocadas à lista de inspirações para tal, mas aqui já podemos notar as várias direções que foram se encontrando e formulando o novo estilo de som. Junto a isso temos as primeiras bandas da famosa ilha de países unificados que surgiram e iniciaram essa jornada, que resultaria em grandes nomes desse novo percurso sonoro até então.
Primeiras bandas que surgiram à época no Reino Unido e contribuíram para a formação do novo subgênero do Metal
Raven
Se os dois gigantes já estavam em atividade antes do movimento levantar fervura, os ingleses do Raven desejaram entrar na dança, tendo o seu surgimento datado em 1974. Porém, o primeiro single, “Don’t Need Your Money”, só foi lançado de forma oficial em 1980. Foi um marco para a banda e para o que viria a ser do estilo.
Se reparar bem quanto aos detalhes da canção, notará a inclinação pendendo para o Rock n’ Roll mais agitado e para o Heavy Metal. Sendo mais agressivo, distorcido, vocais alternando entre agudos e entonações “normais”. A clássica canção entrou para o tracklist do debut chamado “Rock Until You Drop” (1981).
Satan
Outra banda que ajudou a assinar o termo para a instauração de mais um subgênero da boa música é o Satan de Brian Ross. O álbum em questão é o maravilhoso “Court In The Act” (1983), mostrando que nada do que estava sendo projetado era brincadeira. O icônico vocalista ainda inaugurou o marcador de forma secundária com o também ótimo Blitzkrieg, porém mais inclinado ao Metal tradicional. Antes desse triunfal disco, a banda estreou com a demo chamada “The First Demo” de 1981.
Venom
Fechando a trinca sensacional, histórica e inaugural em favor do Speed Metal, temos o satânico Venom. Sim, pois em matéria de sonoridade o trio, Cronos, Mantas e Abaddon não tocavam o que é dito por muitos até os dias de hoje. Entretanto, são influenciadores diretos para o surgimento do Metal extremo, principalmente o Black Metal.
O som ríspido, sujo, sem firulas, beirando o Punk em matéria de simplicidade, é o que direcionou a banda para o Speed. Embora seja desde sempre associada ao Black Metal, muito em consideração à clássica faixa que carrega o nome do estilo e que também vem a ser o nome do segundo disco, lançado em 1982. Antes, a banda lançou “Welcome To Hell” em 1981, tendo as demos e singles lançados um ano antes. Vale ressaltar que a ideia principal do Venom era a de ser mais satânico que o Black Sabbath, mais pirotécnico que o KISS, com mais rebites e couro que o Judas Priest e mais pesado que o Motörhead. Conseguiram? Fica a critério de cada um.
Bandas ao redor do mundo
A N.W.O.B.H.M. avançou com seus ideais por outros países e continentes, revelando ao mundo da música outros grandes nomes do Metal. Concentrando os olhares para o Speed Metal, temos nomes que debutaram grandiosamente. Alguns destes são:
Crossfire e Acid (ambas da Bélgica), Maniac (Áustria), Iron Angel (Alemanha), Agent Steel, Savage Grace e Détente (EUA), Anvil, Exciter e Razor (Canadá), X-Japan (Japão).
Várias outras bandas foram influenciadas pelo estilo cortante e lançaram seus primeiros trabalhos com essa forte ligação. Muitas destas optaram por encontrar inspirações em ideias distintas e/ou acrescentaram ao novo cardápio de suas respectivas discografias. Essas bandas, após o debut ou mais lançamentos, seguiram por caminhos que ajudaram a formar o Power Metal.
Por outro lado, outras várias contribuíram para o surgimento do Thrash Metal. Enquanto os germânicos, Blind Guardian, Angel Dust, Running Wild, Helloween e Grave Digger, reforçaram e forjaram o Power Metal, os americanos, Slayer e Anthrax, participaram diretamente da construção do Thrash Metal.
O Speed Metal nos dias atuais
Agora que o caminho foi traçado de melhor forma, vale verificar como estão as coisas em tempos atuais para o Speed Metal. Surgiram bandas dos mais diversos países e a Alemanha continua mantendo sua tradição de revelar grandes nomes como o Vulture. Sendo talvez o maior expoente do Rock Veloz da atualidade, além do conterrâneo Knife.
Junto a isso temos os colombianos do Revenge e Witchtrap, sendo este último mais calcado ao Thrash.
Evil Invaders (Bélgica), Hellspike (Portugal), Significant Point (Japão), Speed Command (Argentina), Hellsword (Eslovênia), Hellcrash (Itália), Reaper (Suécia), Morvidhen (Peru), entre milhares de ótimas bandas. E no nosso amado Brasil temos a bandeira tremulando em favor dos ótimos, Blasfemador, Axecuter e Selvageria. Isso só para citarmos alguns expoentes emergentes.
Considerações finais
Em primeiro lugar, é importante entender que não houve um criador em específico, mas sim inspirações que foram se juntando e ganhando forma.
Além disso, não havia tal classificação em território britânico, tampouco em outras partes do mapa. Até o chamado Heavy Rock era citado até perder força dentro do Heavy Metal, enquanto a figura do Speed só foi melhor compreendida anos mais tarde, conforme pudemos analisar.
Dito isso, fica mais compreensível a ideia de que quem foi aquele que cravou a flâmula do Rock Veloz, confirmando e oficializando a vertente. E o apontado como “culpado por esse maravilhoso crime” é o Exciter de Dan Beehler, em parceria com o compatriota Anvil, que lançou o debut “Hard ‘n’ Heavy” em 1981, dois anos antes da estreia do “excitador” com o clássico “Heavy Metal Maniac” de 1983, e que logo depois ganhou o reforço do “canuck” Razor, através da estreia com o incrível “Executioner’s Song” (1985).
Apesar do Anvil ter lançado material antes, de fato o Exciter acabou recebendo maior destaque até por ter em seu debut uma lâmina extremamente afiada e condizente com a trama.
Inspiração para outro subgênero
O Speed Metal também foi inspiração direta para outro subgênero do Metal. Um subgênero que uniu duas vertentes e conseguiu unificar ambas, tornando essa junção em algo único. Para entender sobre o que vem a ser essa vertente é só acompanhar a matéria a seguir:
Se temos o Motörhead como o motor de arranque para o início do Speed Metal, o Judas Priest é a garantia de que tudo daria certo para esse novo subgênero que surgiria logo depois. Para o guitarrista K.K. Downing (ex-Judas Priest, KK’s Priest), “o Motörhead é o verdadeiro criador do Speed Metal“, embora não exista nada concreto, apenas similaridades.
O que deve ser entendido de forma principal é que essas duas bandas acabaram ajudando a forjar essa forma de tocar guitarra. E se no início do texto foi colocado em primeiro plano um trecho de “Ace Of Spades”, hino de um dos maiores power trios da história do Rock e que pertence ao álbum homônimo de 1980, nada como finalizar essa matéria com uma faixa clássica do Judas Priest, inspiradora para o nosso incrível Rock Veloz.
Fique com o trecho de “Exciter”, fantástica música do álbum “Stained Class” de 1978, música que inclusive, foi fator inspirador para a já citada banda canadense adotar tal nome. E nada mais justo do que optar por esta que possui bumbos e pedais duplos, cortesia e criatividade nata do inesquecível baterista Les Binks.
“Who is this man, where is he from?
Exciter comes for everyone
You’ll never see him
But you will taste the fire upon your tongue”
Redigido por: Stephan Giuliano
Muito Bom, valeu!!!!