MUNDO METAL APRESENTA: DECEASED
Lá em 2013, quando o Mundo Metal foi criado, a maior diversão dos administradores era passar horas ouvindo discos de bandas novas, pouco conhecidas e pouco divulgadas. A tentativa era sempre encontrar aquele álbum sensacional que a maioria dos meios de comunicação especializados não dariam atenção. Era um trabalho de garimpo em busca dos discos que mais pessoas mereciam ouvir.
Quase dez anos depois, em pleno ano 2022, nada mudou, nós continuamos ouvindo centenas de lançamentos por ano para trazer aos ouvintes aqueles trabalhos que 95% dos headbangers vão esquecer.
Este quadro foi criado para você que não se contenta com o óbvio. Foi feito para todos aqueles que, apesar de amar os medalhões, sabem que são as bandas menores que precisam mais da sua atenção. E quer algo melhor do que começar as suas garimpagens à partir das nossas garimpagens?
Seja bem vindo ao GARIMPO MUNDO METAL.
A partir de hoje, suas audições vão ficar muito mais interessantes. Nós garantimos.
Se o assunto por aqui é garimpagem, aqui vai uma das boas. Falar sobre bandas novas e grandes achados atuais é algo relativamente fácil, mas quando se trata de uma banda antiga, com história, diversos discos lançados, ainda está em atividade, mas as pessoas parecem simplesmente não ter conhecimento de sua existencia, aí o buraco é muito mais embaixo.
Vejam bem, o baterista/vocalista King Fowley e o guitarrista Doug Souther estavam juntos em 1984 na época da fundação da banda. Depois de se chamar Mad Butcher e Evil Axe, finalmente, recrutaram o guitarrista Mark Adams e o baixista Rob Sterzel para, com a formação ajustada, batizar a banda como Deceased. À partir de 1985, começaram a gravar demos e aparecer na cena norte americana com certo destaque.
Antes do lançamento do debut “Luck of the Corpse”, uma tragédia assolou o quarteto de Virgínia e o baixista Rob Sterzel faleceu num acidente que culminou em um atropelamento coletivo. As vítimas fatais desse acidente incluíram além de Rob, também o irmão do guitarrista Doug Souther e mais alguns amigos próximos.
Sequência matadora
O Deceased parecia imparável e nem tamanha fatalidade foi capaz de silenciar o grupo. Para o lugar de Rob, veio o baixista Les Snyder. Nesta época, eles apenas sonhavam em ser uma banda mais extrema que o Slayer e, com o intuito de fazer isto se tornar realidade que a lendária relapse records deu seu primeiro contrato a Fowley, Souther e cia. Sim, o Deceased foi a primeira banda a assinar com a Relapse e “Luck of the Corpse” saiu em 1991.
Pouco depois do lançamento do disco de estreia, o guitarrista Doug Souther deixou a banda e, dessa forma, Mike Smith entrou em seu lugar. Foi esta a formação que durou mais de uma década e gravou álbuns extremamente importantes. Dá pra afirmar, com toda a certeza, que os dois primeiros trabalhos baseiam-se musicalmente no que se fazia no início do Death Metal. “Luck Of The Corpse” e “The Blueprints for Madness” são ótimos, mas devido a qualidade absurda dos registros apresentados pelas bandas seminais do gênero, acabaram ficando esquecidos pela maioria dos headbangers. Obviamente, se você gostar da sonoridade de bandas como Possessed e Death (principalmente, do início de carreira), vai se deliciar, mas a verdade é que já tinha muita gente fazendo esse tipo de som.
Se existe uma característica marcante ao qual temos que dar todos os méritos ao Deceased é o fato de não terem se limitado ao Death Metal. King Fowley sempre foi um sujeito extremamente honesto em seus projetos musicais e, acima de tudo, um entusiasta e amante do Metal.
Muito mais ainda por vir
Ao invés de se aprofundar nas subdivisões mais extremas que o gênero foi ganhando ao longo do tempo, eles foram amadurecendo, criando uma identidade única e os discos que vieram a seguir transcendiam a “podreira tosca” do Death adicionando muitos elementos do Thrash e até mesmo do Heavy mais tradicional, principalmente, de bandas da NWOBHM. Podemos afirmar que o terceiro registro intitulado “Fearless Undead Machines” (1997) foi o divisor de águas da discografia.
Além da sonoridade diferenciada, Fowley e sua trupe investem em temáticas baseadas em histórias, contos e filmes de terror, o que faz com que as audições tenham toda uma atmosfera sombria assim como desafiadora. Muitas músicas são verdadeiras imersões dentro de situações macabras, dessa forma, se apresentam cenários apocalípticos e narrativas repletas de violência e gore. Tudo isso com o toque de técnica refinada dos músicos, a total falta de preocupação em criar músicas de fácil assimilação e, acima de tudo, a consciência de que uma música precisa durar o tempo necessário para passar o seu recado. Se precisar de 3 minutos, será 3 minutos, se precisar de 10, que assim seja.
Apesar de todas as qualidades abordadas, o Deceased nunca chegou perto do estrelato, nunca se tornou uma banda extremamente requisitada para tocar em grandes festivais ou fazer excursões por todo o mundo. Ao contrário disso, se tornou um nome cult que os poucos que conhecem tratam com muito carinho. Ok, é verdade que a grande maioria do público Metal nem imagina que existe uma banda tão boa escondida nos calabouços mais obscuros do underground.
Incansáveis
King Fowley é um daqueles caras com espírito transgressor. A saber, é uma espécie de força imparável da natureza que resolveu não esperar nada de ninguém. Ao seu jeito, faz com que seus trabalhos aconteçam. Além do Deceased, ele está à frente do October 31 assim como do Doomstone. Para entender um pouco sobre Fowley, vejam uma de suas respostas em uma entrevista ao site Metal Rules quando questionado sobre a musicalidade do Deceased:
“A parte ‘mais difícil’ e também a melhor parte para mim é manter nossa sonoridade ‘cruel’ e totalmente dentro das características do ‘Deceased’, mas claro, permitindo que os traços de melodia e os solos de guitarra funcionem em nosso som. E para nós, isso faz sentido e funciona! O novo material está dentro do nosso domínio, mas realmente tem uma vantagem, eu estou muito satisfeito com o som e o estilo desta banda. Nós não ‘atendemos’ às necessidades de ninguém, mas as nossas. Formamos esta banda para tocar a música que amamos e queremos tocar”
Em 2011, lançaram o ótimo “Surreal Overdose”, um disco que despejou em nossas cabeças uma sonoridade mais bruta e insandecida, mas sem abrir mão das melodias e elementos mais marcantes dos trabalhos anteriores.
Na atual fase da banda, Fowley deixou as baquetas e foca somente nos vocais. Em 2018, mais um grande trabalho chegou as lojas e, sem dúvida, foi ignorado pela maioria das mídias ditas “especializadas”. “Ghostly White” foi mais uma viagem insólita que em algum momento, eu tenho fé que será descoberta e apreciada por pessoas com verdadeiro anseio por Metal de qualidade. Talvez o fato de Fowley estar livre para cantar e não ter mais que se preocupar em tocar bateria tenha ajudado ainda mais na parte criativa da banda. As faixas são ainda mais viscerais, mais exploradoras e, sem dúvida, excepcionais como sempre.
No mesmo ano de lançamento de “Ghostly White”, o baterista Dave “Scarface” Castillo faleceu e foi substituído por Amos Rifkin. Em 2021, gravaram um disco de covers de bandas Thrash chamado “Thrash Times at Ridgemont High”, assim como prometem um novo álbum de inéditas para 2023.
Novo disco à caminho
O full inclusive já tem nome: “Children of the Morgue”. Caso você se interessou, em primeiro lugar saiba que estará ouvindo uma verdadeira bandaça. Além disso, fique atento por que teremos disco novo dos caras em breve. Obviamente, a resenha você vai ler por aqui.
Ouça sem moderação!
Garimpeiro da vez: Fabio Reis
CONFIRA NOSSOS QUADROS ANTERIORES DO “GARIMPO MUNDO METAL”:
Lembro de folhear algumas revistas antigas de Rock/Metal…tinha um sessão em que bandas podiam enviar fitas demos e afins, era interessante conhecer bandas undeground e outras com o tempo foram sendo conhecidas e algumas estão até hoje por aí na ativa!!!! Deceased tem um som brutal, rápido e dinâmico…gosto do estilo dos caras, valeu!!!!
Realmente é uma excelente banda com um excelente som , porém, relegada ao esquecimento, não sei bem o porque , já que vi vários realeses desta banda por aeh em veículos especializados e é uma pena porque a banda transborda competência e criatividade . Excelente matéria e ótima dica \m/