Os eslovacos do Acid Force lançaram seu segundo álbum de estúdio chamado “World Targets in Megadeaths” no dia 3 de novembro via Jawbreaker Records. Qualquer semelhança com o nome disco é “mera coincidência”.
Quando os caminhos do Thrash Metal são pavimentados com altas doses de agressividade e ímpeto musical, é o melhor momento para se escrever sobre determinado álbum. Acid Force é a bola da vez e apresenta ao público um trabalho com todas essas premissas. E nada mais prazeroso do que encontrar discos assim oriundos do leste europeu. Países como Rússia, Tchéquia (ah, me rendi), Sérvia, Lituânia, Eslovênia, e por fim, Eslováquia, são alguns dos países que costumam apresentar gratas surpresas em se tratando de Metal. Dos países citados podemos citar algumas bandas, só para exemplificar: Bonecracker (Rússia), Alitor (Sérvia), Phrenetix (Lituânia), Vigilance (Eslovênia), entre muitas outras, fazem parte do ótimo cardápio da ala direita da Europa.
O Acid Force é natural de Banská Bystrica, cidade e município de mesmo nome da Eslováquia. A banda surgiu em 2014 e já possuía um álbum de estúdio e um EP em seu currículo recente. “Towards the Nuclear Load”, EP de 2015, e o debut “Atrocity for the Lust”, de 2017, formam a ala principal da recente discografia, além da demo autointitulada de 2014 e o single lançado agora em 2023. “Praise the Atom” é a faixa representante do novo trabalho, que acabou recendo um videoclipe.
Os propósitos do Acid Force com a nova carta de guerra musical e suas linhagens
Certamente, você já deve ter visto bandas novas buscando ares de tempos passados com novas roupagens. De fato, isso é bastante normal e para quem sabe como providenciar esse tipo de condição, é necessário muito empenho e atenção aos detalhes, até para não parecer forçado e caricato. O Acid Force foge dessa tônica vazia e preenche muito o espaço conquistado para mostrar o seu valor. Embora seja mais fácil e visível para o lado ocidental do mapa, a ala leste possui grandes pérolas a serem descobertas e lapidadas. Afinal, já faz muito tempo que o Metal deixou de ser simplesmente um eixo entre Inglaterra, EUA, Alemanha e Suécia, no quesito som pesado.
Hoje, com o advento e a evolução da tecnologia, podemos encontrar bandas dos mais longínquos cantos do planeta. Portanto, não é muita novidade a Eslováquia fazer parte desse menu musical em prol do Metal. Isso para quem pesquisa e gosta de conhecer novas bandas e novos discos. Além de não esquecer o que já conhece e curte.
Para finalizar esse capítulo, o Acid Force também investiu em um videoclipe para o seu single já elucidado acima. Portanto, isso mostra uma banda certa daquilo a qual se propôs. A boa divulgação é a chave para alçar voos maiores que os convencionais.
As ramificações da sonoridade do Acid Force
O novo full length foi gravado, mixado e masterizado na SPK Audio em Banská Bystrica, Eslováquia. Miroslav Spevák foi o responsável pela mixagem e masterização, enquanto Andrei Bouzikov cuidou da arte de trabalho do disco. Juraj Bednárik e Jimmy ficaram a cargo das fotografias, além de Linni Lindström, o dono da assinatura do design gráfico. Henrich Leško tocou e gravou os sintetizadores que constam na faixa de número 7, a instrumental “Beyond the Concrete Fields”.
Dentre todo esse envolvimento com o novo trabalho e toda essa equipe inserida na trama, temos a bússola musical apontada para o norte e esse norte representa uma boa parcela das principais bandas de Thrash Metal do mundo. O nome do disco entrega de fato uma dessas gratas influências e ramificações. As outras você encontrará ao ouvir o disco completo, pois estão espalhadas por todas as músicas. Além do próprio Megadeth, a qual vem sendo observado e citado de forma oculta por conta do nome do mais novo lançamento do Acid Force.
Aqui pode ser encontrada muita coisa boa. Só para ilustrar, temos em “Terrible Certainty” (1987), terceiro álbum do Kreator, uma das principais influências da banda e, principalmente, de “World Targets in Megadeths”. Outro detalhe que pode ser facilmente observado é o formato oitentista do tracklist, não apenas por conta dos nomes das faixas, mas principalmente por causa da quantidade delas, sendo um total de oito canções. Ideal para acariciar o ego filho da puta de uns tais aí.
O armamento bélico do Acid Force em uso
A primeira bolacha do pacote atende por “Out of the Trench” e mostra um Acid Force bastante competente logo em seu princípio. A disputa entre caçador e caça começa a todo vapor em um campo verosímil de guerra. As melodias oitentistas antecedem o tiroteio prestes a começar. Você está fora da trincheira e o que fará agora? Uma explosão acontece e uma enxurrada de notas começam a vibrar na sua cabeça até seu capacete de batalha rachar. Corra, recruta! Corra como nunca até chegar próximo a uma cabana. O inimigo está lá dentro executando seus planos arcaicos e pujantes contra a sociedade.
O intervalo no som do Acid Force serve para respirar e observar as tropas avançando com o apoio instintivo do Kreator, do Megadeth e do Metallica de outrora. A sonoridade exerce um pouco do tempero apresentado pelos finlandeses do Maniac Abductor. Você invade o local e acerta o alvo em fuga. O terreno ganha tons em vermelho ao passo em que se ouve uma bela dose de Slayer na próxima frenagem do jipe de guerra.
O desfiladeiro é a única saída para não ser pego. A situação aqui é um verdadeiro duelo entre cão e gato. Então, você observa no céu o seu inimigo sobrevoando sua cabeça. Corra e salte para a vala mais próxima, com a nítida intenção de tornar seu novo esconderijo. Você está cercado e terá de decidir. Em resumo, cace ou seja caçado pelos pedais duplos e tons explosivos do alicerce percussivo infernal da força ácida do leste europeu.
O valioso peso do Metal da força ácida eslovaca
“Preachers of Mayhem” preenche o segundo lugar na lista e honra o legado da Marvel, digo, do Heavy Metal como um todo graças à sua temática, além do seu próprio andamento. A precisão é a chave para iniciar a jornada do mais puro aço condutor de fortes emoções. O contágio acontece por meio de uma linha de contrabaixo completamente inspirada e dinâmica. Tudo isso somado ao baile de riffs despejados aos montes pelo Acid Force. O refrão coloca as guitarras em confronto, base versus melodia e diferencial. Além disso, temos os backing vocals vociferando sobre a vasta sujeira à frente e o monstro que acorda coberto de ferrugem. Suas mandíbulas de Metal moem juntas a essência quente do couro. Entenda a metáfora de forma condizente a um headbanger costurando os patches em seu colete ou jaqueta, além de atravessar os rebites no couro, formando os seus braceletes de guerra.
O balanço do mar sonoro remete primeiramente a uma junção entre Anthrax e Megadeth, sendo que a sua emenda possui nuances do Metallica, além de muitos fraseados do At War. Certamente, apesar das ramificações, os eslovacos entregam uma identidade própria bastante característica por sinal. Os solos surgem em forma de correntes de metal ao redor do pulso, encharcando as jaquetas jeans de sangue. Enquanto o cano alto branco fica todo sujo de lama, alimentando a vontade de estar presente em algum show dos caras em um festival enlameado como a recente edição do Wacken Open Air. O solo carrega um “quê” de Kirk Hammett dos bons tempos e combina com a ação imposta pelos músicos.
Surpreendentemente, o solo encaixa no refrão como uma peça de Lego, assim tornando este ainda mais imponente e magistral. Por fim, o terreno está bem cuidado por aqui.
“Chegamos ao ponto do aço derreter
Mais quente que milhões de sóis
Trouxemos o metal para o verdadeiro negócio
Batam suas cabeças até terminar”
Acid Force e seu Fasthrash
“Fast Friday” é a terceira a chegar na área e trata-se de uma dedicatória ao Thrash e as viagens de carro e moto com o som ligado para tocar nos diversos picos da cidade. A paródia com a palavra fast vem do Andralls, banda paulistana de Thrash Metal, a qual pratica o chamado Fasthrash. O som começa um tanto divertido, mas que se converte à aventura em si e sem ficar rindo de tudo. A máquina de trituração eslovaca passa a ser movida por anfetaminas e com cilindros prontos para explodir.
A carga pesada no porta-malas e é um Metal Punk alto e explosivo. Assim sendo, deve-se tomar cuidado com as toneladas inseridas durante a passagem de cada nota. Os gabinetes e amplificadores são abastecidos com solos estridentes e condizentes com a trama, enquanto o ritmo de quebra-quebra (no melhor dos sentidos!) da bateria acontece de maneira tão natural que é melhor esvaziar todos os pneus. Caso contrário, o Dodge Viper irá decolar num piscar de olhos!
O aviso foi dado e ninguém ligou! Portanto, não adianta tentar parar o carro. Agora são mais de cem ultrapassagens e eu não consigo pisar no freio. O baixo funciona como embreagem e também como troca de marcha de forma pulsante e bem rasgada. As guitarras fazem o combustível correr pelas veias, enquanto observa a vida passando rápido na pista. O asfalto musical é amplamente favorável, a ponto de fazer com que a velocidade quebre o ar. Não há tempo para desespero, pois tudo está indo muito bem. Então abra o enorme portão, destrua a barricada. Esse veículo é capaz de cortar o asfalto com a lâmina do motor apoiada pelos pedais duplos de bateria. O Thrash Metal reina e não precisa ser norte-americano!
“And when the ears bleed
That’s what we really need
Sound of the thrash
Annihilates us to the ash”
Representantes do Sol
“Rebirth of the Sun” oferece um nome ideal para as altas temperaturas nesses últimos meses. A mitologia e os trechos de contos entram em cena e rebatem o que seria chamado de disco com poucos assuntos a tratar. O arauto diz que o céu engoliu o Sol e que agora aguarda o renascimento para trazer a luz para a Terra. O ser responsável por esse fluxo contínuo, viaja pela porta e entra em outra skin quando o pôr do sol começa. Figuras conhecidas agem em cada ponto para concluírem seus planos.
A ira da grande serpente com o Osíris e as mentiras com fome de mordida perfuradas por Seth, são complementos desse renascer esperado do Sol. Enquanto a noite paira, as batalhas e a corrupção plena dos deuses dão seguimento, até que o trono brilhante nos céus volta a ser ocupado pelo escaldante Sol. A intro é colocada por partes até que seus complementos surgem e a largada é dada. A composição avança em tons mais densos e corridas de notas flertando com o que podemos chamar de Proto-Death Metal. As linhas de bateria ganham tons mais escuros oriundos do Hellhammer, porém seu seguimento principal se mantém intacto. Os solos acompanham a investida e tramoia dos deuses, além de alertarem o povo sobre um reinado injusto e usurpado pelo assassino de Osíris, seu irmão Seth.
A importância do átomo para o bem e para o mal
“Praise the Atom” realiza uma breve releitura dos desastres nucleares históricos e questiona sobre quem é o real vencedor em um ataque em massa. Eu sei quem são e você também sabe. Para quem ainda tem dúvida, a dica é que nunca será o povo. A placa de aviso de radiação no local elenca tudo o que está para acontecer. O videoclipe aumenta o perigo iminente e você pode interpretar o clima devastador enquanto acompanha o quarteto “in action” mesmo sem microfone. Mas ao menos não esqueceram dos cabos das guitarras e do baixo.
O som estremece a fronteira com o país vizinho e rende os inimigos através dos riffs endiabrados de Andrej Petro e Erik Leško. O jato supersônico eslovaco atravessa os céus e pinta a terra inimiga de vermelho com o contrabaixo distorcido de Juraj Ondrejmiška, aliado ao elemento percussivo exposto pelo baterista Federico Petrík. A pausa acontece para ver o estrago do outro lado do pelotão e Federico aproveita para dar uma risada curta, que inclusive aparece no videoclipe. Essa risada me lembrou na hora a risada do Pinche Peach (Brujeria).
A segunda parte abre o corredor polonês para os solos emoldurados no clima da música e do tema vociferado por Andrej. As linhas de bateria colocam todo o tempero do Sodom. Não é à toa que o vocalista e guitarrista aparece trajado com o manto dos alemães. Thrash real e com menos de três minutos! É assim que deve ser? Aqui eu concordo que sim!
Uma espécie de Mad Max alternativo
“Lightning Cops” é o sexto episódio desse rolo compressor e seu nome apresenta algumas curiosidades. Você pode encontrar traços da saga Mad Max dos tempos atuais, em que o calor escaldante é capaz de queimar o concreto, que por sua vez, impede a terra de respirar, provocando um clima desértico e característico dos filmes da saga citada. As vidas passam a não valer nada, e valem desde que possuam alguma joia valiosa por trás. Os motociclistas percorrem as estradas em busca de velocidade e novos desafios, enquanto os tiros cruzam as ruas. Os policiais surgem “do nada” e disparam quando bem entendem, parecendo raios ao anoitecer. Basicamente é isso, mas pode ser entendido de mil maneiras e essa é a riqueza da boa leitura.
Esse trecho da canção lembra o Iron Maiden. Observe:
“Wrathchild marches on
Until the hot moon is gone
Leather gloves with steel spikes
Shake handles of motorbikes”
Quanto à trilha sonora, temos um início com cordas agudas, quase enveredando para um Heavy Metal tradicional, mas você pode colocar como um Heavy/Thrash. É um som feito nos moldes mais atuais, remetendo às joias lapidadas recentemente. Mas, não pense que isso é ruim. A conjectura da canção lhe mostra o caminho visceral da coisa a partir da primeira parada. Os solos são extremamente bem construídos e cheios de nuances. Percepção de acordo com o momento da canção. A base, por sua vez, aumenta o poderio e lança vários disparos contra os donos dos relâmpagos e os seres que prezam apenas pelo objeto valioso e manchado de sangue. Os backing vocals injetam ainda mais energia para os raios e a tempestade segue até virar uma chuva torrencial, fechando a emenda musical.
As últimas munições para o ataque frontal
Todo filme de guerra que se preze, possui uma trilha sonora de respeito. Portanto, nada como o Acid Force ter a sua própria trilha instrumental. “Beyond the Concrete Fields” é a faixa escolhida para anteceder a apoteose e consta a participação do perito em sintetizadores, Henrich Leško. Além dos campos de concreto, também temos harmonia entre guitarras e violões, tudo em meio a uma viagem etérea.
A bateria promove os elementos mais pesados, dando um toque especial ao enredo sem palavras. A canção avança e mostra o entrosamento claro entre os músicos, para que em seguida, possam aumentar o peso e a velocidade do tema instrumental. Como é bom ouvir os estalos de contrabaixo durante a trama mais robusta! Os solos soam mais melódicos e estendem os laços com os arranjos mais leves, e…
Também aparecem peso, velocidade, viradas e contratempos essenciais para a boa “múzga”, juntamente de mais um solo, esse ainda mais visceral e com mais feeling. Não sou tão fã de temas instrumentais, mas esse aqui encaixou no tracklist como uma luva de baseball.
O arremate final
O excelente single “World Targets in Megadeaths” encerra esse novo capítulo musical dos thrashers eslovacos. A faixa representa um tabuleiro de xadrez em que você consegue estar em cena, ser um dos alvos, observar e investigar cada área, porém sem poder agir. É a sensação de uma pessoa comum em uma guerra, que até sabe das coisas, mas não pode fazer absolutamente nada para impedir o caos.
A intro é bastante voltada para o At War e também para o Sodom. Muito por conta do baixo com seu timbre exclusivo. O som da palheta arranhando a corda, é o pontapé inicial para a sequência de golpes no soldado adversário. Baixo e bateria espancam as vítimas sem clemência. Tudo isso enquanto as guitarras rasgam as vilas como marcas das esteiras dos tanques de guerra ao atravessarem e atropelarem tudo que avistam pela frente. Os rasgos feitos pelas cordas aumentam as chamas das casas atingidas pelas bombas.
Enquanto homens paranoicos ficam maravilhados com a guerra, pessoas inocentes são condenadas à morte sem qualquer chance de defesa. O lucro da guerra prevalece e os solos vibrantes pedem para manusear o explosivo com cuidado. A informação secreta é guardada até segunda instância. Portanto, a busca por detalhes desse plano é imprescindível.
Megamortes é pouco para quem deseja o lucro acima de qualquer coisa. Vender armas e promover guerras constantes é um ótimo negócio para os que pensam ter sangue azul. Ainda sobre os solos, os mesmos ganham breves instantes de Rock N’ Roll e depois passam por um pequeno túnel progressivo, enquanto as bases serram como nunca e mostram que o Thrash Metal é o principal plano para a utilização de todo esse arsenal de guerra.
Informações secretas e decodificações finais
O Acid Force convenceu desde a primeira audição. Todavia, o novo disco é super tradicional em se tratando do estilo. Todas as músicas se comunicam, enquanto os músicos se completam. O início de “World Targets in Megadeaths” é preciso e qualificado de maneira condizente. A junção funciona muito bem, além das variações feitas pelo baixista Juraj Ondrejmiška e pelo baterista Federico Petrík.
O guitarrista e vocalista Andrej Petro sabe impor sua voz e o ritmo com timbre excelente de sua guitarra. Entretanto, o cara não faz tudo sozinho. Afinal, temos nas mãos do também guitarrista Erik Leško a magia necessária para compor grandes frases e solos diversos.
Os representantes do Thrash Metal eslovaco estão com um trabalho de gigantes na praça. Cabe a você, adepto da sonoridade arruaceira, esmagadora de ossos e cortante como navalha, conferir essa nova obra.
“Secret meeting behind the door
Paranoid men amazed by war
Guess the symbolic code
Targets will soon explode
Hydrogen bombs, doomsday machine
Crush the enemy, Earth is now clean
Planet full of nuclear heads
World targets in megadeaths”
nota: 9,0
Integrantes:
- Andrej Petro (guitarra, vocal)
- Erik Leško (guitarra)
- Federico Petrík (drums)
- Juraj Ondrejmiška (baixo)
Faixas:
1. Out of the Trench
2. Preachers of Mayhem
3. Fast Friday
4. Rebirth of the Sun
5. Praise the Atom
6. Lightning Cops
7. Beyond the Concrete Fields
8. World Targets in Megadeaths
Redigido por Stephan Giuliano