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Resenha: Lucifer’s Hammer – “Be and Exist” (2024)

Agora, é a vez do time de Lucifer entrar em campo. A banda chilena de Heavy Metal, Lucifer’s Hammer, lançou novo material. Trata-se do álbum “Be and Exist”, presente nas vitrines das principais lojas do ramo desde o dia 14 de junho via Dying Victims Productions.

   

Decerto, o ano de 2024 foi muito frutífero em questão de lançamentos de discos. Todavia, o Heavy Metal deixou a sua marca através de ótimos álbuns, tanto de bandas consagradas como Saxon e Judas Priest, além do próprio HammerFall, entre outras de menor porte, o que é o caso do Lucifer’s Hammer. A banda sul-americana mostrou novamente a que veio e conseguiu fechar a sua quadra joias circulares dentro do cenário tradicional do Metal.

“Be and Exist” é realmente tão bom quanto os anteriores?

Bem, não seria muito conveniente queimar cartucho logo no início da empreitada. Mas aqui a coisa acabou tomando outra forma e, como já estamos no ano seguinte ao do lançamento, é bom já alertar sobre o que vem a seguir. Em resumo, a receita novamente funciona e o tempero é equilibrado. Porém, não é somente disso que o novo trabalho dos chilenos é feito.

Os países vizinhos ao Brasil possuem cenas locais excelentes no quesito qualidade musical e fidelidade ao gênero musical a qual tanto amamos e louvamos. Não apenas no Heavy Metal tradicional, mas também incluindo os outros principais subgêneros do Metal. E só para ilustrar, o Chile entra fácil nessa lista, embora seu território não faça fronteira conosco.

Entretanto, vale ressaltar que as boas bandas de lá não aparecem tanto frente aos holofotes daqui por conta dos olhos brasileiros estarem sempre mais direcionados à ala de cima da América. Isso é um erro gigantesco, mas é o costume enraizado na população. Nós, do Mundo Metal, sempre giramos o globo terrestre com o intuito de encontrar bandas dos mais longínquos lugares e que praticam o bom e maravilhoso Metal.

   

Breve caricatura do Lucifer’s Hammer

O Lucifer’s Hammer surgiu em meados de 2012, na cidade de Santiago, capital chilena. A banda foi formada por dois componentes: o vocalista e guitarrista Hades (Andrés Adasme), e o baixista e baterista Titán (Rodrigo Adasme). Portanto, ambos iniciaram a jornada do Lucifer’s Hammer na estrada.

Nomeado em homenagem a um romance de Larry Niven e Jerry Pournelle. Não está claro se os membros da banda sabiam ou não da existência do Lucifer’s Hammer de Michigan, EUA, que lançou dois álbuns completos e várias demos anos antes de sua existência, na época em que decidiram um nome.

Assim sendo, a banda lançou os seguintes discos:

  • “Beyond the Omens” (2016)
  • “Time Is Death” (2018)
  •    
  • “The Trip” (2021)
  • “Be and Exist” (2024)

Primeiramente, a banda estreou com a demo “Night Sacrifice Demo MMXIII”, de 2013, e também lançou o EP “Victory Is Mine”, de 2017. Em suma, a força motriz sempre esteve junto dos irmãos Adasme. Sobre Andrés Adasme, mais conhecido no certame underground pelo pseudônimo Hades, estaremos prestando as devidas honrarias e condolências ao decorrer da escrita.

Lucifer's Hammer: vocalista Hades falece os 38 anos
reprodução

Estar presente e existir por eras…

“Be and Exist” olha para o alto e decola o seu espírito rumo ao jamais visto. De maneira categórica, a primeira das três faixas instrumentais do disco, “Cosmovision”, te apresenta uma abordagem cósmica ao atingir seus sensores enquanto os vetores emanam aquela energia metálica necessária para seguir em frente. Os pesadelos reais ocorrem através do próximo capítulo chamado “Real Nightmares”. O sonho começa em valsa pegajosa como uma boa receita de Heavy tradicional, contendo fortes turbulências durante a viagem. Porém, o prumo é mantido através do pulso forte das guitarras e do contrabaixo. A valsa retira do silêncio o sentimento obscuro dentro de ti até que…

   

Temos uma jogada de pratos estelares promovidas pelo baterista Titán. Entretanto, só estamos começando a enxergar a visão horripilante através da mente insana. Então, para fugir desse pesadelo basta se entregar aos dedilhados incessantes e as levadas em base poderosas. Combustível perfeito para a aeronave chilena seguir seu curso com solos brilhantes em neon.

“Eu não posso acreditar que esse sonho é tão irreal
O oráculo me mostrou a verdade
Nunca confie em ninguém que você não conhece, as aparências enganam.
Nunca esqueça o passado”

Uma jornada triunfante e repleta de mistérios a brindar…

Ter uma noite gloriosa regada a muito Heavy Metal e cerveja gelada é alma do negócio. E “Glorious Night” é aquela que te servirá o devido cardápio. Olhe pela janela e veja aquele planeta parecido com o mundo criado pelo Iron Maiden nos dois primeiros discos, com o saudoso Paul Di’Anno (R.I.P. 2024). Riffs turbinados ditam o ritmo da trama, sob uma virada de caixa seca nos moldes do também saudoso Clive Burr (R.I.P. 2013). As manhãs podem ser tristes, já que as noites nos consomem. Entretanto, a noite sempre volta para nos assombrar e com isso, temos em mãos aquele contratempo generoso, ou melhor dizendo, dualidade da mais alta qualidade, só para ilustrar e também rimar.

A retomada empolgada pela paixão e pela luxúria fazem com que o cenário entre em chamas e você só pode pensar em uma coisa. Abrir aquela garrafa de vinho e brindar aos anos gloriosos que fizeram dessa chama, uma das mais importantes de toda a história musical.

Somos todos filhos da Terra e o nosso legado é manter a chama do Metal acesa com “Son of Earth”. Seu início traz à mente o Torch, da Suécia, e o falsete inaugural da canção promovido pro Hades, energiza o planador e reacende os motores principais do álbum. A partir desde agudo, a canção toma uma forma mais “priestiana”, digamos assim. Contudo, ainda seguimos com a rota identitária do martelo luciferiano. A luta de um líder vitorioso, guiando o seu povo contra os malefícios mundanos e uma sociedade opressora, trouxe uma assinatura banhada no sangue de um herói. Céu e inferno temiam a sua voz e seu nome era o legado dos deuses. Enquanto isso, a natureza e sabedoria eram o poder para a vitória através do Heavy Metal.

A segunda parte de uma toada envolvente

Após a primeira parte da qual não completa 2min, temos uma versão falada como um anúncio feito à distância, somado a uma linha sonora mais cadenciada. Decerto, era para combinar com o modelo vocal. Seriam os deuses astronautas? E quanto a nós? Seríamos servos dessa escalada rumo ao infinito e além?

   

“Vire suas armas e espírito furioso para os peitos daqueles que o colocaram em dura submissão, com afronta, a todo o mundo manifesto; jogue fora o jugo vergonhoso de você, mostre sua coragem e força nisso, não derrame sangue em vão para nos redimir nunca diante dos olhos do vilão”

Você se pergunta em meio a um trecho percussivo marcante, que serve de aviso para o que está por vir. E aqui você compra a ideia de um Iron Maiden com a marca dos chilenos. Contudo, aqui estão os melhores solos do disco e, quiçá, a melhor canção também.

A jornada do antagonista

Em toda história temos um antagonista e, para seguirmos viagem, precisamos destacar “Antagony”. A marcação do contrabaixo é bastante evidente e acompanha o chamado da guitarra até surgir a cavalgada antagonista rumo ao centro estelar. Cá estamos olhando para o céu em uma noite estrelada enquanto os versos e as ondas sonoras se unem em prol de escuridão iluminada.

Ao sentir o frio passando pelo corpo, nos deparamos com uma cavalgada de guitarra isolada, acobertada pelo baixo marcado de Tyr e uma bateria sólida de Titán. Isso remete ao clássico hino do Black Sabbath, “Heaven and Hell”, porém de maneira diferente. A levada cativante oferece ao Hypnos solos memoráveis e repletos de feeling.

Se eu estava meio em dúvida quando à melhor faixa do disco, cravo que aqui eu não quero matar pessoas inocentes sem motivo. Apenas esmagar seus inimigos através do compasso harmonioso. Nossos corações debatem entre o verdadeiro e irreal durante a viagem interestelar ao olhar além dos medos. A glória, com toda a certeza, não é para os fracos e você tem na voz e nas bases de Hades a chama tremulando mais viva do que nunca.

“Mas seu nome será renomado além do sol
Além da morte”

Uns temem, outros servem, outros mais ignoram, e alguns se arrependem. Porém, está na hora de temer através de “The Fear of Anubis”. Assim sendo, a segunda faixa instrumental do álbum. Só para exemplificar, enquanto a abertura do álbum é mais como uma climatização, aqui a banda se apresenta de corpo e alma. Destaque para as mudanças de andamento e ritmo, além dos solos, claro!

   
Lucifer’s Hammer/Reprodução

Metal petrificado

Aquele povo que fica de braço cruzado por não usar desodorante ao comparecer em um show, deve ser vítima da magia de um ser mitológico super conhecido por tornar seus rivais em pedra. “Medusa Spell” entra em acordo com a década de 80 e oferece toda a riqueza sonora oriunda de lá, porém já não comporta tanto destaque como suas irmãs e antecessoras. O início dedilhado é muito bem feito sob o brilho dos olhos da criatura. É como Um doce veneno como vinho de uma garrafa que bebi (de acordo com o autor da letra), como um último suspiro em meio à levada com mudanças de andamento do contrabaixo, e ameaças de guitarra para perder a razão junto aos solos cativantes.

Assim sendo, nos tornamos escravos da Medusa dos mares, escravos dos seus desejos. Nós perdemos o controle dos nossos corações. Um feitiço maligno caiu em mim e, com toda a certeza, em você. Esse feitiço se chama Heavy Metal. Além disso, podemos elencar o refrão como outro ponto alto da canção.

“Uma visão elevada
Hipnotizado
Mentiras sujas
Preso em seus olhos
Luxúria e amor
Não me faça sofrer
Coração de pedra
Preso em dúvidas”

Ainda há combustível na nave e, portanto, cabe a você prestar atenção em “The Part of Being”, terceira e última faixa instrumental do disco. Faixa bem breve, contendo linhas curtas de violão.

O existir é mais valioso e nobre que a ganância suja

O encerramento da aventura em prol do Heavy Metal ocorre juntamente da faixa que carrega o nome da obra. “Be and Exist” possui um formato em primeiro plano voltado para os trabalhos solo de Dio e também podemos incluir a fórmula da clássica canção de Ozzy Osbourne, Bark At the Moon. Vá andar em direção ao Sol, você Vai queimar, você saberá que nas sombras você viverá. Essa é a sensação durante o último capítulo da viagem pela qual são modificados os roteiros e a canção ganha elementos de Prog Rock, como se Alex Lifeson e Geddy Lee tivessem feito uma visita no Audio Custom and Natural Audio. Local este em que o Lucifer’s Hammer gravou “Be and Exist”, em dezembro de 2023, Santiago, Chile.

Assim como em “Son of Earth”, a faixa homônima apresenta o formato falado, ou narrado se preferir, de trecho dos versos. Como não soa como novidade, acaba não tendo o mesmo impacto. Porém, sem jamais prejudicar a obra ou o contexto do disco. Afinal, além do universo e do infinito não somos nada…

   

Os mistérios do mundo vivem nas sombras dos gananciosos. Em meio aos solos com bases voltadas para a primeira parte da música, eu tentei entender o poder do dinheiro e me senti muito vazio. Às vezes é melhor não ter nada a querer…

“A maneira de viver sem propósito a vida pode custar a você
A simplicidade de tudo isso é o que observei
O tempo levará sua dor embora, você não deve lutar contra ela.
Hoje à noite no cosmos do infinito uma estrela que você pode levar”

Considerações siderais finais e principais destaques

“Be and Exist” é, com toda a certeza, mais uma força montada pela tropa chilena e merece as congratulações. Em suma, trata-se de um trabalho completamente voltado para os anos dourados do Heavy Metal tradicional, mas com uma bela dose da característica e identidade dos caras e de como eles inserem cada acorde em verso.

Todavia, faltou um pouco de peso na bateria e, por vezes, nas linhas de guitarra. Mas creio que a ideia era soar como uma viagem mesmo. Sem acrescentar uma sonoridade mais rasgada, só para exemplificar. O novo full length é um trabalho formidável e que poderá se destacar ao longo do tempo. Decerto, é um trabalho anos-luz longe de ficar estagnado e também oferece uma continuidade para a banda. Não sabemos se a banda seguirá adiante, mas a memória de Hades merece ser lembrada nos shows e o legado fica. Porém, a banda deve seguir o seu caminho.

Por fim, vale mencionar que em um tracklist composto por oito faixas, sendo três delas instrumentais, perde um pouco do poder de fogo a meu ver. Embora “The Fear of Anubis” seja um primor nesse sentido, temos mais duas faixas que funcionam como aberturas ou pano de fundo, como queira. Agora, de fato, “Be and Exist” soa muito bem e mantém a chama mais do que acesa com relação ao trabalho feito pelo excelente Lucifer’s Hammer.

Lucifer's Hammer banda revela que a causa da morte do vocalista Hades foi assassinato
reprodução / Facebook / Lucifer’s Hammer

Mensagem póstuma e agradecimentos aos serviços prestados

Parece ontem que conhecemos o Lucifer’s Hammer. Talvez, você que está lendo agora, nem soubesse de sua existência até então. Contudo, vale destacar que a banda sempre prestigiou o Metal e honrou a camisa. Hades ajudou a construir o que temos hoje e finalizou seus dias em plano carnal com essa obra sensacional. Óbvio e certamente que, queríamos Hades em vida até para o mesmo ver que lembramos do trabalho dele, mesmo que tardiamente.

   

Através do meu nanquim virtual e em nome de toda a equipe do Mundo Metal, presto as minhas condolências aos familiares, amigos e fãs de Andrés Adasme, vocalista e guitarrista de uma das melhores revelações sul-americanas dos últimos anos. Seu legado junto ao Lucifer’s Hammer está imortalizado e essa chama não se apagará.

Obrigado por sua dedicação ao Heavy Metal e aos trabalhos incríveis dos quais ajudou a compor e a construir.

“Eu quero terminar a música porque você foi silenciado, mas além da dor, minha alma foi deixada em paz”

“Descanse em paz, Andrés Adasme, vulgo Hades“.

nota: 8,7

Integrantes:

  • Titán (bateria, baixo)
  • Hades (R.I.P. 2024) (vocal, guitarra)
  •    
  • Hypnos (guitarra solo)
  • Tyr (baixo)

Faixas:

1. Cosmovision
2. Real Nightmares
3. Glorious Night
4. Son of Earth
5. Antagony
6. The Fear of Anubis
7. Medusa Spell
8. The Part of Being
9. Be and Exist

Redigido por Stephan Giuliano

   
   

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