“South Of Heaven” é o quarto full lenght que o Slayer lançou em 5 de julho de 1988.
O ano era 1988 e a banda californiana de Thrash Metal, Slayer, já lançara três álbuns completos até então, “Show No Mercy” de 1983, “Hell Awaits” de 1985 e o icônico “Reign In Blood” de 1986, o qual havia feito com que os fãs vertessem sangue, suor e lágrimas no mosh pit e fora dele.
O quarteto definitivamente deixou de ser underground e fazia agora parte do mainstream. Todas as expectativas giravam em torno de como seria o quarto full-lenght e no dia 5 de julho, finalmente surgia o disco “South Of Heaven” pelo selo “Def Jam Records”, o segundo a contar com o produtor Rick Rubin.
O feedback inicial foi decepcionante, pois a grande maioria dos fãs torceu o nariz para o álbum, porém isso iria mudar muito rapidamente. “South Of Heaven” foi o disco pelo qual eu conheci Slayer e posso afirmar com plena certeza que ele foi um dos discos que me ajudaram a abrir as portas da minha mente para o Thrash Metal, estilo que até então eu desprezava. “Rust In Peace” do Megadeth e “Master Of Puppets” do Metallica também ajudaram a virar a minha cabeça para a pancadaria.
Um amigo meu comprou assim que o vinil chegou às lojas, me indicou e me emprestou, insistindo que eu ouvisse para conhecer e o fiz logo no primeiro dia. Assim que começou a faixa título, algo em mim imediatamente mudou e eu já não era o mesmo.
Aquela introdução sombria e, concomitantemente, maravilhosa, fez com que, além de Hard Rock e Heavy Metal, o Thrash também passasse a fazer parte das minhas preferências.
A rapidez também é presente
“Silent Scream” me faz literalmente babar. Embora seja uma canção rápida, ela é pesada e com uma produção bem mais nítida do que a dos discos anteriores. Tom Araya, o lendário vocalista e baixista nascido no Chile, experimenta vocais mais limpos, contudo não menos agressivos pela primeira vez. O resultado é perfeito.
“Live Undead”, que já havia sido o título de um EP ao vivo, segue massacrando a minha alma impiedosamente, mas após ouvir “Behind The Crooked Cross” que na época tive que dar o braço a torcer e admitir minha recente paixão. Dave Lombardo dá um espetáculo à parte nessa canção. Seu arranjo de bateria é um mistério a ser explicado pela ciência. Além disso, Kerry King e Jeff Hanneman também se superam em todas as músicas desse registro.
O lado A encerra com “Mandatory Suicide”, a qual também transformou-se em clássica imortal executada em todos os concertos, doravante.
Lado B
O lado B inicia derrubando tudo o que está e passa em sua frente com a épica “Ghosts Of War”, que é a minha canção favorita do quarteto até hoje. Se alguém um dia me pedisse para que eu escolhesse uma única faixa que explicasse o que é Slayer, certamente, seria ela.
“Read Between The Lies” segue a dinâmica da última parte de sua antecessora, como se fosse uma sequência conceitual da mesma. Ela é igualmente massacrante e desperta uma atmosfera que mantém o ouvinte preso a audição.
O ritmo volta a acelerar em “Cleanse The Soul”, música que só perde para “Silent Scream” no quesito rapidez, e que torna essa parte do disco tão mítica quanto o seu lado A.
Judas Priest sempre foi a principal influência da banda e o belíssimo cover de “Dissident Agressor”, o qual foi fundamental para a minha decisão de ouvir o álbum para saber do que se tratava, demonstra isso veementemente. Os agudos de Halford ora são substituídos com perfeição por bends de guitarra, ora pelo gritos de Araya.
“Spill the Blood” é fantástica
“Spill the Blood”, canção que brilhantemente encerra o álbum, é uma das razões pelas quais os fanáticos pela sonoridade da banda tivessem torcido o nariz para esse disco no princípio, pois nunca uma música do Slayer havia começado com um dedilhado de guitarra. Porém, não haveria uma melhor forma de experimentar isso pela primeira vez. A faixa é longe de ser uma balada, é apenas uma forma diferente, mas igualmente agradável de tocar Thrash Metal.
Slayer demonstrou haver atingido o auge de sua maturidade em seu quarto full-lenght, pois experimentou sonoridades sem perder nada de sua essência brutal e agressiva. “Reign In Blood” encerrou a primeira trinca infernal.
“South Of Heaven” iniciou a segunda trinca, a qual foi completada pelos álbuns “Seasons In The Abyss” de 1990 e “Divine Intervention” de 1994, primeiro álbum a contar com o baterista Paul Bostaph, que integrou o line-up na turnê despedida, a qual causou um vazio que permanecerá para sempre. Ao mesmo tempo, também sei que todas as vezes que a saudade apertar, basta que eu escute esse divino registro da primeira a última faixa para que ela seja momentaneamente aliviada. Recentemente, Slayer anunciou seu retorno para apenas algumas apresentações, mas tomara que isso se alongue e que passem por aqui mais uma vez.
Esse disco foi um dos que mudou a minha vida.
Nota 9,5
Integrantes:
- Tom Araya (vocal e baixo)
- Jeff Hanneman (guitarra)
- Kerry King (guitarra)
- Dave Lombardo (bateria)
Faixas:
- South Of Heaven
- Silent Scream
- Live Undead
- Behind The Crooked Cross
- Mandatory Suicide
- Ghosts Of War
- Read Between The Lies
- Cleanse The Soul
- Dissident Aggressor (Judas Priest Cover)
- Spill The Blood
Redigido por Cristiano “Big Head” Ruiz
Lembro de quando ouvi o LP pela primeira vez, demorou de fato um tempo pra me acostumar, especialmente com os vocais mais limpos do Araya.
Arrisco que, com os vocais “tradicionais” teria tido o mesmo impacto imediato.