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Resenha: Motörhead – “Sacrifice” (1995)

   

“Sacrifice” é o décimo segundo álbum de estúdio da carreira do Motörhead.

No inicio dos anos noventa, não apenas toda a indústria da música passava por uma gigante mudança de paradigmas e novas tendências, mas também as noções de prioridade das gravadoras e produtoras, em relação as bandas veteranas.

Após 20 anos de carreira, uma reputação inquestionável e uma sonoridade muito bem estabelecida e influente, o Motörhead já não tinha que provar nada a ninguém, ou seja, Lemmy Kilmister sabia muito bem o que queria para sua banda e não deixaria ninguém meter o dedo na sua cara.

Motorhead/Reprodução

…And we play Rock´n Roll

Desde o ano de 1991, com lançamento do disco “1916”, pela WTG Records, Lemmy e seus companheiros passavam por poucas e boas por conta das constantes interferências da produtora, na tentativa de tornar o som dos britânicos mais acessível e comercial, causando atritos constantes com a banda, mais especificamente com a mente por trás dela.

   
Motorhead/1991/Reprodução

Ao mesmo tempo que “1916” representava uma espécie de renascença para a banda, também dava o primeiros sinais de que Lemmy precisaria ser ainda mais contundente e resoluto ao adentrar aquela nova década.

Lemmy/Reprodução

Mudanças necessárias

O ano de 1993 marcou uma serie de mudanças e eventos importantes dentro da estrutura do grupo, como o baterista Mikkey Dee se tornando oficialmente membro da banda, já que na gravação do disco “March or Die”(1992), Dee era creditado como um convidado especial, e Phil “Animal” Taylor ainda não havia saído da banda.

Mikkey Dee / Reprodução

Mikkey fez sua estreia oficial no injustiçado e digno “Bastards”, álbum lançado em novembro de 1993 e promovido de forma incompetente pela gravadora alemã ZYX, apenas em território alemão, dessa forma, tornando a aquisição do disco quase inviável na época, caindo em um certo ostracismo comercial.

Sacrifice

É interessante imaginar em uma realidade paralela, dado o cenário e situação em que o Motörhead se encontrava, Lemmy talvez decidisse desacelerar, se ater aos caprichos das gravadoras e se tornar um músico mais acessível, indo atrás do prejuízo imperdoável de seu esforço anterior. Porém, isso é tão absurdo, que nem faz sentido.

Lemmy/Reprodução

“Sacrifice” foi lançado em julho de 1995 pelo selo Steamhammer records, sucessor de “Bastards” e, talvez provavelmente, o álbum mais pesado e bruto já gravado pelo Motörhead.

   

Além de ser o último registro da banda como um quarteto, marca a despedida do guitarrista Würzel, que fazia parte do Motörhead desde 1984, gravando seis álbuns de estúdio.

Sacrifice/Cover/Reprodução

É notório que Würzel não saiu em bons termos da banda, com todos os 3 membros remanescentes alegando que sua saída era inevitável e que acabou sendo uma decisão mutua entre as partes. Além disso, sua participação em estúdio era quase nula.

Motorhead/Reprodução

No documentário “The Guts and the Glory”, lançado em 2005, Lemmy cita que Würzel estava sendo mal influenciado e sentia que estava sendo ludibriado financeiramente:

“Ele tocou apenas um solo em todo o álbum. Ele já havia partido antes de começarmos o álbum. Sua contribuição foi mínima. É uma pena que o Würzel,  começou a acreditar nas pessoas erradas. Porque eu era o melhor amigo que ele tinha, na banda e fora dela, eu era o melhor amigo dele, e ele não acreditou nisso; ele começou a me acusar de roubar o dinheiro dele e essas coisas, como se eu precisasse do dinheiro do Würzel. Quero dizer, todo esse dinheiro estava vindo para mim do Hawkwind antes dele e do Motörhead antes dele, eu não precisava da porra do dinheiro dele e não o teria roubado mesmo se precisasse. Isso não é do meu feitio. Mas lá vai ele. Você faz suas escolhas e sofre as consequências”

O bom e velho Heavy N´Roll

O que podemos dizer de “Sacrifice” para além de sua alta octanagem, é que ele basicamente segue a mesma linha do que buscavam no álbum anterior, porem, é difícil classificar o que exatamente é o Motörhead nessa fase noventista.

 A fórmula deles parece ser meio Metal, Meio punk, Meio rock ‘n roll e, sim, isso de fato soma três partes de uma banda, não é atoa que o produtor Howard Benson e engenheiro de som Ryan Dorn tenham sido chamados pela segunda vez, visto que Lemmy havia gostado muito do resultado alcançado em “Bastards”. Não ironicamente, Howard co-produziu todos os quatro registros dessa fase mais injustiçada e obscura da banda.  

   

Dito isso, esse disco é um dos, se não o mais, inequivocadamente, Metal lançado pela banda.

Motörhead / Reprodução / Acervo

Pé na porta, Motörhead na cara

Sacrifice” abre o mar vermelho, sem remorso e mais alto do que qualquer coisa, mostrando oficialmente a estreia de Mikkey Dee, desse modo, derrubando tudo e todos pelo caminho. Único exemplar a ser tocado ao vivo com certa frequência, e, inegavelmente, um dos clássicos dentro da discografia.

Sex & Death” traz a tona o bom e velho Rock and Roll tunado na qual só a banda consegue fazer com excelência, não apenas na sonoridade clássica, mas nas composições líricas:

 “Aqui ainda estamos lutando, lutando pelas nossas vidas.
Há perigo nas trincheiras, mas ainda sobrevivemos.
Sabemos quem somos, sabemos quem somos.
Nos Lembramos de cada movimento, ainda carregamos as cicatrizes.”

“Não vamos desistir enquanto tivermos fôlego.
Sexo e Morte!
A resposta ao mistério da vida é simples e direta.
Sexo e Morte!”

A arte de Joe Petagno

É impossível falar de “Sacrifice”, sem mencionar o espetacular trabalho do veterano artista Joe Petagno na arte dessa capa em especial… Aliás, Lemmy Kilmister, Joe Petagno e a nicotina formam a tríplice coroa do Motörhead, e tenho dito.

Sem sombra de dúvida, um dos melhores trabalhos do artista e uma das melhores e mais obscenas versões do mascote Snaggletooth já criadas, e como já citamos guerra, morte e sexo aqui, já temos 90% do conteúdo da capa transcrito nas letras.

   

Lápides, silhuetas, assim como a própria morte ceifando a vida de uma conflagração inteira, uma procissão profana de bandeiras altas sendo enviadas direto para o inferno e um presságio de destruição que encobre as nuvens carregadas de tons de laranja e pretos, só não intimidam mais que a própria criatura no centro da imagem. Da boca da besta, escorre uma saliva viscosa e translucida, sua língua é distintamente peniana e a garganta tem o formato vaginal, num tom de pura indecência e imoralidade.

Sacrifice/Joe Petagno/Reprodução

Sobre sua criação, Joe Petagno comentou certa vez:

“Eles fizeram de tudo ao seu alcance para se livrar daqueles órgãos genitais. É incrível como os órgãos genitais podem irritar as pessoas. Essa é a piadinha minha e do Lemmy. Nós gostamos de órgãos genitais”

Alta potência

Após o inicio devastador do álbum, sem sinal de preliminares, a trinca composta por “Over Your Shoulder”, “War for War” e “Order/Fade To Black”. Tais canções fazem total justiça ao que foi citado, a princípio, uma verdadeira sequência de pancada sonora, no epítome da palavra.

Não só o timbre da guitarras é espesso e cavernoso, mas a sonoridade do baixo se equivale de maneira única, a distorção nunca esteve tão envenenada como aqui, talvez especificamente nas apresentações ao vivo, onde Lemmy podia aumentar o volume dos amplificadores em níveis estratoféricos.

Motörhead / Reprodução / Acervo

Mas é inegável que o destaque vai para “Order/Fade To Black”, em uma das demonstrações mais eficazes que a banda podia compor musicas mais complexas, se comparadas ao seu habitual mais direto, e prova que os caras estava numa fase altamente criativa. Aquele tenebroso riff de marcha militar incansável da inicio a uma velocidade incontrolável. Logo depois, chegarmos numa reviravolta que remete totalmente a clássica “Overkill”, desde a batida até a pulsante linha de baixo. Em suma, um som que remete ao som característico, numa roupagem mais carrancuda e petulante.

   

O lado B tem seu valor

Não há como negar que chegando na metade, as variações se tornam mais escassas, assim como o ritmo mais maçante. “Dog-face Boy” mantém a força apenas para criar terreno para faixas como “All Gone To Hell” e “In Another Time”. Isso é basicamente o puro suco do Motörhead em sua essência. Definitivamente, não foi feito para se ouvir em volume ambiente, já que nenhum álbum da banda foi. “Make ‘Em Blind” traz o holofotes diretos para Mikkey Dee, em uma levada precisa e consistente do inicio ao fim. Sem dúvida a faixa com a melhor cozinha de todo o registro, Lemmy e Mikkey com certeza compartilhavam o mesmo neurônio rítmico.

“Não me pergunte por que ou como

Você deve acabar com o feitiço
A vida poderia ser muito mais do que isso
A menos que tenhamos ido para o Inferno.”

Para quem ainda tinha dúvidas

Lemmy sempre, desde o princípio, afirmava que o Motörhead era uma banda de Rock’n’Roll, o que é compreensível, visto a época em que ele cresceu e desenvolveu seu caráter musical. Assim sendo, sempre foi nítido que sua fixação remonta aos primórdios do gênero, especificamente Little Richard. Desse modo, poderíamos interpretar “Don’t Waste Your Time” como a tentativa de Lemmy de resolver a questão de que tipo de música o Motörhead realmente tocava. Numa abordagem melódica totalmente boogie dos anos 50, com adição de piano e saxofone, Lemmy faz uma respeitável homenagem aos seus ídolos à moda da casa, com direito a uma dose de Jack e um Marlboro pra tirar o gosto.

Born To Lose…

Como bem sabemos, “Sacrifce”  não foi recebido com muito alarde em sua época. Isso deu continuidade à ambivalência do final dos anos 1990 que o público em geral tinha em relação à banda. Ou seja, a maioria das faixas não foi tocada ao vivo, com poucas exceções.

Live To Win…

É evidente que com o passar do tempo, esses álbuns se tornaram cultuados pela base de fãs que surgia. Além de estarem sendo redescobertos ano após ano, não apenas pelo advento do streaming, mas pelos colecionadores mais assíduos. Em outras palavras, Lemmy e seu legado permanecem vivos, pois se tornaram um símbolo dentro da música, independente de quanto tempo passe.

Lemmy Kilmister / Reprodução

Nota: 8,6

   

Integrantes:

Lemmy Kilmister (baixo e vocal)
Phil Campbell (guitarra)
Würzel (guitarra)
Mikkey Dee (bateria)

Faixas:

  • 1.Sacrifice
  • 2.Sex & Death
  • 3.Over Your Shoulder
  • 4.War for War
  •    
  • 5.Order / Fade to Black
  • 6.Dog-Face Boy
  • 7.All Gone to Hell
  • 8.Make ‘Em Blind
  • 9.Don´t Waste Your Time
  •    
  • 10.In Another Time
  • 11.Out of the Sun

Redigido por: Giovanne Vaz

   
   

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