Rob Halford, o exímio vocalista do Judas Priest, é uma referência no estilo e um visionário da música. Como todos sabem, o grupo britânico foi uma das peças centrais no desenvolvimento do Heavy Metal nos anos 70 assim como nos 80. Além dos discos que traziam inovações e novos elementos para o gênero, o Judas, através de Halford, apresentou as tão conhecidas vestimentas.
Quem assistia as apresentações e via aquele grupo de rapazes vestidos de couro, jamais imaginaria (bem, alguns poderiam imaginar) que o icônico frontman que cantava os versos de faixas como “Screaming For Vengeance”, “Rapid Fire”, “Jawbreaker” e “Dissident Agressor”, era, por fim, um gay.
Libertação
Halford manteve sua homossexualidade em segredo durante muitos anos, ele já era uma verdadeira lenda do Metal em 1998, quando, inesperadamente, em um programa da MTV, o MTV News, resolveu assumir para o mundo quem ele realmente era. Na época, ele contou:
“Eu acho que a maioria das pessoas que conheço já sabem que eu sempre fui gay a minha vida toda. Só recentemente que se tornou uma questão que eu me sinto confortável em falar. É um assunto que está comigo desde o reconhecimento da minha própria sexualidade. É algo com o qual sempre me senti confortável, algo que acredito ter um momento de discutir e este é o momento. Ainda existe muito preconceito na indústria da música, em todos os tipos de música. Não diria que no metal há mais preconceito do que no rap, ou seja lá o que for a música que eu esteja fazendo agora, mas é algo que todos temos que abordar em nossas próprias vidas. Se temos um problema com isso, acho que devemos procurar ajuda para descobrir a razão de termos um problema com isso.”
Acolhimento
O Metal God disse alguns anos depois que ficou com medo de ser rejeitado pela comunidade Metal, mas que se enganou completamente. Ele relatou:
“Eu provavelmente me enganei em pensar que eu seria rejeitado. Nada poderia passar tão longe da verdade. Quando você faz essa escolha de sair e enfrentar as questões da divulgação, você cria um tipo de medo negativo autoimposto. É lamentável que isso ainda aconteça hoje. As pessoas ainda falam coisas como, ‘eu me assumir e dizer que sou gay, cara?’. Mas você tem que fazer isso e viver a sua vida e não se importar com ninguém. Não diga que você não pode fazer isso e não se preocupe se as pessoas irão te ofender. Se elas se afastarem de você, então deixe elas pra lá. Leve sua vida da melhor forma e diga: ‘me deixe com o que eu sou e com quem eu sou e se você não gostar, isso é problema seu. Meu não é’.”
A hora certa
No último mês de março, Halford concedeu entrevista a Metal Hammer e disse que estar fora do Judas Priest naquela época, o ajudou a tomar a decisão. Caso estivesse na banda, ele provavelmente pensaria nos colegas de trabalho e talvez tudo poderia ter sido diferente. Halford relembrou:
“Não há dúvida que me tornei uma pessoa melhor por abandonar todas aquelas barreiras que tive que criar ao meu redor para minha própria proteção. A maior parte disso foi para a proteção do Judas Priest. Se eu tivesse voltado para a banda, como voltei depois, e não tivesse saído do armário antes, será que eu teria feito aquele anúncio? A vida tem esses momentos lindos que acontecem com você e que estão às vezes fora do seu alcance. Então aquele episódio foi provavelmente a melhor oportunidade que tive para repentinamente ser quem sou.”
Responsabilidade
Em 2022, Halford falou ao portal G1 e relatou como ele lida com fãs gays que pedem conselhos a ele:
“Eu estava lendo hoje sobre um jogador de futebol inglês chamado Jake Daniels, que tem 17 anos e saiu do armário recentemente. Ele disse que não tinha ideia de que ia receber mensagens de mães dizendo: ‘por causa do que você fez, meu filho conseguiu me dizer que é gay também’.
Ele disse que não esperava isso. E que entendia agora que era uma figura pública e que as pessoas assistem e ouvem ele tentando entender suas mensagens. E isso as faz tomar decisões sobre suas vidas.
Foi a mesma coisa para mim. Quando eu saí do armário oficialmente foi antes da internet, eu recebi cartas e cartões-postais de todo o mundo, fãs de Heavy Metal dizendo ‘eu sou como você’, ou ‘por causa do que você fez, eu consegui contar para minha mãe e meu pai, para meus colegas de trabalho, meus amigos da escola’.
Isso é incrível. Você nunca espera que esse tipo de coisa aconteça. Você não pensa nisso por que está sentindo tanta dor por si mesmo… Você está sofrendo porque está se segurando. Então você pensa no que vai fazer por você mesmo. Em primeiro lugar, você tem que amar a si mesmo, e aí espalhar esse amor pelo resto do mundo. Amar a si mesmo é amar sua identidade e também a sua identidade sexual.
Acho que isso ainda vale hoje. Eu vejo no meu Instagram, no meu Facebook, eu mesmo leio todas as mensagens. Eu vejo o que as pessoas estão dizendo e é isso que precisamos fazer, porque ainda há um longo caminho para a aceitação completa.”
Acostumem-se!
Em uma nova entrevista concedida ao Fugues, Rob Halford foi igualmente questionado sobre este tema. O entrevistar quis saber se outros músicos do Metal pediram conselhos a ele sobre se assumir nas últimas duas décadas. Halford respondeu que sim:
“Sim, isso aconteceu, mas não vou citar nomes porque todo mundo se assume quando chega a hora. Como todos sabemos, liberte-se. É uma coisa muito difícil para nós fazermos, mesmo agora em 2024, porque ainda temos esse desafio contínuo de ódio, intolerância e divisão. Você poderia achar que seria muito mais fácil, mas não é. A luta ainda é muito real para os jovens, e é aí que espero que qualquer conversa que eu tenha com outras pessoas faça algum bem.
Sabe, eu li uma história há pouco tempo sobre um cara na casa dos 90 anos que se assumiu pouco antes de dar seu último suspiro. Glória, aleluia! Nunca é tarde demais para se libertar porque, como sabemos, uma vez que você sai do armário, os ataques vão embora. Eu estou aqui. Eu sou gay. Acostume-se com isso, porra!”
Como sabemos, Rob é uma figura emblemática na cena Metal e fala abertamente sobre suas lutas pessoais. Em outros momentos o músico relatou passagens distintas de sua vida e o fez com enorme simplicidade e honestidade. Veja dois exemplos: