A banda 3rd War Collapse, com seu 2º álbum chamado “Catastrophic Epicenter”, é a indicação da vez.
Enfim, chegou a hora de reunir os amigos no bunker da música extrema e conferir o abalo sísmico causado no epicentro do Metal. Prestes a eclodir mais um episódio da grande guerra, o 3rd War Collapse está aqui para representar essa devastação geográfica e populacional através de sua sonoridade e seus versos de repúdio a tais atos.
O 3rd War Collapse é uma junção trabalhista musical entre Brasil e Finlândia em prol da violência exuberante do Brutal Death Metal. Através do quadro GARIMPO MUNDO METAL, pudemos apresentar de maneira breve o colapso da terceira guerra para nossos amados e assíduos leitores. Porém, aqui estaremos analisando de forma mais abrangente apenas o álbum “Catastrophic Epicenter”, lançado em 24 de agosto via Lethal Scissor Records. Portanto, trataremos deste que vem a ser o segundo álbum desse projeto brasileiro e finlandês. O debut atende por “Damnatus” e foi lançado em 2021. Seu nome lembra uma grata novidade oriunda da Polônia e que lançou um dos grandes álbuns de Death Metal de 2023. Estou falando da banda Dammnatorum e seu debut intitulado “In Umbra Mortis”.
Temática do novo trabalho do 3rd War Collapse
Assim como fora mencionado, o 3rd War Collapse une duas pátrias contra um propósito destrutivo global. Porém, o epicentro dessa história é o pandemônio recente que atingiu todo o planeta e nos alertou sobre os mais diversos aspectos sobre o controle da informação. Então, as evidências cada vez mais duvidosas, sendo para mais ou para menos. Tudo controlado e fora de controle ao mesmo tempo. Pessoas partindo em vão e sem ao menos poderem se defender, apenas virando dados estatísticos. Todo aquele episódio longo, angustiante e arrastado está latente em nossas mentes, principalmente quando alguém perdeu algum familiar ou ente querido próximo. Entretanto, nada disso acabou. Apenas foi parcialmente combatido e controlado, mas sem dizimar todo o mal.
As manipulações nunca estiveram tanto em pauta como nesses últimos anos e portanto, cabe a nós sempre prezar pela segurança ao absorver qualquer tipo de informação. Afinal, todos nós fazemos parte desse jogo de interesses entre os cardeais engravatados, de turbante, de batina, que se utilizam de bibliotecas variadas para nos enrolarem.
3rd War Collapse: tipo de sonoridade
O 3rd War Collapse promove aquela boa devastação sonora tida por Brutal Death Metal, na qual envolve uma série de elementos, tanto deste subgênero mais extremo, quanto do estilo mais tradicional, o Death Metal. Além disso, vemos as portas abertas para outras nuances de menor proporção como o Thrash Metal e uma boa cobertura de chocolate sabor Grindcore nas linhas vocais. Tudo isso misturado com o gutural mais tradicional. E isso se deve ao fato da banda trabalhar com dois vocalistas, que também são os donos dos encordoamentos da banda. Cristiano Martinez (guitarra e vocal) e Juan Azevedo (baixo e vocal) fazem a salada vocálica voltada para o som pandêmico. Além do finlandês Kalle Lindfors, que comanda as baquetas para o bom andamento em marcha desse exército de três músicos.
O epicentro da catástrofe global
Primordialmente, temos logo de início o caminho para o epicentro de tudo com a faixa-título do segundo álbum. “Catastrophic Epicenter” é o principal single da banda e recebeu um lyric video para melhor ser apresentada ao público sobrevivente. O dedilhado inicial envolve o ouvinte na trama, que é acesa pelo despertar do contrabaixo e da bateria, que logo tomam a cena de assalto. Você pode encaixar vários elementos voltados para as bandas do passado e também do presente, tendo todos os bons artifícios do estilo em destaque.
O despovoamento gradual ocorre junto à cadência da sonoridade, para que no momento seguinte possa causar um pânico global à medida que aumenta o número de mortos que não estão adaptados a esse tipo de “múzga”. As toxinas musicais infectam o ar, trazendo danos aos seres que não representam essa nobre atividade. Em se tratando do tema, vemos um conflito de tramoias e ameaças para todos os lados. Diante de uma situação alarmante, a população entra em choque consigo mesma, sem saber qual direção realmente tomar. Aos que sofrem diretamente, tudo que for a favor da cura é bem-vindo, pois é preciso um antídoto o quanto antes para sobreviver. Aos céticos que não foram atingidos a queimar roupa, estes se voltam contra qualquer pesquisa e apontamento apresentado de forma apressada em favor de alguma vacina. A guerra está acontecendo e quem sempre morre é o povo.
A manipulável legião de infestados
“Legion of the Infested” surge como uma segunda onda e após a breve intro, coloca todo o seu arsenal brutal a serviço do Metal. Os vocais variam entre a linha mais cavernosa e até mesmo o apelidado por muitos, “vocal de javali revoltado”, o que não é de tanto agrado por parte do redator. O potencial gutural é o que segura a onda não apenas aqui, mas também em toda a extensão do álbum. Porém, entendemos muito bem a proposta e eu associo esse tipo de vocal mais baixo ao fato de ter que usar máscara nos lugares em que já é ruim de se respirar sem o uso desse aparato.
Enquanto isso, a carroceria sonora tremula ao trafegar pelo asfalto escaldante e entrega todo o peso necessário para a canção. A propagação letal no ar que respiramos e a infecção pulmonar causando morte instantânea, trazem o pânico necessário para as autoridades fazerem o que quiserem com o mundo. A doença é lucro para as corporações perversas.
“Farsas são conduzidas em segredo
Sabotagem ou conspiração?”
Quando os caixões acabam, enterram todos juntos?
“Coffin Shortage” é o próximo manifesto do 3rd War Collapse, conduzindo toda a trajetória de um filme que aconteceu de verdade e todos nós vivenciamos bem de perto, uns bem na cara gol e outros próximos à baliza do outro lado do campo.
O show inicial é marcado pelas linhas agressivas e incessantes de bateria, proferidas por Kalle Lindfors. Ao entrar em junção com a guitarra e o baixo, os elementos breves de Thrash surgem e enriquecem a sonoridade, como breves corredeiras de riffs em meio ao caos do metal da morte. As pausas, viradas e mudanças sonoras tornam a temática ainda mais forte, juntamente da preocupação com a falta de caixões e de espaço para enterros repentinos e subsequentes. A solução para reduzir esse número é a cremação de corpos para eliminar o contágio, provocando um cheiro intenso de putrescência humana. As casas funerárias ficam sobrecarregadas, enquanto a praga desconhecida que devora órgãos saudáveis, provoca infecção violenta e feridas corporais sentidas na alma. O descontrole está bem na nossa cara e não podemos fazer absolutamente nada para combater. Pelo menos não apenas com as nossas próprias forças. Vimos bem isso.
A difusão do terror em todos os campos
“Bloqueio induzindo frenesi, sinais de psicose
Confinamento total em dias de desespero
Doente mental devido reclusão total
Vivendo como sociopatas dentro da jaula”
O toque de recolher mundial trouxe muitas feridas para nós, pobres humanos e sem qualquer tipo de poder. Ficamos aprisionados na esperança de um novo amanhecer ensolarado, mas só víamos o cinza chumbo manchado de sangue à nossa volta. Você ligava a TV, ou melhor, a TV te ligava e te contava sobre mais casos tristes e um aumento da peste contemporânea. Eu conheci e convivi com pessoas que lutaram muito para sobreviver, que perderam mães e pais, e que acabaram sobrevivendo, mas não podendo contar com seus maiores alicerces desde então. Eu mesmo mudei bastante e tive muitos problemas, tanto materiais quanto mentais e espirituais. Ainda estou aqui e pretendo encher o saco de vocês, caros leitores, mais um pouco.
Houve um aumento exorbitante de atrocidades como a violência doméstica em meio a um comportamento agressivo de muitas pessoas, tanto as que já apresentavam elementos ligados a isso, quanto pessoas mais calmas e sem quaisquer suspeitas. O arsenal de notas viscerais surge em meio ao campo de batalha e chama para mais um combate devastador. O alvo é a raça humana e o moedor de carne viva é interpretado pelo trio guitarra, baixo e bateria. Destaque para as frenagens de contrabaixo, características imprescindíveis no Death Metal. Tudo isso, enquanto a dupla de vocais narra de forma infernal todo o horror causado por tais circunstâncias. O transtorno mental, labirinto de sofrimento, entre tantos outros problemas, causam um fim de vida angustiante e coberto por muita paranoia. Contudo, essa é a receita musical de “Terror Diffusion”.
“O que desencadeia o pânico?
Talvez a vontade de morrer
Propagação de danos cerebrais
Suicídio”
As fômites transportadoras de micro-organismos
Quando lido em inglês, formato original da letra de “Fomites”, parece que o medo aumenta ainda mais. Fica como uma espécie de Resident Evil da vida real. E não é brincadeira, jamais. Esse momento foi extremamente trágico, devastando famílias inteiras e causando traumas irreversíveis aos muitos sobreviventes.
“Pathogens form biofilms on surfaces
Bacterium, infested passive vector
Increase of severe cases”
Fômites são objetos inanimados que transportam micro-organismos patogênicos podendo, assim, servir como fonte de infecção. Os micro-organismos sobrevivem tipicamente em fômites por minutos ou horas. Os fômites mais comuns incluem vestuário, tecido de papel, escova de cabelos e utensílios de alimentação e culinária.
Dito isso, entendemos que os riscos sempre foram muito grandes e completamente difíceis de se controlar. Mesmo ficando em casa, ainda havia um risco gritante para ser contaminado. O prelúdio para uma possível quarentena era quase que uma anestesia geral, pois havia um risco aparente de tragédia anunciada. Países inteiros em alerta vermelho e o DESgoverno brasileiro brincando com o tema, enquanto as mutações propagavam o pânico. Após a intro em conversação ao melhor estilo “pânico em uma ala hospitalar”, temos uma partilha do som extremo repleto de conduções de pratos e pedais flamejantes. Guitarra ultra pesada e baixo condutor das emoções mundanas, fazem desta uma das faixas mais insanas do álbum. A ala extrema ganha mais violência conforme o seu andamento e direcionamento do tema.
A asfixia causada pela tirania
“Asphyxiating Tiranny” é o sexto manifesto do power trio internacional e segue a cartilha visceral, demonstrando total empenho em promover o metal extremo em sua forma completa. Logo de cara, o pessoal não pensa duas vezes e entrega todos os artifícios que integram o seu tipo de som. Assim sendo, colocam as emendas mais pesadas e insanas em primeira mão e sem pestanejar, abrem caminho para mais riffs e pontes horripilantes, no melhor dos sentidos, claro!
As sirenes anunciam o caos infernal que está por vir e colocam o planeta em pânico total. A cautela é vista no olhar de quem sai para a rua em busca de comida e água sem saber se voltará para casa antes de ser contaminado. Um trecho da letra abaixo pode ser interpretado de várias formas, mas a melhor maneira é entender como tudo aconteceu e como nenhum líder foi punido severamente por seus atos genocidas. Você poderia escolher não tomar aquele remédio, mas também não poderia entrar em crise e nem violentar seu semelhante. Estávamos todos detonados. O que era verdade e o que era mentira? Cada um teve a sua visão de mundo e hoje continuam todos divididos. O lance é curtir a música, caso cultive dessa forma de sonoridade.
“Líderes xenófobos pregam a sua paz mentirosa
Hipocrisia étnica em seus discursos tendenciosos
Preconceito, construindo muros contra a intolerância
Ninguém precisa ser punido por suas próprias escolhas”
Matar por religião e lacerar o rival de uma vez por todas
Bandeiras são queimadas por uma heresia selvagem e a justificativa é sempre a busca pela paz. Você derrama sangue do outro e acha que trará a paz. A paz quem? A sua? A do seu líder? A do mundo que não é e muito menos de todos à sua volta. Portanto, não há paz que se alie às mãos sujas de sangue de alguém. O início é o tradicional clima de guerra com a marcha passando brevemente. Os primeiros riffs invadem o cenário e provocam explosões sonoras durante o bater de caixa e bumbo constante. As linhas de guitarra se destacam de maneira que você possa ver o horizonte vermelho-sangue antes que não haja mais oxigênio em seus pulmões. O final é imediato ao melhor estilo de um último de cerveja velha antes de fechar o bar.
Quanto ao tema, é só mais um ligado às atrocidades globais e que estão sempre em pauta, mas nunca são resolvidos. Crianças com armas na mão virou coisa normal de se ver e discursos que consomem os fiéis, idem. Explodir corpos em nome de alguém é algo tão estúpido que mesmo assim, ainda o fazem com louvor. Enfim, a triste realidade da humanidade contada através da música “Lacerate the Rival”.
A completa heresia por trás das mentiras
Na emenda da rivalidade em busca da tal “paz”, temos quase que uma continuação da história. Afinal, aqui lidamos com a beatificação e a idolatria irritante, sermões infundados que santificam os impuros, o silumacro divino sobre os fracos e o esplendor cheio de fornicação. O verdadeiro inferno velado pelos enfeites em dourado.
“Heresy Behind the Lies” chega como um arrasa-quarteirão e joga pelos ares tudo o que vê pela frente. Embora os vocais pareçam mais fechados e baixos por conta do estilo já citado, a força dos riffs e dedilhados prevalece, esbanjando toda a qualidade e voracidade dos brazucas bons de cordas e do homem de gelo (lembrando o apelido de seu compatriota Kimi Räikkönen, ex-piloto de F1).
Quando os vocais estão em linhas mais guturais e abertas, lembram bandas brasileiras como Krisiun e Claustrofobia, e isso acaba qualificando mais a sonoridade da banda. Portanto, considero aqui o momento mais versátil quanto às vozes de Cristiano e Juan. Aqui o motor de arranque também prevalece, colocando as nuances de Thrash em evidência, mas somente como um tempero à parte, sem em nenhum momento fugir da proposta tradicional. O final é direto ao ponto e sem qualquer tipo de enrolação.
O resultado de uma guerra
É matando uns aos outros que se resolve tudo, não é mesmo? Você me mata. Outro te mata. E assim segue até que o último caia. E os caras atrás da mesa brindam com bebidas caras e muita orgia. “Killing Each Other” entrega mais uma intro voltada para o tema em específico e logo encarna tudo através de seu som. A violência sonora ocorre de modo frenético e evidencia toda a técnica dos músicos para com seus respectivos instrumentos. A aniquilação ocorre após a desumanização, com o aumento da criminalidade e também da impunidade.
O fim do jogo está selado e você poderá morrer tanto pelas mãos do seu real inimigo quanto pelas atitudes descabidas de seu melhor amigo. O tabuleiro foi formado e todos nós estamos nele. Os ímpetos causados pelas linhas de bateria se somam aos disparos de mísseis dados para o alto em busca de sumir do mapa com determinado território. A sua moradia pode estar próxima ou até mesmo bem no alvo e não haverá escapatória, enquanto os dedilhados massacrantes atravessam seus tímpanos. Se sobreviveram até aqui, é pelo motivo de você ser um bravo combatente e, com toda a certeza, está indignado com tudo o que tem ocorrido do final de 2019 para cá, no mínimo! O comboio passa e deixa apenas o rastro de fumaça e pegadas dos que já se foram.
A apoteótica hecatombe
Por fim, estamos diante da última faixa do disco do 3rd War Collapse e seu nome condiz com o término desta jornada. “The Last Hecatomb” é o mais puro sinal de que a escassez de tudo está na nossa frente e não mais no nosso horizonte. É claro que sempre há exageros dos mais imbecis aos mais contraditórios. Entretanto, existe sim o perigo para tal, pois é só analisarmos friamente como o clima vem mudando ano após ano.
Segundo setores de pesquisa climática, as análises são feitas dois anos antes de determinado ocorrido para se ter a noção de alguma mudança em escala global. São analisadas as mais diversas reações da natureza. Só para exemplificar, os temporais e consequentes enchentes que estão acontecendo no Brasil, são consequências atribuídas às reações ocorridas dois anos antes e poderão estar ligadas às causas que poderão acontecer dois anos à frente.
Sem qualquer tipo de cerimônia, o canhão sonoro é ativado e a hecatombe começa sem prévio aviso. Os riffs cavernosos são seguimento e apimentam a trama, que por sua vez, é preenchida por dedilhados cavalares de baixo, acompanhados pela sequência destruidora de bateria. Os andamentos se modificam e exalam mais enxofre, colocando mais desafios para os próprios músicos explorarem seus próprios horizontes.
Nessa canção temos uma pausa para um momento mais mórbido e introspectivo, com dedilhados mais calmos e viajantes, coligando com uma trilha de fundo catastrófica e asfixiante, se silenciando aos poucos até que não haja mais ruído algum.
Sobre “Catastrophic Epicenter”
Trata-se de uma obra de fácil assimilação, desde que o ouvinte esteja familiarizado com o tipo de sonoridade contida. Porém, não é apenas um simples projeto de alguns caras e que sumirá logo em seguida. Afinal de contas, vimos um grande potencial nesse disco e que poderá ser ampliado em um trabalho posterior. O novo full length do 3rd War Collapse pode não apresentar novidades em questão do que os músicos se propõem a apresentar, mas a competência dos caras está mais do que destacada. Talvez se algumas músicas trouxessem alguns solos de guitarra ou algum diferencial a mais para que se descolassem mais umas das outras canções, o álbum pudesse figurar de melhor forma. Contudo, é sim um registro competente e eu já diria que o próximo álbum promete. Além disso, a banda possui a grata ideia de terem dois vocalistas cantando cada canção.
“Painful distress grows as pandemic kills
Fear corrodes the mind that has lost hope
And the end must be the same
We know many will be sentenced to annihilation”
nota: 8,5
Integrantes:
- Cristiano Martinez (guitarra, vocal)
- Juan Azevedo (baixo, vocal)
- Kalle Lindfors (bateria)
Músico convidado:
- Rodolfo Carrega (baixo, vocal)
Faixas:
1 Catastrophic Epicenter
2 Legion of the Infested
3 Coffin Shortage
4 Terror Diffusion
5 Fomites
6 Asphyxiating Tiranny
7 Lacerate the Rival
8 Heresy Behind the Lies
9 Killing Each Other
10 The Last Hecatomb
Redigido por Stephan Giuliano