Com vocês, Black Sabbath e o álbum “Never Say Die!”
“People going nowhere, taken for a ride
Looking for the answers that they know inside
Searching for a reason, looking for a rhyme
Snow White’s mirror said ‘partners in crime!'”
Certamente para quem conhece o Black Sabbath com mais precisão e afinco, sabe que essa época foi a derradeira tanto para Tony Iommi quanto para Ozzy Osbourne. Agora, para quem não se chafurdou na discografia dos nobres mestres da música pesada e representantes de Birmingham, Inglaterra, até os dias de hoje, deve conhecer ao menos a imagem contida na icônica capa de “Never Say Die!”. Tudo isso além da própria faixa-título a qual foi colocado um trecho acima.
Entretanto, isso não é o suficiente para declarar em qual patamar se encaixa o oitavo álbum de estúdio dos “pais” do Heavy Metal. Há muita coisa a se falar sobre o álbum que simbolizou novos rumos para os integrantes e também aos fãs à época. Afinal, ninguém saberia dizer o que poderia ocorrer após o lançamento do até então último disco com a voz de Ozzy.
Sobretudo, vale ressaltar o empenho de manter o Black Sabbath relevante ainda que passasse por sua fase mais experimental. Eu até posso colocar o antecessor “Technical Ecstasy”, de 1976, como o disco mais experimental da banda, enquanto o “Never Say Die!” fica com o título de maior gerador de confusões da história do Black Sabbath. Isso nós veremos ao longo dessa viagem e também compreenderemos os motivos dos quais fazem deste álbum um dos clássicos dos ingleses. Portanto, antes disso devemos entender o que estava acontecendo durante os tempos que antecederam a chegada de “Never Say Die!” às principais vitrines das lojas do ramo.

O antes do nascimento de “Never Say Die!”
Sabemos que o Black Sabbath não estava mais em sua fase mais sombria junto aos seus primeiros e principais álbuns, pois após o lançamento do maravilhoso e conturbado “Sabotage”, disco lançado em 1975, a banda tomou um rumo definitivo para o lado mais experimental da coisa. É claro que nos discos anteriores já se podia perceber uma nuance experimental aqui e acolá, como “Planet Caravan”, por exemplo. Porém, passou a ser definitivo e em maior destaque a partir do ano seguinte. Muitos fãs daquela época não simpatizaram com tal formato, mas é inegável que a banda ainda conseguia alcançar números e premiações relevantes. Nada tão próximo de um “Paranoid” (1970), mas ainda sim foram números importantes.
Embora “Technical Ecstasy” não seja considerado um clássico por determinados motivos, “Never Say Die!” possui motivos para figurar nesta prateleira especial. Eu sei que o seu alcance foi pior que o próprio “garoto de capa branca”, mas existem elementos que podem justificar a sua vaga na lista de clássicos. Porém, diante disso seguiremos com os bastidores da fama entre a época citada e o final da turnê do álbum “Never Say Die!”.

Os bastidores conturbados – Vol. 1
As vendas do álbum “Technical Ecstasy” não foram das mais satisfatórias, porém a banda equilibrou o prumo e seguiu adiante rumo aos EUA, onde realizaram turnês lotadas entre o outono e inverno local de 1976. A banda de abertura foi o Boston, que estava com seu primeiro disco e single nas paradas de sucesso. Digamos que “More than a Feeling” ajudou o Sabbath a se reerguer ao vivo. Assim sendo, Ozzy, Tony, Geezer e Bill seguiam devastando grandes áreas e incendiando territórios inteiros com sua sonoridade respeitável e impetuosa.
O empresário Don Arden, que sabia além de tudo, organizar excelentes pacotes de shows com várias bandas voltadas para o público mainstream, utilizou de tal ideia para realçar a imagem do Sabbath. Em qualquer canto do mapa que a banda estivesse, lá estaria uma banda junto capaz de preencher ao menos metade dos lugares. Além do Boston, foram chamadas bandas como Black Oak Arkansas, Tommy Bolin, Bob Seger, Ted Nugent e Journey, todas próximas de conseguirem turnês como grandes atrações.
Já em março de 1977, de volta à Inglaterra, o Black Sabbath realizou uma turnê de dez dias com quatro shows acontecendo no Hammersmith Odeon de Londres. Assim, reconquistando o seu devido espaço. Entretanto, esse o foi ano da explosão do Punk e toda a mídia se voltou para bandas como The Damned, The Clash e The Stranglers. Todas estas odiadas por Tony Iommi, que via com desdém tudo isso e achava melhor não envolver o Sabbath nesse rolo.
O mestre dos riffs chegou a dizer o seguinte a respeito dessa nova onda da música:
“Eu admito, não vi nada disso chegando. A coisa do Punk para mim era só uma moda passageira nas revistas musicais. Eles ainda não tinham começado a falar sobre isso nos Estados Unidos, e essas bandas ainda estavam tocando em clubes. A gente achou que eles tinham um longo caminho até chegar perto da gente.”
O baixista Geezer Butler era o mais reticente quanto às mudanças e tendências, logo percebendo que a ameaça era muito maior do que se imaginava.
Temeroso a possíveis mudanças, Geezer disse:
“A gente perdeu a direção. Acho que o Punk foi muito ruim para a gente. Eu também achava que o Sabbath estava velho agora, depois de ter ouvido o Sex Pistols. Apesar de nossas coisas durarem mais que as deles, e a coisa do Punk só durou uns anos, mesmo assim eles soavam tão… Novidade para mim. E meio que me lembrava como a gente costumava ser. Eu só pensei: ‘Bom, estamos perdidos agora, simplesmente perdemos toda a raiva e a energia.’ E foi difícil (aceitar), porque tínhamos vendido milhões de discos, passamos por horríveis brigas com empresários.”
Os bastidores conturbados – Vol. 2
O susto com o Punk foi tão grande que, quando o AC/DC foi contratado para abrir os shows do Sabbath na Europa em abril, os caras acharam que se tratava de outra banda Punk por conta dos cabelos mais curtos dos integrantes, além do uniforme escolar do guitarrista. Nada mais nada menos do que a lenda Angus Young, que viria a ser mais tarde.
Contudo, bastou apenas 20min do primeiro show em Paris para que o complexo de inferioridade consumisse o Sabbath quase que por completo. Enquanto o AC/DC literalmente destruía o palco, olhares de horror se viraram para eles sem saber que a banda estava reagindo com raiva diante das falhas nos equipamentos. Simplesmente achavam que fazia parte da apresentação deles.
A confusão e o despreparo para lidar com a onda Punk era tão abissal que mesmo com o AC/DC se mostrando ser uma banda de Rock e longe dos padrões Punk que se consolidariam pouco mais adiante, não bastaram para acalmar os ânimos, principalmente de Tony Iommi.
O guitarrista sempre viu a banda como suspeita e, mesmo com o vocalista Bon Scott frequentando o camarim do Sabbath e passando um tempo com Ozzy. Tudo isso, sem contar a bebedeira e a salada de drogas no cardápio dos caras. O ápice do desentendimento aconteceu durante um show em Gotemburgo, na Suécia, quando Geezer brincando puxou uma faca de brinquedo para Malcolm Young. O líder e guitarrista do AC/DC achou que a faca era de verdade e devolveu como resposta um soco na cara de Butler.
Malcolm pediu desculpas ao perceber o erro, porém já era tarde demais. Geezer ficou muito bravo e insistiu que o AC/DC fosse expulso da turnê imediatamente, o que de fato ocorreu. Por fim, as quatro datas restantes foram canceladas.
Os bastidores conturbados – Vol. 3
Adiantando um pouco a linha do tempo, logo após os desentendimentos com relação ao próprio ambiente e também sobre impostos não pagos, Ozzy acabou por sair da banda. E agora, Iommi? Como fazer? O guitarrista buscou alguém completamente distante em relação ao timbre de voz e à personalidade. O escolhido foi Dave Walker, do Savoy Brown. Seu estilo “bluesy” não casou nada bem com a sonoridade do Sabbath e eles realmente necessitavam do retorno de Ozzy aos vocais.
Ainda do natal de 1977, Dave estava junto com o Sabbath e Ozzy estava presente para tomar umas em um pub.
Dave chegou a comentar:
“Fiquei com muita pena dele porque estava num péssimo momento, acho, naqueles dias. Senti então, sabe, que Ozzy não tinha realmente certeza do que estava fazendo. Ele não tinha certeza de que a coisa correta era sair do Black Sabbath.”
Após o anúncio oficial na imprensa musical, Ozzy prontamente respondeu ao conceder uma entrevista de forma chorosa para Tony Stewart da NME.
Ozzy disse sobre caso não saísse do Sabbath:
“Eu estaria morto em dois ou três anos (e) não acho que haja algo pelo qual valha a pena entregar sua vida. Porque nunca mais vai ser como antes novamente para as pessoas que gostavam do Sabbath.”
O até então ex-vocalista do Sabbath continuou:
“Eu não vou falar que a banda me ferrou. Mas havia muitos choques pessoais.”
Ozzy admitiu não ter gostado de “Technical Ecstasy” e ao mesmo tempo estava cansado de tocar as mesmas músicas nos shows. E o vocalista fez um paralelo entre o início do Sabbath e o surgimento do Punk da seguinte maneira:
“Não estou dizendo que éramos punks antes do Punk, mas de nossa própria forma éramos o que os grupos Punk são agora: um bando de gente. Não quero tocar isso, porém gosto dessa nova onda porque você não precisa ser um neurocirurgião para ouvir isso. É só uma música com o pé no chão, simples, que as pessoas conseguem tocar em uma lata.”
Ozzy Osbourne citou de forma veemente que o maior culpado era a própria indústria a verdadeira destruidora do Sabbath. Ele disse:
“A indústria é como uma maçã vermelha na frente com um grande ferrão na parte de trás.”
Por fim, ele também anunciou de maneira profética que estava formando sua própria banda, que seria chamada de Blizzard of Ozz.
“Vou fazer tudo de novo, mas vou fazer de uma forma confortável. Não vou mais me deixar prostituir novamente.”
Os bastidores conturbados – Vol. 4
Em janeiro de 1978, o Black Sabbath surgiu com sua nova formação durante uma apresentação ao vivo para o programa televisivo chamado Look Hear, apresentado por Toyah Willcox. O Sabbath tocou a clássica “War Pigs” e estreou uma canção composta por Dave Walker, nomeada como “Junior’s Eyes”. Enquanto amigos e funcionários do escritório de Don Arden e a gravadora festejavam, tratando aquilo como algo maravilhoso, o próprio Don se mostrou insatisfeito por trás das câmeras. Mas ele esperou para se mover e quando se mexeu foi certeiro e decisivo.
Ozzy perdeu seu pai duas semanas depois. Era 20 de janeiro, a mesma data em que sua filha mais velha, Jessica, tinha nascido, sete anos antes. Isso foi um baque enorme para o vocalista, que se viu quase que sem saída. Entretanto, o seu caminho ainda seria trilhado para novos horizontes.
Um mês depois, Ozzy estava de volta ao Sabbath a pedido de Don. Dave foi tratado como um “ninguém do caralho”, nas palavras de Don, que não via valor algum no cantor à frente do Sabbath. Todos estavam reunidos em Toronto, no Canadá, para a gravação do novo disco.
Ozzy ainda não sabia o que realmente queria. Tudo estava muito confuso e incerto para ele, que disse o seguinte:
“Não sabia que merda eu queria. Tudo o que eu sabia era que estava a caminho de estar quebrado de grana se não conseguisse algo, mas eu estava tão fodido que sabia que nada ia acontecer. Então quando eles disseram: ‘Ah, estamos indo para o Canadá, você quer vir também ou o quê?’ Pensei: bem, que outra coisa tenho a fazer?”
Dave Walker foi dispensado e impedido por Don de ter suas composições creditadas, assim se tornando um verdadeiro calço de geladeira na história do Sabbath.
“Never Say Die!” e o fim de uma era
Em resumo, “Never Say Die!” representa a confusão toda em que a banda se meteu nos últimos anos da gloriosa década de 70. Além disso, tivemos as várias idas e vinda de Ozzy, principalmente durante as gravações desse mesmo álbum. Talvez, muito provavelmente, se não fosse pela voz forte de Don, a formação clássica teria terminado de vez ainda no ano de 1977.
A mistura fina para a construção desse novo compêndio reunia altas doses de álcool, maconha e uma visão turva sobre o que achavam que deveria acontecer com a sonoridade do Black Sabbath em meio à ascensão do movimento Punk. Parecia que era só aumentar a velocidade dos riffs, trazendo um pouco de revolta neles e mais simplicidade para que tudo ficasse na cara. Porém, o Black Sabbath jamais deveria seguir tal premissa.
Juntamente com a faixa “Junior’s Eyes”, seriam colocadas à mesa outras canções como “A Hard Road”, “Johnny Blade” e a veloz faixa-título. Contudo, ainda faltaria o lado B do disco para completar a bolacha. O problema é que mais uma vez, assim como aconteceu durante as gravações de “Technical Ecstasy”, Ozzy parecia não gostar de outros instrumentos musicais que não fossem guitarra, baixo e bateria. Ao se deparar com um saxofonista contratado para participar da faixa “Breakout”, Ozzy viu a figura e se mandou. O saxofone entrou no lugar dos vocais, pois foi um dos vários momentos em que Ozzy esteve ausente nos ensaios da banda.

Dados informativos de “Never Say Die!”
As jams aconteciam logo pela manhã dentro de um cinema com aquecedor quebrado. Ou seja, o pessoal passou um aperto danado com relação ao frio canadense. Músicas como “Shock Wave” e “Air Dance” eram ensaiadas e depois iam jantar. Tudo acontecia sem ninguém falar quase nada um para o outro antes de irem para o Sound Interchange Studios gravar o que haviam composto. Para Tony Iommi, o estúdio era um lixo e o som era muito morto. Ele só alugou esse estúdio, pois contaram que os Stones haviam gravado ali.
Eles tentaram enrolar os tapetes para melhorar a acústica abafada, porém sem sucesso. Gravaram tudo às pressas para terminarem o mais breve possível. As faixas “Over to You”, “Junior’s Eyes” e “Swinging the Chain” tinham sido compostas enquanto Dave Walker estava na banda. Todavia, Ozzy não aceitou cantar qualquer uma das letras de Walker, fazendo com que Geezer reescrevesse “Over to You”. Enquanto isso, Bill Ward passou a fazer os vocais de “Swinging the Chain”. Ainda sim, Ozzy acabou sendo enganado pela banda ao ser informado de que a letra de “Junior’s Eyes” havia sido reescrita.
Além disso, “Breakout” acabou se tornando um tremendo problema a qual já foi citada acima. Mas, vale ressaltar o fato de que as linhas de voz haviam sido substituídas por melodias de sax. Triste fim de Policarpo… Tony Iommi chegou a dizer que:
“A coisa toda estava predestinada ao fracasso do começo ao fim.”
O desdém à própria obra
De acordo com Ozzy, o que aconteceu foi:
“O que aconteceu foi que no final estávamos compondo música pelos motivos errados. Estávamos cansados. As drogas e o álcool estavam cobrando sua conta e é verdade que as coisas que (mais tarde) falei sobre Tony eram um pouco injustas porque estávamos todos fodidos e esperávamos que ele nos tirasse da merda. Por isso ele iria passar dias no estúdio e estava em seu ambiente. Mas a gente deixou tudo nos ombros dele para fazer um bom disco, e se não fosse bom e não gostássemos, ficaríamos condenando-o secretamente, em nossas cabeças.”
Geezer concordou e acrescentou:
“Era horrível. Odiei aquele disco. Odeio muito aquele disco. Até hoje, não consigo aguentar aquela porcaria, porque é um tanto falsa.”
O ponto mais alto do disco era de fato a faixa-título, a qual se traduzia em um verdadeiro Rock veloz. A faixa “Never Say Die” se tornou o primeiro single de sucesso na Grã-Bretanha desde “Paranoid”, oito anos antes. A banda até voltou ao estúdio do Top of the Pops, em maio de 1978, para fazer um playback. Nesse momento, estavam no meio do caminho de uma turnê de 29 dias no Reino Unido, incluindo cinco shows em Londres e quatro em Birmingham. O oitavo full length da banda inglesa chegou ao 12º lugar nas paradas locais. Tudo isso fez parecer que o público não havia abandonado o Sabbath e que a banda continuava a ser adorada mesmo com tantos percalços e desentendimentos internos.
Em meio a esse clima, Geezer contou que:
“Havia um clima horrível na banda. Ozzy realmente só estava ali porque não tinha outra perspectiva. Nenhum de nós na verdade gostava das músicas que estávamos tocando, mas não conseguíamos tocar nada melhor. E a gente só fez aquilo, gravou o disco só por gravar e depois (fizemos a turnê). A turnê foi ótima, mas estávamos com o Van Halen, e o Ozzy simplesmente ficou perdido. Ele achava que o Van Halen era dez vezes melhor do que a gente.”
Tronco oco queimado
Era o que restaria do Black Sabbath ao final do ano de 1978. A banda passou a maior parte do ano em turnê com o Van Halen, novo contratado da Warner Bros. que ameaçava roubar o trono dos caras. Enquanto o Van Halen alçava voos altos com seu homônimo álbum de estreia nos Estados Unidos, o Black Sabbath correu sérios riscos com o problemático lançamento de “Never Say Die!”. O álbum alcançou a famigerada posição 69 na Hot 100.
O Black Sabbath fez a sua turnê até o fim, mesmo com o Van Halen roubando a cena por diversas vezes. O ponto favorável disso foi que Tony e Eddie Van Halen ficaram amigos, enquanto Ozzy e David Lee Roth também. Além disso, os dois shows derradeiros aconteceram no Tingley Coliseum, em Albuquerque, Novo México, duas semanas antes do Natal de 1978.

Sobre a capa emblemática
“Never Say Die!” foi lançado no dia 28 de setembro via Warner Bros. Records. Já a sua capa possui uma história bastante conhecida. A arte da capa original para o álbum não era essa a qual conhecemos, mas sim a capa que figura no álbum “Difficult to Cure”, lançado pelo Rainbow em 1981. O grupo Hypgnosis, conhecido por lançar capas completamente estranhas e por vezes sem qualquer sentido, fez as duas capas. Porém, optaram pela capa dos “aviadores”. Mais tarde, Geezer Butler confirmou que a capa do Rainbow era de fato o conceito original para “Never Say Die!”.
Participações especiais
Outros músicos compuseram o time de integrantes para a gravação de “Never Say Die!”. São eles: Don Airey (Deep Purple) para os teclados, Jon Elstar na harmonica e Will Malone cuidou dos arranjos. Para a engenharia de som a banda contou com Dave Harris, além de Spock Wall, mais conhecido como Rick Wakeman, tecladista do Yes, como assistente especial de engenharia.
O disparo de canhão de um trabalho mal compreendido
Ligue os motores da sua aeronave e faça girar as hélices com bastante energia, pois “Never Say Die” é a canção que impulsiona todo o álbum. É ela quem sustenta a nota mais forte e não permite que o álbum caia no esquecimento. E se a alcunha de clássico cabe ao álbum de mesmo nome, somente diferenciando na exclamação, isso se deve muito ao fato de que essa música consiga figurar entre tantas outras canções ótimas do Sabbath. Além disso, esta não se deixa intimidar pela qualidade maior de outros tantos clássicos. “Never Say Die” é uma grande canção e consegue extrair muitas coisas boas do Heavy Metal, do Rock n’ Roll e também do Rock progressivo.
Embora Tony estivesse improvisando e implantando muitos detalhes dentro de suas composições, o simples ainda se mostra mais atraente.
O empenho do quarteto
A guitarra de Tony berra forte ao sustentar as notas e dá um nó no cérebro com seus dedilhados breves. É uma mistura de passado, presente (à época) e fuga ao rasgar os céus com o jato chamado Black Sabbath! Ozzy foi no limite de sua voz para cantar. Ficou tão alta a sua voz que o mesmo teve sérias dificuldades para reproduzi-la ao vivo. Mesmo assim, trouxe mais vibração durante a levada ensandecida da música.
Geezer expõe o seu contrabaixo e mostra o quão sábio é com seus dedilhados e suas levadas categóricas, principalmente quando Tony sustenta as notas principais. Por fim, temos um Bill Ward cheio de fibra para executar o percurso através de seu alicerce preciso e constante.
Curiosidade: “Never Say Die” é tão enérgica que já foi chamada de Thrash! Claro que já seria um exagero, pois eu colocaria mais próxima de um proto-Speed/Heavy do que qualquer outra coisa. Lembrando que o Speed Metal possui a levada dançante a qual eu costumo mencionar, só para ilustrar.
“Don’t they ever have to worry?
Don’t you ever wonder why?
It’s a part of me that tells you
Oh, don’t you ever, don’t ever say die
Never, never, never say die again”
A dura tarefa de se manter na estrada
“A Hard Road” é a quarta faixa de “Never Say Die!” e serve como termômetro para medir a temperatura e também verificar se foi feito o alinhamento e balanceamento do veículo supersônico antes de pegar a rodovia. Seu ritmo inicial é como o ligar de um carro para seguir viagem. Há muita bagagem no porta-malas e o carro está com toda a banda. Você sente os solavancos em contato com o asfalto acidentado através da linha de bateria de Bill Ward. Tudo isso enquanto Geezer quase transforma o carro em uma maria fumaça com seu conhecidíssimos fraseados de contrabaixo.
O que dizer de Tony Iommi? Você pode até não achar a oitava maravilha do mundo, mas neste universo de Sabbath com aura progressiva e muitos trejeitos de Rock n’ Roll, herdados pelo disco antecessor, a canção funciona muito bem e os seus solos são bem compostos e inseridos na trama. Decerto, vemos um Ozzy mais comportado com relação aos seus vocais. Pelo menos até chegar a parte final em que ele se torna um ponto principal e o restante da banda realiza um dos seus melhores backing vocals.
“Velhos chorando, jovens morrendo
O mundo continua girando enquanto o Pai Tempo observa
Sem parar
Crianças brincando, sonhadores rezando
O riso se transforma em lágrimas quando o amor se foi
Ele se foi?”
Outras boas viagens com momentos experimentais
Os efeitos psicodélicos, progressivos e fantasmagóricos contidos em “Johnny Blade” fazem uma ligação direta com “Technical Ecstasy”, mas também oferecem o peso costumeiro da banda. É só prestar atenção no arranque do motor do baixo de Geezer. E se a guitarra de Tony se apresenta bastante distorcida, Ozzy também distorce a sua voz e constrói uma dupla quase que cibernética. Os riffs potentes estão presentes e tornam a segunda canção do disco uma ótima opção para audição. Contudo, vale ressaltar as linhas sobrepostas de guitarra com uma distorção mais limpa, acrescentando mais tempero ao enredo.
Na sequência temos a terceira colocada chamada “Junior’s Eyes”. Baixo e bateria comandam o início da jornada que se predispõe a se manter calma… Até que um som ao fundo vem e bate de frente. Mais um efeito de guitarra diferente para acrescentar ao álbum. O refrão da canção ganha muito mais vida na voz de Ozzy e ainda possui uma condução e virada de bateria respeitável. Nada muito extravagante, mas que cumpre muito bem o seu papel. Os solos são bem agudos, distorcidos e são complementados por pequenas linhas de violão em segundo plano. Um bom cardápio até aqui.

Mais três antes do Ozzy desistir de vez
“Shock Wave” possui uma veia progressiva forte, embora possua riffs fortes e contundentes. A voz dobrada de Ozzy se encaixa bem e depois que o ritmo muda, Ozzy se mostra bastante versátil e isso seria visto anos mais tarde em sua carreira solo. Geezer conduz muito bem a canção, enquanto seu parceiro de alicerce sonoro, Bill Ward, mantém o prumo equilibrado.
“Air Dance” tem uma cara de Eric Clapton logo de início, mas também possui uma levada interessante. É claro que para os padrões do Black Sabbath, ela destoa por não ter o peso específico e conhecido da banda. A parte harmônica faz da canção uma “Fluff” do álbum. A mais fofinha, por assim dizer. Porém, quando a coisa passa a desandar para o lado do Jazz, fica um tanto estranho mesmo, mas não há maiores sustos.
“Over to You” chega de forma vagarosa e acompanhada de arranjos de teclado. É uma música bonita, mas como a sua irmã mais próxima já apresenta esse papel, fica como se fosse uma parte dois. Todavia, possui bons momentos e ainda não desabona a obra.

Conclusões finais de uma saga difícil e a justificativa para “clássico”
“Never Say Die!” foi um álbum complicado de se fazer desde antes de iniciar o seu esboço, pois a banda já estava em declínio antes disso. Nada parecia dar certo, mas mesmo assim existia o outro lado da moeda que brilhava bastante – o fator público. As vendas caíram, mas o Sabbath não caiu no ostracismo.
Foi sim uma fase difícil e que precisou de novas ideias para não se afogar na lama em que havia se metido. “Never Say Die!” pode ser considerado um álbum injustiçado por tudo o que aconteceu durante sua construção, mas algumas coisas o fizeram crescer e assumir uma prateleira mais acima até do que o “Technical Ecstasy” e também “Sabotage”. Este último sendo muito mais lembrado através de seus grandes hits, mas o álbum em si sempre foi pouco divulgado e debatido. E olha que seu nome é bem fácil de lembrar.
A capa de “Never Say Die!” é uma das capas mais conhecidas no mundo do Rock e do Metal. O “piloto” sempre aparece em todos os lugares que o Black Sabbath esteja. O álbum ganhou disco de ouro nos Estados Unidos, ficou na 69ª posição na Hot 100 de lá, além de figurar na 37ª posição no ranking da Suécia. E por fim, alcançou o ótimo 12º lugar em seu país natal, a Inglaterra.
Outras curiosidades
Em suma, tanto a faixa homônima quanto “A Hard Road” figuram em diversas coletâneas e compilações do Sabbath, mostrando que esse álbum nunca foi colocado no canto e que é sempre lembrado igual aos demais. Porém, abaixo de outros clássicos com toda a certeza. E vai mais uma justificativa: o astro do cinema, Robert Downey Jr., ao interpretar Tony Stark no filme Iron Man (Homem de Ferro, no Brasil) aparece com a camiseta do álbum “Never Say Die!”.
“Those who try to burn him pay
You don’t do that to Johnny Blade
He’s the meanest guy around his town
One look and he will cut you down
Johnny Blade, Johnny Blade”
nota: 7,5
Integrantes:
- Ozzy Osbourne (vocal)
- Tony Iommi (guitarra)
- Geezer Butler (baixo)
- Bill Ward (bateria)
Faixas:
1. Never Say Die
2. Johnny Blade
3. Junior’s Eyes
4. A Hard Road
5. Shock Wave
6. Air Dance
7. Over to You
8. Breakout
9. Swinging the Chain
Redigido por Stephan Giuliano