O quadro Álbuns Injustiçados apresenta: Kreator – “Hordes Of Chaos” (2009)
Que o glorioso e teutônico Kreator, liderado pelo incrível Mille Petrozza, teve seu momento de experimentações durante a década de 90 todos sabem, certamente. Mas, e o que veio a seguir?
“Violent Revolution” (2001) explodiu cabeças ao ser lançado e “Enemy Of God” (2005) aproveitou para exorcizar o que restavam das almas dos headbangers.
E quanto ao “Hordes Of Chaos” (2009)? Disco esse que não é tão bem quisto por uma parcela dos fãs de Thrash e também que dizem gostar do som dos alemães. Qual seria o motivo? Vamos juntos averiguar sobre o quão injustiçado é o álbum que apelidei de “irmão” do “Enemy Of God”.
Trinca de respeito
“Hordes Of Chaos” fecha uma trinca exuberante e matadora na discografia do Kreator, porém é difícil alguém mencionar isso. Talvez por uma proximidade maior dos álbuns e pelo seu antecessor ter feito muito barulho, positivamente falando então.
A saber, o que pode ser entendido por cima é que ele só não alavancou tanto por conta da devastação sonora causada pelo seu “irmão”, ofuscando um bocado as pretensões do “caçula”.
O que a banda aprontou na virada do século, inegavelmente, ecoava tão forte que perdurava por anos à frente. Ou seja, a tarefa para “Hordes Of Chaos” não era das mais tranquilas. Desse modo, se formos comparar com cada época de lançamento de cada disco da trinca de volta às raízes, veremos que o caminho para “Violent Revolution” era o mais calmo para poder se sobressair.
Já com “Enemy Of God”, o caminho foi facilitado pelo anterior e este deu continuidade ao momento excelente dos representantes de Essen.
“Hordes Of Chaos” sofreu com a artilharia pesada de seus dois antecessores, mas o poderio contido nesse trabalho jamais rebaixou a banda e faltou um pouco mais de atenção do fã para com o mesmo.

O metaleiro tem que acabar
De fato, o Kreator não “acabou” antes disso como muitos “mortos-vivos” costumam mencionar. Assim sendo, a chama seguiu acesa, fervilhante e brilhante, como manda o manual das chamas infernais. Ao entender sobre a época de lançamento, vamos averiguar se de fato havia potencial para este grande álbum alçar voos maiores.
Inaugurando a destruição sonora com a necrologia da elite, mais um clássico da nova era
A fim de continuar a devastação causada pelos dois álbuns anteriores, o exército musical germânico coloca logo na dianteira a clássica “Hordes Of Chaos (A Necrologue For The Elite)”. A tática é muito bem posta e executada, já que traz o público ouvinte para o lado thrasher da força.
A fórmula, desenvolvida e utilizada nos dos álbuns anteriores, é recolocada em uso de maneira excepcional, tendo ímpeto e presença logo em sua introdução. Abrindo então, espaço para os dedilhados característicos e riffs precisos de Mille e Sami, enquanto o líder da banda vocifera de modo a espalhar toda a brutalidade e violência sonora. Provocando todo o caos musical, enfim.
Entre os versos temos o destaque para as hordas provocadoras do caos, os magnatas que brincam de guerra e usam a miserável população como bonecos suicidas em conflitos armados. Motins brutais à esquerda e à direita, não importando o lado, mas sim o ouro banhado em sangue nas mãos dos poderosos e asquerosos, então.
“Everyone against everyone – chaos”
Enquanto as crianças morrem devido à vitória do armagedom, o caos sonoro violento é instaurado, assombrando a quem o vê de perto. As viradas insanas de Ventor através de seu kit, além do alicerce preenchido pelas linhas de baixo de Christian Giesler, apresentam os tempos de horror e mentiras constantes que são lançadas aos quatro cantos, simplesmente para ver uma brutalidade sem fim entre os mais fracos.
Os solos surgem como punhaladas sangrentas nos tímpanos dos engravatados através de suas mesas de mogno envernizado com sangue de inocentes. A divisão dos solos provoca uma euforia catastrófica maior, assim como um autêntico necrólogo para a elite o faz ao anotar os dados sobre a violência e ignorância causadas mundo afora.
Quando você se dá conta, a canção ganha novos caminhos dentro de uma mesma proposta, provocando uma comoção em quem gosta do estilo e, consequentemente, do próprio Kreator. Em suma, o final é daqueles de empolgar para seguir em frente dentro do tracklist do disco.
“Brutal riots left and right
Out to destroy, willing to die
honour killing in blood is she’d
A cruel reality in empires built in sand”

O mundo mergulhado na maldição da guerra
Mille não tem receio algum de falar sobre o que pensa em suas músicas e das coisas que presencia ao redor do planeta. Como músico, isso facilita bastante graças às turnês realizadas por sua banda. Entretanto, toda poesia pode apresentar os mais diversos caminhos, sempre de acordo com quem a interpreta. Porém, desde que saiba interpretar um texto que se preze. Em “War Curse”, a mensagem é direta a o ponto, te dizendo para imaginar o cenário em plena Segunda Guerra Mundial, para a partir de então, poder sentir na pele e na alma os terrores promovidos por puro ódio e ideologias fracas.
A sensação que fica é de que praticamente nada mudou desde que essa música foi lançada e o ódio gratuito passou a ser a principal chave durante qualquer tipo de diálogo, isso se houver algum. Bem como a letra inteligente e marcante, a sonoridade acompanha tal desfecho, assim promovendo uma guerra sonora bastante explosiva a quem possa ouvir com clareza.
Clima de devastação e semelhança inusitada
Em uma terra que é governada pelo ódio e pela fome, a intro breve de bateria passa a ser acompanhada por uma guitarra distorcida e pronta para o ataque. O andamento é visceral a ponto de invadir o campo do refrão e atravessar a trilha até a segunda parte da letra. O Kreator sabe muito bem trabalhar com duas guitarras e se aproveita muito bem disso, já que Sami entende muito bem a proposta. As linhas de baixo de Giesler compreendem e complementam o grande momento, enquanto Ventor promove um bombardeio a céu aberto com suas conjecturas magistrais de bateria.
Porém, já na segunda perna da música, digamos assim, o ritmo modifica e apresenta uma aura mais contida em questão de velocidade, com o intuito de promover as famosas quebras de ritmo dentro do Thrash Metal. Todo o mundo é um cemitério durante um conflito incessante, na qual o peso dos riffs estridentes e o duelo de pedais duplos segue na dianteira. Enquanto isso, uma nova ordem é dispersada como uma catarse brutal através dos solos memoráveis de guitarra. O trecho após o solo, soando como sirenes abstratas, lembra bastante o trecho de “The Nephilim Rising”, faixa de “Demigod” (2004), álbum do Behemoth. Nergal, líder da banda polonesa, soube bem encontrar ótimas passagens e que possivelmente, serviram de inspiração.
“A violência está conquistando o mundo!”
A escalada para a doutrinação global
A fase sinistra do protesto revela um enorme surto global inesperado. Entretanto, essa camada problemática é traduzida pelos riffs e conglomerados de notas vibrantes. Temos então, a armada necessária para combater os discursos prontos para promover o ódio e o caos. Os anos de estupro mental tornaram a fé cega e cheia de falsa esperança entrelaçada ao ritmo quebrado e cortejado pelas melodias e alavancas mortais dos solos de guitarra.
As bases serram as madeiras mais sólidas e conduzem o montante sonoro até as regiões mais afetadas pela violência extrema. Em meio a todo esse sofrimento conduzido pelos motores afiados do Kreator, é lembrado que os deuses da vingança vivem dentro de nós e nunca dormem. Enquanto existir isso, existirá o sonho em derrubar impérios para a libertar a humanidade das amarras pelas quais conhecemos desde o nosso nascimento. Muito prazer, “Escalation”.
“Estou rezando para ver
Uma escalada mundial”

Sede de sangue, sacrifício e agonia
Aqui é iniciado, com toda a certeza, o choro lamuriante dos mentecaptos e ouvidos feitos com dejetos de porcos silvestres. A intro calma de “Amok Run” evidencia muito dessa frescura habitual. A visão fica distorcida através do martírio que começou. Sendo assim, a sede de sangue viscoso é ampliada junto ao dedilhado inicial. Tudo isso vai de encontro ao assoalho revestido pelas camadas de contrabaixo de Giesler, enveredando o anúncio de mais uma passagem sonora importante.
Mille começa a cantar com sua voz mais limpa e calma, lembrando os tempos experimentais, mas que agora estão mais amadurecidos a ponto de enriquecer o urânio contido na música. Sua voz encontra o caminho tradicional e guia a sonoridade para espaços mais densos e perturbadores. A junção entre peso e melodia se equilibra e forma uma lança afiada e desafiadora aos ouvidos mais puritanos.
“Run amok run
Run amok run
Run amok run
Run amok run”
Certamente, essa é a hora para correr em direção ao mosh e destilar todo o seu ódio contido em sua alma. Enfrente os desafios cheios de tormento e decadência pelas cicatrizes a qual foi marcado no fundo de sua alma. A mortes fazem o ponteiro do contador de vítimas girar até quebrar, enquanto a sede por tudo isso perde o controle e a fluidez sonora cerca toda essa devassidão.
Os contrapontos da canção demonstram uma continuidade da ideia executada nos trabalhos anteriores, sem se desviar de sua própria premissa. Assim, conseguem manter o tráfego musical em ordem.
Hora de acordar e enfrentar o sistema
Destrua o que está te destruindo através do som de “Destroy What Destroys You”, single menos reluzente que a faixa-título, mas somente por conta dela levar o nome do disco. Afinal, aqui encontramos até mesmo vestígios de Megadeth. Tudo isso vai de encontro ao fato de que Mille é fã declarado dos serviços prestados por Dave Mustaine e seus contrabandistas musicais. Decerto, o Kreator permanece com suas ideias e sua própria empreitada, mas essa somatória torna essa música muito envolvente por si só e também por conta de suas características especiais.
As leis estão prontas para serem quebradas, além do ódio e do preconceito, que serão atropelados como as esteiras dos tanques bélicos ao passarem por territórios com plantações. Os riffs cortados em prol de uma cadência essencial somam aos traços mais extremos dessa, que vem a ser uma das melhores faixas do disco, sem sombra de dúvida!
Os diferenciais empreendem de maneira a fortificar tudo o que vem depois, incluindo mais solos personalizados e com a marca dos alemães. Hora de ressuscitar o sonho que foi perdido antes que haja arrependimento. Mas, para isso acontecer, é bom prestar atenção em toda a junta estrutural da canção. Afinal, isso poderá te dar poder de fogo suficiente para combater a tirania da música com milhões de aspas, daquelas que você fica até doente se ouvir.
Paris em chamas
“Radical Resistance” é a próxima luta contra a música de faixada, pois enquanto Paris queima novamente, o Kreator incendeia com mais uma pedrada flamejante. A perda da liberdade e o anacronismo democrático ditam a dança das chamas. Os ateus possuem uma forte crença nos poderes da instituição e os riffs inflamam ao fortalecerem os dizeres de que os fundamentalistas apenas estão a serviço da mentira e da degradação populacional.
São notáveis elementos de outras bandas do estilo e até mesmo dos compatriotas do Destruction, porém em dosagens leves, tanto que podem passar despercebidos ao ouvirem sem a devida atenção. As idas e vindas relacionadas às passagens mais cadenciadas com passagens mais agressivas formam uma grande chave para o sucesso costumeiro da banda. Mais solos excelentes constituem outra ótima passagem musical. Enquanto Paris entra em chamas, engravatados e terroristas apertam as mãos em comum acordo pelo lado negro da vida.
“Terroristas com uma forte crença
Na salvação da vida após a morte
Multidões de cidadãos mudos
Purificadores do trono”

Misantropia absoluta para o pós-nascido
Uma jogada interessante é marcada por conta de uma letra “h” em “Absolute Misanthropy”, sétima faixa de “Hordes of Chaos”. Essa letra a mais em misanthropy, tornando a escrita como misanthrophy, é relativa ao diálogo sobre uma nova filosofia, dada como misantrofia.
A figura em questão parece que está com a adrenalina envenenada por uma anfetamina agrotóxica e isso irá para seus desafetos. Pois, nunca o verão se curvar diante do trono. Assim sendo, o terror social sobre endorfinas dá o seu parecer junto a uma intro contagiante e intrigante. Muito por conta das direções tomadas em poucos instantes. A revolta prossegue com o uso e abuso dos cortes causados pelas facadas em metáfora aos riffs.
Os solos chegam mais cedo e lançam os foguetes em direção aos alvos com mira na testa. A misantrofia dará início a uma nova jogada, da qual será marcada por toda a história repleta de caos e devastação. Mille utiliza de seus artifícios vocálicos para simular uma paranoia diante da nova filosofia de contragolpe aos malfeitores dessa terra.
Na sequência, temos tremores de uma bateria inquieta e que abre caminho para dedilhados maquiavélicos. Analogamente, os sons das cordas e os versos de “To the Afterborn” alertam o salvador tirano, que seria o inverso daquilo que nós é passado todos os dias. A vida está cheia de nada e você junta um punhado de notas para resgatar algum valor por estar vivo, mas há um vácuo lá no fundo de uma geração para outra, pois “eles” espalham a mentira mais antiga até então. O crucificado descerá até o inferno e a depressão será o mal maior dessa terra.
O aviso para o pós-nascido foi dado e cabe a mim e a você entenderem que o mundo não pode mais girar em torno de uma cruz.
“Will the ones who live after our end
Worship the goddamn cross again?”
A ala instrumental e desfecho final em brasas ardentes
O álbum apresenta uma faixa instrumental. Todavia, trata-se de “Corpses of Liberty”, penúltimo caminho até a chegada do caos pleno. A concepção das linhas sonoras sem versos é uma extensão da faixa anterior, com a intenção de emendar as duas canções entre ela. Enfim, acaba funcionando como uma ponte de ligação entre uma margem e outra, mesmo que não apresente maior destaque em relação aos principais e grandes momentos da obra.
“Demon Prince” chega para infernizar a vida das almas lamuriantes e os desafia para mais um duelo de jogos melódicos e provocativos aos seres sem nexo, sem sexo e sem valor, que jamais deveriam estar presentes nessa terra ardente.
Mosh!
A pancadaria final inicia de forma condizente ao que a banda pode promover. Guitarras ensurdecedoras apostam corrida até colidirem com os refrães inflamáveis. Os primeiros solos são de Mille e ardem a têmpora do bandido, sem deixar pedra sobre pedra. A “parte 2” muda o direcionamento para algo mais quebrado e cadenciado, elevando a qualidade da canção. Certamente, deveria ser mesmo a canção final. Nas brasas ardentes nasce a conspiração e das cinzas antigas uma nova força nasce. Entretanto, vale lembrar que ao semear o vento, colherá a tempestade. E para isso que estamos aqui.
Os solos de Sami surgem em meio aos refrãos e engrandecem um pouco mais a obra feita pelos mesmos. Portanto, a apoteose se torna um real final de show, com toda a pompa de um grande espetáculo!
Desobedeça o opressor e mate o príncipe demônio!
Em resumo, pudemos notar que o álbum poderia ir mais longe com relação ao que conquistou à época. Porém, a concorrência estava acirrada. O próprio Behemoth havia lançado o álbum “Evangelion”, o Megadeth com “Endgame”, e o Nile com “Those Whom the Gods Detest”, entre outros, só para exemplificar.

Curiosidades necrológicas e informações viscerais:
O álbum “Hordes of Chaos” alcançou a posição # 165 na Billboard 200, sendo uma ótima posição para uma banda fora do eixo norte-americano, tocando um subgênero que recuperava sua força ano após ano.
“Hordes of Chaos” foi Gravado no Tritonus Studio e Transporterraum Studio em Berlim. Além disso, foi Mixado no Miloco Studios em Londres e masterizado em Sterling Sound, Nova York. Lançado no dia 13 de janeiro via Steamhammer.
A pré-produção contou com Tim Schuldt, porém a produção do disco ficou a cargo de Moses Schneider.
Colin Richardson foi o responsável pela mixagem, enquanto Ted Jensen cuidou da masterização.
A engenharia foi colocada às mãos de Matt Hyde e a engenharia adicional contou com a presença de
Rico Spitzner, com mixagem adicional de Oli Wright. Arte de capa e de trabalho geral foram assinadas
por Joachim Luetke, além dos cliques para as fotografias feitos por Harald Hoffmann.

Dedicatórias do criador
O videoclipe de “Destroy Whats Destroy You” foi lançado no dia 25 de junho de 2010 em detrimento dos acontecimentos provocados por um terremoto de largas proporções no Chile. No início do vídeo consta uma dedicatória ao povo chileno que sofreu perdas duríssimas durante essa tragédia.
As filmagens aconteceram no dia 17 de outubro de 2009 durante um show no Espacio Broadway, em Santiago, no Chile, e que também contou com a ilustre presença do Exodus.
“Este vídeo é dedicado a todos os nossos amigos chilenos que sofreram perdas durante o terremoto de 2010”
KREATOR.
O álbum é dedicado à memória de Denis D’Amour, mais conhecido como Piggy, guitarrista clássico do Voivod.
“Destroy what destroys you
In god-forbidden land
Resurrect the dream you’ve lost
Before you regret
Our souls may be darkened
But we see the light
The source of our inner strength
Is power that cannot die”
Nota: 8,8
Integrantes:
- Mille Petrozza (guitarra, vocal)
- Sami Ily-Srniö (guitarra)
- Christian Giesler (baixo)
- Jürgen Ventor (bateria)
Faixas:
1. Hordes Of Chaos (A Necrologue For The Elite)
2. War Curse
3. Escalation
4. Amok Run
5. Destroy What Destroys You
6. Radical Resistance
7. Absolute Misanthropy
8. To The Afterborn
9. Corpses Of Liberty
10. Demon Prince
Redigido por Stephan Giuliano
Clássico, melhor do que o disco atual…na minha opinião!!!! Valeu!!!!
Adoro este disco. E na vdd tudo que veio depois do Violent Revolution