Como o adepto e caro leitor bem sabe, este é um espaço no qual podemos rebuscar dentro da discografia das bandas, determinado álbum que por algum ou mais motivos não alcançou um patamar maior. Diferentemente das resenhas, esse quadro a meu ver funciona como uma forma de entender junto com você, que está me acompanhando nessa viagem por escrito, as causas para o sucesso ou o insucesso de um disco. Sem ficar pesquisando números de vendas, prensagens e coisas do tipo. Apenas colocando a cabeça para pensar e analisar possíveis detalhes que puderam contribuir para a jornada do álbum em questão. E o álbum escolhido para esta edição é o “Force Majeure” da gloriosa Doro. Vamos aos fatos!
Quem é mais familiarizado com a banda Warlock deve saber que “Force Majeure” seria o seu quinto álbum, sucedendo o excepcional “Triumph And Agony” de 1987. Muitos o consideram como o melhor álbum da lenda Warlock (inclusive quem vos digita), porém, outra boa parcela dos fãs aponta o sensacional debut “Burning The Witches” (1984) como sendo o melhor. Isso é até importante saber para conseguir enxergar melhor o decorrer da história de Dorothee Pesch à frente de ambos os trabalhos. Doro, como banda, está em algum lugar entre a carreira solo da Rainha do Metal e sua antiga banda.
Por motivos contratuais e a disputa do nome perdida na justiça para o manager da banda, Doro Pesch teve que mudar imediatamente seus planos para que conseguisse lançar o próximo disco sem maiores problemas. Só que o maior desafio era de fato não poder mais usar o já renomado Warlock. Segundo Doro, ela queria ficar com o nome por causa do merchandising que era bem forte naquele tempo. Com isso, seria muito difícil alcançar as metas planejadas desde então. Mesmo com um disco sendo lançado ainda nos anos 80, tendo inserido em sua capa (design elaborado por Geoffrey Gillespie) todo aquele ar característico e traços daqueles tempos, creio que seria realmente complicado trazer a atenção do público para este novo material à época. Vale ressaltar que o Warlock já não era mais a mesma banda de outrora, pois passou a ter diversas mudanças de integrantes e isso acabou complicando todo o alicerce montado. Não que Doro Pesch não fosse competente a ponto de carregar o time nas costas, mas é diferente quando esta equipe muda de nome por obrigação. Aproveite e faça um exercício você mesmo e tente imaginar o seu time de futebol do coração mudando de nome por motivos judiciais. Duvido que não sinta certa estranheza ao imaginar tal situação.
A deusa germânica dourada persistiu e conseguiu obter êxito com o lançamento de “Force Majeure”, que claramente é uma continuação do Warlock. Talvez mais voltado ao Hard Rock do que nos trabalhos anteriores, mas era de fato uma continuação que teve de sofrer alterações. E mesmo assim, Doro Pesch continuou rebuscando canções à época do Warlock para inserir em seu trabalho solo. E isso deu certo, porém, é necessário dizer que jamais conseguiu alcançar o que ela obteve com o Warlock em termos musicais. Agora, em se tratando de grana, ela se saiu bem mesmo que muita gente torça o nariz para alguns discos que a Rainha lançou. Talvez se ela conseguisse manter um time fixo e focado para levar o nome Doro mais ao alto da montanha, seus álbuns alçariam vôos bem maiores, principalmente os álbuns com maior influência de Heavy Metal. Embora, alguns integrantes estejam tocando com ela desde o início dos anos 90.
Para ajudar Doro nessa empreitada, ela contou com o seguinte line up: Jon Devin (guitarra), Tommy Henriksen (baixo e backing vocal), e Bobby Rondinelli (bateria), figurinha carimbada do universo do Rock/Metal. O quarteto ainda contou com os arranjos de teclados feitos por Claude Schnell. Um time de responsa e que juntos conseguiram lançar o que para muitos é o melhor feito da carreira solo de Doro, que foi produzido por Joey Balin. Quanto a mim, tenho preferência pelo terceiro álbum dela. Falo do excelente “True At Heart” de 1991. Agora sobre o debut, além da própria líder, Tommy foi o único integrante da formação desse disco a fazer parte de “Triumph And Agony”, e isso foi um fator muito importante para que o álbum mantivesse a solidez da antiga banda. Doro comanda com sua incrível e poderosa voz abrindo o full-length com “A Whiter Shade Of Pale”, cover do Procol Harum. Ainda pelo lado A destaco as faixas “Save My Soul”, “World Gone Wild” e “Angels With Dirty Faces”. Agora pelo lado B temos “Hellraiser”, “I Am What I Am”, e “Under The Gun”, sendo estas últimas duas muito próximas ao que fora construído no Warlock.
Aproveitando para fazer um último parágrafo, podemos concluir que se trata de um álbum que teve diversos problemas para ser lançado realmente. E sem esses entraves poderia atingir um nível bem superior ao que conquistou. “Force Majeure” poderia sim estar em um pedestal mais alto até por que muitos artistas consagrados possuem este disco em suas imensas coleções. E muitos fãs fazem questão de ter esse álbum em mãos. Sem comparar as bandas, pode-se obter um grande resultado ao conferir o trabalho mais livre e honesto de Doro Pesch e seus aliados.
“5 million reasons with 10 million pieces to go
Wheelers and dealers with nothing but dreams of control
I helieve, we’re under the gun
I heheec, we’re under the gun
Sold out to madness
Prisoners of sadness
I believe, we’re under the gun
We’re under the gun”