Alguns discos se tornam clássicos com o passar do tempo, outros nascem com esse estigma. E “Reign In Blood”, do Slayer, é um desses registros que foram tão inovadores e impactantes que todos que ouviram na época sabiam que estavam diante de um novo clássico.
Em 1986, o Metallica era a força que guiava praticamente todas as novas bandas de Thrash Metal. O gênero começou a ser desenvolvido no início dos anos 80 com alguns nomes da Bay Area surgindo, mas foi o Metallica que conseguiu o primeiro contrato, o primeiro disco oficial lançado e as primeiras turnês realmente grandes.
Ninguém havia chegado lá, mas o Metallica chegou, então por isso eles eram respeitados e copiados. Veja bem, não que as bandas tentassem reproduzir o som do Metallica, mas seguiam algumas das suas diretrizes. Era mais ou menos um consenso, “se eles fizeram assim e conseguiram, faz sentido seguir por esse caminho.”
Quebra de paradigma
O Slayer quebrou esse paradigma com o lançamento de “Reign In Blood”. Na verdade, o Slayer acreditava tanto no seu material que resolveu ir na direção contrária do que o Metallica fazia. “Reign In Blood” foi um contraponto a “Ride The Lightning” assim como a “Master Of Puppets”.
Se o Metallica fazia músicas longas, o Slayer compôs faixas de curta duração. O Metallica investia em ritmos cadenciados, o Slayer pisou fundo no acelerador. Se analisarmos canções como “Fade To Black”, “Welcome Home” assim como “Orion”, o Metallica queria trazer harmonias, melodias e belos solos pensados de forma mais complexa, o Slayer fez o oposto e apresentou uma tonelada de riffs insanos, solos alavancados e focou na simplicidade.
Claro que o resultado de todas essas ações colocaram “Reign In Blood” como uma espécie de bíblia do Thrash ao lado de “Master Of Puppets”. A partir desses lançamentos tão distintos, as outras bandas americanas do gênero tinham um real comparativo e, dessa forma, podiam escolher qual caminho seguir. O Metallica não era mais a única banda a direcionar seus iguais. Foi uma real quebra de hegemonia.
Produção atuando como fator chave
Sabendo de tudo isso, precisamos dar crédito ao cara que conduziu “Reign In Blood” para ser o que foi: o produtor Rick Rubin.
Em uma nova entrevista com o youtuber Rick Beato, Rubin compartilhou sua perspectiva sobre como as gravações de “Reign In Blood” conduziram o álbum para se tornar um dos trabalhos definidores do gênero Thrash. Rick começou explicando:
“Eu tinha uma teoria. Isso não foi baseado em ser um músico. Isso não foi baseado em ser uma pessoa técnica. Isso foi baseado em ser um fã e… teórico, eram apenas pensamentos. Então, quando ouço música muito rápida como Metallica, e os sons são grandes… a coisa toda fica meio borrada para mim, e não consigo realmente ouvir
“Se a música que você está tocando é rápida e se os sons são grandes, não há espaço suficiente para esses sons grandes acontecerem um ao lado do outro. Não há pontuação e torna-se um borrão.”
Rubin conta que em determinado momento da produção, ele tocou uma música do Metallica para o engenheiro de som do Slayer.
“Eu disse a Andy Wallace: ‘seria possível gravar de uma forma que soasse forte, mas que tudo fosse curto porque é rápido e queremos que haja isso?’. Eu não queria que fosse um borrão de baixo, eu queria que fosse um pulso. E ele disse: ‘Acho que podemos fazer isso’.”
O produtor ainda disse que trabalhou em “Reign In Blood” mais subtraindo partes do que adicionando, como faz a maioria dos produtores.
“Eu era mais subtrativo do que aditivo. Era uma coisa de voltar à essência. Não era fazer a ‘coisa’ profissional. Eu não estava usando todos os truques normais do ofício. Era reduzi-los apenas ao que era essencial com essa ideia particular em mente.”
Rick ainda disse que sua “falta de experiência” na época ajudou a fazer o que era necessário para que o disco soasse do jeito que soou.
“Não ter a experiência da maneira certa de fazer isso era parte da chave. Se eu fosse um produtor de Heavy Metal experiente, usaria os truques que usei em outros discos de Heavy Metal, porque é isso que as pessoas fazem. Você aprende as maneiras de fazer isso… Eu não tinha a bagagem do que era o jeito antigo de fazer. E neste caso, essas formas de música eram tão novas que o jeito antigo teria diminuído seu impacto. Não as teria tornado melhores.”
Podemos concluir que tínhamos o produtor certo trabalhando com a banda certa e no momento certo. Rubin queria inovar, o Slayer queria ser um contraponto ao que o Metallica fazia e o cenário Thrash em ebulição estava à espera de um disco que conseguisse de fato impactar o mercado de uma forma mais visceral.
Veja a entrevista na íntegra: