A dualidade é um dos alicerces essenciais no desenvolvimento do Metal e seus subgêneros. Antes de dissertar sobre esse singelo aspecto musical, preciso fazer uma ponderação importante sobre o Savatage… Ou você ama ou não conhece, não existe outra possibilidade. Parafraseando um de nossos fundadores, o pergaminho da dualidade será dedicado a uma das bandas mais influentes e um tanto desvalorizadas do Metal. Influente, por ter inspirado bandas de, praticamente, todos os subgêneros principais do Metal, pela sua genialidade e amplitude musical. E desvalorizada, talvez pela mesma razão, pois, infelizmente, o público “tradicional” do Metal em sua maioria é acomodado e muito preso a dogmas musicais quadrados.
Nos anos iniciais, o Savatage fazia aquele velho arroz com feijão consagrado, Heavy Metal Tradicional forte e concentrado, sonoridade que reinava em meados dos anos oitenta. Porém, desde o álbum de estreia “Sirens” de 1983, havia alguns vestígios de uma sonoridade mais introspectiva, melodiosa e composta por acordes acalentadores. Apesar de serem breves momentos, mostrava o potencial musical que poderia ser extraído dali, e justamente onde iremos focar aqui.
Após três registros lançados entre os anos de 1983 e 1986, sendo um deles uma tentativa de fazer algo mais comercial por imposição da gravadora, o produtor e compositor Paul O´Neill assina contrato com banda e da inicio ao desenvolvimento musical definitivo do Savatage. Paul é responsável direto por moldar a sonoridade da banda a partir do clássico “Hall of The Mountain King” de 1987, apresentando elementos sinfônicos e mais conceituais como interpretações de música clássica feitas na guitarra e teclados, assim como orquestras de fundo.

Seguindo o rumo dessa transição da musicalidade, podemos ouvir o potencial da banda, experimentando em um território mais progressivo, cenário onde o saudoso Criss Oliva mostra sua genialidade incomparável, guiado fortemente pelo produtor, que houvera causado tanto impacto na banda.

Infelizmente, apesar de ter sido uma parceria extremamente producente e frutuosa, durou pouco mais de sete anos até a morte de Criss Oliva em 1993, seis meses após o lançamento do álbum “Edge of Thorns”. Esse registro marca as duas ultimas contribuições entre Criss, seu irmão Jon e o produtor Paul O´Neill, “All that I bleed” e “Miles Away”. Dois dos melhores exemplares da dualidade discreta e breve, e a dualidade mais profunda e reflexiva que apenas o Savatage fazia.

Com o intuito de honrar a memória de Criss, Jon Oliva e Paul decidiram dar continuidade a banda, lançando quatro registros esplendidos e musicalmente riquíssimos, marcando o inicio da parceria de longa data com o guitarrista Chris Caffery e uma breve, porém notória, passagem do guitarrista Alex Skolnick, ocupando o “inocupável” lugar de Criss. Mais tarde, Alex e Chris se apresentaram juntos, com o gigante Trans-Siberian Orchestra, projeto idealizado e fundado pelo próprio Paul O´Neil em 1996.

Poderíamos dedicar este quadro exclusivamente a história da banda, em sua jornada pela década de noventa, na qual muitas mudanças ocorreram. Porém, sem mais delongas, selecionamos 15 exemplares do que sempre venho retificando por aqui, bandas e músicos de Metal são como a história de Dr. Jekyll e Sr. Hyde (O médico e o Monstro). Eles são capazes de criar as mais furiosas e pesadas canções, e ao mesmo tempo dar vida a momentos de calmaria, serenidade e ponderação de um minuto para o outro.
*Dedicamos esse quadro a memória de Criss Oliva e Paul O´Neill, que veio a falecer em abril de 2017. Suas contribuições nunca serão esquecidas.*
