Bandas femininas… Bandas com integrantes mulheres… Bandas formadas só por mulheres… Onde estão? Aqui estão! Elas seguem à luta e fazem um grande som! Mas, existem mesmo?!…
Essa é a indagação de muitos dos ditos fãs de Metal sobre esse assunto, mesmo em um momento tão frutífero para elas: as musicistas da boa “múzga”. Cada vez mais bandas com ou formadas somente por mulheres estão surgindo e conquistando o seu merecido espaço. Eu sempre apreciei os trabalhos de várias heroínas do Rock e Metal, e sempre serei grato a elas. Me felicito ainda mais ao ver cada vez mais bandas formadas por elas, as que abrilhantam e tornam a cena mais importante, reforçando a liberdade de qualquer pessoa poder exercer tal função e seguir em frente.
A indicação de hoje atende por The Damnnation, power trio feminino de Thrash Metal formado por Renata Petrelli (guitarra e vocal), Aline Dutchi (baixo e backing vocal) e Luana Diniz* (bateria). A banda é bem recente e surgiu em 2019, na cidade de São Paulo, capital, lançando o single “World’s Curse” no mesmo ano. Em 2020, veio o segundo single chamado “Apocalypse” e o primeiro EP intitulado “Parasite”. Agora, dois anos mais tarde, a banda debutou com o álbum “Way Of Perdition”. O álbum foi lançado em 6 de maio via Soulseller Records. Os singles ajudaram a impulsionar a divulgação da banda, fazendo uma ponte entre os mesmos, o EP e o disco de estreia. Martin Furia (atual guitarrista do Destruction) ficou a cargo da mixagem e masterização no Project Zero Studio, Nijlen, Bélgica. A gravação foi feita por Rogério Oliveira no Flight Studio em Guarulhos, São Paulo.
Faltava aquele que carimbaria o espaço garantido do super trio no cenário nacional, e esse passo acabou de ser dado. Resta saber se foi um passo em falso ou um passo firme, cravando as solas de borracha quente na cara do inimigo. O poderio é marcado por dez tipos de munições sonoras, contendo ingredientes no tipo de pólvora que iremos investigar minuciosamente a partir do próximo parágrafo. Ajeita sua bandoleira e vamos embarcar nesse tanque de guerra.
O disco estreante abre alas com a trinca, “Before The Drowning”, “Way Of Perdition” e “Into The Sun”. Renata Petrelli lidera o time nessa empreitada com suas linhas de guitarra precisas e seus vocais raivosos. O modo de construção com a vocalista sendo também guitarrista, lembra bastante outra banda brasileira: o ótimo Subtera. A levada com riffs mais robustos e sem tantas notas, porém mantendo o alicerce intacto e presente é a base apresentada por aqui.
Na primeira página desse novo livro, antes de se afogar em pensamentos duvidosos sobre o trabalho em específico, temos uma intro de guitarra dedilhada de forma mais contida que remete ao Metallica dos bons ventos, e na sequência, já entrando em ação os pedais duplos e todo o kit de Luana Diniz, sob o grato auxílio da baixista Aline Dutchi, e isso acaba levando a semelhança para os lados do Scatha, outra banda nacional e que também é formada somente por mulheres amplamente competentes. Os riffs seguintes trazem à tona o que fora dito sobre o Subtera, mas com toda a identidade sonora que uma banda precisa obter. O solo é breve, mas feito com a dedicação de quem deseja produzir um som qualificado e condizente para o lançamento de um disco.
A jornada para o caminho da perdição prossegue com algo próximo ao que bandas do chamado Death n’ Roll costumam promover. O riff principal é um pouco radiofônico sem perder a fórmula adquirida em trabalhos anteriores. A faixa-título ganha mais agressividade ao se aproximar do solo que é feito de forma bastante eficaz e a força motriz desse segundo capítulo é o refrão, e a ponte feita para repetir novamente o mesmo. O terceiro episódio do longa metragem em busca de estar diante do Sol é precisamente mais intenso que suas irmãs anteriores, com Renata impondo ainda mais seu vocal rasgado, acompanhada por suas parceiras de modo bastante convencional. As variações enriquecem a sonoridade, o que possibilita a execução de solos mais técnicos e distorcidos, além do baixo de Aline mais presente, juntamente com o competente trabalho percussivo de Luana em seu tanque de guerra em formato de bateria.
O livro continua com muitos relatos sonoros a serem promovidos e oferecem ao ouvinte um equilíbrio e evolução de uma banda com vontade de conquistar seu devido espaço sem medo de arriscar a colocar suas ideias em prática. As próximas, “This Pain Won’t Last”, “Grief Of Death” e “Random Words“ condizem muito bem com a proposta oferecida a princípio.
Ao ouvir a etapa seguinte dessa aventura, percebe-se que essa dor não irá durar diante de algo conciso e sólido. Não existe uma eternidade para chorar e o melhor a se fazer é continuar lutando, indo em busca da conclusão de grandes metas e objetivos traçados. O início mais melódico com mais camadas de guitarra abre espaço para a locomotiva percorrer as estações dos riffs rasteiros e pegajosos, levando a banda para uma mistura entre Thrash/Death e Melodic Death, o que torna o álbum surpreendente no quesito “não ser repetitivo”. A aura Thrash permanece nas passagens seguintes com o trio evidenciando as características citadas na abertura das cortinas. Pode ser considerada a possível influência do Arch Enemy a partir dessa canção.
Por falar na banda sueca de Michael Amott e Alissa White-Gluz, os elementos se tornam mais marcantes e aparentes logo a partir da abertura do som referente à tristeza causada pela morte. O conjunto da obra te coloca nesse clima e em determinado momento, surge um comboio de notas dissonantes que flertam brevemente com o Black Metal, mas que retomam a ideia tradicional logo em seguida, sendo a faixa mais melódica do disco. Fechando a segunda trinca como o sexto capítulo desse livro, mais uma vez o trio entrega uma receita com ingredientes da banda sueca. Os efeitos dão um ar diferenciado para a banda e faz com que as linhas e solos de guitarra se elevem. Toda a ideia da canção anterior segue exposta por aqui e outro diferencial presente são os vocais da própria Renata que sofrem leves alternâncias entre o rasgado mais Thrash e o mais despojado voltado para o Rock. Hoje em dia o que mais se vê e se lê por aí são palavras, frases e textos aleatórios sem profundidade e conhecimento de causa alguma. O que vale para a “tchurminha” é o título provocativo e enganoso, infelizmente.
As três construções antes da apoteose colocam o trio da danação extrema em modo de continuidade do processo e expectativa para o próximo álbum. O experimento com os singles e o EP serviram como um campo de visão aprimorado para que essa história pudesse ser contada de melhor forma. Tais canções atendem por “Slaves Of Society”, “Rotten Soul” e “No Hope Inside“.
Seguimos como escravos da sociedade no terceiro ato com a última tríade antes de completar o rodapé do disco. O riff inicial serve para aprumar o arsenal percussivo de Luana para que o caminho se torne mais violento e revele toda a podridão de uma sociedade doentia e combalida, cada vez mais fincada em idolatria sem fundamento e sem direção para a própria vida em si. As duas facetas entre agressividade e melodia se unem em prol de um som recheado de variações, além de solos bem sucedidos. O poder dos refrãos é sentido em suas aparições por toda a faixa, como um verdadeiro tanque esmagando o que restou da infantaria adversária.
O oitavo ponto crucial da caminhada mostra o reflexo da alma podre do ser, que por decisões históricas equivocadas, precipitadas, narcisistas ou fanáticas de algum modo, tornam as coisas muito mais complicadas que o normal. Isso acrescenta poder ao começo do versículo musical com a mesma sofrendo boas alterações em seu trajeto sem atrasar a viagem. A bateria partindo para o ataque sem frear os pedais com o acompanhamento da guitarra e do baixo colocam lenha na locomotiva, o que a faz percorrer os trilhos mais rapidamente. Simplesmente um dos grandes momentos do disco somado às notas melódicas e agudas que servem de ligamento aos solos, que mais uma vez, são novamente bem executados e alocados ao enredo. Sem esperança por dentro, vemos o ser se autodestruir por não enxergar nenhuma possiblidade de prosseguir diante das dificuldades auditivas para com este nono som do álbum. Os acordes e solos lembram a receita oferecida pelos thrashers lituanos do Phrenetix, banda liderada pela incrível guitarrista e vocalista, Lina Vaštakaitė.
O bombardeio final te convida para entrar no universo da ganância e perceber o quão nojento pode ser a criatura dita humana por conta de uma grande quantia em dinheiro, principalmente dinheiro vivo. Os riffs se assemelham ao que fora proposto durante o decorrer dos versos musicais desse estreante livro completo. Os solos funcionam de forma a ligar as estrofes e linhas sonoras para que não haja qualquer tipo de buraco. Renata, Aline e Luana entregam todo seu potencial e encerram com honrarias e congratulações este que pode ser a porta de entrada para vindouros álbuns.
*Observação:
Através de suas redes, a banda paulistana anunciou a saída da baterista Luana Diniz. A musicista foi substituída por Ellen Tavares (Macro – Jinjer cover). Tudo isso aconteceu entre os dias 3 e 4 de outubro.
Outro fato a ser observado é a quantidade de videoclipes produzidos pelo The Damnnation em parceria com a Soulseller Records, resultando em um mapa maior em termos de divulgação. Fato este que mostra a seriedade com que a banda trabalha e realmente se empenha naquilo que se propõe a realizar. E, consequentemente, alcançar seus anseios por merecimento. O início em questão de álbuns de estúdio está mais do que aprovado. Que sigam em frente e marchem rumo à glória!
Nota: 8,3
Integrantes:
- Renata Petrelli (guitarra, vocal)
- Aline Dutchi (baixo, vocal de apoio)
- Luana Diniz* (bateria)
Nova integrante:
- Ellen Tavares (bateria)
Faixas:
1. Before The Drowning
2. Way Of Perdition
3. Into The Sun
4. This Pain Won’t Last
5. Grief Of Death
6. Random Words
7. Slaves Of Society
8. Rotten Soul
9. No Hope Inside
10. The Greed
Redigido por Stephan Giuliano