O Schizophrenia, banda colombiana de Black/Thrash Metal, lançou o álbum “Conjuring The Beast”.
Já esteve em uma casa antiga vazia, seja para alugar ou até mesmo abandonada? Se esteve, certamente entenderá como funcionam os trâmites por aqui. Afinal, estaremos lidando com muita sujeira, mas aquela sujeira boa que muitos adeptos gostam e até mesmo alguns a idolatram.
Antes de tudo, é bom ressaltar que a sonoridade do Schizophrenia remete ao que seus conterrâneos Witchctrap e Guerra Total costumam apresentar em seus respectivos trabalhos.
O Black/Thrash Metal é um subgênero híbrido simples e complexo ao mesmo tempo, pois nem mesmo as bandas, ou grande parte delas, sabem mencionar direito sobre a vertente que tocam.
Portanto, cá estamos para falar sobre um lançamento desse subgênero complicado e bastante impopular, se comparado com os demais e mais conhecidos subgêneros do Metal. Além de explicar um pouco mais sobre esse tipo de sonoridade. Vamos lá!
Ficha técnica da criatura
O Schizophrenia é uma banda natural de Bogotá, Colômbia, e tem sua fundação datada em 2000. Seu primeiro trabalho oficial foi lançado oito anos mais tarde, sendo a demo “Holocausto”. Além disso, a banda colombiana possuía o debut “Rites Of Annihilation”, de 2015. “Conjuring The Beast” foi lançado no dia 14 de janeiro de forma independente, tendo agora ao todo dois álbuns de estúdio.
São 7 faixas executadas pelo Power Trio, que conta com o baterista Yeisson “Madness” Martinez (Impure God, Kaux, Son Of Hate, ex-Delirium Mortem), o guitarrista Blackhammer (Hammerwood) e o também guitarrista Sergio “Cortex” Buitrago (Iliaster). Para a gravação do baixo foi convocado o Wilmer “Evil Killer”. Todavia, no mesmo ano de 2023, a baixista Diana “Nox” Cárdenas assumiu o posto, permanecendo até então. Finalizando a ficha, a gravação e mixagem ficaram a cargo de Sebastian Rojas, enquanto as fotografias foram tiradas por Oscar Medina.
O curso do comando da maldade visceral do Schizophrenia
O fã da maldade sonora logo imagina um clima catastrófico e empoeirado, principalmente se essa poeira lembrar boteco sujo com balcão marcado pelo fundo dos copos e garrafas, além do lodo grudado na borracha da porta da geladeira antiga e de cor azul.
O ouvinte espera por isso, ou até mesmo sensação pior. Quem sabe, o porão de um bar ainda mais antigo e arcaico, cheio de bugigangas e ratos escondidos jogando baralho. Portanto, nada muito límpido é esperado aqui, pois o estilo pede por sujeira, por tempo nublado, por clima de verão no centro da cidade mais poluída. O típico céu verde, causado pelo calor em contato com a poluição.
Para quem é ávido por esse tipo de sonoridade, o país em questão chama muito a atenção. Afinal, a Colômbia se tornou um dos grandes celeiros do Black/Thrash Metal nos últimos anos, se juntando à tradicional Alemanha, Suécia, Itália, Espanha e até mesmo o Japão, só para exemplificar.
Desaster, Noctunal e Deströyer 666 talvez sejam os maiores nomes desse encardido subgênero híbrido mais sólido do Metal. Portanto, vamos analisar o que a banda com nome do disco do Sepultura tem a nos oferecer.
Temática camuflada
Os temas envolvidos com tal musicalidade permeiam os campos elísios do sul do céu, atrevendo-se a mergulhar em lugares mais luxuriosos e coisas do tipo. A religião entra em cena de forma pejorativa e extravagante, e até mesmo de modo mais infantil, com letras bem simples, diretas e bem mequetrefes no melhor dos sentidos.
Quanto ao Schizophrenia, a horda utiliza uma mistura fina baseada em temas de guerra, com transtorno mental, ligando ao próprio nome da mesma. Além disso, as artes negras se manifestas em meio à trama, enquanto a mangueira é ligada para jorrar sangue em tudo.
Schizophrenia e seu disparo inicial
O comando maléfico se une para executar seu primeiro hino das forças de coalisão. “Evil Command” começa com o intuito de promover o caos sonoro logo em seu princípio. As primeiras notas surgem como vultos em volta de uma masmorra, circulando e assombrando o local. Os efeitos trazem aquela sensação de fumaça em forma de “defeito especial” dos filmes trash de outrora. Eis que os riffs rasgam os alto-falantes empoeirados e abrem alas para a voz rasgada e com sede de sangue de Blackhammer.
Motörhead e Venom formam a base para a solução desse sudoku musical do Schizophrenia. Enquanto isso, os solos de Cortex assombram os lares protestantes, juntamente com a bateria desenfreada de Madness e o baixo distorcido de Evil Killer. A trama retoma o plano inicial e finaliza com o refrão potente.
Incessante e trepidante
Tirem a estrela de Davi da sala! O “Holocausto” sonoro começou! Dessa vez as linhas voltadas ao Hellhammer são bastante evidentes, até mesmo pela podreira oferecida. A gravação parece ter sido feita nos fundos da casa de alguém e na companhia de alguma ratazana, que passeia pelos caibros do cômodo. Quem nunca? (risos).
Abram alas para as linhas de baixo de Evil Killer, acompanhadas de perto pela bateria incessante de Madness, servindo de ligação para os solos meticulosos de Cortex. Além desse momento de perversão sonora, temos nos refrãos um exercício maior de poder. Tudo isso investido pelos backing vocals precisos.
O inferno explode e se expande em chamas com “Outburst From Hell”, enquanto os pedais duplos tremulam e fazem com que as guitarras reajam e despejem riffs viscerais como um lança chamas. As pausas características acontecem para que todos os instrumentos entrem em ação e coloquem o ouvinte no meio do combate.
Os riffs iniciais possuem um formato trepidante e simples, flertando claramente com o Punk, mas que descamba para algo mais infernal e divertido logo adiante. A canção puxa mais para um Speed/Black, mas mantem a lucidez voltada para o seu estilo convencional. Os vocais são mais acelerados e exalam enxofre ao serem espalhados para quem quiser ouvir. Ocasionalmente, os efeitos de bombas sendo arremessadas e explodindo, dão um charme a mais para a trama.
Schizophrenia e as marcas da guerra
Os malditos engravatados, por de trás de suas mesas imundas com papéis e ideias retardadas, insistem em perpetuar a guerra, provocando então os sussurros e súplicas da guerra eterna. “Whispers Of The Eternal War” é um single que foi lançado em 2022 e que funciona como um ótimo destaque para divulgar o novo álbum.
Com um toque na caixa já é motivo suficiente para despertar o headbanger mais sonolento da casa! Tem um urro nessa porra? Lógico que sim!
“Ugh!!!”
Após a lembrança de Tom Warrior e seu famoso urro, a sonzeira do Schizophrenia descamba morro abaixo, destroçando qualquer membro intacto que esteja pela frente, fazendo alusão a um verdadeiro tanque de guerra. O atropelamento das tropas invasoras acontece em meio aos aparecimentos do contrabaixo em meio aos riffs massacrantes de guitarra, somando com as pancadas na bateria. Assim sendo, um dos melhores momentos do disco. Só para ilustrar, o final da canção emula o término de música em um show ao vivo, dando um ar ainda mais underground para a obra. Em suma, trata-se uma música dedicada à guerra, à destruição e ao que ela causa na mente de todos que vivem neste mundo caótico.
A receita ideal entre Black Sabbath e Desaster
Estamos na metade literal do disco e a condenação à dor eterna se estende por todo o território musical, juntamente de “Condenado Al Dolor”. A chuva torrencial invade o cenário como nos tempos áureos de Black Sabbath, quando o Metal estava por ser constituído. A breve intro com trovoada abre caminho para o ritmo cavalar entrar em contato com o lado dolorido e sofrido da guerra. O sacrifício na língua na natal torna o ódio ainda mais enraizado, extirpando o inimigo por completo.
Suas linhas tendem para o lado do Desaster em suas músicas mais esticadas, com riffs contínuos e vocais rasgados e reforçados pelas forças do mal. Uma chuva ácida de notas flamejantes invadem o local com muita velocidade, incinerando todos os seres nefastos no campo de batalha. Blackhammer e Cortex trituram as rochas mais sólidas com seus riffs sujos, diretos e constantes. Apoiados por Madness e seu kit de rituais percussivos, juntamente com o baixo maligno de Evil Killer.
Finalmente, a música se encerra com a mesma chuva forte e trovejante, oferecendo um clima mais especial para a mesma.
Schizophenia e a besta diante da realidade cruel
Em toda a guerra há uma besta, e dessa besta surge outra, e outra, e outra, e mais outra… Sem fim! “The Beast” é anunciada através das marcações de baixo e bateria, ao mesmo tempo em que o riff inicial convoca todas as tribos do submundo para bailar e festejar diante da grande besta.
O chamamento se repete e a pancadaria dançante retoma o seu posto, sendo variantes certeiras em suas posições.
Madness despeja toda a sua fúria junto às suas linhas de bateria, enquanto as guitarras incendeiam o caldeirão de receitas macabras. A besta infernal flerta com o Thrash Metal, exercendo papel fundamental para que o caminho seja aberto para plumagens mais extremas e, certamente, voltando ao Black/Thrash tradicional. Só para ilustrar o caminho sombrio, o Schizophrenia não é tão retilíneo quanto aparenta.
Desfecho empoeirado final
“Cruelty And Reality” chega para finalizar capítulo dessa história, revelando o que há por trás de toda essa armada sem sentido, principalmente para o povo inocente que suplica, sobrevive, se refugia, sofre enquanto vive, até que não consiga mais se locomover.
Os cabos dos instrumentos são plugados e você pode ouvir o breve chiado antes de tudo desabar. Decerto, o Schizophrenia não é do tipo que se queixa por conta de determinadas situações como essa, fazendo com que o ouvinte esteja mais próximo do estúdio, como se estivesse participando das gravações. Os riffs principais são convidativos e com direito a mais um urro. Os vocais de Blackhammer propagam a sujeira oitentista mesclada com a identidade colombiana de fazer um som ríspido e cheio de terra. Os solos alavancados esboçam criatividade e ampliam a qualidade das bases, tornando as coisas ainda mais extremas. Certamente, são os melhores solos do disco. Além dos diferenciais e notas mais agudas, contrastando e complementando os bicordes e toda a sequência da cozinha.
Conjurações finais
Sim, a besta foi conjurada com sucesso e os laços com o estilo se fortaleceram ainda mais. Entretanto, não é nenhum divisor de águas, mas sim um complemento do que estamos acompanhando e conferindo de perto sobre essa sonoridade bastante peculiar e magnífica em sua grosseria.
Blackhammer honra seu pseudônimo e acerta em cheio quanto aos seus riffs imundos e cortantes como faca enferrujada e torta por ter ficado presa na porta.
Cortex colocou o tempero com o amargor no ponto certo para que as engrenagens funcionassem como em uma usina abandonada.
Madness, por sua vez, exibiu muita garra e sabedoria ao lidar com facilidade sobre os meandros do estilo híbrido, sem deixar nenhuma ponta solta, como em um filme bem dirigido.
Evil Killer assassinou qualquer chance de erro para com suas linhas de baixo, deixando amplamente confortável para que a nova baixista Nox possa executar os trabalhos com precisão.
Contudo, esse é o segundo full length com sete músicas repletas de ódio, revolta, guerra e escuridão com riffs crus a ponto de atingirem o seu cérebro, mostrando o mal que habita a mente humana nesta realidade distorcida.
Observações bestiais:
No novo álbum há uma oitava música, de acordo com o site oficial do Schizophrenia. A música em questão é a “Into The Crypts Of Rays”, cover da lenda Celtic Frost. De fato, a banda suíça é um dos pilares e responsável direta pelo surgimento do que conhecemos por Black/Thrash Metal.
Porém, em seu Bandcamp oficial, não consta esse cover e nem mesmo em sua conta no Spotify.
nota: 8,7
Integrantes:
- Madness (bateria)
- Blackhammer (guitarra, vocal)
- Cortex (guitarra solo)
- Evil Killer (baixo, músico de estúdio)
- Nox (baixo, não participou das gravações)
Faixas:
1. Evil Command
2. Holocausto
3. Outburst From Hell
4. Whispers Of The Eternal War
5. Condenado Al Dolor
6. The Beast
7. Cruelty And Reality
8. Into The Crypts Of Rays (Celtic Frost cover)*
Redigido por Stephan Giuliano
Muito bom, valeu!!!!