Gravadora: Dying Victims Productions
Mainz, Rhineland-Palatinate, é um lugar que remete ao desporto germânico, ou seja, a equipe alemã do Mainz. Mas, não vamos ao estádio assistir nenhuma partida deste simpático time da famosa Bundesliga. Os ingressos acabaram e nos indicaram para acompanhar os preparativos para o lançamento de mais uma sujeira bastante conhecida pelos adeptos do bom e magnífico bueiro. E é neste lugar que as chamas negras incendeiam os quarteirões e atiçam as almas penadas para que cultuem novos trabalhos e mantenham acesas as tochas em favor dos artefatos giratórios clássicos que fazem a alegria das “quianças”. E é nessa onda de descontração que apresento o mais satânico, mortífero, malvado, violento e mais Metal do que muito Metal, o novo lançamento do Nocturnal, “Serpent Death”!
O Nocturnal é uma das bandas mais queridas do subgênero híbrido mais sólido do Metal: o Black/Thrash Metal. E é nesse clima tenebroso que anunciamos mais uma obra voltada para este estilo corrompido pelas forças do mal e celebrado por seus asseclas e fãs. A banda alemã lançou seu quarto full length, “Serpent Death”, aliviando os anseios de seus fãs para que continuassem sua saga após a excelente trinca inicial com “Arrival Of The Carnivore” (2005), “Violent Revenge” (2009) e “Storming Evil” (2014). Tarefa essa bastante desafiadora para uma banda que já possuía três discos de alto nível até então, e com “Serpent Death” não foi diferente, pois eles se empenharam bastante em lançar um álbum digno de sua carreira, pavimentando um novo caminho para a sequência de sua jornada musical. O novo full foi lançado no dia 27 de agosto via Dying Victims Productions, gravado por Chris Menning, mixado e masterizado por Alex Pusch, e o layout do disco foi construído por Heavy Steeler. Já a arte da capa traz a assinatura de Nino Andaresta, que por sua vez, lembra a capa do clássico da podreira de excelência, “Morbid Visions”, álbum do Sepultura (do Brasil!!!), como se fosse uma versão ou visão de dentro do cenário apresentado nela. Claro que as comparações não param somente na capa, já que os cidadãos da nobre Mainz prezam por uma sonoridade calcada nesses moldes mesmo. A diferença fica por conta da consolidação do estilo, que à época era apenas um protótipo do que viria a ser anos mais tarde, e é claro que nenhum disco do Sepultura figurou ou figura dentro do que conhecemos por Black/Thrash Metal. Apenas funciona como parâmetro para analisar a forma como as canções eram elaboradas e constituídas, junto ao peso à crueza exagerada. E nesse caso, o exagero é no melhor dos sentidos.
No ano de 2016, a banda sofreu uma de suas duas recentes baixas, com a saída do baterista Skullsplitter (Angel of Damnation, Cross Vault, Halphas, Terrorazor, ex-Zerstörer). Já em 2017, foi a vez do baixista Vomitor (Old, Possession, Nocturnal Witch (Live), Cruel Force) dizer adeus ao grupo alemão. Para assumir o cargo de baixista, foi convocado o Incinerator (Wound, ex-Obscure Infinity, ex-Warcrown), enquanto para assumir as baquetas, foi chamado o baterista John Berry (Burial Ground, Sacrilegious Rite, Slaughter Messiah, ex-Gae Bolga, ex-Goat Torment (live), único a não ter pseudônimo. Ambos os integrantes entraram em 2018. Completando o time temos o vocalista Invoker (Terrorazor, Witchburner, ex-Compulsive Slaughter, ex-Unscared), e o guitarrista Avenger (Angel of Damnation, Black Priest of Satan, Exorcism, Front Beast, Hekate, Moon, Phantom, Sacrifixion, Shrine, Szarlem, Terrorazor, The Fog, Witches Sabbath, Nuctemeron (live), ex-Bestial Desecration, ex-Necroslaughter, Skalar, Varghkoghargasmal, ex-Stormhunter, ex-H418ov21.C, ex-Poltergeist), sendo este último um digno “arroz de festa” por conta da imensa lista de bandas em que figurou, e as que faz parte. “Serpent Death”, como assim sugere o nome, veio para inserir as presas da morte na serpente da vida nula, e para enfrentar essa guerra, nada mais justo do que inserir uma nova sequência pútrida para o anseio de seus respectivos adeptos. Ao que tudo indica parece que o Nocturnal navegaria em mares calmos, sem que pudesse prejudicar a sua enorme embarcação. Mas, como nem tudo são flores, os remos podem rachar e o os marinheiros desistirem da missão. Será que houve um tropeço? Vamos averiguar este mistério!
Sem ficar enrolando e tornando a leitura um pé no saco, à revelação. Sabe quando alguém diz que o disco vale só por determinada música? Bem, é mais ou menos o que ocorre com a faixa inicial, “Black Ritual Tower”, que conta com uma letra inspirada nos devotos envoltos de sacerdócio e sacrifício voltados para o deus serpente, além de contar com a participação de figuras centrais como Zamora e Thulsa Doom, ambas conhecidas para os amantes das histórias de Conan, O Bárbaro, e histórias paralelas. A canção justifica a alcunha positiva por conta de suas variações e por conter uma abertura muito criativa e bem encaixada, sempre prezando pelo lado sombrio da receita macabra de sucesso. Pausas, viradas, cadência, velocidade extrema, tudo o que você procura dentro desse circuito de podridão sonora das boas, é encontrado nesta faixa. E que faixa! É de fazer as donzeletes derreterem os tímpanos ao escutarem algo produtivo de verdade e com aquele cheiro de enxofre direto do consagrado bueiro da boa “múzga”. Fico imaginando se o KK Downing lançasse o mesmo disco com um vocal podre e fantástico igual o do glorioso Invoker. Acho que daria liga, hein! E por falar em um guitarrista histórico, uma lenda do Heavy Metal mundial, os solos de guitarra proferidos por Avenger são de qualidade ímpar. Como o som não pode parar, temos os primeiros arranjos sujos de “…from Terminal Death”, faixa que busca acompanhar o ímpeto poderoso de sua irmã anterior para que as chamas negras infernais prevaleçam durante a audição do artefato giratório. “Martelado até a cruz / Queimando na fogueira / As bruxas amaldiçoam um feitiço para… / Escape … da morte terminal” – Trazido de volta à vida com o sangue preto ficando novamente vermelho, sendo a verdadeira escapatória da morte final. O momento em que a canção ganha um tom bem mais acelerado e destruidor é a chave para o funcionamento de toda a magia profana, que trará de volta a vida, mas com sua alma corrompida. E tudo isso regado a riffs e levadas que te jogam no abismo escuro e cheio de criaturas prontas para te espancarem até que você resista e entre nesse mosh infernal a todo vapor.
A terceira etapa da fórmula um de se fazer um belo e nojento Black/Thrash Metal dá segmento com “Beneath A Steel Sky”, na qual possui grandes momentos com os vocais de apoio que foram convidados para a festa satânica. Riffs afiados a ponto de cortar a sua jugular só de você pensar em piscar os olhos. A canção ríspida conta de forma visceral sobre o massacre causado pela Segunda Grande Guerra, tanto que vale destacar um trecho da letra. Afinal, no inferno também se faz poesia!
“Enfrentando a morte total
Anjos blindados voam
Toneladas de aço entrarão em conflito
Sob um céu de aço
Águias de ferro matam
O Juízo Final está cumprido
Todo mundo vai morrer
Sob um céu de aço”
“Faceless Mercenaries” é aquele hino de invocação dos seres mais perversos que se possa imaginar. O destaque dessa vez fica por conta do excelente baterista John Berry, e para incrementar essa odisseia carniceira é justo citar o vocal agudo de Invoker usado como um trunfo, e que dessa forma se encaixa muito bem no som, sem estragar a canção, e somando pontos para a mesma. Os solos ao estilo preterido é um show á parte. Simples, direto, e sem firulas. Como toda criatura infernal aprecia. “Mercenários misteriosos e sem rosto / Contratado para esmagar, matar e destruir / Conjuradores de fogo empunhando lâminas / Hellraisers de muito além” – nesse lance de invocar todos os mercenários de diversos lugares, é capaz de aparecer qualquer ser extraído dos quadrinhos ou até mesmo dos games.
“Bleeding Heaven” official videoclip
A trama segue no prumo certo com as canções, “Bleeding Heaven”, “Damnator’s Hand” e “Circle Of Thirteen”, fechando a próxima quadra, contando com a canção anterior. O passeio em meio às labaredas do inferno está bastante divertido. Quer continuar até chegar no fosso sombrio? Então, vamos nessa com: “Bleeding Heaven”! E logo de cara os primeiros indícios sonoros são de que as artes das trevas irão reinar sobre um domínio etéreo, onde haverá muita bruxaria e heresia, fazendo os inúteis sangrarem até a última súplica de suas almas. Os voais apodrecidos de Invoker seguem às margens do subsolo, convocando toda a horda submundana para mais um ataque aos santificados e puros que atrasam a natureza e devastam toda a liberdade humana. Riffs que vem e vão sem te deixar respirar ar puro, pois a poeira predomina livremente, contornada por um amarelado à base de enxofre, que é apoiado por dedilhados precisos de guitarra, e viradas magistrais de bateria. O pulso cortado pelo baixo de Incinerator contempla o solo muito bem executado por Avenger. Os fanzetes de plantão vão sofrer uma dor infinita quando presenciarem tamanha destruição “muzgal”, assim confessando todos os seus pecados. Já em “Damnator’s Hand”, a saga da putrefação extrema e insana ataca impiedosamente sua presa com dentadas certeiras, que dilaceram a carne sem valor. As linhas de guitarra amplamente agressivas lembram e muito os tempos áureos dos conterrâneos do Desaster, que também lançou disco novo, mas aqui a maldade é mais arrebatadora ainda, fazendo os tendões do universo cederem diante da maldição desse som atormentador de fãs de “repetecos” e discos requentados com molho de merenda escolar vencido. Os famosos e bem requisitados tremolos surgem diante da pancadaria que recua um pouco o seu ímpeto voraz, trazendo melodias diabólicas a mais este capítulo da nossa jornada, que logo descamba para a pancadaria que fora apresentada em seu início. “Arrancando de tumbas astrais / cortando as raízes cósmicas / As planícies do Éden virarão pó / luxúria mortificante de estuprador” – tudo tornará ao pó diante do poderio reunido pelo impiedoso Nocturnal!
“Damnator’s Hand”
Oh, mas é claro! Temos “Circle Of Thirteen”, que abre os primeiros segundos já em uma chuva de riffs contornados por linhas de bateria bem ao estilo mais controlado, gerando várias expectativas sobre o que possa vir a seguir. Ao que tudo indica, a cautela é a chave para seguir em frente por aqui e o tracklist escolhido é realmente o ideal para o barulho ficar ainda mais ensurdecedor, no bom sentido, sempre! “Para as terras devastadas / Uma vez que eles foram enviados / Escondidos na névoa eles estão / Esperando o eclipse lunar” – Um encontro perigoso atrás do véu das montanhas quando a lua escurece, revela o retorno da malevolência sonora e da ascensão do rei do submundo, enquanto os solos de guitarra ecoam por todas as entradas do castelo, passando pelas masmorras e calabouços, e até mesmo pelo quarto de Lillith. Contou com a participação do guitarrista Max Mayhem.
“Void Dweller”
Na morada do vazio temos “Void Dweller” como protagonista desta parte da obra, é uma homenagem ao pai de toda dor, que vem a ser quem nos deixou passar nossa maior solidão no escuro de novo. Em meio ao chamado dos pratos e da guitarra, é certo dizer que a inocência é mentira e que não haverá salvação, pois estamos todos condenados diante de uma camada sonora incisiva e pesada como uma bola de demolição predial. Os vocais de apoio surtem o efeito necessário para que a catástrofe musical conquiste fãs ao redor de todo o planisfério. Invoker utiliza seu armamento vocálico com maestria sem deixar qualquer vestígio relacionado aos sobreviventes desse verdadeiro massacre sonoro. Em “Suppressive Fire”, é mais do que necessário citar as duas partes líricas desta canção para mostrar o outro lado da face do mal em que há uma preocupação para com a importância das coisas, e que quando você luta e sangra sem motivo, acaba ficando completamente em vão no cenário apresentado durante a estadia no plano térreo. “Parece que essa batalha dura para sempre / Não consigo lembrar pelo que estão lutando / Foi prometido uma guerra rápida e gloriosa / Em vez disso, tenho medo, terror e sangue coagulado” – ao esquecer o seu propósito, você acaba perdendo o sentido sobre tudo e passa a se questionar se vale à pena continuar lutando em vão. E se não há realmente um verdadeiro significado para tal condição. “Esqueci qual lado é bom ou ruim / Milhares de camaradas agora estão mortos / Fogo supressivo, artilharia / Maquinário de guerra implacável” – a guerra é implacável e os vencedores nunca vão a campo, ficando com o rabo na mão dentro de seus palacetes e sem ao menos amarrotar seus ternos que foram pagos com o suor e o sangue de todo um povo. A temática é apresentada sob uma forte chuva de ritmo convidativo ao gigantesco caos. O surdo da bateria é acionado para que a matança comece, sem que haja qualquer tipo de clemência para os derrotados em questão. Um trunfo agudo de Invoker chega para incrementar o destino final dessa guerra maquiavélica e proposital. O nível alto é mantido por aqui e você pode sentir de perto a fúria de Avenger, Incinerator e Berry durante toda a excursão até o fim do mundo regado a mais uma alta dose de ótimos solos.
Chegamos ao fosso do mais novo disco do Nocturnal, sãos, salvos e confiantes na vitória diante de todo o mal que assola os nossos lares. Nada de penas de asas brancas, pois aqui só há espaço para gárgulas, diabretes, dragões da catacumba, e bruxas que enfeitiçam a sua mente só de mencionar. As bases são as mesmas de todo esse filme, mas com todo o toque especial que é padrão da banda, para que nada soe parecido e, muito menos sendo dito como cópia forçada. Orgulhosos e corajosos aqui estamos armados até os dentes para vencer essa batalha sonora. As lanças de aço apontam em direção ao céu e revelam o campo que os exércitos travarão essa disputa. Os acordes guitarra e baixo fazem que a bandeira tremulada ao vento seja hasteada bem alto. Suas mães irão chorar diante de toda a desgraça. “Nós balançamos o machado / Para dividir crânios e ossos / É a nossa hora de conquistar / O trono de ferro” – ao ouvir o som é difícil perder essa guerra. Durante a jornada perante o disco, percebi que a banda queria manter suas tradições, mas sem proclamar algum tipo de tirania sobre a sua própria “múzga”, ou seja, sem precisar proibir algum tipo de experimentação sonora. Junto a isso temos novos integrantes que contribuem com seu conhecimento e sua técnica para que jamais soe como uma mera imitação do que já fora criado pelo Nocturnal, portanto, algumas mudanças e inovações se fizeram necessárias para complementar tal obra. Você pode entender como um deslize apenas por ler estas menções, mas as mudanças das quais falo se refletem em questões mais minuciosas, e não são tão claras a ponto de se perceber ouvindo de forma distraída, digamos assim. O álbum possui a sua atmosfera pesada e visceral e apresenta todos os elementos do estilo, mas de jeito próprio sem que seja preciso se apoiar nos trabalhos antigos da banda. É um trabalho que consegue se manter sóbrio e com identidade do início ao fim, sem que caia em tentação, levando todos para o mal. Amém à “The Iron Throne”.
*Thulsa Doom” é um personagem fictício criado pelo autor americano Robert E. Howard, como um antagonista do personagem Kull of Atlantis. Thulsa Doom estreou na história “Gato de Delcardes”. Desde então, ele apareceu em quadrinhos e filmes como o inimigo de Kull e, mais tarde, uma das outras criações de Howard, Conan, o Bárbaro, conforme foi citado no início do texto, só que de forma mais contida.
“Deep in the tower of the snake
Candles and torches light the dark
A ceremonial gathering
Devoted to the serpent god
Human offering
Ready to meet her fate
Naked, kneeling in trance
Swaying to the sound
Of obscure tunes
Yet not prepared
For the horror to come
From the heart of Zamora
Rising temple of terror”
Nota: 9,3
Integrantes:
- Avenger (guitarra)
- Invoker (vocal)
- Incinerator (baixo)
- John Berry (bateria)
- Músicos Convidados:
- Lord Sabathan (vocal de apoio)
- Carnivore (vocal de apoio)
- Max Mayhem (guitarra solo em “Circle Of Thirteen”)
Faixas:
- 1. Black Ritual Tower
- 2. …from Terminal Death
- 3. Beneath A Steel Sky
- 4. Faceless Mercenaries
- 5. Bleeding Heaven
- 6. Damnator’s Hand
- 7. Circle Of Thirteen
- 8. Void Dweller
- 9. Suppressive Fire
- 10. The Iron Throne
Redigido por: Stephan Giuliano