Independente
Demorou um bocado, mas a NWOTHM finalmente chegou com alguma força ao Brasil. A cada dia, mais nomes interessantes estão surgindo no underground e tocando aquele Heavy tradicional simples, direto e calcado na sonoridade clássica das bandas oitentistas. Costumo dizer que para uma cena específica se solidificar em determinada localidade, é necessário que alguma banda consiga “puxar o bonde”. Todos sabemos que não é fácil atrair o público, não é fácil obter destaque e não é fácil manter lançamentos regulares. Sendo assim, ninguém melhor que a Living Metal para chamar no peito essa responsabilidade e mostrar que o Brasil não é excelente apenas no Metal extremo.
“Do You Believe In Steel?” é o primeiro full do quinteto paulistano e sucede os bem avaliados “Living Metal” (EP homônimo de 2018) e o split “Living For Torture” (lançado em conjunto com os veteranos do Torture Squad, em 2019). Quem ouviu ambos os trabalhos já sabia o que esperar, mas mesmo assim o disco impressiona por diversos motivos. Pode-se dizer que a produção remete aos anos 80, que as músicas são quase um ode a era de ouro do estilo, mas o que mais me deixa satisfeito é ver uma banda que tem cravada em seu DNA o verdadeiro espírito do Heavy Metal. Sem chatices pseudo-intelectuais, sem declarações de efeito sobre a política mundial ou local e sem cagações de regras absolutamente desnecessárias, o negócio do Living Metal é resgatar as origens do Metal. E isso eles fazem com maestria.
Ao iniciar a audição, você já vai entender tudo e o refrão pegajoso de “It’s Only About Heavy Metal” vai martelar tão forte na sua cabeça que você automaticamente vai esquecer a chatice ao qual a cena underground brasileira está atolada. Se ainda não entendeu, o Living Metal vai te doutrinar com estes versos: “Não importa a polêmica que você me pergunta sobre/ Minha resposta para você é um soco na sua boca/ Sempre há um idiota ditando/ O que eu deveria fazer moralmente/ Me perguntando sobre controvérsias/ Vou te responder orgulhosamente: “foda-se”!/ É apenas sobre Heavy Metal/ É apenas para se divertir/ É apenas sobre Heavy Metal/ Porque correntes, devo dizer, não temos nenhuma”.
Depois de abrir o disco com uma voadora no peito como esta, os primeiros acordes de “We are Metal… You are not!” introduz aquela referência bem vinda ao Manowar do início de carreira, porém, bem diferente dos norte americanos, ao invés de soar caricatos, o Living Metal traz mais uma crítica ferrenha aos ditadores de regras que tentam parecer algo que não são, nunca foram e nunca serão. O recado é claro e se você é um destes que pensa guardar as chaves do livro de regras do headbanger: “Nós somos Metal… você não é!”.
Em “Hitting The Road” e “Alcohol”, temos mais duas músicas grudentas, com refrãos marcantes e temas que continuam te lembrando a todo instante que este é um disco de Heavy Metal, puro, sem frescuras e forjado no mais puro aço. Que tal falar sobre cair na estrada e beber muito álcool? Propício, não? É o que temos aqui. “By The Honour Of The Blade” acalma os ânimos e mostra-se uma balada funcional e bem alocada no tracklist. As partes de guitarra estão belíssimas e os solos de Rafael Romanelli aparecem cheios de feeling e harmonia. Antes que a temperatura caia, “I Am The True” inicia bombástica e te faz bangear novamente, mas é em “Bells Of Freedom” que o seu pescoço será maltratado impiedosamente. Interessante que nesta música temos mais um dos temas clássicos do gênero e se você curte aquelas letras sobre batalhas épicas, vai cantar o refrão com os punhos estendidos para o auto: “Aiming high/ To the skies/ Listen the bells of freedom”.
Perto do final, “I Lived By The Sin” é energia pura e, diga-se de passagem, existe um título melhor do que “eu vivi para o pecado”? Não, não existe. Nesta faixa temos talvez o melhor instrumental do disco com destaque individual para todos os integrantes, a bateria de Jean Praelli somada ao baixo de João Ribeiro, criam a base sólida perfeita para que as guitarras de Rafael Romanelli e Jonas Soares possam brilhar. Importante destacar também o vocal de Pedro Zupo, que se diferencia totalmente da maioria dos vocalistas e cria uma identidade musical muito forte para a banda.
Quando “Night Action” inicia, se você achou que faltaria menção a álgum grande bordão do Metal, vai chegar a conclusão que todos eles estão bem representados. Aqui temos aquele som com uma veia mais Hard e uma letra que pode embaraçar os mais puritanos e incomodar os politicamente corretos, “Ela está cansada desses perdedores/ E daqueles homens chorando/ Ela não quer desculpas/ Para queimar selvagem por toda a cama/ Ação noturna/ É para fazê-la gemer/ Ação noturna/ É para fazê-la gemer”. Sexista? Machista? Não, é Metal raiz!
Para encerrar em grande estilo, a canção título exibe seus mais de 7 mnutos do mais puro Heavy clássico e épico. E caso você seja um pobre desavisado que não acredite no poder do aço, ao final desta audição certamente terá que atualizar suas crenças. Como tiro de misericórdia, o disco ainda traz um cover da faixa “Blitzkrieg”, do Blitzkrieg, em uma versão anabolizada e irrepreensível.
É muito bom ver músicos tão tarimbados e talentosos de nosso Metal nacional apostando em um projeto tão bem executado, bem pensado e construído de uma forma tão bacana como esta. Se a proposta era “se divertir”, eu me diverti muito, e se o disco era pra ser “apenas sobre Heavy Metal”, o Living Metal seguiu a risco o que prometeu e vai entrar forte na briga pelo posto de disco do ano em seu estilo.
“Fuck the posers!”
Nota: 9,5
Integrantes:
- Rafael Romanelli (guitarra)
- Pedro Zupo Jr. (vocal)
- João Ribeiro (baixo)
- Jean Praelli (bateria)
- Jonas Soares (guitarra)
Faixas:
- It’s Only About Heavy Metal
- We Are Metal…You Are Not!
- Hitting The Road
- Alcohol
- By The Honor Of The Blade
- I Am The True
- Bells Of Freedom
- I Live By The Sin
- Night Action
- Do You Believe In Steel?
Redigido por Fabio Reis