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Resenha: Evildead – “Toxic Grace” (2024)

Ei, você se lembra do Evildead? Não me refiro ao filme icônico de mesmo nome, mas sim à banda norte-americana de Thrash Metal. Representando Los Angeles, California, temos mais um lançamento vindo dessa terra que o mundo adora visitar e também morar.

   

O Evildead é daquelas bandas que sofreram com percalços ao longo do tempo, com pausas e retornos não tão imediatos. Decerto, isso acabou atrasando a continuidade das ideias que tinham durante o início de sua trajetória. Entretanto, ainda havia como recuperar parte desse tempo e cá estão para apresentar seu mais recente trabalho chamado “Toxic Grace”. Trata-se do quarto álbum de estúdio dos caras. Isso mesmo! É apenas o quarto disco de uma banda surgida em meados de 1987. Mas isso não importa, pois não estamos aqui para avaliar quantidade. Afinal, o que importa nisso tudo é se há qualidade dentro das músicas lançadas junto ao novo material.

Breve histórico do Evildead

O Evildead é uma daquelas bandas que possui um passado curto com relação aos seus discos lançados antes de seu primeiro término. A banda é, com toda a certeza, mais conhecida e respeitada dentro do cenário underground, e muito por conta dos seus dois primeiros discos. O debut “Annihilation of Civilization”, de 1989, e considerado por mim e tantos outros como o melhor álbum, e “The Underworld”, lançado em 1991, fazem parte do início promissor do Evildead e são cultuados pelos exploradores de bueiros e grutas musicais em se tratando do que não é visto pela grande mídia.

Quatro anos mais tarde, já em 1995, a banda teve a sua primeira pausa e retomando as rédeas em 2008. Esse retorno durou apenas quatro anos. Entretanto, em 2016, a banda retornou e dessa vez para ficar. Afinal, não houve mais nenhuma pausa desde então. Isso resultou no lançamento daquele que fecharia a primeira trinca de álbuns de estúdio dos californianos. Falo de “United States of Anarchy”, lançado em 2020 e contendo o melhor nome de álbum até então. Mais quatro anos se passaram e no dia 24 de maio via Steamhammer, “Toxic Grace” foi apresentado ao honorável público e distribuído nas melhores lojas do ramo.

Tudo isso se deu ao fato de que a banda precisava retornar e seguir em frente, lançando discos e subindo aos palcos ao redor do mundo.

O Evildead pode não pertencer ao primeiro escalão do Thrash americano, mas isso pouco importa. O que vale mesmo é a continuação de uma jornada a qual vários adeptos desejavam. E cá estamos diante de mais um novo trabalho dos representantes do subgênero arruaceiro, encrenqueiro e devastador.

Evildead / Divulgação

Detalhes e singles do novo arsenal de guerra do Evildead

O Evildead não é o tipo de banda que vai entregar algo bonito e emocionante, no sentido teatral da coisa. Afinal, estamos falando de uma banda de Thrash Metal. Contudo, antes de abrir o pacote de bolacha é bom ler as recomendações e o receituário na embalagem.

“Toxic Grace” foi produzido e mixado por Dave Casey e Rob Hill. Dave Roman cuidou da masterização, enquanto Bill Metoyer foi o engenheiro adicional. A bela arte de trabalho e de capa foi assinada por Dan Goldsworthy.

Para a divulgação do novo trabalho, foram divulgados e lançados três singles, “Bathe in Fire”, “Raising Fresh Hell” e “Subjugated Souls”. Saberemos mais sobre ambos a seguir. Segurem a petequinha aí, bastiões revoltados e donzelas angustiadas!

Evildead: conferindo o novo material da tríplice caveira

Ao abrir o pacote, é bom usar aquela fita vermelha na ponta do rótulo, mas como um bom thrasher isso não se faz necessário. Afinal, se você ainda tem dentes na boca, use-os para abrir a embalagem e vamos nessa!

O início da jornada do Evildead sem as faixas divulgadas

“F.A.F.O” inicia de forma direta e apresenta em seu cardápio principal um dedilhado presente e característico do estilo. A bateria atravessa o reduto sonoro como se fosse uma locomotiva em velocidade controlada. Imagine um trem de carga passando pela estação onde você se encontra. É mais ou menos isso. As variações são mais contidas e aparecem providencialmente como uma soma de elementos já existentes na canção. Os vocais se assemelham ao que é feito no Megadeth nos tempos atuais. Assim sendo, mais contido e retilíneo sem fugir da tônica. O significado da sigla é Fuck Around and Find Out. Ou seja, fique à vontade em traduzir.

   

Os versos atacam o cotidiano de maneira feroz, alimentando os detalhes da história com momentos de muita reviravolta. O sistema é podre, as leis são frágeis, só funcionando para os miseráveis e não para os bandidos, de fato. A bala entra em ação, mas nunca é a principal solução.

“Reverie” traz consigo elementos mais cadenciados, embora possua mais quebras que a anterior. O efeito é quase o mesmo, porém os solos se destacam em meio a uma base interessante e que casa bem com a receita melódica. A bateria se mantém no prumo, com o baixo acompanhando e deixando o alicerce mais gorduroso. Riffs densos, abafados e serrilhados dão um charme a mais para a canção, além de seus trechos mais velozes.

O devaneio ao tentar escapar da realidade é algo muito comum e pode ser prazeroso num primeiro momento. Entretanto, ao enxergar lá fora pode se deparar com algo muito grave e que possa afetar até os mundos imaginados na própria mente. O pensamento deve ser sempre livre, mas a razão nunca deve ser deixada para trás.

A aparição do primeiro single e a sequência da história

“Raising Fresh Hell” é o segundo single do disco a qual foi lançado no dia 13 de março de 2024. O normal seria uma mistura de ambos os prontuários, porém há mais pacientes sedentos por Thrash. O destaque principal vai para as linhas de guitarra a qual se mantém sob níveis altos. Os pulos com notas carregas de contrabaixo somam à trama musical, enquanto os solos percorrem um caminho seguro e eficaz. Dessa vez, a bateria entra no famoso “arroz com feijão”, o que de fato pedia a faixa.

Trata-se de uma canção com o tema voltado para o Thrash Metal. Observe o refrão:

“Tempo! Se move tão devagar e então você se foi
Thrash! A sensação definitiva quando você ouve a música
Grite! Do topo dos seus pulmões enquanto disparamos
Explosão! Direto pelo fosso onde você pertence.”

“Stuped on Parade” – essa é a canção mais agressiva e veloz até aqui, com toda a certeza. Infelizmente, os vocais de Phil Flores não combinam tanto com a proposta. A meu ver, a música pedia algo mais versátil e não reto. Me pareceu alguém lendo uma notícia e destacando algum trecho, dando mais ênfase e posicionando sua voz para tal. Observe e compare por si só. Guitarras variando suas passagens, tanto rápidas quanto cadenciadas, baixo aceso e alerta às nuances, além da bateria estupendamente formidável. Já na parte final os vocais tendem a cantar mais e soa mais natural, digamos assim.

E ainda há espaço para um pano de fundo fantasmagórico muito bem inserido, além de representar muito bem o caso em que vive a população norte-americana. Muita rivalidade e pouco cérebro, o que os engravatados ardilosos adoram e brindam o tempo todo por isso.

Os outros dois singles

“Subjugated Souls” foi o último dos três singles a ser lançado. A data corresponde ao dia 24 de abril de 2024. Sobre o som em si, a intro é dedilhada de maneira melodiosa. Este é o chamado para o complemento ocupar o seu devido espaço. A pancadaria começa logo em seguida, tirando a impressão de ser um disco mais parado. Longe disso, pois estamos descendo ribanceira abaixo por aqui. Os vocais não são de se moldarem conforme o balanço das águas sonoras, mas cumprem bem o papel. O que eu chamaria de segunda parte vem a ser o momento a qual incluem intervalos no som. Sem breakdowns mal postos, a canção ganha mais forma e se eleva dentro de próprio escopo. Aqui estão os melhores solos e, por enquanto, os trechos mais agressivos de bateria.

Tudo isso é valido para criticar o universo atual da famigerada geração Z. Nunca saem de casa, nunca veem as ruas. São os maiores guerreiros de teclado já vistos. Reis cibernéticos. O algoritmo é quem comanda e o que importa é ter 1mi de seguidores. O mundo real pouco importa.

Flertando com o som extremo

“Bathe in Fire”, conforme mencionado acima, foi o primeiro single pertencente ao álbum “Toxic Grace” e lançado no dia 28 de julho de 2023. Como quem não quer nada, surge um dedilhado contido e simplório, se aproximando do Black Metal, mas é apenas isso. As bases seguem a premissa e chamam para a valsa flamejante. Se parecia leitura, agora os versos estão sendo praticamente lidos, mas de maneira proposital para se chegar ao êxtase definitivo no término do verso. Os efeitos vocálicos te faz imaginar um anúncio de rádio ou um comunicado vindo de longe através de algum equipamento de som feito para a guerra. As variações funcionam muito bem e aqui há uma parte com vocal agudo, para depois seguir somente com a parte instrumental.

   

A vida acaba, enquanto “eu” me banho no fogo… Eu poderia dizer que já estamos no inferno e nos queimando eternamente, mas poderia ser puro devaneio. Afinal, ainda podemos fazer o bem nessa vida. Todavia, ainda há escuridão e solidão para o ser humano sofrer á vontade. Isso pode o consumir ou fazê-lo libertar dessa condição.

A jornada continua

Nessa poesia nada dançante oferecida pela faixa “Poetic Omen”, temos guitarras densas e riffeiras unindo forças com a ala do diferencial e das notas mais finas e leves. Os vocais funcionam bem e o baixo executa bem seu papel. Os solos seguem qualificados e soam como uma boa perseguição, ou seja, poderiam ser colocados em um filme de ação. Em contrapartida, as bases principais caminham pelas alamedas cadenciadas. Nessa parte em específico, ao misturar notas mais carregadas com dedilhados e pedais duplos com intervalos, faz lembrar o Sodom dos tempos de 2006 junto ao seu álbum autointitulado.

O presságio poético nos traz questões sobre a dúvida do futuro ser sombrio e também sobre o dia do julgamento final. Ele está próximo?

“Águas escuras sobem, nenhuma floresta cresce
Mas desertos prosperam, enquanto o inferno está abaixo
Você está sozinho, neste purgatório,
Presságio Poético termina sua história”

A começar pelo formato de escrita da música “World ov Rats”, lembrando o Behemoth, temos a faixa instrumental e que serve de abertura para o que a vem a seguir. Bases feitas com palhetadas constantes e experimentos sensoriais como pano de fundo chamam bem a atenção e revelam nomes como Andralls e Exodus, só para exemplificar parte da lembrança ao ouvir essa construção musical pronta.

O fim caótico de tão bom e o bonus track

A apoteose ocorre em um momento propício para um som mais visceral e é o que acontece em “Fear Porn”. Se eu disser que é o melhor acontecimento do disco, não estarei enganando a ninguém. A pancadaria come solta no certame musical. As variações são pontuais e os melhores solos de guitarra estão aqui. Cortesia da dupla Juan e Albert. Além disso, as melhores linhas de baixo e de vocal também se fazem presente. Somente a bateria não é a melhor, pois Rob Alaniz manteve o equilíbrio desde o início. Esse é o final oficial, mas também vale citar a faixa bônus.

Sociedade zumbificada e com seus iphones quase colados em suas orelhas surdas para a realidade. Estados Unidos falsificados, mídia controlada e controladora, e a agenda sendo posta em prática, e também em letra.

“The Death & Resurrection Show 2024” – como bônus, é entregue de forma mais bem abrangente e específica. Possui padrões mais variados, iniciado sob cadência. Têm dedilhados e equilíbrio musical. Após os brilhantes solos, temos passagens mais aceleradas e terminando de forma qualificada. Os vocais novamente acrescentam bem e o álbum ganha mais corpo. Em suma, o fundo do fundo do pacote de bolacha é realmente muito bom. Aproveite o farelinho no final também.

Evildead / bandcamp

Considerações finais sobre o inferno sonoro dos discípulos da obra de Sam Raimi

De fato, “Toxic Grace” possui suas qualidades e isso é facilmente notado. Basta ouvir o disco e não pular nenhuma faixa. A maior ressalva pode ficar por conta do vocalista Phil Flores, pois se assemelha ao que Dave Mustaine vem fazendo junto ao Megadeth. Em resumo, trata-se de um vocal mais contido em uma ou poucas linhas em que se mostra mais retilíneo do que o convencional. Por vezes, o som pode pedir um vocal assim. Porém, não é em todo o álbum que esse tipo de linha vocal funciona. Muito disso é culpa dos instrumentistas por criarem passagens em que se pede um vocal mais versátil. Mas isso destrona o álbum? Jamais! É apenas um detalhe encontrado em meio a uma musicalidade muito bem construída.

Juan Garcia e Albert Gonzales formam uma excelente dupla de guitarristas e ambos desfilam ótimos riffs, pontes, diferenciais, efeitos, distorções e solos. Além disso, o alicerce é muito bem constituído e reforçado graças ao baixista Karlos Medina e ao baterista Rob Alaniz. Este último sendo a força motriz do Evildead.

“Man with no plan Fuck Around and Find Out
Think before you speak Fuck Around and Find Out
Dare to cross the line Fuck Around and Find Out
In this world your mine Fuck Around and Find Out
This Egregious life you lead Fuck Around and Find Out
Better stop before you’re dead Fuck Around and Find Out”

nota: 8,5

Integrantes:

  • Phil Flores (vocal)
  • Juan Garcia (guitarra)
  • Albert Gonzales (guitarra)
  • Karlos Medina (baixo)
  • Rob Alaniz (bateria)

Faixas:

1. F.A.F.O.
2. Reverie
3. Raising Fresh Hell
4. Stupid on Parade
5. Subjugated Souls
6. Bathe in Fire
7. Poetic Omen
8. World ov Rats
9. Fear Porn

Redigido por Stephan Giuliano

   
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