“As Gomorrah Burns” é o oitavo disco da banda canadense Cryptopsy, que chegou após doze anos, sucedendo o homônimo sétimo álbum de 2012. Nesse meio tempo, houve o lançamento de dois EPs, “The Book of Suffering – Tome I “ (2015) e “The Book of Suffering – Tome II” (2018).
Desde março desse ano, quando resenhei o avassalador álbum “Blasphemous Prophecies” de outra banda canadense de Metal extremo, Tribe of Pazuzu, é que eu esperava ansiosamente pela audição desse novo trabalho do Cryptosy, e eis que no último dia 8 de setembro, enfim, ele chegou e então pude saciar a minha curiosidade.

Mas qual era a razão da minha ansiedade pelo “As Gomorrah Burns”?
A razão tem um nome e é Flo Mounier, baterista francês de 49 anos, cujo nome de batismo é Florent Mounier, que tem uma maneira única de espancar o seu kit percussivo, além disso, é possuidor de uma capacidade técnica indubitável, impressionando até as mentes mais inertes.
Em 2016, tive o prazer de resenhar o álbum “Something Wicked Marches In”, debut de um super grupo internacional de Blackened Death Metal, Vltimas, o qual tem, não apenas Flo Mounier como baterista, mas Rune “Blasphemer” Eriksen (Aura Noir) na guitarra e o lendário David Vincent (ex-Morbid Angel) no vocal. Aqui encontrei, inegavelmente, um dos mais empolgantes discos de música extrema dos últimos tempos.
Quatro anos se passaram desde que Vltimas lançou seu debut e nada de novidades por partes de deles e que eu soubesse, nesse hiato, nenhum outro lançamento que contasse com as baquetas de Mounier. No entanto, no início desse ano, chegou o álbum do Tribe of Pazuzu que eu já mencionei e, agora, tenho em mãos o oitavo disco do Cryptopsy para atestar se a trinca desse brutal baterista francês será perfeita.
Será que “As Gomorrah Burns” fechará a trinca perfeita dos últimos lançamentos de Mounier?
Só ouvindo para ter certeza, assim sendo, que tal começarmos? Primeiramente, “Lascivious Undivine” entra com a já tradicional voadora na porta. Flo Mounier, sem nenhuma surpresa, demonstra o baterista monstro que ele é e, ainda que a marca que acompanha o Cryptopsy seja Technical/Brutal Death Metal, a canção sofre inúmeras mudanças de andamento, ora ultra rápida, ora mais cadenciada. O vocalista Matt McGachy é extremamente feliz em suas variações guturais, dando a sonoridade, o que ela necessita na exata medida.
Em “In Abeyance”, o pico do Everest segue a desmanchar e cair sobre as cabeças dos ouvintes desavisados, pois esse é o momento ideal para falar dos riffs certeiros de Christian Donaldson, mas vale salientar que os solos dele soam ainda melhores, como por exemplo, o lindo solo de “Godless Deceiver”, faixa a qual também premia a precisão do baixista Olivier Pinard. Em suma, temos uma banda com músicos possuidores do extremo da competência necessária para suas funções.
“Estalando todos os dedos dela / Faça ela pagar, faça ela sofrer / Transforme a carne em gordura / Faça ela pagar, faça ela sofrer / Faça ela pagar, faça ela sofrer”

Achou que a pancadaria de “As Gomorrah Burns” iria ser reduzida?
Enganou-se quem pensou que haveria misericórdia com os ouvidos sensíveis em algum momento, pelo contrário, o castigo sonoro prazeroso fica cada vez mais intenso. “Ill Ender” prova o que falei, literalmente, parece que mais calma, mas essa sensação passa em menos de meio minuto.
A introdução de “Flayed the Swine” extrapola o limite do sensacional no que diz respeito ao Metal extremo, pois ela é, concomitantemente, a faixa mais brutal e rápida do disco e a mais, absurdamente, técnica. Além disso, o melhor solo de Donaldson se encontra nessa composição.
“The Righteous Lost“ possui um timbre esmagador do baixo de Pinard, o qual exala um som metálico e trastejante, fantástico, sendo impossível não mencionar também os contratempos que transformam a performance de Mounier é uma real exibição de gala.
Parte Final
“Obeisant” varia entre o ritmo discretamente mais cadenciado e momentos mais acelerados, que revezam batidas, algumas mais Thrash e outras mais Death, como se tudo fosse um pura loucura delirante e, verdadeiramente, não deixa de ser.
“Praise the Filth”, “Elogie a Sujeira” em português, é a responsável pela clausura do oitavo full lenght do Cryptopsy e, sem dúvida, não haveria melhor escolha para esse instante. Temos nessa oportunidade, a faixa de maior duração do disco, quase seis minutos, e uma das mais trabalhadas de todo o tracklist e, ainda assim, uma letra muito marcante. Uma lição para aqueles que buscam aparecer de qualquer forma, que brigam por likes e seguidores, a procura insesante pelo brilho em contrate com as trevas e o vazio interior.
“A luz perfeita, o local ideal / Alguns filtros rápidos, outra foto/ A intenção focada obtém todos os gostos / A marca é tudo, a marca acerta / Momentos silenciosos cercados por todos / No centro das atenções a vida é exibida / A sensação eufórica de fazer conexões / A obsessão contínua por atenção / Outro dia, outro post, meu estilo de vida impecável / Um deus sem brilho ao qual rezo me consumiu inteiro / Outro like, outro seguidor / Não me traz alegria, não me traz esperança / No entanto, eu ainda continuo dessa forma…”

Bom, a minha avalição não poderia ser melhor, porém, se eu me sentisse a vontade para apontar um único ponto negativo, seria a sensação do volume da mixagem da bateria encobrir o som dos riffs de guitarra, mas não levarei isso em consideração, pois pode ser somente impressão temporária.
Congratulations, Cryptopsy!
Nota: 9,4
Integrantes:
- Christian Donaldson (guitarra)
- Olivier Pinard (baixo)
- Flo Mounier (bateria)
- Matt McGachy (vocal)
Faixas:
- 1.Lascivious Undivine
- 2.In Abeyance
- 3.Godless Deceiver
- 4.Ill Ender
- 5.Flayed the Swine
- 6.The Righteous Lost
- 7.Obeisant
- 8.Praise the Filth
- 9.Towards Oppressors
Redigido por Cristiano “Big Head” Ruiz