“Shades Of Sorrow” é o segundo registro da carreira do quarteto paulista Crypta, lançado no dia 4 de agosto de 2022, via Napalm Records.
Logo após saírem da Nervosa, Fernanda Lira e Luana Dametto fundaram a banda Crypta. Desde 2019, as moças se apresentam como uma resposta menos Thrash e com o propósito de soar mais Death Metal. Decerto, tal mudança representou um novo desafio para as musicistas, que até o momento tem conseguido colecionar boas críticas.
No radar de destaques:
“Echoes Of The Soul”, álbum de estreia lançado em 2021, inegavelmente, colocou o nome Crypta no radar de destaques mundiais.
Crypta é uma banda essencialmente calcada no Death/Thrash Metal, extremamente influenciada pelo Death Metal old school e Melódico, em alguns momentos flerta com Black Metal, mas sem perder sua essência.
O inicio:
Em seu debut, é notável que as meninas estavam nos estágios inicias de desenvolvimento de uma sonoridade própria, sendo assim, a proposta sonora e o entrosamento da banda não seguiam o mesmo rumo, mas como estamos falando de um álbum de estreia, é perfeitamente normal e compreensível.
Mudanças na formação:
Pois bem, em abril de 2022, a guitarrista holandesa, Sonia Anubis, deixa o Crypta para focar em outros projetos, em seu lugar entra a eximia guitarrista brasileira, Jessica Di Falchi, inicialmente, como side woman, para completar o restante da turnê em divulgação do álbum de estreia.
Em outubro do mesmo ano, Jessica é oficialmente efetivada no line-up, que atualmente conta com Fernanda Lira (baixo, vocal), Luana Dammeto (bateria), Tainá Bergasmaschi (guitarra) e Jessica Di Falchi (guitarra).
Lembro que na época em que “Echoes of The Soul” saiu, um pensamento que constantemente vinha a minha mente, era que a banda só precisava de um entrosamento melhor e mais tempo de convivência, pois todas meninas sabem muito bem como se fazer musica pesada e agressiva, e Fernanda sabia o rumo que queria seguir, pois o registro era muito competente em sua proposta, mas faltava alguma coisa.
Do meu ponto de vista, Jessica Di Falchi foi o ponto chave para o inicio dessa escalada musical e esse tal entrosamento que eu tanto cobrava.
Ficha Técnica:
Gravado novamente no Family Mob Studio em São Paulo, “Shades of Sorrow” foi produzido pelo músico Rafael Augusto Lopes (Torture Squad, Fanttasma), com mixagem e masterização feitas por Daniel Bergstrand e Jens Bogren (Kreator, Sepultura, Arch Enemy), no requisitado Fascination Street Studio, em Estocolmo, Suécia.
A produção característica:
Já destaco logo de inicio, que a produção desse álbum ficou o puro suco do Death Metal no inicio dos anos 90, em muito momentos me remeteu a produção característica do renomado produtor Scott Burns no registros inicias do Cannibal Corpse, em específico nas estrondosas linhas de baixo e na timbragem “primitiva” da bateria.
Podemos resumir “Shades of Sorrow” em uma palavra: Evolução.
Se “Echoes of The Soul” é competente e coeso em sua proposta, seu sucessor é a melhoria desses aspectos e muito mais, dentro de uma formula que por si só, já é vencedora.
Fernanda Lira é o principal aspecto evolutivo notado dentro dessa sequência, tanto em seu desempenho vocal, quanto no baixo.
Desde seus anos no Nervosa, a front woman do Crypta, sempre optou por uma famigerada transição vocal entre agudos e graves, que por vezes soava, altamente irritante, e a mixagem de seu baixo sempre foi discreta e econômica demais, nos registros de estúdio.
Os dois aspectos foram devidamente corrigidos no novo álbum. Fernanda assumiu uma persona vocal mais consistente e confiante, e uma mixagem de baixo extremamente presente e mordaz.
Sombras de Tristeza:
A sequência inicial do registro, composta pelas 5 primeiras faixas, é um verdadeiro morticínio sonoro, desde a introdução ambígua com um piano cheio de suspense em “The Aftermath”, passando “Dark Clouds” e “Poisonous Apathy”. Porém, fica nítido que esse registro foi um expurgo emocional e extravasamento de todo ódio e frustração guardados, como a própria Fernanda Lira cita durante o anúncio do álbum:
“‘SHADES OF SORROW’ É UM ÁLBUM SEMI-CONCEITUALCOM UM SIGNIFICADO QUE DESCREVE A JORNADA PELAS PROFUNDEZAS DE NOSSA PSIQUE AO ENFRENTAR BATALHAS DIFÍCEIS. É UMA VIAGEM PELAS MUITAS TONALIDADES DA DOR QUE ÀS VEZES TEMOS QUE ENCARAR ENQUANTO SUPORTAMOS OS DESAFIOS DE NOSSAS VIDAS. AS MÚSICAS SÃO A TRILHA SONORA PERFEITA PARA ISSO, MELANCÓLICA SOMBRIA E EMOCIONAL PARA ESSA JORNADA”
No entanto, em “The Outsider” e “Stronghold” todos os holofotes se voltam para a irrepreensível dupla de guitarristas composta por dona Tainá e dona Jessica, que fazem um trabalho espetacular, seja nos riffs cavernosos, riffs groovados, ríspidos e agressivos, nos solos cheios de feeling e melodia que se fazem presentes no decorrer de todo o álbum, um prato muito bem servido de musicalidade e arranjos inspirados.
Variedade musical:
Entretanto, “The Other Side of Anger”, terceiro single, foi o que mais chamou atenção pela levada de bateria, remetendo a pegada tribal de “Roots” (Sepultura).
Mas não tema, em poucos segundos a faixa explode em violência novamente, com dona Luana destruindo tudo e todos atrás de kit de guerra.
Alias, esse é um ponto interessante a ser comentado, apesar de ter empregado uma variedade interessante de ritmos na construção do instrumental, dona Luana usa e abusa dos blast-beats de forma exaustiva, mesmo sabendo que isso faz parte da proposta sonora da banda, creio que ela poderia empregar outras técnicas de bateria presentes na cartilha do death metal, sem comprometer sua agressividade.
Uma sequência intimidadora:
Logo em seguida a mais uma enigmática transição no piano em “The Limbo”, temos a devastadora “Trial of Traitors”, segundo single disponibilizado e, inegavelmente, a mais pesada do registro, o arsenal de riffs cataclísmicos foi efetivamente utilizado aqui, sem remorso.
Na sequência composta por “Lullabye For The Forsaken”, “Agents of Chaos” e “Lift The Blindfold” temos um dos poucos momentos onde Fernanda mostra seus dotes no baixo, com uma linha muito expressiva e pulsante, mostrando o lado cadenciado e intimidador da sonoridade da banda.
Embora a construção do tracklist seja bem elaborada, fazendo parte de um conceito temático, chegando próximo ao final, o ouvinte sente que a duração poderia ter sido enxugada, sem comprometer a consistência.
A primeira faixa disponibilizada como single, encerra o álbum:
Desde que foi lançada, juntamente, com o anúncio do próprio álbum, “Lord of Ruins” ficou com responsabilidade de mostrar para o mundo um pouco do estava por vir, e o que poderíamos esperar dessa sequência, e de fato mostra todas as faces da sonoridade do Crypta, uma amálgama sólida entre o Death metal old school, Death Melódico e requintes de Black metal em sua base. A baterista Luana Dametto explora essa escolha durante a divulgação :
“‘LORD OF RUINS’ FOI NOSSA ESCOLHA PARA O PRIMEIRO SINGLE PORQUE COMBINA MELODIA E AGRESSIVIDADE QUE ESTÃO PRESENTES EM TODO O ÁLBUM. ENTÃO PENSAMOS QUE É UMA BOA REPRESENTAÇÃO DO QUE ESPERAR DE TODA A PEÇA. É TAMBÉM A MÚSICA FINAL DO DISCO E TEM UM SIGNIFICADO MUITO IMPACTANTE. É O FECHAMENTO DE TODO O CONCEITO DO ÁLBUM E TAMBÉM SE ENCAIXA PERFEITAMENTE NO CONCEITO DE ARTE QUE TÍNHAMOS EM MENTE”
Enfim, no encerramento da audição, fica claro que “Shades of Sorrow” é, além de uma melhoria em relação a um sólido disco de estreia , também um novo passo em direção ao atual panteão do Metal extremo, apreciando ou não a proposta da banda, é fundamental reconhecer, que o Crypta alcançou o radar de destaques do gênero, fazendo o trabalho muito bem feito e passando por cima de qualquer obstáculo.
Nota : 8.8
INTEGRANTES:
Fernanda Lira (vocal, baixo)
Luana Dametto (bateria)
Tainá Bergamaschi (guitarra)
Jessica Di Falchi (Guitarra)
Faixas:
- The Aftermath
- Dark Clouds
- Poisonous Apathy
- The Outsider
- Stronghold
- The Other Side of Anger
- The Limbo
- Trial of Traitors
- Lullaby for the Forsaken
- Agents of Chaos
- Lift the Blindfold
- Lord of Ruins
- The Closure
Redigido por: Giovanne Vaz
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Pena que só aceitam o pagamento dos cds da Crypta via PIX.
Luana Dametto…toca muito, virei fã dessa batera!!!! Sim, esse flerte com o Black metal é o que considero essencial e diferencial sobre a banda Nervosa!!!! A Separação da banda Nervosa teve esse legado e lado bom, apareceram duas bandas boas para nós ouvir e admirar!!!! Gostei do album Shades of Sorrow, ainda estou ouvindo o disco na integra…valeu!!!!