A crueldade visceral germânica do Cruel Force resultou em um novo full length.
A obra profana foi nomeada como “Dawn of the Axe”, sendo lançada no dia 18 de agosto via Shadow Kingdom Records. O novo trabalho marca a primeira estocada com o tridente completo. Além de podermos ver de perto a sua primeira trinca maldita de ases, também podemos colocar o Cruel Force na mesma bandeja de grandes porções juntamente com Desaster e Nocturnal, só para exemplificar o tamanho do poderio desse exército da zero hora.
Primeiramente, é sempre bom ressaltar que o lance aqui é unir forças com a sujeira sonora, ou seja, riffs cortantes, alicerce pujante e vocais esganiçados. Tudo isso está no cardápio, dentre outras características não menos importantes. Porém, é necessário saber para que não se arrependa no meio do caminho e passe a me culpar por estar te guiando para um lugar pútrido e repleto de maldade musical. Tenha isso como sacros elogios. Por fim, vamos embora que a gangue está com sede de sangue e de ouvir muita podreira alemã.
O Black Thrash deixou de ser coadjuvante
Sim. Não deixou de ser underground, mas ganhou notoriedade entre os fãs, por mais que não possamos comparar com adeptos do metal negro tradicional, só para ilustrar. Assim sendo, a questão fica mais centralizada por ser um subgênero que vai contra a popularidade. Afinal, música feia e suja é para poucos e para apreciar esse tipo de som, não é tão simples como se imagina. Não por sua complexidade, pois isso já seria Prog e aqui a coisa é bem diferente e distante disso. Música simples com muito vigor e raiva na cara de quem a produz. Eu comparo o Black Thrash com Speed como um sendo uma cerveja stout britânica ou dunkel alemã, e o Speed como uma IPA ou plzeň (pilsen) original tcheca. Caso não tenha o feito entendido, procure apreciar tais bebidas com moderação e compreenderá nossa mensagem.
A podridão em larga escala com o reforço do Cruel Force
Com toda a certeza, o Desaster é tido como o carro chefe dessa turma, seguido de perto pelo compatriota Nocturnal e pelos australianos do Deströyer 666. Obviamente, temos outros nomes tão poderosos quanto, mas considero o alcance desses três exércitos do submundo maior que o alcance dos demais.
Entretanto, para gerar impacto dentro de um cenário mais curto e também oculto não é nada simples, pois um headbanger comum não faz ideia da existência desse mundo e acha que somente as bandas iniciantes fazem som sujo e ríspido. Isso sem contar as bandas que possuem anos de carreira e não saíram do ostracismo. Bom, isso é problema de cada banda. Voltemos com a sujeira programada.
Certamente, o barulho causado por uma banda desse calibre acaba por satisfazer muitos beberrões de colete sujo e empoeirado. Caras assim viram crianças ao ouvirem um disco tão bom e com essa proposta. E tudo isso no melhor dos sentidos! Afinal, não estamos falando de qualquer coisa. Estamos falando do novo disco do… CRUEL FORCE!!!
Riffs dilacerantes, bateria agressiva e desmembradora, baixo atropelador de distraídos no meio da estrada… É assim que a coisa passa a funcionar de maneira positiva. Entretanto, é preciso ver se os vocais seguem a mesma toada, pois se não tivermos um demônio desintegrando sua garganta no sofrido microfone, dificilmente o impacto será grande o suficiente. Sendo assim, podemos ter a chance de conhecer um novo grande sucesso.
Breve descrição do Cruel Force
O Cruel Force é natural de Rheinzabern, Rhineland-Palatinate, e atualmente reside em Mannheim, Baden Württemberg. Para quem conhece o mapa alemão, acaba sendo um prato bem cheio. Continuando, a banda surgiu em 2008 e pendurou as chuteiras logo em 2012. Dentro desse período lançaram seus dois primeiros álbuns, os ótimos “The Rise of Satanic Might”, de 2010, e “Under the Sign of the Moon”, de 2011. Portanto, a banda alemã ficou prestes a ter logo de cara a sua primeira trinca de discos. Porém, isso não aconteceu nem tão cedo. O Cruel Force parou suas atividades em 2012, somente retornando em 2022. Todavia, podemos observar o poder de fogo e a praticidade dos seus componentes para gravar material novo. Se nos primeiros quatro anos de existência a banda conseguiu lançar dois discos de qualidade, imagine se o Cruel Force não tivesse “saído de férias prolongadas”.
Provavelmente, estariam em pé de igualdade com boa parte das principais bandas do subgênero híbrido mais sólido do Metal. Entretanto, os fãs de metal moribundo tiveram de esperar por todo esse período de ausência dos alemães. Mas, agora a história é outra e eles estão de volta com um novo trabalho. Em resumo, retornaram em 2022 e no espaço de apenas um ano, ou até menos dependendo da data oficial desse retorno, já estão com disco novo na praça. E só para ilustrar o coturno velho do nosso magnífico leitor, e também da nossa amável leitora, citamos aqui o primeiro ato oficial na discografia da banda, a demo de 2008 chamada “Into the Crypts…”, marcando então o seu pontapé inicial nessa jornada macabra.
A força amaldiçoada alemã e a sua terceira ponta de tridente
A Gravação, Masterização, Mixagem de “Dawn of the Axe” foi feita por Marco Brinkmann (não confundir com o lendário Beakman, de Beakman’s World), enquanto o logo e a arte da capa receberam os cuidados de Maegan LeMay. Por fim, Julian Grau foi o responsável pela fotografia e Annick Giroux é quem elaborou o layout. Das nove faixas do novo álbum, seis receberam vídeos, sendo que duas músicas do álbum são instrumentais. São pouco mais de trinta minutos de violência, clima de boteco escondido com balcão marcado por inúmeras canecas e copos de cerveja. Sim, o lodo do balcão e do chão do bar é um brinde à parte que esse novo trabalho apresenta. Porém, esse é o selo de qualidade de um bom álbum de Black/Thrash Metal.
O underground investindo em alta qualidade nos videoclipes e lyric vídeos
Se engana aquele que pensa que produzir um vídeo de seu principal single é tarefa de mauricinho metido a mainstream. Muito pelo contrário, pois as bandas de metal extremo vêm pesando a mão a favor desse modelo de divulgação do seu respectivo material. Afinal, ninguém precisa esperar o retorno da MTV para fazer esse tipo de coisa. Isso em se tratando de Brasil. Mas, como a banda em questão é alemã, nos atentemos ao que ocorre no velho continente.
Lá a coisa flui e ninguém fica reclamando, dizendo que o underground não faz isso ou não precisa daquilo. Esse vício só atrapalha a todos, ou seja, banda e público. E nem é questão de angariar muito público e vender um caminhão de discos. É pelo simples fato de encontrar o seu prospectivo e poder trabalhar junto a isso. Gravar um clipe nunca é tão simples, pois exige empenho e grana. Além de saber como será tudo isso e qual será o caminho dado por conta dessa ideia.
O Cruel Force aproveitou o retorno bastante revigorado para utilizar energia extra nessa nova saga. Os singles escolhidos foram:
- “Across the Styx”
- “At the Dawn of the Axe”
- “Night of Thunder”
- “Devil’s Dungeon”
- “Power Surge”
- “Death Rides the Sky”
Agora que estamos alinhados com esse novo item, vamos investigar esse artefato profano agora mesmo!
O retorno triunfante de uma horda germânica
O início acontece de forma instrumental e semelhante a uma possível junção entre elementos de Conan, o Bárbaro, trilhas de spaghetti western (faroeste italiano) e mundo pós-apocalíptico. Entretanto, não basta observar ao longe o rufar triunfante dos tambores e o avanço das tropas em forma de notas de guitarra. É necessário que esteja preparado, firme e convicto de onde os ventos da batalha sopram. Convoque a escuridão e o sentimento de luta, ambos enterrados nas almas de todos os homens.
É através de “Azrael’s Dawn” que as tropas avançam terreno até adentrarem junto ao território de “At the Dawn of the Axe”, faixa quase homônima do novo álbum. Durante a madrugada até o amanhecer, o machado brilha cor de sangue, confrontando com o brilho amarelado da lua cheia. O dedilhado envolvente e estridente oferece o punho serrado do Speed Metal para inaugurar o marcador em favor dos blackthrashers alemães. A oferta inicial é colocada na vitrine musical com sucesso. Entretanto, o cavalgar da tempestade escurece a ponto de encontra o tradicional estilo híbrido para brindar com os invasores do amanhecer.
Com o intuito de promover e observar a queda dos castelos de ira e de ouro, a corrida contra a morte certa é de suma importância para que se possa presenciar o dobrar dos sinos. Erga seu machado e lute pelo metal extremo e pelo rock veloz de bueiro com solos coberto por marcas de lama e de sangue.
O triunfo pelo poderoso martelo e as espadas da vingança
Essa noite será a mais trovejante possível, pois “Night of Thunder” causará relâmpagos e raios constantes nas câmaras mais distantes da superfície terrestre. A intro surge com a premissa de uma investida veloz e impiedosa, porém devemos aguardar a cavalaria afiar e pregar os cascos. Assim sendo, é isso o que ocorre e a selvageria do metal negro e arruaceiro chega como uma chuva de pedras. Cada martelada do baterista GG Alex é como um golpe certeiro no inimigo. O filho do diabo ascende aos olhos dos cavaleiros, que por sua vez, estão prontos para destronar os reis dessa terra.
As viradas de bateria características do estilo se fazem presente e antecedem os solos inescrupulosos e flamejantes. O pulsar do Black/Thrash está nas almas aguerridas dos cavaleiros da tempestade, enquanto o pêndulo do tempo oscila para a morte. O final é premiado com um retorno de notas, com a intenção de mostrar que podemos ficar muito mais tempo nessa batalha.
Olhe para os céus e veja a morte cavalgando em direção daqueles que jamais serão capazes de carregar a bandeira de “Death Rides the Sky”. Certamente, a noite estígia acaba sendo propícia para enveredar o aço que está em nossas mãos. Não há clemência! Os gritos perdidos comem a luz, enquanto as espadas promovem a vingança em favor da proteção do inferno.
Do sangue nasce esta vida, portanto ajoelhe no altar de ossos. Os riffs cortantes atravessam a armadura e a carne pútrida do exército inimigo. Não há escapatória para a glória infernal. Os riffs espirram como o sangue jorrado pelos golpes distribuídos em sequência.
O desfiladeiro é representado pelos solos viscerais e contagiantes do jeito que o estilo pede. Breves, porém eficientes e eficazes. Outros pontos positivos desse duelo são o efeito causado tanto pelos vocais de Carnivore quanto pelos efeitos promovidos pelos sintetizadores às escondidas. Contudo, sobra qualidade até para os refrãos vibrantes e que podem ser cantados agora mesmo!
“Swords of great revenge
Steel is in our hands
Death rides the sky
Where winds of iron ride”
Os olhos do gato preto
“Devil’s Dungeon” é a divisória do artefato circular musical e apresenta uma aventura em plena floresta, ou melhor dizendo, o inferno verde. A masmorra do diabo revela uma trilha em que a figura por entre os versos é atacada pela liana e puxada até as raízes. O clima destemperado acontece sob a luz negra da trilha sonora mais fétida e nefasta para o momento. A receita inicial toma o cenário de assalto e sofre variações de andamento em alusão ao terreno úmido e pouco firme.
As notas tocadas exalam enxofre e mostram ao personagem perdido uma caverna secreta. Entretanto, a caverna do diabo não é apenas um lugar petrificado e cheio de armadilhas, mas também provoca alucinações através das formas que olham, das tochas que brilham, e paredes que estão se fechando. Neste terreno do diabo as cavernas provocam, acenando com seus pulsares em forma de contrabaixo a mando de Spider. Dedos se contorcendo na guitarra de Slaughter, enquanto as sombras se derramam junto aos arranhares de palheta, rugindo alto como um a linha pantagruélica do kit de GG Alex. Os olhos do gato preto refletem a lua e o levam à destruição sonora. Além disso, as tochas são acesas em busca de uma saída…
“Não há como escapar do meu cálculo – Não há saída!”
A torre de vigilância e o território de Hades
A sexta onda sonora atende por “Watchtower of Abra”, sendo a segunda faixa instrumental do disco. Todavia, podemos colocar como segunda torre desse castelo de guerreiros sedentos por guerra e sangue. Os sintetizadores soam mais altos e elevam as camadas em apoio aos dedilhados calmos de Slaughter. Solos envolventes surgem das entranhas do caminho para o rio no território de Hades, avistados pela torre de Abra.
“Across the Styx” traz consigo muito amor ao lembrar de coisas grandiosas como um dos trabalhos mais marcantes dos neerlandeses do Sinister, debut lançado em 1992. Se engana aquele que pensa sobre o som inserir suas pegadas de forma vagarosa. Sendo assim, a parte inicial funciona com precisão para o ataque subsequente ser ainda mais imponente. Dessa vez o assunto é entre Heavy e Black/Thrash e se você não souber dançar, vai perder seu passaporte para o paraíso metálico.
O ferro está em nossas mãos e o aço está sob nosso comando, portanto é necessário entender as regras de Caronte para a etapa ser bem sucedida. Variações rítmicas simulam as águas bravas se movimentando e conduzindo o barco até o outro lado do rio. As pausas breves são a representação da negociação com Cerberus, pois as tarifas são a alma do negócio em pleno abismo.
O poderio incessante da armada germânica
Aqui temos talvez o maior hino do disco para tocar na montanha mais alta e a plenos pulmões. “Power Surge” oferece toda a magia negra necessária para arrebatar os inimigos a goles seculares com os machados afiados pelos ferreiros do inferno.
Começo com uma pergunta: seria a melhor música do album? “Power Surge” surge com um poderio imenso, capaz de atravessar paredes só de observar o terreno à frente. Sua levada lembra bastante o ímpeto tradicional de seus compatriotas do Tyrant. Bumbos e tons fazem sentir o aumento de energia enquanto os pistões brilham. A junção entre o tradicional e o ríspido e podre funcionam muito bem.
Prove o veneno enquanto os alto-falantes sopram as labaredas das guitarras de Slaughter e o rastro de fumaça da bateria de GG Alex que deixam marcas profundas no asfalto. Este é um chamado à fúria, é a nossa hora de rolar por caminhos tortuosos e acender essas chamas de uma vez por todas. Os dedilhados e riffs cortantes entregam o crucifixo invertido como símbolo para assumir logo o controle.
Sinta a onda de energia e experimente toda a desgraceira sonora provocada pelos alemães, como um surto de energia impressionante e completamente furioso. Através do alicerce reforçado pelas linhas do baixista Spider, você teme, inesperadamente, o comando do inferno como um golpe de martelo. Os negociantes da morte lhe entregam a opção de esculpir seus nomes em pedra. Ao passo que nesta noite de Metal está previsto um governo surpreendentemente controlado pela multidão. O final é semelhante ao de um show ou quando a própria canção é finalizada, funcionando de maneira “REPETACULÊ”!
“Com um golpe de ferro – Levante o punho da guerra!”
Sete minutos de glória e levante para uma continuidade dessa jornada
A apoteose conclama mais um rito sonoro para terminar de forma digna o retorno promissor do Cruel Force. “Realm of Sands” A condenação nesse reino coberto de areia mostra que a visão é inexistente quando se tenta mostrar qualquer caminho. O silêncio entre mundos é inegavelmente assustador e de fascínio abrangente. Andando com tochas acesas em nossas mãos, forte é a nossa legião de riffs e componentes percussivos. Além disso, o poder de fogo é mantido sob a custódia de um ótimo armamento para destruir as linhas defensivas e diante do olhar divino.
Os guerreiros antigos surgem em forma de batalhões, acompanhando a trilha sonora desgraçada e insolente. As emendas em base com dedilhados evidentes revelam o fato dos livros de conhecimento antigo estarem prontos para serem revelados. Os grandes reis sacanas bebendo da taça de ouro e se alimentando do sangue alheio. Todavia, estes cairão diante da queda do império de areia e a sonoridade oferecida é o puro suco do Heavy Metal com tempero abissal na medida. Sobretudo, os solos novamente se prontificam de elevar o patamar maldito da canção. Assim como as ramificações do baixista Spider, das quais estremecem e derrubam todas as estruturas convencionais aos líderes dos terrenos desérticos. Em suma, o final de tudo traz consigo uma levada em violão após o baixar da poeira…
Considerações laminadas finais
Antes de tudo, com toda a certeza, devemos entender que o Cruel Force retornou sem qualquer pretensão de trazer novidades para o subgênero híbrido mais sólido do Metal. Embora alguns discos possam soar um tanto mais agradáveis aos ouvidos atentos a essa sujeira musical, “Dawn of the Axe” possui charme e brilho obscuro o suficiente para figurar entre os melhores álbuns do ano no quesito “rangido demoníaco”. Principalmente, quando o assunto é soltar o demônio através da voz, cortesia do vocalista Carnivore. Portanto, mesmo que algumas músicas possam atingir os tímpanos alheios mais do que outras, o álbum em si possui equilíbrio e de quebra, todas as engrenagens sobrepostas pelo texto. E para finalizar, deixei os pseudônimos dos músicos em destaque para manter a teatralidade do negócio, para a partir de uma próxima resenha, poder revelar seus nomes fora do campo de batalha.
“Beware the night crusaders or you’re left in the dust
Take the fire higher and reap the spoils of lust
As the thunder’s rolling, it’s now within our sight
This force that smites forever – The power of the night!”
nota: 8,8
Integrantes:
- Carnivore (vocal)
- Slaughter (guitarra, sintetizador)
- Spider (baixo)
- GG Alex (bateria)
Faixas:
1. Azrael’s Dawn
2. At the Dawn of the Axe
3. Night of Thunder
4. Death Rides the Sky
5. Devil’s Dungeon
6. Watchtower of Abra
7. Across the Styx
8. Power Surge
9. Realm of Sands
Redigido por Stephan Giuliano