Introdução ao Blue Öyster Cult
Bom, infelizmente, a minha idade (41) não é tão avançada ao ponto de ter acompanhado os lançamentos mais relevantes desses caras (décadas de 70 e 80), porém, em algum momento no início dos anos 2000 eu resolvi me aprofundar em bandas mais clássicas e tirei, basicamente, um ano completo da minha vida para fazer apenas isso. Foi assim que conheci de forma adequada as discografias de nomes como Kiss, Van Halen, Led Zeppelin, Rush e outras. Tudo ia bem e eu, em minha inocência juvenil, me achava “o grande conhecedor” do Rock e Metal em quase todos os seus segmentos (santa ignorância!). Mas foi então que eu tive acesso a alguns materiais de bandas setentistas que me impressionaram profundamente, nessa época eu ouvi “Phenomenom”, do UFO, e “Jailbreak”, do Thin Lizzy. Foi algo avassalador. Tais descobertas me fizeram querer conhecer mais e mais nomes desta época e, se eu não me engano, foi através de um artigo na revista Roadie Crew que li pela primeira vez sobre o Blue Öyster Cult.

De primeira, achei o nome bem estranho, mas ao mesmo tempo maneiro e impactante para uma banda de Rock. A matéria falava sobre a temática das letras ligadas ao ocultismo e histórias de terror e, ia mais além, falava sobre um símbolo misterioso usado nas capas dos álbuns. Ele tinha um significado oculto que os próprios músicos faziam questão de manter todo um folclore ao seu redor. Isso me despertou interesse, já que além de todos estes elementos, eram mencionados os nomes de diversos discos e o tratamento dado era o de uma banda muito boa musicalmente. Enfim, corri atrás de algum material e encontrei uma coletânea dupla chamada “Workshop Of The Telescopes”. Essa coletânea não saiu do meu CD player durante uns 3 ou 4 meses e, obviamente, fiquei fascinado pela musicalidade absolutamente diferente desses caras. Parti para uma longa jornada de audições de todos os discos da discografia e, a cada trabalho ouvido, ficava ainda mais maravilhado.
Finalizando este breve relato, preciso dizer que o Blue Öyster Cult é daquelas bandas que influenciou muitas outras bandas (de Heavy Metal, inclusive) e nunca recebeu as devidas honras por isso. Vez ou outra, algum medalhão grava alguma música da banda (o Metallica gravou “Astronomy” em seu “Garage Inc.”, o Iced Earth gravou “Burnin’ For You” e “Cities On Flame With Rock And Roll” em seu “Tribute To The Gods”, o Candlemass gravou “Don’t Fear The Reaper” e uma infinidade de outras bandas gravaram “Godzilla”). O próprio Ghost não é nada mais que uma versão endinheirada, atualizada e cheia de pompas do Blue Öyster Cult. É claro, com menos competência e talento. Se você é um jovem padawan que não conhece o som desses velhinhos, vou deixar uma playlist bem legal no final do texto e, com isso, creio que seus problemas se dissipem.

Espero que gostem desse tipo de introdução, mas caso não, vamos logo ao que interessa.
Análise do álbum: “The Symbol Remains”
Gravadora: Ward Records
Devido ao relato acima, você já deve imaginar que poder acompanhar um lançamento do Blue Öyster Cult foi um enorme privilégio que tive no ano em questão (2020). Em meio a diversos dinossauros do Rock apresentando seus novos discos, jamais imaginei que o BÖC voltaria do limbo para lançar um novo álbum de inéditas. Isso não acontecia desde “Curse Of The Hidden Mirror”, de 2001, portanto, há cerca de 20 anos.
“The Symbol Remains” é um trabalho com a cara da banda em todos os aspectos, ele busca referências e faz revisitações ao passado, porém, traz um pouco de modernidade e uma dose generosa de vitalidade. Da formação clássica, sobraram apenas dois remanescentes, o guitarrista e vocalista Buck Dharma e o guitarrista, tecladista e vocalista Eric Bloom. Compondo o restante do time, estão Richie Castellano (guitarra e vocal), Jules Radino (bateria) e Kasim Sulton (baixo). A presença de Richie Castellano é a que traz mais impacto a sonoridade atual do BÖC, já que estávamos acostumados em todos os discos do passado a ter apenas as vozes de Buck Dharma e Eric Bloom se revezando, e agora temos Richie como um terceiro vocalista assumindo os leads em diversas músicas.

Essencialmente, esta é uma banda que sempre ousou arriscar e experimentar, sendo assim, é muito comum ter uma variedade enorme de ritmos e direcionamentos em um único álbum. Em “The Symbol Remains”, apesar de não termos muita coisa com aquela veia mais progressiva, a variação de ritmos é enorme. Temos faixas que vão do Hard ao Heavy e, no meio disso, há espaço para baladas, canções com uma levada meio country e até mesmo algumas músicas que explora o bom e velho Rock And Roll purista.
O disco abre com os três primeiros singles apresentados antes do lançamento, cada um deles trazendo um vocalista principal diferente. A moderna e vigorosa “That Was Me” inicia os trabalhos de forma satisfatória e com muita energia, trazendo um riff com a cara de Buck Dharma e os vocais nostálgicos de Eric Bloom. Na sequência temos a inicialmente despretensiosa “Box In My Head”, com melodias bem fáceis de assimilar e linhas vocais de Buck Dharma que remetem diretamente ao passado da banda. Em “Tainted Blood” temos a primeira participação de Richie Castellano nos vocais e sua voz é muito boa para esse tipo de Hard/AOR.
“Nightmare Epiphany” é uma canção de Buck e apresenta um ritmo festeiro, remetendo aos tempos primórdios da banda. “Edge Of The World” traz Eric Bloom de volta aos vocais em uma composição mid-tempo com ótimos backing vocals e um refrão grudento. “The Machine” inicia com um belo riff de Buck Dharma e quando você aposta todas as fichas que Eric Bloom entrará cantando, é Richie Castellano que faz as honras e dá outra direção para a música. “Train True (Lenie’s Song)” inicia revisitando a fase dos anos 80 (que é a mais Hard), porém, alguns segundos depois tudo muda e um ritmo country alucinante transforma a música por completo.

A fase dos anos 80 é novamente lembrada em “The Return Of St. Cecilia”, mas desta vez sem surpresas ou transformações inesperadas, a não ser pelo fato dos vocais serem novamente de Richie Castellano. “Stand And Fight” traz Eric Bloom de volta ao jogo e inicia a melhor sequência do disco, nesta música temos praticamente um Heavy Metal com um refrão a lá Accept. “Florida Man” começa com um timbre de guitarra muito semelhante ao de “Don’t Fear The Reaper”, mas logo em seguida descamba para uma canção mais simples e agradável. Em seguida temos “The Alchemist”, a única representante do lado mais Prog e, seguramente, a melhor música do disco. A sequência final começa com “Secret Road”, cantada por Buck Dharma ao melhor estilo Hard 70, “There’s A Crime” traz o peso de volta e Eric Bloom prova de forma factual que a idade é um mero detalhe, já que mesmo aos 76 anos, ainda esbanja vitalidade. “The Symbol Remains” termina com “Fight”, outra canção de Buck que você ouve e se identifica imediatamente, tamanha é a facilidade que a banda tem em revisitar seu passado sem soar repetitiva ou tentar copiar a si mesma.
No geral, dá para dizer tranquilamente que este novo registro de inéditas do Blue Öyster Cult é extremamente digno e, ao contrário de muitas bandas que iniciaram na mesma época, traz muito da sonoridade clássica ainda viva e pulsante. Obviamente, estamos falando de vovôs com mais de 70 anos de idade, então, não espere gritos, doideiras e subidas drásticas de tons, isso não vai rolar. Mas se você, assim como eu, é fã dos trabalhos antigos, certamente, vai se identificar com muitas músicas contidas no disco.
Para finalizar, quero registrar a minha admiração por estes senhores, se eu chegar aos mais de 70 anos e tiver metade do pique que esses caras tem, serei um velhinho muito agradecido e feliz. Gravar um registro novo, sair em turnê e dar a cara para bater em um período da vida onde a maioria está urinando em suas fraudas geriátricas, definitivamente, não é para qualquer um.
Nota: 8,5
Integrantes:
Eric Bloom (guitarra, teclado e vocal)
Buck Dharma (guitarra, teclado e vocal)
Richie Castellano (guitarra e vocal)
Danny Miranda (baixo)
Jules Radino (bateria)
Faixas:
- “That Was Me”
- “Box In My Head”
- “Tainted Blood”
- “Nightmare Epiphany”
- “Edge Of The World”
- “The Machine”
- “Train True (Lennie´s Song)”
- “The Return Of St. Cecilia”
- “Stand And Fight”
- “Florida Man”
- “The Alchemist”
- “Secret Road”
- “There´s A Crime”
- “Fight”
Como prometido, eis aqui uma playlist feita no capricho para você ouvir boa parte dos diversos ótimos momentos da trajetória desta verdadeira instituição do Rock mundial:
Redigido por Fabio Reis