Six Feet Under lançou, recentemente, o álbum “Killing For Revenge”.
Lançado no dia 10 de maio pelo selo Metal Blade Records, “Killing For Revenge” marca o décimo quarto registro de estúdio da veterana banda americana, Six Feet Under, surpreendendo até o mais ferrenho dos críticos.
O gosto amargo do pesadelo
Creio que seja necessário dedicar aqui um breve esclarecimento em relação ao frustrante registro anterior da banda, intitulado “Nightmares of The Decomposed”, lançado em 2020.
O registro que marca o retorno da parceria entre o guitarrista Jack Owen e Chris Barnes, anos após terem saído do Cannibal Corpse, não agradou uma parcela significativa dos fãs da banda, deixando uma impressão de fim de carreira eminente.
Convenhamos aqui, estamos falando de um álbum bem produzido e mixado, um instrumental impecável, riffs extremamente violentos e viscerais, composições líricas grotescas e obscenas. Assim como pede a cartilha do gênero, inclusive.
Mas infelizmente, o vergonhoso desempenho vocal de Chris Barnes no disco, chega ao nível de desperdiçar todos os aspectos positivos citados. Não apenas neste registro, mas nos anteriores a ele, Barnes ofuscou o ótimo desempenho do resto da banda com o que podemos chamar de um sátira medíocre de seu gutural característico de outrora. Além disso, no mais, se o ouvinte for capaz de se abstrair desse aspecto horrível, pode tirar um proveito maior.
Killing For Revenge
Eis então que em março de 2024, o Six Feet Under anuncia a data de lançamento de seu mais novo registro, trazendo novamente a parceria do registro anterior, porém sem muitas expectativas e menos entusiasmo ainda.
O que podemos dizer a principio, é que Jack Owen (ex-Cannibal Corpse, ex-Deicide) conseguiu basicamente salvar a banda com alguns de seus ótimos riffs e solos, evidenciando, dessa forma, como sua significativa contribuição para o Death Metal ainda é sentida pelos grupos os quais passa.
Chris Barnes corrobora essa ideia:
“Jack escreveu noventa por cento das letras deste álbum, e foi para isso que ele criou o enredo. Como você deseja interpretar isso depende de você. Você pode encontrar significados mais profundos, metáforas ou simbolismos. Mas eu diria que uma boa interpretação é alguém sofrendo e se devorando por dentro. Você poderia olhar mais profundamente, já que se trata de vício também .”
“Jack é o maior compositor com quem já estive envolvido nos mais de 30 anos que faço música profissionalmente.”
Visto que Jack Owen, agora mais ativamente envolvido na composição, temos um leque mais variado de influências extremas, dentro do próprio estilo do Six Feet Under.
De volta ao Old School
A proposta principal da banda, desde seus primórdios, sempre foi mais orientada para um Death Metal mais cadenciado, com foco em riffs pesados e um groove incansável, algo que mais tarde seria denominado de Death´Roll pela mídia especializada, e ao mesmo tempo, as comparações com o compatriotas do Obituary eram constantes, e não era pra menos.
Atualmente, é nítido como Chris Barnes se viu rendido a necessidade buscar inspiração. Não apenas em sua ex banda, mas também em alguns de seus coligados mais cultuados. Temos nítidas influências aqui que transitam entre o Massacre, Death (fase inicial) e claro, Cannibal Corpse, tornando a audição muito mais interessante para os apreciadores do gênero… Mas não tanto.
Para a surpresa de muitos…
A trinca inicial composta por “Know-Nothing Ingrate”, “Accomplice To Evil Deeds” e “Ascension”, temos, surpreendentemente, uma explosão de agressividade e energia, que era desesperadamente necessária no som da banda há muitos anos. Ou seja, essa é sem dúvida a melhor sequência inicial em um registro da banda, em muito tempo. Lançada como primeiro single do álbum, “Know-Nothing Ingrate” já ditava o que estava por vir.
Em “When the Moon Goes Down in Blood”, terceiro e último single lançado, temos aquele vislumbre do que poderia ser, mas não foi. Mesmo que de forma genérica e pouca inspirada, temos uma sonoridade que remete muito a fase inicial do Cannibal Corpse, em específico nas construção dos riffs característicos da banda.
A inconfundível arte do Sr. Locke
Falando em Cannibal Corpse, não podemos deixar de citar mais um membro “extra não oficial” da banda, responsável direto pelas mais tenebrosas e horrendas imagens presentes no imaginário coletivo dos headbangers há mais de 30 anos.
Falar de Cannibal Corpse, sem ao menos citar o essencial trabalho de Vince Locke, é como falar de Iron Maiden, sem citar Eddie, o icônico mascote da banda.
Ironicamente, a arte de “Killing For Revenge” é a primeira contribuição do artista com o Six Feet Under, é já que atualmente ambas as bandas têm os mesmo numero de membros originais em sua formação, foi decisão interessante ter uma arte assinada pelo mago do grotesco.
Rosas no túmulo…
Logo depois da quadra inicial, “Hostility Against Mankind” traz de volta a sonoridade inconfundível do Six Feet do velho testamento. Assim sendo, temos quase quatro minutos de puro peso e um riff robusto e cavernoso estrondoso, sustentado por uma estrondosa e pulsante linha de baixo, sendo algo que beira ao Death/Doom.
Ao chegar na metade do registro, era de se esperar que o álbum desacelerasse e desse mais espaço para composições mais cadenciadas, a fim de recuperar o fôlego, certo ? Errado.
“Compulsive” e “Fit of Carnage” impulsionam uma sequência devastadora de agressão, transitando, ao mesmo tempo, entre um Death/Thrash simplesmente sanguinolento com riffs alucinados e batidas fortes e sólidas por parte do Sr.Marco Pitruzzella, que felizmente tem feito um excelente e irrepreensível trabalho nos últimos anos, no que diz respeito a sua função.
Com exceção da deslocada “Neanderthal”, que fica presa entre uma sequência de agressão atrás da outra, toda esse seguimento entre a metade e o final, é simplesmente matador, “Judgement Day” , “Bestial Savagery” e “Mass Casualty Murdercide” marcam a segunda trinca de obliteração sonora, nos remetendo diretamente ao death metal da velha escola.
Mas nem tudo são rosas…
Infelizmente, parece que se tornou unanime que apesar do desempenho de toda banda ser totalmente competente com a proposta, trazendo referências e mesclando a sonoridade do grupo com vertentes mais tradicionais, o desempenho vocal de Chris Barnes ainda permanece simplesmente desastroso e constrangedor. Mesmo que ela tenha simplesmente abandonado aquele tenebroso pig squeal (grunhido de porco), neste álbum e sua performance, apesar de ser melhor que a do álbum anterior, ainda é um desempenho muito ruim, mesmo para um fã da banda. Isso é algo muito triste de se afirmar, pois estamos falando de quem era uma da principais referências no gutural do planeta. Porém, ainda acredito que seja um caso intenso de ame ou odeie.
O melhor exemplo disso é o infame cover da clássica “Hair of The Dog” do Nazareth, para aqueles que já estão acostumados com os criminosos covers feitos pela banda ao longo dos anos, talvez seja capaz de abstrair do desastre que é o vocal de Barnes e curtir o instrumental com uma roupagem mais extrema. Enquanto para aqueles que detestam cada um desses covers, aproveitem para adicionar mais um desafeto na caixinha do rancor.
Saldo final
Surpreendentemente, temos um álbum que ajudou a tirar o gosto amargo do que ficou após o tenebroso disco anterior. Portanto, temos um álbum anos luz melhor… Mas não deixa de ser um registro infame, cabe ao ouvinte decidir em qual aspecto etimológico o “infame” se encaixa… Eu me divirto.
Nota: 7,0
Integrantes:
- Chris Barnes (Vocal)
- Ray Suhy (Guitarra)
- Jack Owen (Guitarra)
- Jeff Hughell (Baixo)
- Marco Pitruzzella (Bateria)
Faixas:
- 1.Know-Nothing Ingrate
- 2.Accomplice to Evil Deeds
- 3.Ascension
- 4.When the Moon Goes Down in Blood
- 5.Hostility Against Mankind
- 6.Compulsive
- 7.Fit of Carnage
- 8.Neanderthal
- 9.Judgement Day
- 10.Bestial Savagery
- 11.Mass Casualty Murdercide
- 12.Spoils of War
- 13.Hair of the Dog (Nazareth cover)