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Lançamento: Sepultura – “Quadra” (2020)

Gravadora: Nuclear Blast

   

1. Introdução

Em uma terra fictícia além de nossa imaginação e muito além de nossa vã compreensão, alguns fãs saudosistas acreditam piamente no conto delirante em que o Sepultura foi extinto no final dos anos 90. Para alguns, o triste fim ocorreu na época em que os mineiros lançaram “Roots” (em 1996, e ainda com os irmãos Cavalera no front), para outros, o momento derradeiro só aconteceu no momento em que Max Cavalera deixou a banda, em 1997, dando lugar ao estadunidense Derrick Green.

No mundo real, a história é muito diferente…

   

Para o pesadelo dos chatos de plantão, o Sepultura nunca sequer pensou em encerrar as suas atividades e, apesar de ter demorado alguns anos para encontrar uma formação ideal e uma sonoridade que a representasse, os caras finalmente chegaram lá. Gradativamente, os álbuns foram ficando cada vez mais atrativos, encorpados e maduros, a entrada de Eloy Casagrande revelou ser o fechamento da equação e a estréia do baterista em “The Mediator Between Head And Hands Must Be the Heart” no ano de 2013, deu início uma nova fase na carreira da banda. “Machine Messiah”, de 2017, mostrou-se uma ruptura com o passado e, apesar de meia dúzia de chorões lamentarem o não-retorno às raízes (como sempre), o disco foi um verdadeiro sucesso de público e crítica, servindo para colocar o quarteto novamente em evidência no cenário mundial.

2. Conceitos

Depois das avaliações positivas geradas pelo trabalho anterior, a hype se tornou altíssima para conferir “Quadra”. Mais uma vez, Andreas Kisser e sua trupe apostaram em um disco conceitual, onde a palavra “Quadra” faz alusão a uma área delimitada e gerida por uma série de regras que acabam moldando o caráter das pessoas dentro daquele perímetro.

As tais “quadras” possuem diferentes interpretações e o termo pode ser usado tanto para fazer referência a um país com suas fronteiras bem delimitadas, suas leis e costumes próprios, como pode ser algo mais simplório como uma quadra esportiva onde um jogo acontece com todas as suas regras e particularidades. Se pensarmos de maneira mais complexa, uma “quadra” pode significar as camadas sociais de uma sociedade, grupos de pessoas que se unem em prol de um ideal em comum e por aí vai.

A própria distribuição da ordem das faixas aponta para esse conceito e ele foi composto como se fosse um LP duplo. As 12 composições foram divididas em quatro lados (A, B, C e D) contendo 3 faixas em cada um deles. Cada lado representa uma dessas “quadras” e possui características distintas e propostas musicais igualmente distintas.

   

A arte de capa foi criada pelo artista Christiano Menezes (da Darkside Books) e nela podemos ver uma moeda fazendo alusão ao dinheiro, que é basicamente o responsável por nos interligar, nos escravizar e gerar valor em pessoas e coisas. Na moeda há um crânio representando as leis e as regras existentes no mundo e dentro do crânio um mapa, representando os países e suas fronteiras.

3. Sem medo de arriscar

Andreas Kisser (guitarra), Derrick Green (vocal), Paulo Xisto (baixo) e Eloy Casagrande (bateria), viajaram para Suécia e decidiram gravar o álbum no mesmo estúdio e com o mesmo produtor (Jens Bogren) que trabalhou com a banda na época em que “Machine Messiah” foi gravado.

Bogren é conhecido por ser um produtor disciplinador e detalhista, desta forma, exigindo muito dos músicos. O resultado desta produção minuciosa é que “Quadra” é de longe o disco mais técnico, complexo e dono das melhores performances individuais de toda a carreira do Sepultura. Também é importante destacar que apesar de possuir uma musicalidade extremamente pesada, o registro talvez seja o mais experimental e, certamente, é o mais contemporâneo já lançado pelo quarteto.

Na primeira “quadra” do disco, aquela que representa o lado A, temos uma sonoridade mais rápida e visceral, representando o lado mais selvagem e Thrash do Sepultura. “Isolation” é uma patada insana com passagens que beiram o Death Metal, “Means To An End” diminui um pouco a velocidade, mas não deixa de ser uma música forte e violenta, “Last Time” pisa no acelerador novamente e possui diversas viradas inesperadas e um instrumental absolutamente arrebatador. A segunda “quadra” ou lado B, é a que traz as tradicionais partes tribais, percussões diferenciadas e ritmos brasileiros. Esta parte do álbum inicia com a sensacional “Capital Enslavement”, que começa cadenciada e vai acelerando aos poucos até chegar ao seu ápice. “Ali” é uma verdadeira loucura, o que Eloy Casagrande e Andreas Kisser fazem nessa música é uma verdadeira pornografia. Se você gosta de músicas repletas de viradas, muitas passagens e alterações rítmicas inesperadas, essa é a sua música. Esta segunda parte encerra com “Raging Void”, cadenciada e dona de um ótimo refrão.

   

O lado C (terceira “quadra”) é onde o Sepultura mais explora o seu lado experimental. As composições destacam o instrumental e trazem algumas partes acústicas, além de excelentes climatizações. “Guardians Of Earth” começa com uma intro de violão, vai crescendo até culminar em uma canção pulsante e, do meio para o final, traz corais sinistros e solos de guitarra que são um verdadeiro primor. A próxima é a instrumental “The Pentagram”, que assim como em “Iceberg Dances” (presente em “Machine Messiah”), não é nem um pouco cansativa e acrescenta demais ao tracklist. “Autem” apesar de ousar bastante ao trazer vocais mais graves de Derrick, é violentíssima e dona de outro belíssimo refrão. Para finalizar, temos a última “quadra” representando o lado D do álbum, e é nesta parte que se encontra aquela veia mais groovada e melodiosa da banda. Após a rápida introdução de violão que recebe o nome do registro, temos a fantástica “Agony Of Defeat”, com mais um refrão devastador e momentos realmente surpreendentes. Para encerrar, a música mais fora da caixa já gravada pelo Sepultura: “Fear, Pain, Chaos, Suffering”. com participação da vocalista Emmily Barreto (Far From Alaska), e passagens simplesmente maravilhosas.

4. Sempre se reinventando

Definitivamente, o fã comum acostumado ao Thrash Metal genérico praticado atualmente, aquele que ao pensar em um novo trabalho da banda logo sonha em ouvir um “Beneath The Remains” parte 2, este continuará torcendo o nariz para esta formação e seguirá pedindo por uma reunião com os Cavalera que, possivelmente, nunca ocorrerá. Já o ouvinte menos saudosista que se permite ouvir um álbum cheio de camadas, altamente criativo, inovador, extremamente bem tocado e musicalmente preciso, este tem grandes chances de se apaixonar por “Quadra”.

Pode-se afirmar que o Sepultura alcançou em 2020 a sua melhor forma desde o auge ocorrido nos anos 90. Os músicos estão sempre se reinventando, saindo de suas próprias zonas de conforto e evoluindo suas capacidades artísticas. Se em algum momento os caras chegaram realmente a se perder, podemos cravar que então eles se encontraram, afinal, estão novamente em uma grande gravadora, se tornaram mais uma vez relevantes aos olhos internacionais, vem recebendo ótimas críticas e lançaram um dos melhores álbuns de toda a sua carreira.

Esta audição não se torna obrigatória apenas por que “Quadra” se mostra um trabalho robusto e convincente, mas por que nos lembra da capacidade e grandiosidade do Sepultura. Aliás, devo lembrar que independente da choradeira de alguns, esta é e sempre será a maior banda brasileira de todos os tempos.

   

RESPECT.

Sepultura do Brasil!


Nota: 9,4

  • Integrantes:
  • Paulo Xisto (baixo)
  •    
  • Andreas Kisser (guitarra)
  • Derrick Green (vocal)
  • Eloy Casagrande (bateria)
  • Faixas:
  •    
  • 1. Isolation
  • 2. Means To And End
  • 3. Last Time
  • 4. Capital Enslavement
  • 5. Ali
  •    
  • 6. Raging Void
  • 7. Guardians Of Earth
  • 8. The Pentagram
  • 9. Autem
  • 10. Quadra
  •    
  • 11. Agony Of Defeat
  • 12. Fear, Pain, Chaos, Suffering
  • Redigido por Fabio Reis
   
   

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