“Devastação” é o quarto full lenght da história do Stress, pioneiro do Heavy Metal do Brasil.
E eis que a primeira banda que se arriscou a produzir um disco de Heavy Metal em terras tupiniquins (lá no longínquo ano de 1982) é a grande responsável, quase 40 anos depois, pelo lançamento do melhor disco brasileiro de 2019.
Introdução
Se você acompanhou os lançamentos de 2019, deve estar pensando algo parecido com isso:”Cara, como assim, você tá doidão? O melhor disco nacional do ano? E os trabalhos do Voodoopriest, Warsickness, Hellish War, Deathgeist, Forkill, Axecuter, Nervochaos e Mystifier, entre outros?”
Pois é, caro amigo leitor, todos estes álbuns realmente são matadores e você tem toda a razão para exaltá-los, mas “Devastação” consegue se superar em todos os quesitos. Convido todos a embarcarem nesta leitura e entenderem porque cheguei a esta conclusão. Vamos lá.

Há alguns pontos importantes sobre esta obra:
- 1.Stress é e sempre foi uma banda icônica no cenário nacional. Apesar de possuir uma discografia muito mais curta do que todos gostaríamos (este é apenas o quarto full-lenght dos caras), todos os registros anteriores foram importantes e/ou relevantes em suas respectivas épocas. Lançar um novo trabalho mais de 20 anos depois do último foi mais do que um desafio, mas uma prova de fogo.
- 2.Um álbum cantado em português geralmente esbarra em alguns problemas bem comuns, o principal considero o acúmulo de letras manjadas, sem conteúdo e esbravejando chavões como “morte aos falsos”, “verdadeiro Metal” e “Satan reina”. Isso sem mencionar as rimas sofríveis com palavras totalmente previsíveis. Os caras não pensam duas vezes em rimar “mal” com “Metal”, “lutar” com “matar”, “marchar” com “guerrear” e por aí vai. Nada contra, mas quando eu tinha 15 anos essas letras eram bem divertidas, hoje, já acho que é falta de conteúdo mesmo. No caso do Stress, isso não acontece. As letras são ótimas, os assuntos são atuais e, mesmo quando enveredam por lugares comuns, fazem com estilo e se diferenciam das demais de uma maneira muito natural.
- 3.A banda paraense foi formada em 1977, seu primeiro disco é de 1982 e, mesmo sendo dona de alguns hinos do Hard/Heavy brazuca, até o presente momento ainda deviam um álbum com uma produção realmente boa (leia-se, uma produção à altura da história da banda). Pois bem, não devem mais!
Devastação, faixa a faixa
Sou do tipo de resenhista que não gosta muito de fazer análises faixa a faixa, prefiro sempre buscar informações adicionais, curiosidades e outros elementos que fogem do lugar comum (ou “mais do mesmo”). Assim sendo, me senti obrigado a abrir uma exceção, pois no caso deste disco, é impossível não falar de cada uma das composições. E eu percebi que seria assim instantaneamente, pra ser mais exato, no momento em que a faixa “Devastação” se iniciou. Musicalmente, somos agraciados com uma canção rápida, cortante e energética, os riffs são certeiros, os vocal muito bem encaixados e a letra um primor! A música retrata a ação do homem destruindo a natureza e você não ficará imune a estes versos:
“O fogo arde, sem perdão, queimando a selva / Trazendo as chamas do Terror / Sem chance, Fauna e Flora colhem morte certa / Nem a semente escapou / Verde que cai, cinzas no chão / Vida se vai, fim da lição / Sem consciência, sem punição / O homem suja as mãos – Devastação!”
Logo após pedrada nas fuças que é a faixa de abertura, somos tragados pra dentro de uma saga apocalíptica que segue, mais ou menos, os mesmos moldes da música “Endgame”, do Megadeth. Mas aqui a aniquilação sonora atende pelo nome “Fogo E Fúria”. A canção retrata um cenário hipotético onde um governante tirano parte em busca da soberania global. Como resultado, uma letra tensa que traz trechos de tirar o fôlego como este aqui:
“Se alguém o desafiar / Tem um arsenal nuclear / Oh, Deus!… Vai apertar o botão / Explosão! / Mil foguetes rasgam o céu / A realidade é cruel / Não tem lugar pra onde correr / É matar ou morrer.”
Letra e música acima da média
Se não bastasse o conteúdo lírico, estamos falando aqui de um épico com mais de 9 minutos de duração, com diversas passagens marcantes e linhas vocais de Roosevelt Bala que remetem diretamente ao Metal God Rob Halford (Judas Priest) em seus melhores dias. Tá bom pra você?
“Soldados Da Fé” irá incomodar os radicais e extremistas que pensam que o Metal, obrigatoriamente, precisa ser satânico e do mal. Um verdadeiro tapa na cara. Já em “Motorocker, A Lenda”, nós temos um Hard’n’Heavy classudo, feito sob medida para ser tocado em Motoclubes e virar um hino nesse tipo de ambiente. Qualquer amante de motocicletas se sentirá representado ao escutar os versos:
“Tá no coração, a irmandade / É pura emoção, é liberdade / Eu sou Motorocker! / Sou a lenda, pela estrada eu vou / Eu sou Motorocker! / Meu legado é coragem, honra e Rock ‘n’ Roll”.
Mundo Cão
Ainda com os pés fincados no Hard’n’Heavy, somos agraciados com a ótima “Mundo Cão”, que fala sobre valores morais, assim como o estado de desigualdade social em que vivemos. O refrão é daqueles do tipo chiclete e funciona muito bem.
“Sintonia” é a penúltima das inéditas e nos faz voltar ao Heavy Metal de forma apoteótica com o refrão mais legal do álbum. E por falar em refrão, esta letra me fez lembrar com melancolia dos tempos em que o Rock BR era quase todo composto por cabeças pensantes. Mas como vivemos outras épocas, onde as pessoas se tornaram meras repetidoras de chavões, é melhor seguir o que a própria música nos aconselha:
“Sintonize sua mente no presente, e vá em frente!”.

Perto do desfecho épico, a simples e funcional, “Anjo Perdido” encerra a sequência de composições novas de forma significativa. Destaque para o ótimo solo do guitarrista Emerson Lopes.
Bom… depois da audição de 7 excelentes músicas novas (mais do que suficiente para que “Devastação” pudesse receber uma boa nota), é aí que o Stress dá o pulo do gato. O final do disco ainda conta com mais 3 músicas (sem contar a vinheta “Bhm Sinfonia”). Mas não são músicas “normais”, são velhas conhecidas do ouvinte. Já com o jogo ganho, os caras acrescentaram ao tracklist algumas faixas que são reconhecidas por 11 em cada 10 headbangers como verdadeiros clássicos do Metal nacional. Falo de nada menos que “Heavy Metal É A Lei”, “Coração De Metal” e “Brasil Heavy Metal”.
Cara, sério que eles fizeram isso? Sim! Fizeram!
Deixo claro que a inclusão desses três hinos ao trabalho não foi nenhum tipo de apelação, mas sim uma sábia escolha, já que nenhuma das três faixas jamais havia aparecido em um álbum de estúdio do Stress antes. Ou seja, nada mais justo que colocá-las no disco de melhor produção já gravado pela banda. Dessa forma, além de atualizar as canções, ainda dar-lhes versões definitivas. E foi exatamente o que aconteceu.
Não tenho a menor dúvida que este é de longe o melhor disco da banda. O mais bem produzido, mais inspirado e mais elaborado. Pra quem não sabe, “Devastação” foi financiado pelos próprios fãs do Stress através de um crowdfunding, e menciono isto por que, certamente, todos que contribuíram devem estar bastante orgulhosos.
Roosevelt Bala, André Lopes Chamon e Emerson Lopes deram um show de competência e presentearam a todos os amantes da boa música com um disco acima de qualquer suspeita. Belém do Pará ainda continua muito bem representada!
“O sangue ferve… Adrenalina
Bate forte o coração
Sou Headbanger , é minha sina
Viver com emoçãoNo sangue, na veia, eu quero Metal
Na minha cabeça… Heavy Metal é a lei!”
Nota: 9,2
Integrantes:
- Roosevelt Bala (vocal e baixo)
- André Lopes Chamon (bateria)
- Emerson Lopes (guitarra)
Faixas:
- 1.Devastação
- 2.Fogo e Fúria
- 3.Soldados da fé
- 4.Motorocker, a lenda
- 5.Mundo Cão
- 6.Sintonia
- 7.Anjo Perdido
- 8.Heavy Metal é a lei
- 9.Coração de Metal
- 10.Brasil Heavy Metal
- 11.BHM Sinfonia
Redigido por: Fabio Reis