Após diversas décadas desde o surgimento do Heavy Metal, um grande número de bandas lançaram álbuns excepcionais, mas que permanecem até hoje como trabalhos obscuros e pouco conhecidos pelo grande público.
Do Heavy tradicional ao Metal extremo, podemos mencionar uma quantidade absurda de pérolas escondidas. Quase todas elas poderiam ter tido um desempenho muito melhor do que realmente tiveram, mas por algum motivo não chegaram lá.
Separamos dez álbuns de Metal que consideramos extremamente injustiçados, mas a ideia é trazer este quadro com mais frequência. Aos poucos, iremos apresentando muitos outros discos que consideramos excelentes, mas por acontecimentos que fogem do nosso entendimento acabaram não se tornando grandes clássicos.
Hoje, começamos esta série com as seguintes obras:
1 – Artillery – “By Inheritnce” (1990)

Vindos de um país não muito tradicional em revelar bandas de Metal, o Artillery acabou se tornando o maior representante do Thrash Metal na Dinamarca. É claro que isso não significou muita coisa em termos globais, onde o grupo jamais conseguiu ser realmente grande. Apesar de carregar o status de banda cult principalmente por fãs mais die hard, quase nunca são mencionados em listas de melhores ou mais influentes. Suas obras só são discutidas com mais afinco por pouquíssimas pessoas e apenas em rodas muito nichadas.
“By Inheritnce” é o terceiro trabalho de estúdio do Artillery, foi lançado em maio de 1990 e, sem dúvida, se apresenta como um disco irretocável. Técnico, criativo e repleto de riffs grandiosos, ele sucede os ótimos “Fear Of Tomorrow” (1985) e “Terror Squad” (1987). Os destaques ficam por conta dos solos da dupla formada por Michael Stützer e Morten Stützer, além dos vocais de Flemming Rönsdorf que dispensam comentários. Disco para ser ouvido e apreciado do início ao fim, com direito a muitos repeats.
2 – Deceased – “Fearless Undead Machines” (1997)

Falar sobre bandas novas ou grandes achados atuais é algo relativamente fácil, mas quando se trata de um nome antigo, com história, diversos discos lançados, ainda em atividade, mas que as pessoas parecem simplesmente não ter conhecimento da existência, aí o buraco é mais embaixo. Na ativa desde 1985, o Deceased começou no Death Metal, mas foi desenvolvendo um DNA próprio que fugia de todos os padrões e rótulos.
Ao invés de se aprofundar nas subdivisões mais extremas que o gênero foi ganhando ao longo do tempo, eles foram amadurecendo e os discos passaram a transcender a “podreira” do Death adicionando muitos elementos de Thrash e Heavy tradicional, principalmente, de bandas da NWOBHM. Podemos afirmar que “Fearless Undead Machines” (1997), o terceiro da discografia, foi o divisor de águas para a banda.
Aqui, King Fowley e seus comparsas investem em uma temática baseada em histórias, contos e filmes de terror. É claro que isso faz com que a audição tenha toda uma atmosfera sombria e desafiadora. Muitas músicas são verdadeiras imersões dentro de situações macabras e, dessa forma, apresentam cenários apocalípticos e narrativas repletas de violência e gore. Tudo isso com o toque da técnica refinada dos músicos, a total falta de preocupação em criar músicas de fácil assimilação e, acima de tudo, a consciência de que uma música precisa durar o tempo necessário para passar o seu recado. Se precisar de 3 minutos, será 3 minutos, se precisar de 10, que assim seja.
3 – Heavens Gate – “In Control” (1989)

O Heavens Gate é uma daquelas bandas que tinha tudo para ter sido enorme, mas por algum motivo ainda desconhecido o grupo nitidamente se perdeu no meio do caminho. Apesar de serem os dois álbuns seguintes que realmente deram algum status aos alemães, é no debut “In Control”, lançado em janeiro de 1989, que encontramos a verdadeira pepita de ouro perdida.
Aqui, o quinteto ainda não estava preocupado em agradar gravadoras ou vender muitos discos, era apenas uma banda ótima gravando músicas inspiradas e lançando um trabalho irretocável. O mercado europeu procurava pelo próximo Helloween e quando “In Control” chegou às lojas, automaticamente, o Heavens Gate se tornou um candidato. Talvez este tenha sido o grande erro, já que a sonoridade mudou drasticamente à partir de então e o que nos resta é imaginar se caso o grupo tivesse mantido esta mesma linha de som apresentada no disco de estreia, quantos trabalhos marcantes poderiam ter concebido?
Impossível não mencionar a performance e as habilidades vocais de Thomas Rettke, assim como o impressionante trabalho de guitarras da dupla Sascha Paeth e Bonny Bilski. Pode não ser muito original, mas é de um bom gosto e de uma classe arrebatadora.
4 – Motorhead – “Bastards” (1993)

Após problemas com a Epic e a WTG Records, o Motörhead decidiu assinar contrato com o selo alemão ZYX Records para o lançamento de “Bastards”. Pode parecer estranho, mas este é o principal motivo para que o álbum não tenha se transformado em um clássico. A ZYX Records lançou o álbum somente em território alemão e, além disso, investiu muito pouco na divulgação do mesmo. Podemos afirmar que na época se tornou um verdadeiro pesadelo adquirir o disco em locais afastados da Europa.
Musicalmente, o disco soa como deveria soar. É uma espécie de “volta às raízes” e apresenta aquele Motörhead sujo e veloz, do jeito que os fãs mais antigos exigiam. O álbum marca a estreia do baterista Mikkey Dee e traz composições fortíssimas. Outro ponto alto do trabalho são as letras de Lemmy, que em “Bastards” parecem estar ainda mais ácidas e mais sarcásticas. É impressionante constatar a habilidade do homem ao tecer versos articulados e notar como ele é explícito em alguns momentos estratégicos para em seguida ser contido de uma forma quase incômoda, quando o que se esperava era o oposto.
Só pelo Lado A contendo faixas como “On Your Feet Or On Your Knees”, “Burner”, “Death Or Glory”, “I Am The Sword” e “Born To Raise Hell”, esse disco já deveria ter sido muito melhor avaliado no decorrer dos anos.
5 – Necrophobic – “Darkside” (1997)

“Darkside” é o segundo álbum de estúdio do Necrophobic, uma das bandas precursoras do chamado Blackened Death Metal. Quem conhece a carreira dos suecos sabe que os caras nunca erraram e possuem uma das discografias mais proveitosas dentre os nomes do Metal extremo. O disco chegou às lojas em março de 1997, possui apenas 37 minutos de duração e, sem enrolações, passa seu recado com maestria.
Mesclando composições rápidas e agressivas com outras cadenciadas e cheias de guitarras mais melodiosas, o Necrophobic desde o início demonstrou que sabia muito bem o que estava fazendo, e é exatamente o que vemos em “Darkside”.
A performance do membro fundador David Parland (RIP) engrandece o disco e ainda temos a cereja do bolo que é a presença de Jon Nödtveidt do Dissection na faixa “Nailing The Holy One”. O Necrophobic é o tipo de banda que você pode escolher um disco a esmo e colocar pra ouvir com a certeza absoluta de ser ótimo. Este não foge a regra.
6 – Royal Hunt – “Paradox” (1997)

Para os amantes do chamado Progressive Power Metal, o Royal Hunt sempre foi boa pedida e sinônimo de música de qualidade. Agora, se você é fã deste gênero e ainda se amarra em álbuns conceituais, fique sabendo que os dinamarqueses deram aula em “Paradox”. O líder e mentor do grupo, o tecladista André Andersen, acertou a mão e compôs um trabalho primoroso e acima de qualquer suspeita.
No disco anterior, “Moving Target” (1995), com a chegada do vocalista DC Cooper, nada menos que um dos finalistas nas audições para substituir Rob Halford no Judas Priest, o ganho musical já foi notório. Mas o que Cooper conseguiu apresentar em “Paradox” superou todas as expectativas. Para sermos justos, todos os integrantes se destacam, mas Andersen e Cooper estavam realmente alguns degraus acima.
A faixa “Message To God” ganhou um videoclipe na época e chegou a ser vinculada na programação da MTV, mas foi só. O álbum fez certo sucesso em regiões específicas, gerou um álbum ao vivo, mas com o tempo – e depois da demissão de DC Cooper – o Royal Hunt foi sumindo do mapa. Para o bem de todos, desde 2011 o vocalista retornou ao posto e a banda segue lançando ótimos álbuns.
7 – Sabbat – “History Of A Time To Come” (1988)

O Sabbat é aquele típico caso de banda que estava na hora errada e, principalmente, no lugar errado. O grupo esteve na ativa de 1985 à 1991 e neste período lançou 3 álbuns de estúdio – todos eles muito bons, por sinal. O problema foi o debut “History Of A Time To Come” ter chegado às lojas apenas em 1988. E para justificar o lugar errado do início, ainda por cima o grupo estava situado na Inglaterra.
Em 1988, o Thrash Metal já tinha elegido seus heróis e dificilmente alguma banda debutante conseguiria ser alçada a uma posição de destaque, ainda mais estando fora do eixo EUA-Alemanha, a saber, os dois países que realmente solidificaram e popularizaram o gênero. Imagine “History Of A Time To Come” sendo lançado em 1985 nos EUA…
Infelizmente, não podemos mudar algumas atrocidades temporais e o Sabbat, banda do renomado produtor e guitarrista Andy Sneap, se tornou uma das muitas bandas que “poderia ter sido, mas não foi”. Uma pena, já que qualidade musical eles tinham de sobra.
8 – Sacrifice – “Soldier Of Misfortune” (1991)

Este é outro álbum que foi lançado em um período desfavorável, início dos anos 90, e em um país com tradição moderada no Metal, o Canadá. Apesar disso, é uma obra prima do Thrash Metal e traz composições inspiradíssimas.
O Sacrifice apostou na técnica, mas não esqueceu e tampouco deixou de lado a velocidade, os riffs cortantes e, principalmente, a agressividade. Lançado em 1990 no Canadá, mas chegando nas lojas dos Estados Unidos apenas em março de 1991, o grupo simplesmente perdeu o timing do lançamento.
“Soldier Of Misfortune” é o terceiro álbum da discografia do Sacrifice e sucede os excelentes “Torment In Fire” (1986) e “Forward To Termination” (1987). É o disco mais trabalhado da carreira da banda e para muitos o mais criativo. Uma grande obra que jamais recebeu a atenção que merecia, pelo menos, da maioria dos headbangers. O quarteto encerrou atividades depois do registro seguinte, mas felizmente retornou, inclusive, tendo apresentado um ótimo disco em 2025. “Volume Six” já tem resenha no site do Mundo Metal e para ler basta clicar AQUI.
9 – Savage Grace – “After The Fall From Grace” (1986)

O Savage Grace é uma das bandas com a história mais maluca de todo o Metal. Seu líder e mentor é um daqueles caras insanos que apesar da genialidade musical, não consegue ficar muito tempo sem se meter em uma boa confusão. Se você não acredita, saiba que Chris Logue se envolveu em uma série de escândalos e frequentou as páginas policiais dos jornais. Foi processado por diversos crimes diferentes, entre eles o de falsidade ideológica, exercício ilegal da medicina e porte de armas.
Em 2009, o músico reformou o grupo e tocou em alguns festivais europeus, lançou um EP denominado de “The Lost Grace” e em meio as composições de um possível novo disco, simplesmente desapareceu. Pois é, o cara “saiu para comprar cigarros e nunca mais apareceu no estúdio”. Este fato causou a revolta dos músicos envolvidos com o projeto, que acabaram convidando o vocalista Alexx Stahl para integrar o grupo e substituir Logue. A partir de então, passaram a se chamar Masters Of Disguise e levaram embora até mesmo o mascote da banda, o policial Knutson.
Aliás, este é um dos pontos que fizeram o Savage Grace não conseguir obter muito sucesso. O mascote Knutson aparecia nas capas dos álbuns em situações, digamos, impróprias, dando a entender que era um policial abusador de mulheres. Polêmicas à parte, “After The Fall From Grace” é um disco de Speed/Heavy Metal exemplar, onde todas as faixas são realmente excepcionais.
10 – Shadow Galley – “Tyranny” (1998)

Aqui vamos trazer um trabalho que inexplicavelmente não vingou, mesmo tendo todos os requisitos para ter feito muito sucesso. Era o auge do Prog Metal, o Shadow Gallery era uma banda extremamente promissora e gravou um disco de qualidade inquestionável. Com produção impecável, performances individuais brilhantes, boa técnica, músicas marcantes e, ainda por cima, convidados especiais de peso, “Tyranny” chegou às lojas em setembro de 1998.
Naquele período, o álbum até foi bem falado e recebeu boas avaliações da mídia especializada, mas o Shadow Gallery não progrediu e, assim como nomes do porte de Vanden Plas, não chegou nem perto do mainstream. Nem as presenças ilustres de James LaBrie (Dream Theater) e DC Cooper (Royal Hunt) foram capazes de alavancar as vendas do disco e o grupo permaneceu na obscuridade.
Importante ressaltar que o álbum não tem defeitos, é um Prog Metal de primeira linha, servindo até como inspiração para muitos grupos que apareceram depois. Os registros anteriores e posteriores também são todos excelentes e, neste caso, realmente, é um mistério o Shadow Gallery não ter chegado a posições melhores na cena Metal.
Ótima matéria, parabéns bandas que eu não conheço e realmente ótimos discos.
Thundersteel do Riot entraria fácil nessa lista, sem desmerecer os álbuns supra mencionados.\,,/
Low, do Testament; Pleasure to Burn, do Systematic e Love for the Metal, do Dee Snider.
Otima materia,infelizmente o sol não brilha para todo mundo e muita coisa fica na obscuridade seja por timing errado ou azar de nao ser muito divulgado ,principalmente a decada de 80 e grande cemeterio de boas bandas que so lançaram um unico album exemplo disso e Hawk – Hawk (1986) um glam/heavy metal de primeira ,uma banda de thrash merecia mais destaque e o Demolition Hammer com os classicos Tortured Existence (1990) e Epidemic of Violence (1992).
Ótima resenha, alguns dos álbuns listados tive a oportunidade de ter-los e por sinal eram muito bons, pena que foram subestimados. Grande abraço a todis