Que o Possessed é tido como o padrinho do Death Metal, todos os adeptos do estilo sabem, mesmo que nem todos pensem da mesma forma. Porém, nem todos sabem que muito disso é graças à sua principal demo intitulada “Death Metal”, lançada em 1984. E após mais uma demo em 1985 com o singelo nome “Demo 1985” é que tudo isso ganhou força. “Seven Churches” é o debut dos possuídos por tudo o que é mais magnífico e profano. O disco foi lançado no dia 16 de outubro de 1985 via Combat Records, sendo composto por 10 hinos históricos que nunca envelhecerão, devido à sua alta qualidade e força. Formado pelo guitarrista Mike Torrao e pelo baterista Mike Sus, tendo logo a presença de Jeff Becerra e Brian Montana. Dessa forma, era dada a largada para o surgimento do que entendemos por Death Metal.
Minha história com “Seven Churches”
Quando conheci o Possessed, a primeira “múzga” que ouvi dos cabras foi exatamente a faixa “Death Metal”, a qual fecha o lado B da bolacha. Muitos “especialistas” de revistas costumavam colocar o som do Possessed numa caixa chamada proto Death Metal. Eu logo ao ouvir tal faixa já a colocava como uma música do Metal da Morte. E eu mesmo sem entender tanto do assunto já associei ao estilo que já apreciava e vi que acertei tempos mais tarde.
Assim como Deicide, Obituary, Incantation e Immolation, o Possessed logo fez parte da minha pequena lista de bandas extremas que eu passei a curtir desde a primeira audição. Tudo isso me fez lembrar um amigo de um amigo meu. Não é aquele tipo de piada em que a pessoa para não se constranger acaba dizendo que é a história ou caso de um amigo de um amigo dela. Nessa história aqui a coisa é real, ou pelo menos parte dela.
Esse tal amigo tinha certa fama vampiresca além de ter o nome / apelido de “Nebulai”. Isso mesmo! Esse Nebulai era conhecido por usar uma peita do Possessed na qual o mesmo fazia, digamos, um “ritual”, virando os olhos e criando presas meio que sendo “possuído”. Não lembro por completo da história que esse meu amigo me contou, mas essa parte eu guardei bem. Se o amigo desse meu amigo tinha esse “dom”, eu nunca soube ao certo, mas o meu amigo foi quem me apresentou bandas como Crossfire e Acid. Ou seja, me ajudou a aprimorar meu leque musical dentro do Metal. Seu apelido era Reinaldinho e se foi há alguns anos. Deve estar contando essa história lá no outro mundo. E quanto ao Possessed, eu logo comprei o debut já sabendo que era uma obra prima desta vertente excepcional.
Agora chega de história e vamos ao disco!
Aposto que você quer logo voltar a viajar nesse super papiro musical, enquanto lê as minhas viagens de acordo com cada faixa desta pepita de ouro, estou certo? Sem me convencer sei que sim! Então, bora destrinchar este glorioso trabalho! “Seven Churches” foi produzido por Randy Burns e Barry Kobrin. O design do logo clássico foi idealizado por Vince Stevenson, e Donald J. Munz ficou a cargo do design do álbum.
“The Exorcist”, a abertura ideal para um clássico de Death Metal
Embora não possua uma letra tão aprimorada assim, “The Exorcist” é a faixa certa para abrir os portões do inferno por aqui. A passagem é tão macabra e horrenda que podemos notar muito bem como conquistou fãs mundo afora. Uma intro sinistra que eu chamo de “falsa adocicada” por esconder por algum instante o que está por vir.
“Possuído pelo inferno do mal / A ira de Satanás matará / Ele vai levar sua alma / Lançando você para o inferno” –
Primeiros versos inaugurando uma vertente que ganharia força com o passar dos anos. Destaque para a bateria de Sus que esmaga as mentes mais sensíveis a tal sonoridade sem deixar rastro e também os riffs de guitarra que se tornaram clássicos para seus adeptos. A segunda faixa atende pelo nome de “Pentagram” e começa de uma força mais “tranquila” isso se retirarmos a intro da faixa anterior. Torrao e Larry despejam ódio em seus riffs apoiados pelas marcações precisas do baixo de Becerra.
“Há uma cidade sagrada não muito longe daqui / Onde a Terra está nua e o céu está preto / Almas atormentadas são atingidas pelo medo / E todos os pecadores sabem que não há caminho de volta” –
As estrofes ganham força e os breves solos enriquecem o profano:
“Voe para o Pentagrama / Há muita coisa que você vai querer ver / Sacrifique o carneiro que chora / E beba o sangue comigo”.
Será que eles comeram sarapatel ao bolarem essa canção?
Em seguida, temos “Burning in Hell” queimando tudo no inferno. Pleonasmos à parte, podemos dizer que o clima é realmente propício ao que entregam nesta faixa.
“Rondando a noite / Como um pesadelo / Perseguindo sua presa / Ouça os gritos das vítimas” –
Em meio à evolução dos versos a sonoridade vai tomando forma com o passar dos segundos e a cada nota. Os solos são uma elegância maligna à parte. “Evil Warrior” perde um pouquinho da chama negra, mas não apaga a tocha em nenhum instante.
“Enquanto você espera pelo seu destino / Sua garganta está cheia de dor / E quando você tenta gritar / Você sabe que é tudo em vão / Nada que você possa mudar / O destino está completo / O silêncio parece tão estranho / E você começa a sentir o calor” –
As setes igrejas do apocalipse
O fim está próximo e não há nada a se fazer. Larry sola como um gárgula endiabrado, indicando que o destino está selado. O quinto hino que faz a ponte de equilíbrio na metade do disco é a auto-intitulada “Seven Churches” com aquele início agressivo que eu e muita gente gostamos! A pancadaria não alivia em nenhum momento com riffs que parecem estar ligados a uma montanha russa que faz todo tipo de manobra sem perder a velocidade.
“Prove o sangue dos mortos / Como o céu fica vermelho / Podridão no céu, podridão no inferno / Alcance a terra da qual ele caiu.”
Os solos continuam a preencher as lacunas certas deste firme alicerce em que o estilo vai se moldando e ficando mais evidente.
“
Seis é um ótimo número para ampliar o poderio blasfemador e nada como “Satan’s Curse” para dar continuidade a toda essa maldade musical excelente. E a turma de San Francisco, California (ou “Calivônia”, como diria o glorioso Arnold Schwarzenegger) não alivia e continua desafiando a si própria, nos brindando com mais um clássico absoluto do Death Metal mundial.
“Você vai morrer não há tempo para fugir do inferno / Você mentiu, a bruxa lançou seu feitiço / Seus pecados serão pagos e sacrificados / Este é o preço – a maldição de Satanás” –
Inferno Sagrado
O preço é caro e com os mais altos juros, parecendo um pouco com o que acontece no Brasil mesmo. “Holy Hell” pode até lembrar a clássica canção “Holy Diver” do mestre Dio (ou de sua banda, já que o mesmo nunca assumiu carreira solo dizendo que Dio era uma banda, a banda de Dio), mas as recordações param por aí. Após uma intro cortante e chamativa o início da canção traz uma pegada mais Speed Metal sem desalinhar a estrutura que estava sendo criada à época.
“Filho de Satanás, ele nasceu / E até a morte ele jurou / Dias de ódio e dias de dor / Prazo sem fim do reinado de Satanás” –
O filho de “mal maior” nasceu e está pronto para castigar a todos que forem contra seu pai. “Twisted Minds” é a oitava canção de Torrao e Cia. Ltda. mantendo o nível da faixa anterior. Riffs e mais riffs pra quem gosta de boas bases que se encaixam fielmente à canção, e também mantendo as boas ideias quanto aos solos certeiros.
“Drenando sua alma, sem sangue / Aguardando a sentença final / Entendendo seu último pedaço de mente / Entre na loucura, nossa espécie”
As sedes de sangue e de vingança não cessam em nenhum instante
A nova válvula de escape “from hell” é a grandiosa “Fallen Angel”. O que dizer de um hino como esse? Só podia ter um início apoiado por sinos das sete igrejas do inferno.
“Anjo enganador cheio de ódio / Os exilados se rebelarão / Abaixo da crosta, o reino sombrio / Também conhecido como Inferno” –
Deus enganou a todos causando uma enorme guerra entre mundos e você está no meio desse desentendimento todo. Foi a segunda “múzga” que conheci do “PosseCidão” da massa e isso pode parecer com que eu tenha conhecido o disco ao contrário de cabeça para baixo, mas não foi bem assim. As outras faixas eu conheci ao ouvir o álbum na sequência, o que desmente essa possível ordem ao contrário das canções conhecidas por mim.
“Death Metal”, dando início ao Death Metal
A Bíblia que contribuiu para os primeiros passos deste sagrado estilo é a própria “Death Metal”. Simplesmente a minha faixa favorita do disco como destaquei no início dessa jornada. Enfim, o Death Metal foi criado. Não posso dizer que tenha sido apenas o Possessed, pois eu divido essa glória deles com o Death do nosso querido e saudoso Charles Michael Schuldiner, que conhecemos por Chuck Schuldiner, e com o Vader do incrível polonês Piotr Pawel Wiwczarek, mais conhecido como “Peter”. Embora o Vader não tenha lançado um full-length antes de entrar na década de 90.
“Vamos romper a crosta / Sair de nossas criptas / Protegido pela vida eterna / Estabeleça as leis / De nossos scripts satânicos / Trazendo-lhe nada além de conflitos” –
Os scripts conduzem os cenários para uma piora colossal no mundo espiritual, atingindo até mesmo a nós terráqueos de carne e osso, praticamente sem alma depositadas na conta de Satanás, o grande.
Enfim, chegamos ao final de uma grande viagem pelas trevas sombrias e malevolentes, entendendo o funcionamento de cada engrenagem dessa máquina chamada Possessed. Com toda certeza, quem vivenciou todo esse clima lá na época do lançamento desse disco se orgulha até hoje por estar presente naquele momento. Eu não pude, mas quando a música é realmente boa, pode-se viajar tranquilo sem sair do lugar e se sentir presente no dia 16 de outubro de 1985. E a felicidade só aumentou quando anunciado o retorno da banda, apesar de não ser a mesma formação habitual e conhecida. Somado ao lançamento do sonhado terceiro álbum que finalmente fechou a primeira trinca de Becerra e sua trupe, na qual tive a honra de resenhar. Finalizando, digo a quem não ouviu que procure agora mesmo pelo “Revelations Of Oblivion”. Simplesmente um dos melhores álbuns do estilo de 2019.
“Watch the gods take revenge
Rot in hell for your sins
Sacrifice, to the sky
Terror strikes, you will die”
Nota: 9,3
Formação:
- Jeffrey Benjamin “Jeff” Becerra (vocal e baixo)
- Mike Torrao (guitarra)
- Reed Lawrence “Larry” LaLonde (guitarra)
- Mike Sus (bateria)
Faixas:
- 1.The Exorcist
- 2.Pentagram
- 3.Burning in Hell
- 4.Evil Warriors
- 5.Seven Churches
- 6.Satan’s Curse
- 7.Holy Hell
- 8.Twisted Minds
- 9.Fallen Angel
- 10.Death Metal
Redigido por: Stephan Giuliano