A espera foi grande. E mesmo sem lançar nenhum álbum de estúdio durante muitos anos, o Possessed angariou muitos adeptos com seu repertório inicial. Embora Jeff Becerra não lançasse nada novo junto ao Possessed até então, a banda não teve um fim definitivo continuando a fazer shows esporádicos. Mediante a isso notícias sobre um possível novo full length surgiam trazendo esperança aos fãs mais antigos e também para os mais recentes que veneram o que fora apresentado nos discos “Seven Churches” (1985) e “Beyond The Gates” (1986), e também o EP “The Eyes Of Horror” (1987). Até os dias de hoje o “Possessão da massa” segue ampliando a legião de admiradores de Jeff e seu legado frente ao Possessed. “Revelations Of Oblivion” foi lançado dia 10 de maio via Nuclear Blast Records e fecha a primeira trinca de ases (será?) da banda de San Francisco, California. A arte da capa ficou a cargo de Zbyszek Bielak (Deicide, Vader, Watain, Ghost, Absu, entre outros). Foi produzido por Daniel Gonzalez e Jeff Becerra, mixado e masterizado por Peter Tåtgren (Hypocrisy, Bloodbath, Celtic Frost e Amon Amarth) no Abyss Studios na Suécia.

Todos sabem do ocorrido com o Jeff e que isso acarretou em uma vivência sob cadeira de rodas. Porém, como aqui estou a avaliar mais um disco novo, não quero expor algo que todos já estão cansados de saber e aqui o lance é comunicar-vos sobre as novidades do Metal ao redor do mundo. E falando sobre esta lenda americana, a mesma sofreu várias alterações e hoje conta com um novo time além do já destacado e único remanescente da formação clássica. São eles: Daniel Gonzalez (Create A Kill, Gruesome, ex-Nailshitter, ex-Occisas, ex-Exhumed (live), ex-Maruta (live), ex-Master (live)) na guitarra, Claudeous Creamer (From Hell, Mucus Membrane, ex-Girth, ex-Serpent & Seraph, ex-Dragonlord, ex-Niviane, ex-The Council) também guitarra, no baixo Robert Cardenas (Coffin Texts, Masters Of Metal, Engrave, ex-Entety, ex-Malice, ex-Agent Steel, ex-Saprophagous, ex-Diabolic (live)), o dono dos bumbos, pratos e tons Emilio Marquez (Asesino, Coffin Texts, Engrave, ex-Brainstorm, ex-Sadistic Intent, ex-Nokturnal Fear), e o nobre e agora somente vocalista Jeff Becerra (ex-Side Effect, ex-Blizzard, ex-Misery, ex-Sub-Zero) que traz aquele vocal característico que não sofreu danos com o passar dos anos. Agora vamos ao que realmente interessa!
Sinos badalam ao longe e uma introdução de suspense é iniciada abrindo as cortinas da decadência corpórea sobrenatural. O percurso obedece àquilo que fora interrompido outrora trazendo aquela “poeira sagrada” de uma época rica cheia de discos excepcionais. “Chant Of Oblivion” traz toda a atmosfera de quem espera por aquele Death Metal old school bastante revigorado e destruidor. Os primeiros riffs de “No More Room In Hell” mostram que ninguém está para brincadeira. Detalhe para o timbre e distorção dos instrumentos que remetem a uma continuação do percurso como se não houvesse tanta distância entre os últimos trabalhos. “Quando as igrejas queimam ao pó / E os demônios se levantam para matar / Quando as palavras se transformam em ferrugem / Então o inferno na Terra é real” – um aperitivo para uma letra “demonicamente” excelente. Não demora muito para que “Dominion” avance numa toada rumo ao décimo oitavo portão do inferno. “Reza para o seu deus lá em cima / Curve-se ao seu pecado abaixo / Todos os reinos e os tronos / Todos esses presentes, seus para possuir” – faixa que recheada de versos com solos viscerais executados por Gonzalez e Creamer.

“Damned” é a quarta canção da morte que através de riffs insanos modernos e clássicos ao mesmo tempo trazem indagações sobre nossa estadia na Terra: “Por que nós sofremos? / Por que vivemos? / Se não fosse pelos nossos tormentos / Não temos nada para dar”. Os solos dão um toque ainda mais especial e macabro à obra acompanhada por marretadas constantes de Marquez. “Demon” traz consigo quase que uma reza satânica para abrilhantar de forma sombria e obtusa a leitura deste pergaminho. “Louvado seja o demônio que habita em minha alma / Salve o mal, liberando dor e fogo / Reine supremo e sua sabedoria para contemplar / A catedral de Satanás, seu templo do desejo.” Em “Abandoned” cavalaria desenfreada toma de assalto o certame e traz consigo em um dos seus riffs uma lembrança de outra canção, a magistral Ageless Venomous do Krisiun, do álbum “Ageless Venomous” (2001). “Sangue e crucificação / E neste inferno sagrado eu estou sozinho” – final de um dos versos que retrata bem o significado de abandonado.
A sétima faixa é bem conhecida, pois fez parte do EP de mesmo nome lançado dia 30 de abril desse ano e também ganhou um live video oficial. “Shadowcult” veio para fixar seu nome na história dos clássicos do Metal extremo mundial. Solos e riffs insanos capazes de fazer sua mente percorrer anos-luz sem sair do lugar. “Meus pensamentos retidos, um inferno irracional / Minhas palavras se tornam uma concha vazia / Meu mundo controlado, enquanto eu observo / O aperto do mestre, possui minha alma” – pós-refrão do culto das sombras. “Omen” dá as caras e segue com o catastrofismo espiritual da morte certa. O riff inicial somado a um teclado que emula as badaladas de sinos demoníacos entregam mais uma obra malevolentemente qualificada. “Meu inferno é real / A estrela da manhã / Minha marca está selada / Triplo seis em cicatrizes” – marcada estarão os tímpanos de quem não sobrevive a essa insanidade sonora que possui solos alucinantes. Em “Ritual” o pesadelo continua no bom sentido, claro! “Este lugar de desolação / E encantamentos / O pesadelo nunca acaba / No nosso mundo imortal do pecado / A chama imortal que queima / O verme que tudo consome / E desta era de ouro do inferno / Eu conjurei meu feitiço imortal”.

“The Word” é a décima canção da horda mortífera chamada Possessed. Esta possui uma breve abertura macabra que descamba para um Death/Thrash repleto de feeling e maldade no coração de pedra. Destaque para a parede sonora formada por Cardenas e Marquez. “Sabedoria que é paga no sangue / Os segredos da humanidade / Através do sacrifício e destino / Mas ainda somos deixados para trás” – parte do refrão que mostra o esquecimento do mundo perante a realidade doentia e perversa. Agora estamos na faixa “Graven” que recebeu um videoclipe muito bem produzido e que tornou a música ainda mais vibrante e ardilosa sob o comando do “padre” Becerra. “Lucidez, tranquilidade / Minha luxúria é forjada de séculos / Minhas guerras evoluem, meus escravos desafiam / E imploram pela vida até que eles morrem”. O pergaminho da morte se encerra da mesma maneira que começou com a também instrumental “Temple Of Samael”. Um violão dedilhado em meio ao anoitecer trazendo consigo o suspense junto à sonoridade de fundo com ruídos ao longe até que o silêncio toma conta de tudo.
Muitas bandas sofreram e sofrem com mudanças seja a troca de integrantes, de gravadora, motivos pessoais de cada componente, e por aí vai. Mas, o fato é que dentre tantos obstáculos a ideia da retomada dos trabalhos junto ao clássico Possessed sempre estiveram em pauta. Bastava o terceiro disco ser lançado para que o sonho se tornasse real. Agora o próximo passo é seguir rumo ao segundo disco após essa volta histórica. Longa vida ao Jeff e seus novos companheiros desse novo Possessed revigorado e mais vivo do que nunca. E se havia alguma dúvida no início do texto agora posso dizer que o Possessed fechou sua trinca de ases com louvor infernal atropelando todas as aparições santificadas com seu tanque de guerra musical!
“Seis, seis, seis na cabeça e no pulso”.
Nota: 9,0
Integrantes:
- Jeff Becerra (vocal)
- Daniel Gonzalez (guitarra)
- Robert Cardenas (baixo)
- Claudeous Creamer (guitarra)
- Emilio Marquez (bateria)
Faixas:
1. Chant Of Oblivion (instrumental)
2. No More Room In Hell
3. Dominion
4. Damned
5. Demon
6. Abandoned
7. Shadowcult
8. Omen
9. Ritual
10. The Word
11. Graven
12. Temple Of Samael (instrumental)
Redigido por Stephan Giuliano