A década de 80 se destacou por alguns dos maiores lançamentos de todos os tempos, não somente no mundo do Heavy Metal mas da música em geral. Artistas como Michael Jackson, Madonna e Queen tiveram seus ápices nessa época.
Foi nesse período, também, que o mundo conheceu inúmeras bandas mais viscerais. Nos Estados Unidos, o cenário de Thrash Metal na Bay Area (São Francisco) nos mostrou jovens cheios de ódio em bandas como Slayer, Death Angel, Metallica, Testament, etc. Mas dentre todas as bandas da cena, havia uma em específico que era conhecida por seus shows completamente insanos do começo ao fim: o Exodus.
Depois do “Bonded By Blood”
O quinteto lançou seu primeiro trabalho em 1985, o clássico “Bonded By Blood”. O sucesso do álbum foi imediato e ele é citado até os dias de hoje como um dos maiores álbuns de Thrash de todos os tempos. Absorvendo esse contexto, vamos pular dois anos e ir para 1987. O Exodus tinha pela frente a difícil tarefa de lançar um segundo registro, dando sequência ao bem sucedido “Bonded By Blood”. O novo registro foi batizado de “Pleasures Of The Flesh”, e trazia como principal diferença a mudança do vocalista Paul Baloff para Steve ‘Zetro’ Souza. A arte original da capa mostrava uma tribo de canibais preparando um ”jantar”, mas a arte foi censurada em diversos países do mundo, sendo assim a banda optou por uma capa alternativa que virou oficial, que mostrava os cinco integrantes sobre um balcão de bar.
Assim que damos play no álbum, a primeira coisa que ouvimos é a voz de um homem sussurrando algumas palavras. A grande maioria não sabe, mas o homem em questão é de um morador de rua chamado Tom Skid. Ele vivia nas redondezas do estúdio onde o Exodus iria gravar o álbum, e a banda decidiu oferecer-lhe uma garrafa de vinho em troca de algumas palavras. Após ele terminar, um riff matador de guitarra começa rápido e direto, executado em espécie de dueto entre Gary Holt e Rick Hunolt. ”Deranged” é uma música curta e extremamente violenta, como o Exodus estava habituado a fazer.
Thrash Metal 100% puro
Logo depois, temos a canção ”Till Death Do Us Part”, que é um pouco mais lenta e cadenciada mas sem perder a essência suja e brutal que o som da banda apresentava. A terceira faixa do álbum é “Parasite” e mantém o ouvinte ligado em cada nota executada, em cada palavra dita e cada batida de bateria. Ainda com um ritmo acelerado, ela traz ótimos riffs da dupla Holt/Hunolt. Até hoje me pergunto a causa desse som não estar na mente dos fãs e pela própria banda do jeito que deveria.
Em seguida, vem um dos grandes momentos do disco com a faixa que mais ganhou destaque junto à canção título, falamos de “Brain Dead”. Assim como em ”Till Death Do Us Part”, “Brain Dead” traz um andamento mais cadenciado, além de um refrão bem pegajoso (no bom sentido, é claro). Para fechar o lado A, a música escolhida foi “Faster Than You’ll Ever Live To Be”. A composição trata de uma briga de gangues, mais especificamente entre punks e metalheads, algo muito comum na década de 80.
Lado B
Partindo para o lado B, a primeira música é a faixa título. Como previamente mencionado, essa música foi um dos grandes sucessos do disco e foi executada em diversas turnês até os dias de hoje, tendo chegado inclusive a ser cantada pelo falecido vocalista Paul Baloff quando o mesmo retornou para a banda, na segunda metade da década de 90. “Pleasures Of The Flesh” começa com uma espécie de ”batuque”; um som tribal que, somado à sons de animais, nos faz imaginar de imediato um cenário de florestas e povos que nelas vivem.
Não é à toa, uma vez que a capa (original) mostrava exatamente uma tribo canibal.. A música é a mais longa do álbum e traz riffs tecnicamente mais complexos e elaborados do que nas demais faixas. Ao final dela, temos um breve momento instrumental acústico composto pelo guitarrista Gary Holt e batizado de ”30 Seconds” (apesar do título, a faixa dura pouco mais de 40 segundos). Numa primeira audição, é possível lembrar da introdução de ”No Love”, do álbum anterior.
A pancadaria não cessa
“Seeds Of Hate”, a canção que temos a seguir, mantém o que todo ouvinte de Exodus espera ouvir de uma canção ”típica” da banda: levadas rápidas de bateria somadas à riffs e solos alucinantes, com uma boa base de baixo para acompanhar. O grande diferencial dessa música em relação às demais é o vocal de Steve ‘Zetro’ Souza, pois nessa faixa ele executa notas mais altas e as mantém por um período maior de tempo ao longo de toda a sua execução. Com certeza foi um dos grandes momentos do vocalista na gravação do álbum. É impossível ser fã de Thrash Metal e não gostar de uma música como “Seeds Of Hate”, tenha certeza disso.
A penúltima faixa é “Chemi Kill”. Com um efeito crescente, ela se inicia com uma levada de bateria junto de um dedilhado de guitarra, mas dentro de alguns segundos os dedilhados são substituídos por riffs cortantes. “Chemi Kill” aborda um tema até então inédito dentro dos trabalhos do Exodus: a política. A letra faz críticas à classe política de forma generalizada, evidenciando o quanto os políticos montam nas costas do povo para manterem suas vidas de rei. Mais de 30 anos se passaram a a história continua a mesma, não é?
Fechando “Pleasures of the Flesh”
Para fechar o álbum, temos a música “Choose Your Weapon”. Com certeza, é uma das faixas mais rápidas de todo o disco e, assim como em outras, é cheia de backing vocals (performance da dupla de guitarristas). Vale destacar o trabalho impecável do baterista Tom Hunting nessa faixa, pois as suas linhas de bateria aqui não são absurdamente complexas, mas são muito precisas e diretas.
Pleasures Of The Flesh trouxe dez músicas em seu repertório (uma a mais que seu antecessor) e marcou em grande estilo a estreia do vocalista Steve Zetro Souza. Dentre os inúmeros álbuns maravilhosos que o mundo conheceu nos anos 80, com certeza o segundo trabalho do Exodus merece um belo lugar de destaque.
Integrantes:
- Steve ‘Zetro’ Souza (vocal)
- Gary Holt (guitarra)
- Rick Hunolt (guitarra)
- Rob McKillop (baixo)
- Tom Hunting (bateria)
Faixas:
- Deranged
- ‘Til Death Do Us Part
- Parasite
- Brain Dead
- Faster than You’ll Ever Live to Be
- Pleasures of the Flesh
- 30 Seconds
- Seeds of Hate
- Chemi-Kill
- Choose Your Weapon