“Follow The Blind” é o segundo full lenght da banda alemã de Power Metal, Blind Guardian.
Se hoje os alemães do grande Blind Guardian são famosos pelo Power Metal que eles praticam, no início da jornada a banda se inspirava nas pontiagudas lâminas do Speed Metal.
Claro que após as mudanças com o passar dos anos, eles acabaram ofuscando um pouco esse lado mais calcado no apelidado Rock veloz por uma boa parcela do público.
Nessa época o Heavy Metal passava por diversas experimentações com as bandas cada vez mais competitivas ao buscar o mais genuíno Metal para agradar seus respectivos fãs e angariar mais adeptos ao seu favor.
Após o incrível debut, “Battalions Of Fear”, este que é conhecido e renomado até por quem não partilha de sua sonoridade, era notório que o Blind Guardian precisaria dar sequência à sua viagem sonora para se firmar tanto no cenário local, como ir à busca da projeção internacional.
Avaliação
Após verem o Testament ao vivo no Dynamo Fest de 1987, juntamente com a pressão da gravadora para entrarem o quanto antes no estúdio antes mesmo de terminarem o processo de composição, a banda passou a considerar este o seu álbum mais fraco, devido à atribuição na mudança para a composição de um material “mais pesado”.
Não é bem assim que os fãs da banda e do Heavy Metal em geral pensam.
Afinal, “Follow The Blind” constantemente é mencionado de forma positiva pelos mais diversos artistas da boa “múzga” e também é figura carimbada em diversas coleções de LPs e CDs.
Lançamento
“Follow The Blind” foi lançado no dia 14 de abril de 1989 via No Remorse Records, o qual foi gravado e mixado no Karo Studios em Munster, Alemanha (então Alemanha ocidental), entre janeiro e fevereiro do mesmo ano.
A versão original gravada em vinil apresentava apenas nove faixas, com uma inversão de posição entre as faixas “Barbara Ann” e “Valhalla”.
No vinil inclui uma inserção de colagem de fotos e letras completas que foram reproduzidas na primeira edição em CD, ou seja, bastante prejudicial para quem optou pela bolacha menor nesse quesito.
“Valhalla”, a excluída
Por não gostarem da música “Valhalla”, que foi a última música composta para o álbum, o Blind Guardian não quis incluí-la no set list do disco, mas tiveram que optar para compensar o tempo de execução do álbum; muito parecido com o mega single “Paranoid” do Black Sabbath (do álbum homônimo de 1970) em que foi escrita no final da sessão de estúdio.
Explorando os caminhos de “Follow The Blind”, os ouvintes poderão encontrar referências ao escritor de fantasia e ficção Michael Moorcock (“Dammed For All Time” e “Fast To Madness” são canções baseadas em personagens da série Eternal Champion, tendo como protagonista o emblemático Elric Of Melnibone) e também da parceria entre Stephen King e Peter Straub (a faixa-título “Follow The Blind” é inspirada na obra The Talisman).
“Inquisition”
Nesse instante os bardos se posicionam para executar os seus cânticos e passar a vossa mensagem aos quatro cantos do planeta.
O início da jornada é apresentado por “Inquisition”, que possui um canto gregoriano e representa uma breve e grata amostra do filme Monty Python And The Holy Grail com os instrumentos musicais sendo afiados para o que vem a seguir.
“Banish From Sanctuary”
Em seguida temos “Banish From Sanctuary” que inicia de forma bastante veloz, demonstrando toda a aura Speed Metal que a banda possuía até então.
Vocais limpos e raivosos que lembram os compatriotas do Tyrant, guitarras ásperas e melódicas no ponto certo sem deixar o chá derramar.
Além disso, uma cozinha coesa e bastante entendida sobre o que fora proposto nesse modelo musical inicial.
“Não, não tem volta / Eu sou banido do santuário / A escuridão em mim / Está me enchendo de dor / Não há como voltar para a eternidade”
A dupla André e Marcus
A dúvida sobre estar recebendo ajuda ou sendo empurrado de vez para o abismo paira no ar de quem se sente banido do lugar a qual veio, a qual pertencia, ou pertence. Os solos são divididos entre os magistrais guitarristas André e Marcus que mostram de fato a que vieram.
“Damned For All Time”
Se o adepto mais distraído achava que o início era bem veloz e pesado é por que ainda não conhecia a faixa seguinte batizada de “Damned For All Time”, canção bem mais veloz, mais ríspida e com um pouco daquela sujeira boa característica de sons mais cortantes, o que agrada bastante quem redige este pequenino texto neste exato momento.
“Eu era Elric – eu serei Corum / Eu sou o príncipe do gelo sul / Agora, eu não sou nada / Espere por alguém / Espere por Ilian / Não! Eu sou Hawkmoon”
“Follow The Blind”
Composição inspirada nas obras citadas acima do renomado escritor Michael Moorcock. “Follow The Blind” chega após uma chuva de riffs, solos e climas repletos de sede de aventura por entre as Eras e traz consigo o apoio dos mestres Stephen King e Peter Straub como apoios inspirativos e criativos para a conclusão desta canção.
Com uma abordagem mais carregada erguida pelos densos sons de teclado… Oh! Violões apareceram em cena! Mas não pense que se tornou um acústico não!
Aqui temos uma canção mais voltada ao Heavy Metal tradicional e com pitadas de Thrash. Motivos dos quais acompanhamos juntos aqui.
Apesar de um pouquinho de mudança a veia Speed segue intacta, o que deixa o disco ainda mais proveitoso para se conferir.
Solos impecáveis são a cereja do bolo deste, que para muitos é um dos melhores álbuns de todo o Metal, isso somados ao que viria adiante para somar à discografia do glorioso Blind Guardian.
“Procurando pelo talismã, você o encontrará / Em outro avião longe de todos os tempos / Talvez você se pergunte enquanto vê / Os mesmos rostos / Em toda parte / Você pode se encontrar nele / Porque você é uma parte”
The Talisman
Com base na obra The Talisman, considero o álbum em si o talismã dos germânicos da cidade independente de Krefeld, localizada na região administrativa de Düsseldorf, estado de Renânia do Norte-Vestfália. North Rhine-Westphalia (Nordrhein-Westfalen no original) para os mais íntimos e, aproveitando a ocasião, uma curiosidade é que a cidade era conhecida como Gelduba no período romano.
“Hall Of The King”
“Hall Of The King” é potencializa ao ter a certeira participação de Kai Hansen na guitarra.
A sonoridade ainda pende um pouquinho para o que a banda viu no Testament, mas creio que se os caras tentassem emular de fato o som dos norte-americanos não se sairiam tão bem assim.
É outra maneira de tocar, outra vertente que se consolidava e de fato não era e não foi algo a se aproveitar de maior forma por eles.
O caminho que seguiriam daqui em diante seria muito melhor pavimentado que imitar uma banda de outra vertente.
Speed Metal
Tanto que em seus dois primeiros discos em que o Speed Metal predomina, já existam nuances do que viria mais adiante e esse sim era o caminho certo para a banda que se tornou cada vez mais relevante e mais forte ao longo do tempo.
A quinta faixa apresenta todo o arsenal contido nas outras canções e inclui influências extras já colocadas em destaque.
Sem perder a velocidade característica da obra, os guitarristas esbanjam técnica, feeling e muita qualidade durante cada solo e cada linha sonora percorrida.
Thomas Stauch esbanja precisão e técnica em seu super kit desde as primeiras notas.
“Você é o nascimento e você é o fim / Você foi ferido, mas você não está morto / Descobrir você é o que nunca deveria ser / Envenenadas estão nossas almas / E escurecer nossos corações / Ruínas que deixamos para governar o mundo / Destrutivas são nossas mentes / É muito tarde” –
“Fast To Madness”
Você é tudo e nada ao mesmo tempo. Faça valer a sua estadia neste plano astral. Já no outro lado da moeda temos “Fast To Madness”, que vem a ser a sexta etapa do processo em conjugação com a arte musical.
Solos velozes repletos de efeitos regados a acordes muito bem executados e toda estrutura extraída do estilo para mais uma completa engrenagem desse comboio de cordas e percussão.
“Cabelos brancos e olhos vermelhos / Ele está segurando a coroa / O rei da ilha / Elric de Melniboné nasceu para a destruição / Ele é governado pelos deuses / Herói eterno / A escala do universo.”
“Beyond The Ice”
A loucura foi tão rápida que atingimos a canção seguinte quase sem perceber e a instrumental “Beyond The Ice” se faz presente para “esfriar” os ânimos.
Talvez até esfrie por não possuir letra. Considero uma faixa que segue os padrões do disco, porém, com experimentações visíveis sem que se perca o rumo de casa.
Destaque para o baixo mais aparente de Hansi Kürsch que nas faixas anteriores despeja toda a potência de sua voz com inteligência.
Kai Hansen
“Valhalla” é a quase rejeitada em que conta com mais uma participação de Kai Hansen, que além de tocar guitarra também canta as pontes da canção.
Porém, quem continua brilhando no disco é o também baixista Hansi Kürsch, que despeja sua voz como um verdadeiro instrumento de trabalho.
A faixa destoa um pouco com relação às anteriores, mas não afeta a obra como um todo.
“Tantos séculos / Tantos deuses / Nós éramos os prisioneiros / De nossa própria fantasia / Mas agora estamos marchando / Contra esses deuses / Eu sou o mago, vou mudar tudo”
“Don’t Break The Circle”
Essa é a ponte da qual eu falei. “Don’t Break The Circle” é a próxima faixa e foi gravada em uma sessão de estúdio diferente, um pouco depois do término da gravação, já que a gravadora queria outra faixa para a versão em CD.
Cover do Demon
Foi ideia de Marcus Siepen fazer um cover de uma música do Demon.
Participação especial de Kalle Trapp tocando guitarra e fazendo backing vocal. E que baita cover, diga-se de passagem!
Realmente quando eu aprendi a entender melhor o que o Speed Metal representava, passei a entender melhor o Metal como um todo.
E isso é muito gratificante, visto que ainda existem tantos e tantos discos para ouvir novamente e entender melhor a proposta de cada um.
Tudo ao seu tempo e vamos reconhecendo grandes trabalhos que outrora não faziam parte do nosso set list diário.
“Barbara Ann”
Finalizando este clássico livreto de grandes momentos do esporte sonoro, este segundo full length da banda encerra com mais um cover dessa vez do The Regents.
Falo do super hit “Barbara Ann”, que volta e meia é relembrada por diversos artistas.
Embora nada seja declarado na tracklist ou no encarte, “Barbara Ann” é na verdade um medley que também inclui “Long Tall Sally”, canção histórica de Little Richard.
Kalle Trapp
Kalle Trapp foi o responsável pela produção, gravação e mixagem do álbum, tendo como executivo produtor a figura de Charly Rinne. Nikolay “Dr. Venom” Simkin cuidou do design.
Mathias Wiesner é outra das participações especiais do segundo full-length da banda alemã em que empresta seu talento junto aos teclados.
Não só após o lançamento deste álbum, mas desde o seu debut, a banda já apresentava fortes sinais de que sobressairia desde que optasse pelo caminho mais promissor ao invés de se enveredar pelos caminhos do Thrash Metal.
No entanto, nunca foi a cara da banda nem de seus integrantes, e o Speed Metal inicial abriu as portas para que a banda pudesse moldar seu som e se colocar nos padrões do que viria a se formar através do Power Metal.
Em “Follow The Blind”, as participações contribuíram bastante para o sucesso maior do álbum. O que eu não gosto muito e isso é bastante pessoal, é a voz de Kai Hansen que a meu ver não caiu tão bem nesse álbum mais rápido e cortante.
Ou seja, a sua voz já estava projetada para o Power Metal e não para o Speed Metal à época do disco.
Fora isso, a parte instrumental é um caso à parte, pois se trata de um conjunto com grandes músicos que souberam construir linhas musicais excelentes.
Não sei se continuassem a lançar álbuns nesse estilo se a banda alcançaria o mesmo patamar do que ela conseguiu através da mudança.
Mas, uma coisa é fato. O Blind Guardian fez história dentro do Metal!
“Pie Jesu Domine
Dona eis réquiem.”
Nota: 9,3
Integrantes:
- Hansi Kürsch (baixo e vocal)
- André Olbrich (guitarra e vocal de apoio)
- Marcus Siepen (guitarra e vocal de apoio)
- Thomas Stauch (bateria)
Faixas:
- 1. Inquisition
- 2. Banish From Sanctuary
- 3. Damned For All Time
- 4. Follow The Blind
- 5. Hall Of The King
- 6. Fast To Madness
- 7. Beyond The Ice
- 8. Valhalla
- 9. Don’t Break The Circle (Demon cover)
- 10. Barbara Ann (The Regents cover)
Redigido por: Stephan Giuliano
É uma banda que me traz boas lembranças, sermpe que vejo algo sobre a banda me faz lembrar de meu amigo Jorge que já não se encontra entre nós…era um grande fã da banda!!!! Ouvia esse clássico em uma fita cassete, aliás os primórdios discos de grandes bandas de metal eu tinha mais em fita cassete, sempre guardava em uma caixa de sapatos…bons tempos de antigamente quando não existia a internet!!!! Capa marcante, Valeu!!!!