Em 2023, eis que um guerreiro ressurge, bradando sua espada manchada do sangue de seus inimigos, ele não descansa até que toda sua fúria seja despejada. Frente a frente com o mal, sua mão se torna forte envolta da empunhadura de sua espada. Medo é uma palavra desconhecida pelo nosso nobre guerreiro. Sua armadura apresenta muitos sinais de desgaste, devido ao seu tempo de uso. Seu escudo, bem marcado devido a suas antigas batalhas carrega uma imagem, a bandeira pela qual nosso guerreiro luta, o “Heavy Metal“. Com inúmeros golpes certeiros, o grande cavaleiro conquista a vitória.
O CAVALEIRO DRAGÃO!
Sim, 2023 marca o ressurgimento (digamos assim) de uma das bandas nacionais que mais tem feito minha cabeça. Cavaleiro Dragão, de Hortolândia, São Paulo, bate a marca de 3 discos de estúdio esse ano. Sem muita enrolação, “Conhecimento Proibido” se sagrou o melhor disco deles. O grupo surgiu em 2007, e apenas em 2012, a banda lançou seu disco homônimo, ‘Cavaleiro Dragão’, que por sinal, seria um excelente ponto de partida. Com uma influência extremamente clara de Iron Maiden, Slough Feg e outras bandas de NWOTHM, o álbum de 2012 foi lançado de forma independente, com uma tracklist de 7 belas composições bem inspiradas.
Após isso, em 2018, a banda lança “A Maldição da Cruz“, sem muitas mudanças no jeito de se fazer música, o disco agora é lançado via Attitude Headbanger’s House. Porém, em 2023, eles quebram o silêncio lançando o excelente “Conhecimento Proibido” via Classic Metal Records/Attitude Headbanger’s House/Bigorna Records. Uma das maiores características da banda é permanecer usando sua língua materna em suas composições.
Com um line-up de 5 amigos, o quinteto paulista apresenta a dupla de guitarra Mauro Soares e Rafael Miguel, o baixista Vinícius Wardzinski, o baterista Andrey Cardoso e, por fim, vocalista Charles Arce. Agora vamos por partes neste lançamento, temos de lembrar que uma das características principais do grupo é o Do It Yourself, ou seja, eles mesmo que fazem tudo, desde composição, até as capa, as camisetas, e tudo mais. Mantendo o estilo de artwork em desenhos, essa obra parece ter sido transportada direto dos anos 80, com cores fortes e já preparando o ouvinte para a nova temática que será tratada nesse disco, a mitologia egípcia (fica claro ao decorrer da audição, que a banda aborda outros temas, como o misticismo, mas o foco central do disco é a mitologia).
INICIO TÉCNICO E FORTE!
Isso fica mais evidente quando irrompe a audição de “Olho de Hórus“, a faixa introdutória de nossa jornada. Com um instrumental bem técnico, bem produzido e cadenciado, a banda mostra como está muito mais madura em seu som e na suas composições. Com 5 minutos de duração, a composição possuí excelentes mudanças de andamento, bases pesadas e um baixo muito marcante. Outro ponto positivo é o vocal muito mais forte de Charles Arce, dessa forma, completando o peso e a cadência da abertura.
Em seguida, as pirâmides recebem a benção da luz do sol e o “Filho do Sol” surge para o povo. Trabalhando com a cadência e riffs fraseados, a dupla Mauro e Rafael apresentam uma sinergia muito única, lembrando até mesmo a dupla K.K. e Glenn (Judas Priest) na sua época de ouro. Enquanto isso, a ponte para o solo onde o dedilhado no baixo fica evidente me fez lembrar bastante o estilo de Steve Harris. Enquanto isso, a bateria simples e direta unida ao vocal potente nos transporta ao saudosismo oitentista. Por fim, chegamos a dobradinha de ouro favorita desse que vos escreve.
Em primeiro lugar, tente imaginar um campo de batalha, com você a frente de uma multidão de soldados, seus inimigos assustados e se afastando, o clima esfria, e o céu fica negro, e trovões são vistos. O êxtase toma conta de sua mente. Em suma, meus caros leitores, esse é o cenário que se passa “Coração Selvagem“. Ainda assim, os solos mais clássicos e simples são um charme a mais da composição. Os riffs pausados e a cozinha cadenciada nos transmitem essa visão e, desse modo, a fúria de um bárbaro sedento por sangue, além do vocal enfurecido de Arce cantando versos fortes com as seguintes promessas:
O CORDEIRO VIRA O LOBO!
Porém, enquanto uma faixa é a promessa do massacre, “Cordeiro e Lobo” é o cumprimento desse massacre. Enérgica, explosiva e rápida, essa faixa marca uma das melhores composições já construídas pela banda. Com um solo digno de ser cultuado como clássico, as bases diretas e rápidas junto a bateria rítmica dão a força que a música merece. Aqui temos de dar uma salva de palmas para o baixo de Vinícius que não deixa em nenhum momento a desejar, e mesmo que só acompanhando as guitarras, ele sustenta por completo a música. Simplesmente a sinergia perfeita em composição, produção, execução e apresentação!
Após isso, o quinteto apresenta ao público a faixa instrumental “Amarna“, com 4:30 minutos a faixa é épica e se torna uma parte da audição gostosa de ser feita. Simples e bem construída, o arranjo nos prepara para a segunda parte do disco.
UMA AULA DE FILOSOFIA
As 4 próximas canções do disco têm uma coisa em comum, todas possuem um nível técnico elogiável em sua composição. Além disso, a cada faixa, parece que passamos por um estágio de aprendizado e conhecimento. QUE FIQUE CLARO AO LEITOR, QUE EM RELAÇÃO AO LIRISMO, TODAS AS CONCLUSÕES AQUI SÃO INTERPRETAÇÕES DE UM MERO AMANTE DE HISTÓRIAS E FILOSOFIAS, E NÃO A INTENÇÃO DA BANDA, CAVALEIRO DRAGÃO. Abrimos essa quadra com “Conhecimento Proibido“, uma faixa complexa, completa e concisa. Com um lirismo profundo e introspectivo, os versos se unem a um instrumental polido e bem característico da banda. Peço que os leitores deem uma atenção a mais para essa composição, afinal, as nuances dela são sutis e contagiantes. Se atente a versos como:
MENSAGENS PROFUNDAS
Uma letra cheia de simbolismos e significados, “Conhecimento Proibido” apresenta um questionamento simples e filosófico do ser humano, a busca pela satisfação e a jornada do auto-conhecimento. Em continuação a audição, temos “O Despertar“, onde se apresenta ao ouvinte uma faixa repletas de cavalgadas, e uma cozinha bem simples, porém, épica. Com um andamento mais rápido e um vocal com mais pegada, aqui vemos um lirismo mais direto a questão de como o conhecimento pode ser destrutivo, dependendo do seu uso. Analise os versos a seguir:
O alerta aqui é para o fato do ser humano esquecer de sua verdadeira busca pelo conhecimento e passar a se tornar um servo de ideais de outras pessoas. Uma letra profunda, que combina de forma excepcional com o instrumental impecável. Seguindo, por fim ouvimos a faixa “O Beijo da Morte“. Com uma introdução mais suave, seguida de um arranjo mais ritmico, a sensação ao ouvir a composição e dar atenção as letras, é de que aqui temos o discurso final de alguém que lutou e se desprendeu das amarras da escuridão. Os sentimentos apresentados pelo eu-lírico remetem a alguém que lutou pela liberdade e encontra agora a paz no descanso da morte. Em uma palavra, essa composição é profunda, e por isso, ela preenche mais ainda o disco, dando a ele uma beleza e mensagem única.
O FIM!
Por fim, chegamos ao “Chacal das Sombras“. Após os 3 passos que passamos (a busca do conhecimento, o despertar e por mim a consciencia da morte), finalmente encontramos o porteiro do outro lado, e o cenário obscuro dessa travessia. Em suma, a mensagem básica dessa faixa é: Você colhe em morte, o que planta em vida.
Por isso, o instrumental pesado e denso cria a atmosfera perfeita para a descrição da punição aos pecadores. Mas aqui, nessa música, você encontrará um dos momentos mais surpreendentes do disco. Por fim, acompanhem o andamento completo da faixa, de como os riffs densos e brutos da dupla de guitarristas se entrosam com a linha grave do baixo, e de como esses dois elementos encontram o ritmo exato com uma bateria crua e direta. Por fim, analise como o vocal se encaixa perfeitamente nessa atmosfera soturna. Aos 5:12, o clima dessa composição muda de uma forma brusca, e se torna algo totalmente diferente do que está sendo apresentado mas, não de um jeito estranho. O clímax da música, das composições e do disco, é feito com o mesmo cuidado que a introdução. Simplesmente espetacular.
Eu estou ouvindo esse disco desde seu lançamento, 6 de março, e somente agora, mais de 5 meses depois, eu finalmente senti que realmente estava pronto para escrever algo sobre ele. O cuidado com o jeito que o disco foi escrito, produzido e composto precisava de ser apreciado da forma certa. Portanto, depois de tanto tempo ouvindo, posso cravar sem sombra de dúvidas, que este sim é um dos melhores discos nacionais, que este que vos escreve, ouviu este ano, senão o melhor!
Vida longa ao Cavaleiro Dragão! Vida longa ao Metal Nacional!
Nota: 9,0
Integrantes:
Mauro Soares (Guitarra)
Rafael Miguel (Guitarra)
Charles Arce (Vocais)
Vinicius Wardzinski (Baixo)
Andrey Cardoso (Bateria)
Faixas:
- Olho de Hórus
- Filho do Sol
- Coração Selvagem
- Cordeiro e o Lobo
- Amarna (instrumental)
- Conhecimento Proibido
- O Despertar
- O Beijo da Morte
- Chacal das Sombras
Redigido por Yurian Paiva
Cara, vc realmente entendeu a proposta desse álbum, fico muito feliz que atingimos esse ápice, algo que acredito não termos atingido nos 2 primeiros álbuns… muito Obrigado pela resenha, nos agrega satisfação de dever cumprido…!!! 🤘🤘🤘
Satisfação absurda ler essa resenha! Muito obrigado pela força. É o que nos mantem motivados a seguir em frente!
Muito boa resenha! O álbum está realmente excelente! Fácil o melhor nacional até o momento! Parabéns a banda Cavaleiro Dragão!