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Álbuns Injustiçados: Master – “Collection Of Souls” (1993)

Gravadora: Nuclear Blast

   

Quando alguém resolve investigar o histórico referente ao subgênero mais sangrento e mortífero do Metal, logo percebe a quantidade de álbuns clássicos que é despejada em seus ouvidos sem ao menos pensar em montar uma lista de pedidos. Os que conhecem mais profundamente sabem muito bem que se trata de uma vertente amplamente rica em material sonoro, cortesia de grandes bandas que surgiram da segunda metade da década de 80 em diante. Algumas até bem antes, mas sendo realmente relevantes a partir de 1985. Um grande exemplo é o polonês Vader, que surgiu em meados de 1983, mas por se localizar em um país que ainda não fazia parte do mapa voltado para o Metal extremo com o devido destaque merecido que possui nos dias de hoje, acabou por prolongar um pouco a sua jornada até conseguir seu lugar ao sol. O Master, banda liderada de forma convicta por Mr. Paul Speckmann, sofreu bastante para entrar nesse merecido quadro de grandes bandas do Death Metal mundial.

Há o caso envolvendo a sua primeira tracklist, a qual não foi aceita pela gravadora à época, fazendo com que a banda só lançasse seu debut de forma oficial em 1990, através de seu autointitulado e merecidamente clássico álbum. Além de “Master”, a banda lançou o que para muitos é superior ao disco de estreia, “On the Seventh Day God Created… Master”, consolidando-o no seleto grupo de excelentes e emergentes bandas do cenário americano, e, posteriormente, mundial. Aquele que ainda busca por mais informações acaba tropeçando em mais clássicos, agora com outros países envolvidos como os casos de Suécia, Holanda, e hoje, praticamente todos os países que se têm notícia. Embora não faça parte do mainstream, o Death Metal possui adeptos fiéis que acompanham o estilo com bastante empenho e dedicação. Não sendo algo passageiro que se possa trocar por qualquer coisa ao fim do dia. Ainda em pesquisa, este ser se depara com uma sequência gigante de álbuns com determinada conotação – a de serem injustiçados ou subestimados. Mas, como identificar isso? É algo que simplesmente alguém menciona, escreve, e se torna lei? Não, não e novamente não, meu caríssimo leitor e amante do esporte sonoro! Por vários ou algum motivo em específico, esse ou aquele álbum não atingiu determinado patamar imaginado por quem fez a pesquisa. Antes de partir para o próximo parágrafo, você se lembra de “Collection Of Souls” do Master?

Independentemente, de sua resposta, o certo a se dizer é que em meio a tantos lançamentos (mesmo nos famigerados anos 90) de qualidade bastante grande, quando uma banda muda o logotipo, a fonte, ou a capa (capa malfeita de Thin Lizzy ‘s “Jailbreak”), que acaba saindo de forma estranha e fora do convencional referente à banda analisada, acaba por tornar isso um obstáculo a mais para se conferir. Isso acaba fazendo com que outros discos de imagens mais tradicionais passem na frente na hora da audição. Mas, “Collection Of Souls” tinha potencial para ir mais longe? Ao ouvir o disco entenderá que sim, pois é praticamente uma sequência das ideias oferecidas por Speckmann, e não há deslizes que tirem questionamentos mais duvidosos sobre o som do disco em si. E depois de dois grandes trabalhos que são super reconhecidos e requisitados até os dias de hoje, era mesmo difícil lançar o terceiro e manter a dianteira, mesmo que o álbum tenha potencial para tal feito. Voltando alguns anos no tempo, durante o ano de 1985, Speckmann e seus parceiros de equipe naquele momento, trataram de gravar algumas faixas para seu primeiro álbum que infelizmente não seria lançado naquele momento, conforme fora citada no decorrer do texto. Essas canções foram difundidas no underground via troca de fitas e não é exagero dizer que não só influenciou muitas pessoas, mas também criaram um status de ‘cult’, assim considerando o Master como uma das primeiras bandas de Death Metal, ao lado do Possessed de Mr. Jeff Becerra e Death de Mr. Chuck Schuldiner. Tais gravações se tornaram oficiais no verão americano de 2003 e o full length foi batizado de “Unreleased 1985 Album”, lançado pelo selo From Beyond Records. Uma dica para quem não é conhecedor da sonoridade do Master, é iniciar por estas gravações para melhor apreciar o cheiro de enxofre que destilava naqueles tempos áureos.

Agora para se ter uma ideia mais clara sobre o álbum ao qual estamos tratando, é mais do que imprescindível ouvir o disco e relembrar detalhes que fogem à mente e aos ouvidos, tentar reparar em algo que ligue aos seus antecessores, e por fim, ver o direcionamento da banda se havia mudado em um momento em que muitas delas tomaram direções opostas ao que praticavam até aproximadamente 1992. Naquele período a banda era um quarteto, tendo dois guitarristas á disposição do baixo de Speckmann. Jeff Kobie e Brian “Einstein” Brady eram os donos da execução dos riffs e solos do álbum, enquanto o alicerce era equilibrado e fortalecido pelo baterista Aaron Nickeas, com Paul Speckmann no baixo e vocal. Markus Staiger foi o produtor executivo. O álbum foi produzido em parceria por Jim Daly e Paul Speckmann. Engendrado e mixado por John Towner e gravado no Solid Sound Hoffman Estates, Illinois, em novembro de 1992. Capa e título de autoria de J. R. Daly. Todas as músicas são de autoria de Speckmann, exceto a faixa-título, escrita por Speckmann e Brian Brady. Agora vamos ao que mais interessa, que é ouvir e, quem sabe entender este trabalho.

A batalha campal se inicia com “Constant Reminders”, lembrando constantemente durante cada marretada certeira e precisa de bateria proferidas por Aaron Nickeas, somada aos rosnados viscerais, além do baixo bastante presente de Paul Speckmann. As guitarras da dupla Kobie / Brady te provocam com muitos riffs e mudanças de andamento, incrementando o caldo com um solo assertivo de Jeff Kobie. “Lembretes constantes de promessas feitas / Executivos de gravadoras sentam-se na sombra / Rituais de telefone dia após dia / Só nas férias é estressante em maio” – a mensagem da canção é um completo desabafo contra as gravadoras e agentes de artistas. Em seguida é o instante de perder a insanidade através de “Taste Of Insanity”, segunda canção de “Collection Of Souls”, que abre o cenário de forma mais contida e já encabeçando um solo de guitarra de abertura, antes da bordoada através dos pedais duplos de Nickeas, até que a mesma retoma o seu posto inicial. A levada é alternante e contagiante, te fazendo ir para o mosh e tomar um gole de cerveja em seguida. O retrato de alguém que deu ouvidos a falsos conselhos que pareciam ser limpos é mostrado de forma franca e aberta para alertar sobre os erros que qualquer ser pode vir a cometer e ter o seu fim preso a uma bola de aço em uma cela isolada de tudo e de todos. “Ele tinha tudo, agora é apenas sua bola e corrente / Ele tinha tudo, agora ele está trancado em uma cela.”

Em meio a tantas anotações espalhadas, encontramos “Hidden Stories”, que também se apresenta de forma mais vagarosa e até mais do que sua antecessora, mas já sabendo que o Master gosta de se utilizar de vários cenários em uma mesma canção, a espera por mais velocidade é aguardada, mas até o momento segue com as ondas do mar em chamas mais brandas. De uma forma ainda mais demoníaca, o desabafo é vociferado aos montes e a revolta é destacada e voltada para quem navega rumo ao nada, enquanto os comandantes festejam suas aquisições para pura matança e revelação de um líder máximo. A pobreza assola o mundo e os poderosos se divertem com todo esse mundo caótico e inóspito. E como de costume, a canção se eleva e obtém um ganho em velocidade, mas mantendo a sua hipnose sonora com suas levadas puxadas para o que chamam de Death ‘n’ Roll. Glorificando o Metal da morte temos “Glorify The Dead”, que de glorificação não possui nada, mas de incômodo com determinada situação, isso é exposto de forma clara e objetiva logo a partir dos seus primeiros segundos. Riffs insanos e bateria macabra demonstram a raiva perante ao que acontece com os noticiários de TV, em que tudo o que é realmente grave, “eles” jogam para debaixo do tapete, focando apenas nas inutilidades que possam gerar mais audiência. No meio da canção até temos um trecho para exemplificar isso. Não fica tão atrativo por parecer um erro de gravação, mas como foi proposital, não podemos considerar um erro, e sim exaltar o pouco que foi gasto para a construção deste trabalho com relação aos discos anteriores. O Master é uma banda de sonoridade crua e não mede esforços para tal condição, pois é assim que eles são é assim que veríamos caminhar desde então.

O ataque continua reforçado pelo corpo fechado de visão turva em “Blinded Faith”, faixa que mostra um lado ainda mais acelerado da banda, superando as canções e momentos mais velozes até aqui. A falsa fé que os padres ensinam provocam uma cegueira imensa capaz de perdoar os diversos incestos que acontecem nas paróquias e não que não precisam mais de silêncio para acontecer. O devoto doente apenas deve confessar seus pecados em meio aos solos rápidos e dilaceradores de almas culpadas por terem nascido com medo de viver e combater estes malfeitores manipuladores que só buscam o controle de uma população total por meio da interpretações torpes de seus versículos infundados, que nada mais são do que parte de seus crimes mentais e físicos. A canção que antes estava numa pressão alta, mordendo a zebra, como diria o locutor de corrida, trouxe um pouco da morbidez para acompanhar mais um solo até chegar o seu definitivo fim. Seja um simples acontecimento ou a correção de algo, é chegada a vez de “Justice Or Fate”, com os pedais de bateria praticamente levantando voo. Se ouvir essa parte meio que distraído poderá confundir com a hélice de um helicóptero. Uma letra bem curta sobre ameaças de morte que vem e vão, que podem ser conclusivas ou não. Nunca se sabe, apenas se atente à pegada Punk em meio à toda pancadaria sonora que se vivenciará neste exato momento. Nessa hora, filho chora e mãe não vê. E se ver vai querer bater no filho, pois homem não chora! (risos)

“Jailbreak” dá sequência à prisão em que você, leitor e assíduo ouvinte, se vê ao não conseguir se libertar das garras do poderoso Master. Sim, é um cover para a clássica “música” do eterno Thin Lizzy. Até mesmo se pode ouvir as sirenes da polícia na caça ao “malfeitoso”, segundo o próprio Chapolin Colorado. A perseguição não pode ser feita sem ter um pingo de emoção, e o Master se mostra competente a carregar a pira olímpica de um dos grandes hinos do Rock. Se você não se lembrava ou não sequer imaginava que este álbum possuía sua faixa homônima ao disco, acabou de ver que ela está presente. “Collection Of Souls” se apresenta naquele estilo característico de bandas como o Obituary, com riffs mais cheios através dos bicordes, enquanto a bateria segue ladeira abaixo a exemplificar sua velocidade. A partir da segunda metade da canção, nos vemos em um veículo sem freio destruindo tudo o que vê pela frente, até que os solos de guitarra acompanham toda a cena do filme, na qual Missão Impossível se torna fichinha para esse desafio aqui. É certo dizer que o sangue de muitos pavimentou o caminho durante gerações, mas que logo todos os presentes são substituídos por falta de fé. Kobie e Brady novamente provocam mais um estrago no tecido da realidade sonora, apoiados pela violência ininterrupta do baterista Nickeas, e somando esforços para o alicerce permanecer sóbrio e inabalável, graças às notas firmes de baixo e seu vocal gutural e rasgado de Speckmann. A cereja do bolo é um dos melhores solos do disco, cortesia de Jeff Kobie, enquanto Einstein (apelido de Brian Brady) mantém a banda nos trilhos através das bases muito bem executadas, demonstrando que para se qualificar e poder viver entre os mais fortes, é preciso se livrar das inibições e não cair na rota da coleção das almas, afim de não viver a vida e deixar que assumam o controle.

“Silver Spoon” fecha a trama injustiçada por tantos fatos, mas que mesmo assim a banda permaneceu viva e mantém a chama acesa até os dias atuais. A metralhadora é disparada em meio ao um turbilhão de atitudes de quem pensa ser herói, mas que não passa de um procrastinador fraco e que apenas decidiu fugir mesmo sentindo falta daqueles com quem convivia de perto. A estrada é alimentada pelos motores do kit de Nickeas, enquanto Kobie esbanja técnica e feeling em seu solo, acompanhado de perto por Brady. Isso sem falar no baixo de Paul e seus próprios vocais raivosos e condizentes com este monstro chamado Master. Ao término do disco fica clara a forma mais simples utilizada para a gravação desta obra, e isso só reforçou o traçado que seria de fato percorrido por Paul desde então, apesar de que os dois discos mais recentes e ótimos da banda, são melhores produzidos do que “Collection Of Souls”. Falo de “An Epiphany Of Hate” (2016) e “Vindictive Miscreant” (2018). Se não ouviram aproveitem a indicação e ouçam ambos os trabalhos. Afinal, o Master é sim um clássico do Death Metal!

“Enquanto eu caminho ao longo das margens dos oceanos furiosos

   

Bilhões de dólares são gastos em máquinas de guerra

Histórias ocultas de mísseis teleguiados vêm à tona na mídia

A busca pelo líder perfeito desintegra-se nas próprias mãos

O sistema demoníaco atinge todas as demandas

A epidemia de pobreza e a doença atingem o ponto mais alto”

Nota: 9,0

  • Integrantes:
  • Paul Speckmann (baixo, vocal)
  • Jeff Kobie (guitarra rítmica e solo)
  • Brian “Einstein” Brady (guitarra rítmica)
  • Aaron Nickeas (bateria)
  • Faixas:
  • 1. Constant Reminders
  • 2. Taste Of Insanity
  • 3. Hidden Stories
  • 4. Glorify The Dead
  • 5. Blinded Faith
  • 6. Justice Or Fate
  • 7. Jailbreak (Thin Lizzy cover)
  • 8. Collection Of Souls
  • 9. Silver Spoon
  • Redigido por: Stephan Giuliano

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