Gravadora: AFM Records
Quando surgiram em 1996, os alemães do Orden Ogan, já davam provas de que os anos vindouros seriam promissores e que a Alemanha ganhava mais um grande representante no quesito Heavy/Power Metal (Fato).
Trazendo em seu line up: Sebastian “Seeb” Levermann (vocais, guitarras, teclados), Patrick Sperling (guitarras), Niels Löffler (guitarras), Steven Wussow (baixo) e Dirk Meyer-Berhorn (bateria), o quinteto acaba de lançar “Final Days”, sétimo álbum da carreira e até o presente momento, um dos melhores discos de Power Metal lançados neste comecinho de ano.
Lançado oficialmente no dia 12 de março, o novo trabalho traz uma nova temática e um novo conceito em suas letras. Aliás, a capa do disco já entrega tal temática. Em seu novo capítulo, o grupo sai do Velho Oeste, tema explorado no excelente “Gunmen” (2017) e mergulha em uma temática futurista voltada a Inteligência Artificial, explorando o mundo dos androides e todos os tipos de mortes ligados à tecnologia avançada, que aos poucos se transforma numa espécie de Deus, criando e matando vidas.
As letras de cunho “científico” refletem também na execução das musicas, já que uma vibe futurista emana dos instrumentos e em algumas canções, ouvimos nitidamente “barulhos” (efeitos), que se conectam diretamente com o assunto abordado na faixa em questão.
Tal tema caiu feito luva na sonoridade do Orden Ogan, que não apenas soube explorar essa nova “realidade musical”, como também dosaram os já citados efeitos sonoros no ponto certo, sem tornar-se “eletrônicos e/ou industrial” em demasia, visto que a temática de “Final Days” poderia facilmente levar a banda a outras dimensões metálicas. Felizmente, isto não aconteceu.
Sem delongas, vamos mergulhar (e explorar) “Final Days” e suas 10 composições cantadas em aproximadamente 50 minutos de duração.
Então, aperte os cintos e adentre ao mundo “Sci-Fi Metal” dos alemães feios do Orden Ogan.
Nossa viagem futurista tem início com “Heart Of The Android”, faixa single (segundo single) que abre o disco e de cara já é possível notar os sintetizadores fazendo parceria com os riffs de guitarras, numa faixa pesada, poderosa, cadenciada, refrão grudento, melodias idem, atmosfera densa e futurista. Em seu excelente Lyric Video, mergulhamos no mundo das máquinas e damos de cara com a realidade não tão distantes dos dias atuais, onde a tecnologia avançada dita as regras, criando inteligência artificial e substituindo o homem por máquinas. Em dado momento, somos induzidos a filmes como Inteligência Artificial e Eu, Robô.
Em resumo: Belíssima faixa de abertura.
Em ritmo mais acelerado e apresentando a mesma atmosfera futurista temos “In The Dawn Of The AI”, faixa que despontou como o primeiro single, ganhando inclusive um excelente videoclipe sem cortes, já que a música ultrapassa os seis minutos de duração e nesses casos é normal que as gravadoras editem o clipe/música. Felizmente, isso não acontece e o que vemos / ouvimos é mais uma faixa grandiosa, épica, com um refrão daqueles onde o ouvinte canta junto na primeira audição, usando e abusando de sua guitarra imaginária. E já que mencionei seu refrão, certifico de que é impossível esquecê-lo, uma vez que o mesmo fica martelando na cabeça após sua última nota. Aqui, somos obrigados a usar a tecla “Repeat”, encher os pulmões, fechar os olhos, agarrar aquele microfone imaginário e……desafinar com seu refrão: …Hail to the mind of man, Fire in the sky, I’ve been waiting for you, On this day we die, It is the mind of man, Fire in the sky, I’ve been destined for you..In the dawn of the AI…..
Destaques para as linhas suaves de teclados e os vocais precisos de Seeb (Sebastian) Levermann. O cara tá cantando muito.
“Inferno” é a próxima tacada e mais um tiro certeiro do quinteto (que música, meus amigos). Numa pegada menos Power e mais Hard Rock, deparamo-nos talvez com a música mais comercial do disco. Em mais um momento espetacular de Levermann (vocais), mostrando que consegue ser versátil quando lhe é necessário. Sobre a música: Espetacular composição, dona de um refrão pegajoso, grudento e viciante. Aposto minhas fichas como temos aqui o nascimento de um grande “HIT” na carreira do grupo. Não bastasse suas melodias magníficas, “Inferno” ganhou um videoclipe muito bem produzido, dono de um roteiro interessante e atual, casando perfeitamente com a temática mostrada no álbum.
Em seu breve roteiro, o clipe mostra em pouco mais de cinco minutos de duração, aquilo que muitos de nós temos certeza: Não estamos sós! Em uma invasão alienígena onde a terra e seus habitantes são atacados por criaturas extraterrestres em sua nave espacial. Tudo isso é vigiado por monstros espaciais, que distantes do planeta assistem (e vibram) a aniquilação da raça humana. Numa espécie de “tabuleiro eletrônico” as vitimas são escolhidas para ser aniquiladas. Em sua narrativa, o clipe nos leva ao mundo cinematográfico de filmes como: Stargate, Independence Day. O Dia Em Que a Terra Parou, etc.
* Numa das cenas de alvos atingidos, nem mesmo a “AFM” gravadora da banda, escapou da ira dos extraterrestres, sendo reduzida a pó.
Ao final, é certo que seu refrão faz morada em nosso cérebro e sem perceber, já estamos entoando-o: “…We gotta burn it down…Burn it down, we are the inferno, Burn down the world in a blaze of red…Burn it down together infernal, Burn down the bridges and rise from the dead. Burn it down, we are the inferno, Burn down the world in a blaze of red..Burn it down together infernal, Burn down the bridges and rise from the dead..
“Let The Fire Rain” é mais uma música que acaba de ganhar videoclipe (e que clipe animal) e não obstante, mais um momento incrível e fascinante do disco. Em mais uma faixa que mostra através de seu clipe asteroides vindo em direção a terra, temos uma aula de backing vocals épicos e mais uma candidata a se tornar hit. Dá até pra imaginar a reação do público nos shows da banda, já que em partes de sua execução temos aquele coro com o famoso “Ô, Ô Ô”, prato cheio para as bandas brincarem com o público em suas apresentações ao vivo. Além de suas melodias, clima denso e coros épicos, as guitarras nos levam a alguns trabalhos dos seus compatriotas do BLIND GUARDIAN.
Sabe aquela música que nasceu perfeita e pronta para ser um Hino? Este é o caso de “Interestelar”, próxima paulada que traz uma pegada instrumental muito parecida com os trabalhos atuais do Running Wild. Pelo amor de Deus, alguém me diga que refrão monstruoso é esse? Impressiona a qualidade musical dos backing vocals que grudam de imediato, faz você cantar junto e entrar no clima. Impossível não perceber a grandiosidade desta música. Particularmente, enxergo-a como a melhor faixa de tudo que ouvimos até aqui. Embora, deixo claro que estamos falando de um disco, no qual o termo “perfeito” ganha seu real significado. Para coroar de vez tal perfeição, temos a participação especial do guitarrista Gus G (Firewind, ex, Ozzy Osbourne, ex, Dream Evil, Gus G, etc), empunhando sua guitarra e mandando um solo espetacular. Vou dizer que a participação de Gus, é o que chamamos de “A Cereja do Bolo”. Ou seja; o que era bom ficou bem melhor.
* Aqui, abrimos um parêntese: Por mais que o ouvinte tente passar para a próxima faixa, é certo que as melodias e o refrão absurdamente lindos de “Interestellar”, impeçam-no e continuem martelando em sua cabeça. Repeti-la será inevitável. Como sei disso? Bem, digamos que após a audição de todo o disco, suas melodias ainda estão impregnadas em minha cabeça. (….When your duty calls, You all will be standing tall, Cause the end of the day will hold victory, Hold your heads up high, Stand your ground all unified, If you never surrender you will never fall….When your duty calls, You all will be standing tall, Cause the end of the day will hold victory, Hold your heads up high, Stand your ground all unified, If you never surrender you will never fall..). Arrisco-me dizer que temos aqui o próximo single acompanhado de um belo videoclipe (mais que merecido).
Hora de acalmar um pouco o clima sombrio, denso e apocalíptico o qual adentramos até aqui e mergulhar nas melodias mais tranquilas e sutis de “Alone In The Dark”, faixa que traz em seu início o som de um coração pulsando, seguido de linhas suaves de violões e os vocais de Levermann, aqui, soando mais tranquilos. Apesar dos acordes lentos em forma de Power Ballad, a música traz em sua letra uma forte conexão com suas antecessoras, mergulhando na temática “Sci-fI Apocalyptic Metal” do álbum. Para dar um charme e deixar a música duplamente bela, temos a participação especial de Ylva Eriksson da banda sueca Brothers Of Metal e seus vocais angelicais, lembrando nomes como Candice Night (Blackmore’s Night), Elina Siinara (Leave’s Eyes) e Jennifer Haben (Beyond The Black). Precisa dizer que este é mais um momento belíssimo do disco?.
De volta ao Power Metal, “Black Hole” é a bola da vez e que nos remete às melodias da trinca, To The End (2012), Ravenhead (2015) e Gunmen (2017). Cheia de nuances e repetindo a mesma fórmula dos discos supracitados, temos uma música que traz em suas bases melódicas uma veia a la Gamma Ray. A propósito, os backing vocals apresentados nas canções do quinteto lembram o que ouvimos em pérolas como “Land Of The Free” e “Somewhere Out In Space”, do grande responsável por esta sonoridade que hoje ouvimos em grupos como Orden Ogan. Claro que estamos falando de Mr. Kai “The Master” Hansen.
* Uma das qualidades musicais do Orden Ogan (além dos coros primorosos) está nas guitarras de Patrick Sperling e Niels Löffler, uma das melhores duplas de guitarristas do Power Metal da atualidade, comandado com maestria solos incríveis e harmoniosos. Não espere por fritações e/ou solos desconexos, daqueles que são feitos apenas para preencher espaço. Aqui, felizmente estamos longe de ouvir essas “cólicas musicais” que em alguns casos soam desnecessários e controversos.
Quem acompanha os trabalhos do quinteto, em especial “Vale”, segundo álbum da carreira lançado em 2008, certamente vai se lembrar de “Lord Of The Flies”, faixa single que ganhou videoclipe e traz uma pegada mais cadenciada e riff pesadões. Pois é, esta referência é tão somente para anunciar “Absolution For Ours Final Days”, antepenúltima faixa do disco que apresenta uma excelente coincidência de melodias, peso e claro, bom gosto. Não mencionar os trabalhos monstruosos de Dirk Meyer-Berhorn e sua bateria, seria um pecado daqueles imperdoáveis. O cara é uma máquina com suas baquetas e seu pedal duplo.
Sabe aquela sonoridade que ouvimos nos discos “Follow The Blind” e “Tales From The Twilight World” do Blind Guardian? Pois é, alguém precisa me convencer de que os caras do Orden Ogan não beberam nesta fonte, já que as melodias precisas (e pesadas) de “Hollow” nos remetem aos bons tempos dos Guardiões Cegos. Bem certo que os referidos discos foram inspirações e influências para as melodias aqui mostradas. Desde os riffs e os solos excepcionais da dupla Sperling & Löffler, os vocais mais rasgados de Levermann, o baixo pesado e rápido de Steven Wussow e a bateria em forma de rolo compressor de Dirk, nos dão uma certeza: O Orden Ogan é sim uma das melhores bandas da atualidade e do chamado Nova Geração do Heavy Metal (por motivos óbvios). Que música excepcional.
Nossa viagem chega ao fim sob a melodia belíssima de piano e a conclusão final com “It Is Over”, faixa que fecha em grande estilo. Muito bem construída e contendo todos os ingredientes musicais presentes nas composições anteriores, temos aqui uma das letras mais lindas do disco, bem como uma mensagem onde é quase impossível não se emocionar. Em um dos trechos finais onde a narrativa sobre algo colidindo com a terra se aproxima, causando a destruição do planeta e seus habitantes, ouvindo a seguinte mensagem em tom de narrativa: Esta é a nossa transmissão final. As últimas naves deixaram a órbita e estão a caminho de Marte. Se há algum conforto para nós, aqueles que foram deixados para trás, é que nós, como raça, temos uma chance de sobreviver. Se os colonos conseguirem construir uma sociedade auto-sustentável, a humanidade prevalecerá. Eles têm tudo o que precisam. Esperamos que você esteja com seus entes queridos, mas mesmo se você estiver sozinho – hoje ninguém está sozinho. Hoje estamos todos juntos.
Cinco segundos para o impacto. Deus abençoe a raça humana….Fim da transmissão..
Como um filme diante nossos olhos, imaginamos o que acontecera e por incrível que possa parecer a conclusão da história torna-se real em nossa mente. Talvez tenhamos aqui um presságio do que realmente poderia acontecer conosco em um futuro não muito distante.
Algumas observações acerca do novo trabalho:
*Definitivamente “Final Days” não irá mudar os rumos do Power Metal e/ou mudar o rumo da música em si, porém é fato que a banda conseguiu mostrar um trabalho de excelente qualidade (musicalmente falando), bem produzido, honesto e de uma genialidade monstruosa.
*A sonoridade demonstrada em “Final Days” traz um hibrido dos três últimos trabalhos do quinteto com algumas pitadas do chamado Metal Moderno e isso fica evidente nas linhas de teclados e sintetizadores presentes no decorrer do disco. A música do Orden Ogan está mudando? Não! Definitivamente a música continua a mesma! Talvez a temática do novo trabalho carecesse de alguns flertes com outros estilos. Sejamos francos? Se deram muito bem.
*Diferentes de outros grupos, as mudanças de integrantes não afetaram em nenhum momento a sonoridade do grupo. Ao contrário, a entrada dos novos membros (Steven Wussow e Patrick Sperling ) respectivamente, baixista e guitarristas, trouxe uma dose a mais de qualidade e musicalidade. Como podemos comprovar neste trabalho.
* O grupo conseguiu criar uma música de excelente qualidade e nos últimos anos, lançaram discos relevantes com uma sonoridade que já virou característica da banda. Evidente que musicalmente, o quinteto amadureceu (em todos os aspectos) e essa maturidade é presente em seus últimos trabalhos, que dispensam comentários.
* Quando lançaram “Testimonium A.D” em 2004, o Orden Ogan já dava pistas de que a Alemanha ganharia mais uma grande banda. Desde então, o grupo veio subindo degrau por degrau e através de seus lançamentos (excelentes, diga-se de passagem) formou uma base de fãs, admiradores e apreciadores de sua música. Quando citamos a Alemanha no cenário musical, logo nos lembramos de nomes como: Helloween, Gamma Ray, Blind Guardian, Avantasia, Warlock, Scorpions, Bonfire, Heavens Gate, Grave Digger, Running Wild, UDO, Accept, etc. No momento atual é preciso acrescentar mais um nome nesta lista. ORDEN OGAN.
*Álbum perfeito, altamente indicado e um dos Melhores Discos de Power Metal de 2021.
N do R: Os alemães do Orden Ogan são a prova de que nem sempre “mais do mesmo” é algo maçante e desnecessário. O quinteto faz exatamente o mesmo Power Metal que a grande maioria das bandas faz. O ‘X” da questão, é entender que quando há genialidade por trás de grandes composições, letras inteligentes e um roteiro (mesmo que fictício) de grande qualidade o resultado final será sempre satisfatório. Se estes ingredientes estiverem no script, então é certo que o resultado final irá arrancar aplausos e reconhecimento.
Nota: 9
Integrantes:
- Sebastian “Seeb” Levermann (vocais, guitarras, teclados)
- Patrick Sperling (guitarras)
- Niels Löffler (guitarras)
- Steven Wussow (baixo)
- Dirk Meyer-Berhorn (bateria)_
Faixas:
- 1. Heart Of The Android
- 2.In The Dawn Of The AI
- 3.Inferno
- 4.Let The Fire Rain
- 5.Interstellar
- 6.Alone in The Dark
- 7.Black Hole
- 8.Absolution For Our Final Days
- 9.Hollow
- 10.It Is Over
Redigido por: Geovani Vieira