Gravadora: Headsplit Records
Não é de hoje que a Espanha nos oferece um cardápio cada vez mais rico através de suas revelações em se tratando de Rock e Heavy Metal. Partindo muito mais para o campo do Metal, bandas das mais diversas subvertentes surgem e apimentam ainda mais o certame hispânico com cada vez mais bandas qualificadas, que por sua vez oferecem ao público discos amplamente relevantes. Fato este consumado juntamente com o sucesso obtido pelo Angelus Apatrida com seu novo e autointitulado álbum, alcançando nada mais nada menos que o 1° lugar nas paradas locais. Episódio inédito para uma banda que não é do mainstream e toca Thrash Metal. Alguns imbecis de plantão sentem a maldita vontade de dizer que quando uma banda atinge tal patamar é por simplesmente “se vender” e ponto final. Como estes não estão aptos a reconhecerem os méritos de um trabalho bem feito, é melhor jogar esses inúteis na vala e despejar lava vulcânica por cima. Agora que esclarecemos alguns aspectos sobre o território espanhol e sua expansão musical, vamos falar de quem mais interessa, ou seja, o Nuclear Revenge. Este que acaba de lançar seu mais novo full length, intitulado “Dawn Of The Primitive Age”, que foi lançado no dia 4 de março via Headsplit Records. Banda pertencente à região basca de Vitoria-Gasteiz, o Nuclear Revenge surgiu em meados de 2012 com a intenção de tocar o som mais rápido e macabro possível, e carrega consigo além do segundo e novo álbum, o debut “Let The Tyrants Rise” (2018), duas demos de 2013 e 2015, e o split “Ritual Of Violence” com a banda paraguaia de Thrash Metal, Hated.
Ainda sobre a ficha do disco novo, “Dawn Of The Primitive Age” marca o aumento da presença de bandas que praticam a maravilhosa sujeira contida no Black/Thrash Metal, algo que anda bastante em alta nestes últimos anos. Não por conta de mídia, mas por conta das próprias bandas estarem investindo nesse caminho que é simplesmente para poucos. Afinal, não é toda banda que consegue extrair grandes amostras deste subgênero amado por muitos frequentadores do famoso “bueiro”, e odiados por quem prefere apenas sons mais limpos e menos cortantes conforme essa mistura fina costuma apresentar. O Nuclear Revenge é formado por quatro asseclas da desolação. São eles: Daniel Gonzalez Aguado vulgo “Speedhammer” (Aeroscreamer) na bateria; Mikel Revenga como “Cryptic Molestor” (Aeroscreamer (live)), vocal e guitarra; Xabier Palacios no papel de “Pestilence Breeder” (Obliterated Swarm) na outra guitarra; E o baixista Alberto Camps sob a alcunha de “Skullreaper” (Bloody Brotherhood, Obliterated Swarm). Temas sobre guerra, morte e a supremacia do Metal transbordam junto às composições dos espanhóis e estamos aqui para averiguar este mistério para saber se de fato honram a camisa que vestem para entendermos se este novo trabalho pode ser digno a ponto de ser exaltado pelos povos do submundo, e também deste plano astral.
O crepúsculo dá início à caminhada em terreno pantanoso com o astral negativo de uma noite sombria trazida pela faixa “Agonic Tormentor”. Sob o ataque punitivo protagonizado pelo atormentador agônico, a abertura da obra ocorre da forma mais sinistra possível sem que nada de colorido atrapalhe a vasta escuridão úmida de oxigenação ardente ao percorrer esta área escaldante. O corte profundo da navalha em forma de guitarra ríspida e completamente suja, acompanhada de uma introdução de bateria que dispara golpes de energia funérea ao ouvinte causa uma comoção geral que te captura pelo pescoço e pergunta se você é capaz de permanecer nesta área pútrida. Há espaço para ondas de baixo e solos de guitarra que acompanham a jornada em sintonia com tudo que há de ruim, dizendo isso no melhor dos sentidos. O próximo elemento do crime atende por “Summon The Nameless Ones”, faixa esta que começa a todo vapor de enxofre com diversos elementos de ambos os estilos abordados no disco. A convocação dos inomináveis acontece na calada da noite fria e horripilante com enfeites de baixo e solos de guitarra que fazem o fogo fátuo dançar acima do riacho sombrio. Com doses mais altas de Thrash, toda a estrutura do kit de Speedhammer se torna ainda mais agressiva, conforme os segundos de tortura da mais alta qualidade são contados.
“Summon The Nameless Ones”
Completando a trinca inicial temos “March Of The Undead”, sendo a mais ácida e estridente das três canções iniciais do disco. O plano etéreo do Black Metal se apresenta com mais clamor e torna a desgraça sonora ainda mais marcante e suportada por poucos, sendo estes os escolhidos para representar o exército antidivino. Podemos dizer que é praticamente tudo o que as criaturas da catacumba amaldiçoada desejam ao ouvirem determinado som. A marcha fúnebre dos mortos-vivos se aproxima da batalha e destaca o terreno infértil e improdutivo para as almas de luz plena. A luz não existe e com isso os riffs aproveitam para rasgar os espíritos fracos que não suportam um andamento de bateria preciso e carregado de morte. A trilha fica mais Black Metal do que nunca e coloca a banda em outro patamar, indicando que os hispânicos podem alçar voos muito mais altos com suas asas de gárgula após o arder da lua cheia e flamejante. Pestilence Breeder é o soldado do inferno ideal para completar os fraseados e solos de guitarra que Cryptic Molestor necessita. Uma dupla completamente infernal por assim dizer. Na quarta posição da tabela aparece a canção “Proclaimed Among The Wicked”, formando uma espécie de continuação da insanidade sonora, a fim de instaurar toda a sua fúria em seus instrumentos e exercer a função de uma bela horda maligna. Guitarras miam como gatos das trevas ao atravessarem o plano inferior e contar ao mestre tudo o que está presente no mundo carnal. Solos curtos intercalados pelos vocais de Cryptic Molestor marcam o percurso tomado pela sutra hipnótica de proclamação entre os ímpios. Speedhammer demonstra total ímpeto e conduz a aberração espanhola até o limite da violência sonora, causando uma rachadura enorme no campo de batalha escolhido por seus cardeais do submundo para executarem a antiga tarefa de varrer o planeta e livrá-lo do divino.
“March Of The Undead”
“Dust” vem na sequência apimentando o cenário com um pouco mais de Thrash que sua antecessora, dando um equilíbrio importante ao híbrido sonoro executado pelos espanhóis. Os solos iniciais levantam toda a poeira e ferrugem do lugar para que tudo entre em um conflito harmonioso entre os demônios mais poderosos com seus lacaios muito bem instruídos. Tal “múzga” possui a aura parecida com sua irmã “Summon The Nameless Ones” no quesito ser mais Thrash que as outras canções. Diria até que esta faixa é ainda mais Thrash do que ela. O baixo pulsante de Skullreaper evidencia todo esse clima bastante especial. Em certos momentos quando Cryptic Molestor deixa sua voz ainda mais rasgada junto aos riffs produzidos por ele e seus parceiros de banda, podemos notar a semelhança com os colombianos do esplêndido Witchtrap. Essa característica expande ainda mais a qualidade do trabalho dos guerreiros bascos. O final traz ruídos do que sobrou dos vilarejos devastados pela vingança nuclear. “Dawn Of The Primitive Age” é o nome da emoção, como diria o narrador ao dizer o nome de quem fez o gol. No momento em que é explorada a alvorada da era primitiva, tudo o que aparenta ser evoluído se desfaz com toda a raiva exposta pela banda em cada verso sufocante e desafiador para os mais despreparados para este embate. Mudanças de andamento ocorrem freneticamente sem que altere o ritmo deste pergaminho giratório. O certo é que ninguém pode parar o comboio da era primária das gerações que renegam os laços modernos existentes.
Sem haver chance para perdoar os falsos surge “Descending Wings Of Perversion” para deixar o filho sem pai e sem mãe. Eu sei que já usei essa palavra aqui antes, mas devo mencionar que os solos são absurdamente ‘hipnóticos’ de propósito a entreter o ouvinte e jogá-lo lava adentro das ruínas deste vulcão borbulhante repleto de magia nefasta e criaturas abomináveis, porém, amigáveis se seguir os planos delas direitinho. Os solos claramente são baseados no gigante Slayer, enquanto a cavalaria endiabrada chega ao seu destino de cativar o fã que pertence a este quadro arruinado, envelhecido, fétido, podre, completamente imundo e maravilhoso. Como dizem por aí, isso é uma aula de Black/Thrash Metal, meus caros diabretes famintos por músicas barulhentas como serras elétricas, sangrentas e pontiagudas. Abrindo a trinca final coberta de mistérios espalhados pelo baixo de Skullreaper , temos “Eyes Of Revelations”, que logo em seguida despeja todo o seu ódio através dos encordoamentos e percussões. Os olhos das revelações observam atentos e prontos para contar tudo o que viram e irão ver até o fim desta etapa que consiste em rasgar os tímpanos das vítimas com facas cegas e fervilhantes. Um momento de calmaria surge, mas somente como um rito de passagem para que seja preparado todo o ritual de sacrifício e não deixe ninguém vivo para contar história. Mais solos são distribuídos dispostos a complementar e oferecer aquele toque especial sabor Nuclear Revenge até o retorno triunfal dos riffs que inauguraram o marcador em favor do monstro do pântano espanhol.
“Everlasting Void” acende a penúltima vela restante, demonstrando o sentimento de total vazio eterno causado pela não importância da vida terrena, e o contrato combinado envolvendo várias missões de guerra que só serão reconhecidas por seus superiores caso haja uma vitória humilhante em favor dos seus soldados corrompidos e sem alma. Ainda convalescente você segue adiante pensando que falta pouco para se manter sóbrio e íntegro após toda esta experiência “repetaculê” de meu não-deus. O Metal prevalece e a boa “múzga” mais do que agradece ao toque das notas de mais um solo visceral e esbanjador de energia escura capaz de desintegrar qualquer um que se oponha aos propósitos de hastear a bandeira do Heavy Metal lá no topo. O diagrama do inferno em brasas termina com “…From The Crypt”, e é da cripta que avistamos um grupo de carniçais destruindo vilas inteiras em busca das almas das virgens para fazer aquele ritual mais forte e cheiroso que Cup Noodles dentro de um trem lotado. Do pântano surgem grandes monstros deformados prontos para impedirem o prosseguimento da viagem, mas como tudo está perto do fim, os solos e os riffs incineradores de carcaças e armaduras banhadas em luz abrem espaço para que se prossiga e encontre o final do mapa. Toda a construção da trama recebe o devido desfecho para que as cortinas se fechem novamente e o outro lado do pântano seja visto ao longe após uma densa e desafiadora jornada. O final definitivo é marcado por um tremolo infinito que se apaga junto às velas da cripta, onde habitam os espíritos dos mais bravos guerreiros dos mais variados mundos.
Ao término desta carta magna, podemos reforçar ainda mais a ideia de que o território espanhol está cada vez mais fértil ao revelar para o mundo do Metal suas gratas novidades. Tanto que não podemos colocar o país junto a um estilo só por apresentar várias bandas interessantes dentre as mais variadas subvertentes, sejam elas singulares ou compostas. Os asseclas espanhóis estão no rumo certo para que estendam a carreira da banda por anos a fio, e isso pode resultar em uma passagem por terras tupiniquins para confrontar a nossa horda de cocar e amor à música feia, suja e astrosa. Que mais bandas competentes possam buscar o seu espaço através dos seus discos, encontrando uma boa fatia neste nobre lugar e que as que já fazem parte das listas de audições dos adeptos possam lançar cada vez mais álbuns ótimos como aconteceu com “Dawn Of The Primitive Age”. Se você gosta realmente desse tipo de estrutura sonora, confira o seu andaime antes de subir e se estiver tudo em ordem, aumente o som desta perdição malevolente!
Nota: 9,0
Integrantes:
- Speedhammer (bateria)
- Cryptic Molestor (vocal, guitarra)
- Pestilence Breeder (guitarra)
- Skullreaper (baixo)
Faixas:
- 1. Agonic Tormentor
- 2. Summon The Nameless Ones
- 3. March Of The Undead
- 4. Proclaimed Among The Wicked
- 5. Dust
- 6. Dawn Of The Primitive Age
- 7. Descending Wings Of Perversion
- 8. Eyes Of Revelations
- 9. Everlasting Void
- 10. …From The Crypt
Redigido por: Stephan Giuliano