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Resenha: Midnight – “Hellish Expectations” (2024)

O ícone atual do Speed Metal norte-americano, Midnight, lançou o álbum “Hellish Expectations”. Sim, meus nobres e condessas! Uma das grandes figuras dos últimos anos da nossa “nave mãe” está de volta com mais uma extensão de sua sonoridade característica. Sonoridade esta pertencente a Lemmy Kilmister e o Motörhead, em primeira mão.

   

Óbvio e certamente que temos passagens contemplando Cronos e o Venom, além de boas doses de Sabbat, Maniac Butcher e Desaster. É com total clareza que irá observar tudo isso e até mais elementos ligados ou semelhantes a outras bandas. Portanto, se aprecia esse cenário pútrido, ríspido, regado a muita cerveja forte, conhaque daqueles de acordar sua oitava encarnação, cariri com mel e bala de canela, esse é o seu lugar!

Athenar e o seu insolente Midnight

Sobre o músico solo ligado a esse grande projeto, podemos e devemos relembrar a sua apresentação junto ao lançamento anterior, “Let There Be Witchery”, de 2022.

“O cavaleiro solitário da távola sombria é natural de Cleveland, Ohio, nos EUA. Com seu arsenal de cordas e percussão cheios de sujeira concentrada e adquirida via submundo do planisfério terrestre, Athenar busca manter o solo rachado e escaldante o suficiente para reerguer as forças do mal.”

Decerto, temos mais um trabalho com toda essa premissa e sem nenhum exagero quanto ao enunciado. Claro que existem diferenças entre um e outro álbum, mas o espírito amaldiçoado e inquieto está ali para perturbar os puritanos de plantão e trazer a devida alegria para a ala infernal da trama. Aqui, com toda a certeza, o headbanger é respeitado e honrado. Afinal, o que Athenar tem para nos contar é sobre Metal. Principalmente, se for sujo, agressivo e corrosivo aos ouvidos acostumados com I Prevails e Killswitch Engages da vida.

   

Athenar se mostra um assecla do mal persistente, pois se apoia em suas influências e destila seus sons com a receita mais empoeirada possível dentro dos moldes atuais. Isso resulta em um som “modernoso”? Nunca pense isso quando estiver diante do putrefato Midnight! A bandeira em tom negro absoluto tremula com o vento constante das trevas e encobre a luz solar.

Midnight / bandcamp

Sobre o novo artefato macabro e alcóolico do Midnight

Assim como foi mencionado acima, o Midnight bebe das águas profundas da caverna subterrânea da sonoridade enriquecida com o mais puro enxofre somado ao poderoso Rock veloz. O Speed Metal segue como o principal elemento dentro da composição musical do Midnight, enquanto o Black/Thrash Metal (em sua versão principal e híbrida) percorre caminhos menores. Entretanto, são fáceis de serem identificados e estaremos mostrando as placas com aviso em que cada mudança ocorre.

Também podemos identificar algumas passagens de Black Metal, sendo aquela versão mais crua e muito influenciada por Tom G. Warrior e o seu consagrado Celtic Frost, além do próprio Hellhammer. Primordialmente, as bandas que seguem por esse caminho sujo e visceral possuem ligações com o mago das trevas suíço. Acid, Satan e Iron Angel entram na lista de possíveis influências, mas com uma carga envolvente menor. Você pode muito bem encontrar outras ligações próximas ao ouvir o novo álbum do Midnight, pois não se trata de nenhuma regra. É apenas um caminho, um pequeno guia para lhe mostrar como essa via é pavimentada.

“Hellish Expectations” é o sexto full length dessa one-man-band. Foi lançado no dia 8 de março via Metal Blade Records. A horda de um único soldado das sombras divulgou o single “F.O.A.L.”, assim sendo a faixa apoteótica do álbum. Noah Buchanan ficou a cargo da Engenharia, mixagem e masterização, enquanto a capa é novamente assinada por William Lacey. Vale destacar os traços de Lacey, que trazem a nítida ideia do conteúdo dos discos de Athenar. Annick Giroux cuidou da parte de design, além de Gary Davis sendo o responsável pelas fotos.

“F.O.A.L.”

O caminho sombrio e solitário de Athenar frente ao novo disco do Midnight

O lance de ser solitário não condiz com solidão e lamúria ou abandono, mas sim o fato de que Athenar é a figura única dentre todas as arestas sonoras do álbum. É ele quem compõe as letras e cria todas as linhas instrumentais. Quando o Midnight se apresenta, Athenar assume a guitarra e traz consigo comparsas de alto calibre do submundo da música nefasta e maldita. O Rock veloz agradece pelo apoio e consideração.

   

A ideia é não somente manter a chama do Speed/Black Metal (ou como queira chamar esse punhado de enxofre) acesa, como também elevar ao posto mais alto possível dentro do certame underground. Cito o underground não como forma de romantismo, mas como o lugar de origem e também comum para esse tipo de sonoridade. Embora seja um filhote nítido de Motörhead, o Midnight está longe de alcançar o nível de banda média, digamos assim. Não que isso não possa acontecer, muito pelo contrário. Até torço muito por isso, pois a banda possui ótimos álbuns além deste que nos aprofundaremos mais adiante. Mas não é uma tarefa das mais fáceis. O pessoal está voltado mais para a turma da choradeira musical contornada por infinitos e infames breakdowns sem sentido.

Todavia, conforme o meu querido irmão Ricardo Marchiori, vulgo Grade, diz, o Metal é para quem é do Metal. Ou seja, o Midnight não precisa estar lá no meio dessa patota mequetrefe para ter o seu reconhecimento dentro do Metal real. Contudo, não terá maiores projeções. Mas isso aqui está fora de cogitação, pois o que importa é conferir essa nova joia forjada nos confins do calabouço mais profundo em terras norte-americanas.

Screenshot

Decifrando as ideias líricas e a sequência de sons cortantes do Midnight

A premissa é a de um álbum repleto de maldade nas letras, dilacerando anjos ou punindo-os por seu comportamento hostil e enganoso. O embate eterno contra as forças religiosas e o louvor às forças do mal. E também ao seu principal líder, claro!

A trepidação acontece de forma direta e sem qualquer cerimônia. Você apenas pluga guitarra e baixo, senta no banquinho da bateria e manda ver. O início é uma somatória de vestígios de Black/Thrash com solos e alavancas que se assemelham o dono da sujeira, ou seja, o Motörhead. Talvez você possa chamar a faixa de abertura, “Expect Total Hell”, de Black/Thrash/Speed Metal e não estará errado. Mas ao piscar, já está diante de “Gash Scrape”, que já é bem mais Speed, embora também possua elementos de Black Metal a qual foi citado no início do manuscrito virtual. Os solos são mais presentes e vibrantes e a vontade de aumentar o som e arremessar um tijolo no meio da praça para acertar alguma persona non grata é grande. Não façam isso, crianças! É apenas uma metáfora! Estamos de olho, hein!

“Masked and Deadly” é mais Black/Thrash que as outras e até mesmo com uma pegada mais Thrash em certos momentos. O som da bateria aparenta estar mais forte aqui ou talvez seja a minha empolgação. Bem, os solos acabam dizendo o contrário e a pausa para o novo assalto acontece de maneira gloriosa e eficaz. O disco é veloz como o Rock veloz e possui somente 25 minutos de duração. Então, já estamos na quarta faixa, “Slave to the Blade”. Mais “dançante” que suas irmãs antecessoras, ela ataca como uma faca e você não sabe de onde virá o corte. O Metal rápido canta de galo e domina todo o galinheiro sem esforço. Descruze os braços, headbanger valentão!

   

O tu-tu-pá é a alma do negócio

Em “Dungeon Lust”, a masmorra é o ambiente propício para um Heavy Metal sujo e despojado. Os solos e a levada são diferentes das anteriores, o que faz dessa música um destaque por si só. Aqui literalmente o chicote estrala! Ouça e notará! Acorde que o Speed/Black está de volta com “Nuclear Savior”. O Midnight caminha sempre entre o rápido e rasteiro, o arruaceiro e devastador e o mentecapto e necromante. E tome solos distorcidos sem a preocupação de soarem bonitinhos. É tudo riscado mesmo, sem a obrigação de ser chique de boutique. Não é Dragonforce cor-de-rosa! É Midnight, porra!

Posso estar enganado, mas o riff inicial de “Deliver Us to Devil” me lembrou algo de Ramones. Sim, porém muito mais agressivo. Acho que é só uma viagem minha, mas a força malevolente supersônica atravessa os céus rumo ás cidades para dominar e devastar tudo o que ver pela frente. O Black/Thrash se faz mais presente, mas nunca se encontra em sua forma pura. Em seguida temos “Mercyless Slaughtor”, com sua cadência proposital. Celtic Frost, é você? Não, mas é um sobrinho distante e muito fiel ao que fora constituído no passado. Quer mais solos curtos e nada charmosos? Se aconchegue nesse banco velho e tome cuidado para não manchar o seu braço de graxa ao encostar no balcão.

Foto: Hanna Verbeuren

Mais mudanças e mais insanidade sonora

“Doom Death Desire” honra o legado com o grito de Athenar e a impressão de que a guitarra está em chamas é evidente. O Rock veloz não é tão veloz por aqui, mas condiz com o andamento dos dizeres. Os dedilhados são muito bem inseridos e o final breve abre caminho para ela: F.O.A.L.

Principal single da banda e mortalmente impiedosa. Já começa com um solo inicial e no refrão possui um dedilhado muito voltado para o seu principal mestre e instrutor musical. É, com toda a certeza, a faixa com mais tempo de solo e também a canção com mais palavrões repetidos a plenos pulmões por Athenar! Hahahaha! Quer saber o significado da sigla? Te mostrarei a seguir. Continue me acompanhando. Está divertido, não está? O inferno é um bom lugar e posso te provar que sim.

Explicação com poesia maléfica de amor

O amor sempre está no ar. E com ele, consiste em ter surpresas bem agradáveis. Tão agradáveis quanto a presença do inferno total. Tudo isso após através do domínio do que é sagrado.

   

“Não espere trégua
Não espere misericórdia
Espere o inferno total!!”

Após uma explosão, são poucos os vestígios a serem encontrados, Há marcas de pregos na ardósia enquanto o couro canta e Athenar esbraveja tanto em voz quanto em todos os instrumentos. Fluxo de sangue em abundância, já ficando coagulado. Enquanto subumanos não são encontrados, a pancadaria sonora ocorre na mesma abundância.

O carrasco mascarado e mortal está frente a frente com você. Escolha a sua arma, pois você irá morrer com ela. Ao menos não terá a desculpa de dizer que morreu por estar desarmado. O odor da morte te incomoda bastante e será difícil suplantar o calor e o poder alto do adversário.

“Manchado de suor, o fedor da morte
Cheio de doença, prepare-se para pegar
Injete a sujeira, o pulso vai disparar
A escolha é sua, o machado ou a maça
Mascarado e mortal – ninguém sobreviverá
No calor do inferno você vai fritar”

Ser um escravo da lâmina é complicado. Mulheres com navalha são o terror na terra. Tome cuidado e se concentre nas metáforas de Athenar para não se ferir gravemente. Porém, podemos ter outra visão. Ou seja, a de que prostitutas são vítimas de cortes a sangue frio. Ou clientes, ou seja lá o que for. Você, que é uma criatura da noite, pode me ajudar nessa. Eu prefiro pensar que o lobisomem de Nova York está à solta mais uma vez.

Aqui é o local em que o chicote estrala e a mãe não vê. Você é possuído para conjurar o mal mais puro. A luxúria ocorre na masmorra. Imagine as criaturas que passam por lá, hein! Algumas bem famosas que aparecem na TV. Pelas barbas do profeta! O crucifixo está invertido e dificilmente há escapatória.

“Alimentando-se de fragmentos de couro queimado
Vômito liberado em prazer, crucifixo invertido
Não há necessidade de correntes”

O trovador das trevas aterroriza os seres fracos

O salvador nuclear está presente para nos fazer descansar, pois a ideia aqui é destruir e dar fim a tudo. As armas chegam pelo alto e destronam tudo o que atingem. Reze pelo desastre, pois os sorrisos se transformaram em gargalhadas. O fim é definitivo!

   

O desfiladeiro para o encontro com o dono do submundo e que pretende dominar o plano terreno é logo ali. Nesse caminho você pode esperar pelo mal que irá aparecer. Por onde os demônios escapam é a entrada para o domínio do Metal. Ouça o barulho indomável e entregue-se ao diabo!

O massacre impiedoso ocorre de maneira ríspida, estúpida e ignorante. A figura de Juggernaut se faz presente através da busca pelo fogo. O cheiro de sangue e couro molhado é evidente, repelindo as prostitutas caras. A lei do machado fala mais alto e podemos entender que o Athenar costuma frequentar as “padarias” noturnas. Certa vez pela manhã, avistei duas moças saindo de um desses “recantos” com uma sacola e dentro continha um saco cheio de pães. Ou seja, virou padaria!

“Prepare-se para o massacre impiedoso
Esmague com desprezo
Juggernaut não será negado
Busca por fogo
A tocha está acesa e queimando alto”

Cedo ou tarde o desejo de morte e perdição chegaria junto a um impulso apocalíptico e bombástico. Os atos degradantes serão feitos com facilidade. O som é alto e a devoção à destruição é latente, assim sendo uma provocação armagédica. Aspire esse spray tóxico de hálito incinerador!

“Desejo de morte e perdição – desejo de perdição
Desejo de morte e perdição – inale os vapores
Desejo de morte e perdição – arranque seu útero
Desejo de morte e perdição – chegará em breve
Desejo de Morte e Perdição”

Midnight – “Fuck Off and Live”

Vá se foder e viva!

Calma, não estou te xingando! Lembra do nome do principal single e última música desse full length? Então! Está aí o significado daquela sigla. É como um verdadeiro “chute nos cornos” para acordar para a vida e parar de chorar nos cantos. Você não pode morrer. Não pode mesmo. Acha que “eu” desejo a sua liberdade? Claro que não! Jamais irei querer você ao meu lado no inferno. Se deleite na dor até que o martelo do destino bata com tanta força e violência nos moldes do Midnight!

Vá se foder e viva a sua vida de merda! Não encha o saco, pois você não tem vez aqui embaixo. O solo pode ser sujo, desenfreado e poderoso, mas não é capaz de tornar a sua reza útil. Sua tristeza é terminal e sua fortuna está apodrecendo. Além disso, seu espírito nunca foi libertado.

   

“Rasteje de joelhos até o túmulo
E torça para que seja o fim
O ceifador nega todos os apelos
Para sua alma descansar, sem descanso do ceifador”

Sem colocar título nas conclusões finais, digo que talvez tenha faltado uma variação a mais dentro dos riffs de cada música. Isso não é nenhum demérito, mas acaba soando mais direto que o normal. Entretanto, considero “Hellish Expectations” o disco mais equilibrado do Midnight, contabilizando os mais recentes a qual tenho mais audições realizadas. De fato, o Midnight é uma realidade muito forte dentro do cenário da música pesada, voraz e suja. E isso só tende a melhorar ainda mais. O Black/Thrash não é a veia mais forte do Midnight e, portanto, sempre caberá a alcunha de banda de Speed Metal ou Speed/Black Metal/Thrash Metal, caso a ideia seja colocar todas as cartas à mesa.

Em resumo, ouça “Hellish Expectations” e viva!


“Guided by hellish glory
Follow me through the flame
Destroying all that is holy
Done in Satan’s name”

nota: 8,8

Integrantes:

Athenar (todos os instrumentos)

Faixas:

1. Expect Total Hell
2. Gash Scrape
3. Masked and Deadly
4. Slave to the Blade
5. Dungeon Lust
6. Nuclear Savior
7. Deliver Us to Devil
8. Mercyless Slaughtor
9. Doom Death Desire

   

Redigido por Stephan Giuliano

   

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