Gravadora: Silver Lining Music
Na estrada desde 2004, os suecos do SOEN lançaram em janeiro desse ano, o excelente “Imperial”, quinto álbum da carreira e mais um disco que certamente irá agradar os fãs do quinteto.
Contendo oito faixas inéditas, o novo disco dá continuidade ao Progressive Rock feito com maestria em “Lotus”, trabalho anterior lançado em fevereiro de 2019 e um dos melhores registros da banda.
O sucesso de “Lotus, que atingiu a 13a posição da US Heatseekers Albums da Billboard, quando lançado, fez com que a banda apostasse exatamente na mesma fórmula em seu novo disco. Em algumas canções, é possível notar uma ligação sonora ou mesmo uma continuação do que fora feito anteriormente, já que as melodias e andamentos são similares.
Trazendo em seu line up: Joel Ekelöf (vocais), Cody Ford (guitarras), Lars Enok Åhlund (guitarras, teclados), Oleksii “Zlatoyar” Kobel (baixo) e Martin Lopez (bateria), o grupo destaca-se por seu Progressive Metal “diferenciado”, já que em suas composições fogem das virtuoses infames que permeiam o estilo e aqui, graça a Deus, os excessos e exageros passam bem longe.
Sem delongas, é hora de dissecar o conteúdo lírico de “Imperial” e mergulhar na sonoridade do Soen. Vem comigo.
O disco abre com a estupenda “Lumerian”, faixa contendo alguns flertes do chamado “Modern Metal” e riffs com uma veia de Industrial, substituídos nos segundos seguintes quando a banda mergulha em seu Progressive de fato, oferecendo ao ouvinte uma dose de peso e melodias grudentas em seu refrão. Em dado momento as linhas de vozes lembram Daniel Estrin (Voyager), Maynard James Keenan (Tool, A Perfect Circle) e Serj Tankian (System Of A Down).
*Excelente faixa de abertura!
Trazendo melodias belíssimas e riffs pesados de guitarra, mergulhamos nas harmonias pegajosas de “Deceiver”, uma das faixas mais incríveis do disco.
Traçando uma linha perfeita, ligando o peso das guitarras com a sutileza dos vocais, viajamos numa atmosfera meio sombria que se estende principalmente em sua letra e em seu clipe (espetacular) fazendo uma espécie de ligação sonora com “Martyrs”, faixa presente no excelente e mencionado “Lotus”.
A grandiosidade sonora de “Deceiver” se estende principalmente ao seu refrão, daqueles que grudam de imediato e te convidam a cantar junto.
Um fator predominante na musicalidade do Soen: Como poucos e de forma inteligente, o grupo tem a incrível facilidade de juntar o peso com melodias mais serenas (aquelas paradinhas no meio da música) e o fazem com maestria, além das interpretações perfeitas de Joel Ekelöf.
A propósito, os destaques aqui são exatamente os vocais de Joel, dono de um timbre agradável, sereno e sem exageros. Outros destaques são as linhas de contra baixo de Oleksii Kobel (Stefan) e finalmente os backing vocals, breves, porém muito bem encaixados.
Ao final da última nota, o uso da tecla “Repeat” torna-se obrigatório.
“Monarch” marca mais uma vez o encontro entre riffs pesados e os vocais suaves de Joel, formando um híbrido perfeito que compõem as harmonias espetaculares desta canção a qual podemos classificá-la como o momento “Power Ballad” do disco, sendo dona de um videoclipe belíssimo. É preciso dar ênfase ao solo magistral emanado pelas guitarras e aos violinos, que aparecem aos “quarenta e quatro minutos do segundo tempo” como a cereja do bolo, coroando esta que integra a lista de músicas mais belas do álbum.
Em mais um momento surpreendente de “Imperial”, é hora de viajar nas melodias emocionantes de “Illusions”, uma canção onde as guitarras nos remetem ao que faz Mark Knopfler (Dire Straits) na música “Brothers In Arms”. Dona de melodias emocionantes, daquelas que te conquistam aos primeiros segundos de audição, temos aqui o momento “balada” do disco e uma letra absurdamente bem escrita, mostrando o quanto o Soen se importa não apenas com sua música e/ou com suas melodias, já que suas letras também trazem frases de impacto do tipo: “Aqui estamos / Culpando o fracasso do outro / Aqui estamos esperando para partir / Nós nos importamos / Apenas o suficiente para ajudar nosso irmão? / Nós nos importamos o suficiente para cessar o dano? / A cada passo que damos, ficamos mais longe / De tudo que precisamos para alcançar a harmonia / Para todos nós que não vamos demorar para fingir / E todo mundo que segue seus sonhos.”
Em seu videoclipe, os personagens (aparentemente pai e filha) sobrevivem a algo ligado ao apocalipse já que o roteiro dá mostras de um presente pós apocalíptico, onde ambos aparentemente são os únicos sobreviventes. O clipe finaliza com uma bela mensagem daquela capaz de arrancar lágrimas dos mais sensíveis.
Destaque para as guitarras perfeitas da dupla Cody & Lars, destilando notas e solos simples que casam perfeitamente com as imagens sombrias e solitárias do clipe.
Em mais um grande momento, “Antagonist”, uma das melhores e impactantes faixas, pede passagem. Trazendo em suas linhas rítmica a mesma pegada da já citada “Martyrs” e “Deceiver”, a canção é claramente um grito à liberdade e uma crítica direcionada àqueles que fizeram das pessoas suas presas, roubaram seus direitos de ir e vir sob a desculpa de que tudo está sendo feito a fim de protegê-las (balela).
Em sua letra, a música deixa claro que enquanto uns se tornaram prisioneiros sob o argumento pífio e mentiroso de “proteção”, os poderosos lucram com a morte e a dor daqueles que se tornaram vítimas da mentira e da ganância. Em forma de desabafo e protesto, a canção diz: “Com os rejeitados e solitários, eu me misturo / Com os mendigos e drogados, eu dou boas-vindas à dor / De uma vida como alvo de culpa / Para o proscrito que não se alinharia / Com a injustiça implacável que governa nosso tempo / Para os lobos, expulsos pelos cordeiros / Você está confundindo o vigarista com o honesto / Enquanto você está construindo suas casas longe de nós / Elevando paredes para nos manter do lado de fora / Da sua vida sem sentido. “Disparam suas armas / Para honrar os / Que caminham na orla da luz para seguir sua causa / Disparam suas armas / Desafiando os reis / Pois a palavra que pregam é a ferida / Isso está nos fazendo sangrar.”
Destaque para o lyric video, que é absurdamente bem feito, e melhor do que muitos clipes, propriamente ditos. E como não mencionar o trabalho excepcional da cozinha baixo, bateria, guitarras, vocais e as linhas sutis de teclados que dão um toque especial no resultado final?
Com linhas de vozes que nos remete a “Sober”, canção presente no disco “Undertow” dos americanos do Tool, “Modesty” mostra mais uma vez a união perfeita entre o os riffs pesados de guitarras, aliados às harmonias belíssimas de violinos, em mais uma momento grandioso do álbum, nos envolvendo em uma atmosfera de Power Ballad.
Em sua reta final, “Imperial” nos apresenta “Dissident”, faixa que traz algumas similaridades com os trabalhos dos armênios-americanos do System Of A Down, bem como os trabalhos solos do vocalista Serj Tankian. Com nuances que exploram o peso das guitarras com os vocais ora suaves, ora agressivos de Joel, a música traça um parâmetro entre os dois estilos resultando em uma música forte, agressiva, suave em algumas passagens e literalmente a mais “Prog-Metal” de todo o disco.
Diferente de suas antecessoras e encerrando esta maravilha musical, “Fortune” chega como a faixa “diferente” de todo o disco, já que sua sonoridade é mais branda e sua harmonia apresenta linhas de vozes que nos remetem a “Burden” do Opeth.
Em sua parte instrumental é possível notar certa atmosfera melancólica, principalmente nas guitarras que soam como um encontro entre David Gilmour (Pink Floyd) e Mikael Åkerfeldt (Opeth).
Destaques mais uma vez para a participação dos violinos, responsáveis por linhas musicais belíssimas, causando o encontro perfeito entre a melancolia e o emocional.
Desde sua estreia em 2012, o Soen mostra que a cada disco lançado o grupo moldou sua música, amadureceu musicalmente, criou um identidade própria, moldando seu estilo disco após disco.
Em seu novo trabalho, é possível notar uma atmosfera diferente e uma mudança de comportamento musical, presente principalmente em suas composições.
O grupo vem de uma sequência de discos brilhantes e extraordinários, a qual pode ser dito que cada trabalho lançado soa como novo capítulo de um livro muito bem escrito, repleto de emoções e sentimentos.
Apesar de se caracterizar como uma banda de Progressive Metal, não espere ouvir nas melodias do Soen, músicas viajantes, cansativas, infinitamente longas ou voltadas à exploração instrumental. Não! Definitivamente o quinteto passa longe disso, oferecendo ao ouvinte uma viagem pelas melodias sutis, serenas e requintadas de um Prog Rock executado por uma banda que caminha a passos largos em direção ao lugar mais alto do pódio.
A grandiosidade de “Imperial”, dá-lhe o status de um dos melhores discos de Prog Metal deste ano, tal qual o Soen pode se orgulhar de ser uma das melhores bandas de Prog Metal surgidas nos últimos anos. Em especial, no comecinho dos anos 2000 já que a banda nasceu oficialmente em 2004.
Se o Progressive Rock precisava de uma banda e um disco que representasse de forma brilhante o estilo, agora não falta mais.
Se em determinado momento, as impressões de que estamos ouvindo algo relacionado ao Opeth, não esquenta, afinal de contas Martin Lopez (baterista) integrou a banda por alguns anos. Sua permanência marca o período de 1998 a 2006 e um total de seis discos gravados.
* É preciso salientar que esta é mais uma das tantas bandas à contar com os préstimos do renomado e todo poderoso Steve DiGiorgio (Testament, Sadus, Death, Act of Denial, Spirits Of Fire, Mythodea, Control Denied, Iced Earth, Charred Walls Of The Damned, Sebastian Bach, etc), um dos melhores baixista de todos os tempos, dono de uma lista imensa de contribuições musicais.
Sim, em seu álbum de estreia o Soen, contou com os trabalhos geniais de DiGiorgio, empunhando seu contra baixo.
Opinião pessoal: Um dos discos mais belos e geniais lançados neste ano.
PS: É preciso destacar os trabalhos belíssimos da capa, já que a mesma apresenta uma arte espetacular.
Singles:
Nota: 9,5
Integrantes:
- Joel Ekelöf (vocal)
- Martin Lopez (bateria)
- Lars Enok Åhlund (guitarra, teclado)
- Oleksii Kobel (baixo)
- Cody Ford (guitarra)
Faixas:
- 1 Lumerian
- 2 Deceiver
- 3 Monarch
- 4 Illusion
- 5 Antagonist
- 6 Modesty
- 7 Dissident
- 8 Fortune
Redigido por: Geovani “Fox On The Run” Vieira
Pra tu ver como é que essas bandas de metal, com letras anti status quo e tudo mais, continuam sobrevivendo e agradando fãs de centro, de esquerda e de direita. O cidadão conseguiu extrair uma mensagem (completamente inexistente) anti isolamento social durante a pandemia da letra de Antagonist.
Cada um extrai o que bem entender de letras desse tipo. Por isso que esses argumentos de “se você é de direita e gosta de tal banda, é que você não entendeu nada!”. A prova taí, o responsável pela resenha entendeu muito bem, dentro daquilo que ele quis entender…
Por isso que esses argumentos de “se você é de direita e gosta de tal banda, é que você não entendeu nada!” NÃO ROLAM