“Persona Non Grata” é o novo disco do Exodus.
Apesar de todos os problemas que estamos vivendo no Brasil e no mundo nos dias de hoje (crise sanitária, crise econômica, etc), não podemos negar que 2021 tem sido excelente em um aspecto: lançamentos de Heavy Metal. Ao longo deste ano, foram inúmeros novos álbuns das mais diversas bandas como: Carcass, Iron Maiden, Cannibal Corpse, The Troops Of Doom, etc. Porém apenas em novembro tivemos o prazer de ouvir o que era para muitos (incluindo esse que vos escreve) o lançamento do ano: “Persona Non Grata” (Exodus).
Após um hiato de consideráveis 7 anos sem nenhum material inédito, o Exodus presenteou os fãs com um novo trabalho de estúdio, o décimo segundo, se considerarmos “Let There Be Blood”.
Voltando ao ano de 2014
Apenas para recapitular um pouco, a maioria deve se lembrar que o ano de 2014 foi bem movimentado para o Exodus, já que houve a demissão do vocalista Rob Dukes e a volta de Steve Zetro Souza, 10 anos após sua última aparição com a banda. Ainda naquele ano, eles saíram em turnê (passando inclusive pelo Brasil) e lançaram o ótimo “Blood In, Blood Out”.
O álbum foi bem recebido pelos fãs e pela crítica, porém os compromissos do guitarrista, líder e principal compositor, Gary Holt, com o Slayer acabaram adiando, mais do que o esperado, o lançamento de seu sucessor. Além disso, em abril deste ano, fomos pegos de surpresa com a triste notícia de que o baterista Tom Hunting havia sido diagnosticado com câncer no estômago, o que também atrasou o lançamento (com razão, né?). Felizmente o tratamento e a cirurgia foram bem sucedidos e o Tom está mais forte do que nunca!
Voltemos ao tempo presente para falar do que todos querem ouvir, o novíssimo full lenght, lançado no último dia 19. São 12 faixas inéditas, sendo que 3 já foram previamente liberadas em formato de single: “The Beatings Will Continue”, “Clickbait” e “The Years Of Death And Dying”.O álbum foi produzido pelo renomado Andy Sneap, que já produziu bandas como Megadeth, Testament e Dream Theater, e encontra-se tocando ao vivo com o Judas Priest devido ao afastamento do guitarrista Glenn Tipton. Esse é um fator que também anima a todos, já que Sneap dificilmente assina seu nome em obras “questionáveis”. Ao contrário de nomes como Iron Maiden, Metallica e outros, os fãs do Exodus são praticamente unânimes no que diz respeito à qualidade de seus trabalhos. As chances da banda lançar um álbum mediano, que seja, é praticamente nula.
Faixas do “Persona Non Grata”
Ao apertarmos o botão de play no disco, percebemos algo diferente: não é nenhum tipo de “introdução”, e sim a própria música direta e reta pro ouvinte (todos os álbuns do Exodus desde 2007, além de outros dos anos 80, traziam algum tipo de intro). “Persona Non Grata” é a faixa de abertura, e logo de início podemos perceber que se trata do Exodus. Um riff extremamente rápido e, ao mesmo tempo, complexo. Linhas de bateria precisas e brutais. Vocais rasgados, altos e graves. Linhas de baixo que dão uma base perfeita para a genialidade e o peso. Gostou da fórmula? Pois bem, isso resume bem como o álbum inteiro soa. Mas aqui em específico, falamos de uma música longa (7:31 min), que lembra muito o tipo de som que o Exodus estava fazendo na época do ex vocalista Rob Dukes. É uma música com vários andamentos, ritmos e solos.
Confesso que a segunda música não saía da mente até pouco tempo. O que diabos significa “R.E.M.F”? Agora já temos a resposta: “Rear Echelon MotherFucker”. Ao contrário da faixa título, “R.E.M.F” já segue a fórmula mais tradicional, de uma música mais curta e relativamente mais simples, mas ainda assim destruidora da forma que só o Exodus consegue fazer. Os vocais de Steve Souza estão simplesmente sensacionais nessa música, tenham certeza disso.
Lembrando “Fabolou Disaster”
A terceira canção, “Slipping Into Madness’, se assemelha muito com algo feito no “Fabulous Disaster” (1989). O andamento é rápido, é claro, mas há um refrão com fortes backing vocals, algo muito usado pela banda na época e que acabou sendo retomado no álbum anterior “Blood In, Blood Out”, em faixas como “Collateral Damage” e “Body Harvest”, por exemplo. Com certeza é algo que funciona muito bem em apresentações ao vivo. Uma curiosidade: “Slipping Into Madness” é a única música do “Persona Non Grata” que não contou com Gary Holt em sua composição, uma vez que a letra foi escrita por Steve Souza e a melodia pelo guitarrista Lee Altus.
“Elitist”, a quarta, possui um andamento mais cadenciado, lembrando de leve algo como “Culling The Herd” ou “Throwing Down” (Tempo Of The Damned). Temos mais uma vez o (ótimo) uso de backing vocals e letras escritas por Steve Souza.
“Prescribing Horror”
Em seguida, vem “Prescribing Horror”, que também também não é rápida como a maioria das outras, e por mais irônico que possa ser, é uma das mais sombrias e pesadas. A letra aborda um tema extremamente delicado e triste: a talidomida. Essa droga foi criada por um médico alemão chamado Heinrich Mückter (atuante nos campos de concentração nazistas) em meados de 1957, e comercializada como um sedativo poderoso e um bom método para aliviar os enjoos da gravidez.
Porém, no final da década de 60, observaram-se os terríveis efeitos colaterais da talidomida para as grávidas: milhares de bebês nasceram com deformidades causadas por más formações congênitas. Sem dúvidas é um assunto extremamente triste e delicado, mas que foi abordado pelo Exodus com total genialidade e respeito às vítimas, como a banda sempre faz. Nos 50 segundos finais, ouvimos um choro de bebê que chega a dar arrepios na espinha de tão assustador. Essa com certeza é uma das melhores, algo que foi dito inclusive pelo próprio Gary Holt.
“The Beatings Will Continue (Until Morale Improves)”
Continuando a audição, chegamos no primeiro single: “The Beatings Will Continue (Until Morale Improves)”. É a música mais curta do disco e com certeza uma das mais curtas de toda a carreira do Exodus, mas é do jeito que estamos acostumados: sem tréguas. Riffs rápidos, dueto de solos, vocais rasgados e também rápidos e novamente com backing vocals… É a fórmula perfeita do que um fã de Exodus quer ouvir. A música aborda a violência policial em uma letra ácida escrita por Gary Holt. Para a faixa, a banda gravou um videoclipe.
O último single
“The Years Of Death And Dying”, o último single liberado aos fãs. Sem muito medo de errar, é possível afirmar que a música lembra a clássica “Blacklist” (“Tempo Of The Damned”) pelo seu andamento e construção rítmica. Talvez uma mistura de “Blacklist” com “My Last Nerve” (“Blood In, Blood Out”). Aqui, no entanto, existem dois diferenciais que não podemos deixar de comentar: o primeiro deles é o uso de um refrão mais melódico e limpo (nada comum para o Exodus, mas que caiu muito bem) e o segundo é que a letra da música foi totalmente escrita por Tom Hunting, e é uma clara homenagem à grandes nomes da música que já faleceram, como Prince, Jeff Hanneman, Eddie Van Halen, etc.
“Clickbait”
Chegamos na cacetada,”Clickbait”. Como o nome já diz, a banda resolveu abordar aqui todo o sensacionalismo que a mídia joga na população com suas manchetes tendenciosas e matérias “duvidosas’” que têm como objetivo manipular a opinião das massas. Mais uma letra ácida encaixada em uma música violenta e visceral. O refrão aqui também deve funcionar muito bem ao vivo. As linhas de bateria de Tom estão cada vez mais impressionantes. Muitos mortais já teriam infartado à essa altura do campeonato.
Prosseguindo com a audição, temos um título bem “curioso”: “Cosa Del Pantano”. A música na verdade é um interlúdio acústico com pouco mais de 1 minuto de duração, que serve como base para a seguinte, “Lunatic – Liar – Lord”.
O título já deixa claro o tema abordado na letra, porém o destaque aqui é outro: nessa música temos nada mais nada menos do que quatro solos de guitarra! Isso por quê além de Gary Holt e Lee Altus, temos Rick Hunolt (ex-guitarrista) e Kragen Lum (guitarrista do Heathen e ex-guitarrista do Exodus para apresentações ao vivo). Esse sem dúvidas é um dos pontos altos, uma vez que cada músico possui a sua própria característica e cada guitarra possui um timbre diferente. Além disso, “Lunatic – Liar – Lord” é a faixa mais longa presente no Persona Non Grata, com 7 minutos e 59 segundos de duração. Assim como a música título, ela soa como uma canção da fase Dukes, porém interpretada por Steve Souza.
“The Fires Of Division”
Com o fim do disco se aproximando, é hora de ouvirmos “The Fires Of Division”, a penúltima do registro. Apesar de sua introdução pausada muitíssimo interessante e bem feita, aqui o destaque vai para os vocais de Souza, que mesclam o seu timbre “ardido” já conhecido por nós com algumas partes que beiram o gutural, principalmente durante o refrão. Além disso, ótimos riffs e mudanças de andamento marcam a música.
“Antissed”
Por fim, o encerramento: “Antiseed”. Ela começa meio tímida, até chegamos a pensar que pode se tratar de mais uma música com mais cadência, mas após menos de 1 minuto e meio dos riffs iniciais, vemos que estamos errados. Outra paulada sonora penetra na mente do ouvinte e o leva à um mosh pit imaginário (sim, a sensação é essa). Apenas no refrão há uma diminuição no ritmo, porém por poucos segundos. Trata-se de mais uma música direta e agressiva, um excelente modo de fechar o álbum.
Atendendo aos anseios
Após tanta espera e tantas expectativas, “Persona Non Grata” veio a luz e nos mostrou por quê o Exodus continua arrastando uma legião de fãs ao redor do mundo à seus shows: é uma banda que nunca traiu a si mesma, sempre manteve a qualidade de seus trabalhos, não importa a época ou a formação. Gary Holt e seus parceiros no crime estão mais agressivos do que nunca, mostrando que quando há a paixão pelo Metal, nada é impeditivo para continuar produzindo trabalhos muito acima da média, e ainda há muita lenha para ser queimada.
Nota: 9,0
Integrantes:
- Steve “Zetro” Souza (vocal)
- Gary Holt (guitarra)
- Lee Altus (guitarra)
- Jack Gibson (baixo)
- Tom Hunting (bateria)
Faixas:
- Persona Non Grata
- R.E.M.F
- Slipping Into Madness
- Elitist
- Prescribing Horror
- The Beatings Will Continue (Until Morale Improves)
- The Years Of Death And Dying
- Clickbait
- Cosa Del Pantano
- Lunatic – Liar – Lord
- The Fires Of Division
- Antiseed
Convidados especiais
- Rick Hunolt (backing vocals em “The Beatings Will Continue” e guitarra em “Lunatic – Liar – Lord”)
- Kragen Lum (guitarra em “Lunatic – Liar – Lord”)
- Cody e Nick Souza (“backing vocals em The Beatings Will Continue”)
Redigido por: Lucca Ferreira