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Resenha: Evil – “Possessed By Evil” (2021)

Gravadora: Nuclear War Now! Productions

   

“Resident Evil”? “Dream Evil”? “Evil Dead”? “Live Evil”? “Evil Invaders”? Simplesmente Evil. É isso mesmo! Outro fator marcante é que aterrisaremos em um lugar muito especial. Estamos na terra dos maravilhosos ‘animes’ e ‘tokusatsus’, ou seja, o Japão! Mais precisamente na capital Tokyo (escrever Tóquio desanima a vida) e foi lá em 2011 que surgiu o novato Evil. Desde essa data, a banda “possuída pelo mal” busca expandir e espalhar sua arte tenebrosa formada através da mistura resultante no que conhecemos por Black/Thrash Metal. Seu álbum de estreia foi o bom “邪悪を讃えよ” (Rites Of Evil) de 2017, e quatro anos mais tarde estão de volta com o lançamento de “Possessed By Evil”. Antes do debut, a banda havia lançado duas demos, sendo uma em 2012 e outra no ano seguinte; também lançou um split álbum com a banda de Death Metal/Grindcore, Lurking Fear, também da região de Tokyo. Além disso, o Evil possui dois Lives e outro split, dessa vez com a banda norte-americana de Death Metal, Siege Column. “Possessed By Evil” foi lançado no dia 1° de fevereiro via Nuclear War Now! Productions e apresenta todas as suas músicas com seus nomes traduzidos para o inglês ao lado de cada faixa, apesar de escrever suas letras em japonês.

Falando um pouco sobre o Japão com relação ao Rock e o Metal, este sempre foi um país com uma população ávida por arte e se em um passado não muito distante, existia um número alto dentre as diversas restrições e imposições perante o que vinha do ocidente, isso foi quebrado através de muito empenho e muita luta para que o povo nipônico pudesse conferir as atrações como bons terráqueos que apenas queriam se divertir através de um show de uma banda de Rock. Muitas bandas famosas fizeram vários shows por lá, e dentre essas várias turnês asiáticas nasceram grandes clássicos ao vivo. Nem ouso citar um ou outro, pois faltarão vários Lives sensacionais que ficaram para a história a serem citados aqui. O Metal japonês é bem forte em vários âmbitos, e, não importando qual vertente, pode ter certeza de que encontrará algo marcante para que possa se tornar fã imediatamente. Quanto ao Evil, esta é uma banda que utiliza de uma fusão sonora dentro do Metal mais obscura e que tem se tornado mais popular com o passar dos anos. Ainda não é comparável aos subgêneros principais do Heavy Metal, como o próprio Black Metal e, principalmente, o Thrash Metal que já é mais do que um estilo consagrado dentro do universo que amamos. O fato é que por ser um tipo de sonoridade costumeiramente mais voltada para o som sujo e cortante como uma serra enferrujada e cheia de teias de aranha, é normal essa linhagem figurar em maior número dentro do underground. E quando cito o underground, estou citando praticamente o calabouço dele, onde poucos se arriscam a procurar alguma pepita de ouro. Já sobre o Evil, temos de encarar esse novo álbum para ver como estão e se terão potencial para conquistar mais adeptos não somente dessa fusão de vertentes como também do Metal no geral.

Quem dá as caras logo nos primeiros segundos é o baterista Yaksa com seu kit avassalador logo no início da introdução do ciclo da dor, mostrando que ninguém está com a intenção de perder tempo e quer logo tomar o local de assalto. Sem nenhuma cerimônia, a primeira linha de bateria executada já é extrema a ponto de quase remeter ao Death Metal com seus famosos ‘blast beats’. Quando entram as guitarras e o baixo tudo passa a fazer sentido, enfim. Logo à frente surge o primeiro solo do disco que te joga numa espécie de Black ‘n’ Roll ou algo parecido. Sim, podemos citar Venom e Motörhead como cabeças-de-chave por aqui sem sombra de dúvida. E após a “sujeira” boa que eu gosto bastante, é apresentada desde o princípio já emanando aquela energia negativa que todo adepto da “múzga” malvada adora de paixão. Seguindo a abertura da masmorra com riffs criados a partir de joias do despertar do maldito, o monstro ganha forma e toma posse do ouvinte. Os vocais rasgados, ríspidos e afiados de Asura, que também desfere seus ritos guitarrísticos, tornam a canção ainda mais visceral com espaço para aquele agudo que termina o verso de forma condizente com o propósito de “Yaksa” (pseudônimo do baterista). Quando as peças se encaixam, essa parte funciona muito bem. O que não ocorre em outras bandas com vocalistas que não prestam atenção no que estão fazendo e acham que soltar gritinhos aleatórios faz algum sentido. Aqui sim a tática funciona muito bem. De repente, riffs pesados com harmônicos acesos surgem e toda a poeira aumenta junto à vingança, deixando aquele ser desacostumado com sonoridades com gosto de ferrugem perdidos na Atlântida de sua mente incapaz de perceber o que ocorre à sua volta. Cada segundo que passa, o nipônico Evil começa a provar que realmente pertence ao escalão de boas bandas do Black/Thrash Metal. Mais um solo surge e não temos tempo nem de respirar direito para poder acompanhar de perto a agressividade e o empenho de cada componente da banda. As cordas nos avisam que o som híbrido prevalecerá até o fim da jornada e isso só fará (obviamente) o ouvinte desejar seguir esta caminhada rumo até a última faixa.

Nesse instante começa a chover em “Raizin” naquele estilo mais assustador e assombroso possível, com direito a raios brilhantes e trovões em meio à escuridão plena do castelo de Evil. Um pouco mais cadenciada, ela aparece na janela para dar aquele “oi” bem sinistro apoiada por acordes muito bem colocados perante uma bateria que sabe valorizar um tipo de som nestes moldes que nem todos conseguem executar de modo que não se chateie na metade do percurso. A chama se eleva e com ela o Evil traz toda a essência do Black e do Thrash, com doses de Black ‘n’ Roll, conforme já foi citado anteriormente. Os solos evidenciam isso e trazem aquela pimentinha de Motörhead que nunca falha. Pode colocar um pouco de Celtic Frost na lista de aperitivos que não há problema algum nisso. Longe de ser algo extremo neste momento, tudo o que é feito condiz com o giro da bolacha até que a tempestade diz “até logo”, mantendo um ar de mistério sob a mesa para que aconteça (sem haver tempo de raciocinar) mais uma sequência catastrófica e causadora de hemorragias auditivas naquele que não possui o DNA de timbragens baseadas no ranger dos portões de fábricas abandonas e porões amaldiçoados do mal supremo. De forma bastante incisiva, o Evil conduz seus asseclas ao ultimato junto aos seus súditos e apreciadores de suas canções. Bishamonten e Asura não brincam em serviço, colocando a banda em condições de brigar firme e forte com outras do gênero. Os lances mais insanos ocorrem por aqui, mesmo que um pouco antes já tenham demonstrado boa parte de seu arsenal destrutivo e que ainda conta com solos que imitam o tilintar de um tridente em um ataque extremamente rápido à vítima.

   

Um aviso aos que desejam matar essa curiosidade em ouvir tal disco: tirem as crianças da sala! Talvez este disco não seja para você que prefere andar nos pequenos pôneis malditos ao invés de domar uma quimera de dezoito cabeças que solta hadouken com uma mão só. Os solos continuam entregando toda a magia negra possível para um petardo como este, assim como diriam os redatores de outrora. Às bandas que praticam a arte da sujeira violenta, o Evil é mais um que possui potencial para se juntar a este escalão tanto na confecção de seus riffs, quanto em seus solos. A mistura entre o mais extremo com a pegada mais Rock ‘n’ Roll daqueles bares chamados de “copo sujo” são evidenciadas a todo tempo. Ninguém se esconde e presta o devido serviço como um ceifador dedicado para os seres maléficos ficarem com seus sorrisos assassinos largos e felizes por estarem muito bem representados até então, isso sem contar a chuva de solos que aparecem como gárgulas nas sacadas dos monumentos. E como todos estão brilhando, nada como o baixista Enmaten conduzir o seu instrumento de forma mais acentuada em uma introdução simples e ao mesmo tempo surpreendente, enquanto se abrem os portões do inferno para a chegada triunfal daquele que possibilitou a instauração de ruídos sonidos em lugares terrenos. Os solos a seguir remetem às bandas dos anos 70 e com alguns experimentos sem descaracterizar a obra, só para agregar um pouco mais ao sabor deste bolo de insanidade. Os próximos passos trazem um ingrediente vindo da Alemanha, graças ao Desaster, acompanhadas pelos sinos maléficos do inferno. Tempero fundamental para toda banda que preze a cursar tal estudo. Sem perder sua identidade, o que é fator primordial para uma banda, o Evil mantém o alerta ligado e atravessa a ponte dos possuídos com a tranquilidade de um Black Sabbath em seus momentos primários. Mais solos surgem e as guitarras despejam lava sonora nos alto-falantes até que são apagadas na base do chute para que entre a próxima cavalaria e não deixe pedra sobre pedra, sendo que essa emenda é totalmente voltada para o Metal sujo com cheiro de barril velho e ovo de codorna azul.

Do fundo do inferno a fumaça baixa um pouco para que mais uma vez o baixo se destaque, mesmo que brevemente, o que faz as guitarras adentrarem à cena de forma ainda mais abrangente. Tudo está em ordem e a bateria leva todo o aparato para o lugar certo sem maiores sustos. Ou com muito susto para quem não sabe nem do que se trata. O final traz um pouco de Heavy Metal tradicional ao molho repleto de misturas que resultam em um sabor muito palatável por sinal. Quase uma banda de Black/Heavy ou Heavy/Black, dependendo do ponto em que se analisa. Não há como não mencionar outro solo importante do disco e toda a sua façanha em terrenos escaldantes e hipertensos. Uma pequena calmaria aparece para guiar os bravos guerreiros até as últimas tomadas deste full length. Um pouco mais de gasolina no Monza bege arena e vamos adiante até a última curva antes do pedágio infernal com mais uma engenharia muito bem orquestrada por Asura e seus compatriotas. “Enmaten” só poderia destacar o próprio baixista de mesmo nome. Com uma pegada mais Punk, a desgraça segue a todo vapor te dando vontade de entrar na dança com uma garrafa gelada na mão. Abra o porta-malas do carro e convide seu refém para bailar ao som do Evil. Os solos evidenciam uma banda entrosada e confiante, tanto que não se pestaneja ao colocar em prática todas as suas ideias de imediato. Um pouco mais de demolição para salgar a macarronada e isso acaba servindo muito bem como porta de entrada para mais um novo desafio que apresenta um dedilhado bastante convincente para que caracterize um breve mistério do que está por vir. O compasso mais vagaroso traz uma nova janela para os horizontes dos guerreiros de Tokyo. Das profundezas do castelo sombrio ergue-se a voz rasgada de Asura, que apoiado por sua guitarra e contando com a grande parceria de Bishamonten, coloca ordem nos hall do inferno através de muita violência sonora. Sem clemência, diriam os mais ávidos por esta sonoridade. Após o solo, a mesma retoma o ponteiro inicial que marca o compasso lento e intimista, terminando mais essa etapa com o cabo da guitarra causando aquele “efeito” que ocorre muito em shows ao vivo e também durante os ensaios. Possuídos pelo mal, o Evil segue sua viagem nas entranhas do abismo infernal com sua faixa-título.

Existem inúmeras maneiras de viver, e muitas delas são muito ruins. Porém, podem ser boas para quem sente prazer em apreciar as belezas de um mundo obscuro e descontrolado. Vamos ao indulto final com a certeza de que foi um ótimo passeio pelos domínios do Senhor das Trevas, e que a única luz existente é a representação das cordas e da bateria brilhante diante de tanta escuridão. Talvez se optassem por mais velocidade em determinados momentos, a coisa poderia ser ainda mais devastadora no bom sentido certamente. Sempre há espaço para o baixo em canções deste tipo, e na última rota desse destino até mesmo as bases de guitarra ficaram de fora da primeira parte do solo para que seja apreciado cada detalhe e que se tenha uma noção maior desse tipo de canção “antininar”. O álbum termina em alto nível e já coloca o Evil como postulante a ter em breve uma trinca de ases muito requisitada.

Existe uma versão especial do disco contendo três faixas bônus, sendo todas elas versões ao vivo. “地獄の門 The Gate Of Hell” (Live), “歪な梵鐘 Hell’s Evil Bells” (Live), “奈落の底 / Bottom Of Hell” (Live). Quanto ao Evil, é uma banda com qualidade apurada, assim como algumas bandas japonesas das quais eu gosto bastante, que são King’s-Evil e Coffins. Sim, temos outras muito mais famosas e reconhecidas no certame, mas quis exemplificar bandas das quais eu costumo ouvir com mais frequência. Esse estilo de som mais sujo que une elementos mais extremos com linhas mais tradicionais causa reviravolta muito forte e exige muita habilidade para lidar com isso, já que cada detalhe pode colocar a banda em um caminho diferente. Oportunidades não faltaram para que o Evil fugisse do Black/Thrash Metal e partisse em outra direção, mas o seu coração pertence a este subgênero. E mesmo que aconteçam tais experimentos, estes japoneses saberão o que fazer a respeito conforme demonstraram neste mais novo lançamento. Existe uma identidade muito forte sendo forjada no aço negro fúnebre e esta identidade que fará o Evil trilhar caminhos extensos para que possa cada vez mais conquistar o seu espaço nesse belo e competitivo mercado do Heavy Metal.

Nota: 8,9

   

Integrantes:

  • Asura (vocal, guitarra)
  • Enmaten (baixo)
  • Bishamonten (guitarra)
  • Yaksa (bateria)
  •    

Faixas:

  • 1. 六道輪廻 / The Cycle Of Pain
  • 2. 夜叉 / Yaksa
  • 3. 怨殺 / Revenge
  •    
  • 4. 雷神 / Raizin
  • 5. 般若波羅蜜多 / Paramount Evil
  • 6. 首斬り / Reaper
  • 7. 地獄の門 / The Gate Of Hell
  • 8. 歪な梵鐘 / Hell’s Evil Bells
  •    
  • 9. 奈落の底 / Bottom Of Hell
  • 10. 閻魔天 / Enmaten
  • 11. 凶惡 / Possessed By Evil
  • 12. 惡鼻達磨 / Evil Way Of Live
   

Redigido por: Stephan Giuliano

   

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