Oito anos após o fantástico “Surgical Steel”, a veterana banda de Death Metal britânica, Carcass, disponibilizou seu sétimo full lenght, “Torn Arteries”, no último dia 17 de setembro, pelo selo Nuclear Blast. O álbum estava planejado para 2020, porém a pandemia atrasou os planos do power trio, ainda assim, no passado, eles presentearam os fãs com o poderoso EP “Despicable”, o qual eu também tive o prazer de resenhar.
Desde o “Heartwork” (1993), a sonoridade do Carcass vem sendo melhor a cada registro. O Goregrind/Grindcore de outrora foi se transformando em Melodic Death Metal técnico e de “terno e gravata”, em outras palavras, Death elegante que não perde absolutamente nada em peso, atitude e pegada. “Torn Arteries” manteve, com sucesso e mérito, esse conjunto de adjetivos das últimas décadas. Se um alienígena me abduzisse hoje e me exigisse um exemplo de música extrema, eu não hesitaria em mostrar a dos garotos de Liverpool.
Então vamos ao que interessa? Bem, há uma única canção do “Despicable” que também está presente no “Torn Arteries”, pois ela foi lançada como seu single, antes de que os planos mudassem. Quase dois anos depois de seu lançamento, que foi em 13 de dezembro de 2019, “Under The Scalpel Blade” soa cada vez melhor, eis o comentário que fiz na resenha do EP: “’Under The Scapel Blade’ introduz com muito mais velocidade que as faixas anteriores, porém, a exemplo das demais, também varia o seu andamento várias vezes durante sua duração. Bill Steer, certamente, possui uma sacola lotada de riffs variados, tamanha é a diversificação dos mesmos. Os solos de guitarra têm até uma veia Prog/Rock anos 70, mesclada as modernidades que vieram posteriores a essa era.”
Na canção que intitula o álbum, “Torn Arteries”, o baterista Daniel Wilding já a introduz mostrando que está furioso e não quer brincar em serviço. Ademais, ela é um arsenal de riffs complexos que saem da mente criativa de Steer. Jeff Walker, além de completar a cozinha com seu baixo técnico e preciso, torna tudo definitivamente maravilhoso com seus guturais nítidos, brutais e de altíssimo nível. Anote novamente todas essas qualidades citadas e eleve ao quadrado, essa é a melhor forma de descrever a faixa com o estranho nome “Dance of Ixtab (Psychopomp & Circumstance March No.1 in B)”. Ela soa como uma “marcha Death Metal” e, concomitantemente, sustenta uma veia de Heavy Tradicional. Curioso, não? Melhor ainda é ouvir o resultado disso. “Eleanor Rigor Mortis” introduz acelerada e com um solo de guitarra avassalador, porém, poucos segundos depois fica mais pesada e cadenciada, pesando ainda mais após dois minutos de duração.
“The Devil Rides Out” coloca um tempero extra na receita, dando-lhe um up-grade e deixando melhor o que já estava ótimo. A audição fica mais prazerosa a partir de agora. Bill Steer tem a capacidade de se reinventar, gerando riffs que vem das profundezas de sua alma musical. Há aqueles que afirmam que não aprecio músicas que são “grandes”. “Flesh Ripping Sonic Torment Limited” é a prova de que o meu problema não é a música ser grande, mas sim, ser chata (Senjutsu? Sim). “Flesh Ripping Sonic Torment Limited” é absolutamente devastadora e nem sinto seus quase dez minutos passarem. Ela não me causa sono, pelo contrário, desperta em mim mais adrenalina e êxtase. Além de momentos de feeling absoluto com os lindos solos de guitarra. Ao contrário do que é afirmado, é minha favorita do “Torn Arteries”. Chegou a hora do açougue da Kelly. Exatamente, isso. “Kelly’s Meat Emporium” é a mais rápida do disco e também a mais técnica. Toda a adrenalina despertada em sua antecessora serve de combustível para se deleitar com ela. O melhor do registro foi deixado pra reta final. “In God We Trust” é uma música acima da média do que acostumamos ouvir de Metal extremo, aliás, assim como o Death no final de sua curta carreira, o Carcass, nitidamente, não está se apegando a rótulo algum e essa característica tem sido fundamental para o aperfeiçoamento de suas composições.
“Wake Up and Smell the Carcass / Caveat Emptor” é mais uma prova do que foi citado no parágrafo anterior. Variação é a lei que rege o trabalho do power trio inglês. Muitas vezes durante a resenha, eu esqueço que estou escrevendo e acabo por me distrair, boquiaberto, com a imensa qualidade musical do Carcass. Enquanto alguns discos enfadonhos demoram uma eternidade para terminar, registros divinos como este parecem acabar rápido demais. Ao invés de definir “The Scythe’s Remorseless Swing” como a faixa de encerramento, a chamo de a cereja do bolo do “Torn Arteries”, álbum que encerrou brilhando com maior intensidade que começou.
O ano do Death Metal já estava farto de excelentes títulos lançados, mas “Torn Arteries” chegou ao topo da montanha. Carcass jamais decepciona e é sempre indicado para quem gosta de música, excepcionalmente, bem feita e tocada com primor.
Nota: 10,0
Integrantes:
- Jeff Walker (vocal, baixo)
- Bill Steer (guitarra, vocal)
- Daniel Wilding (bateria, vocal)
Faixas:
- 1.Torn Arteries
- 2.Dance of Ixtab (Psychopomp & Circumstance March No.1 in B)
- 3.Eleanor Rigor Mortis
- 4.Under The Scalpel Blade
- 5.The Devil Rides Out
- 6.Flesh Ripping Sonic Torment Limited
- 7.Kelly’s Meat Emporium
- 8.In God We Trust
- 9.Wake Up and Smell the Carcass / Caveat Emptor
- 10.The Scythe’s Remorseless Swing