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Resenha: Angelus Apatrida – Angelus Apatrida (2021)

Gravadora: Century Media Records

   

Falar de uma das bandas que vem prestando um grande serviço ao Metal desde o seu surgimento em meados de 2000 é muito gratificante para o dono da caneta virtual que redige este texto ao nobre leitor. Nos dois shows que o Angelus Apatrida realizou em terras paulistanas, eu estive presente e pude notar de perto a qualidade da banda e suas canções ao vivo. Realmente os espanhóis de Albacete, Castile-La Mancha, são bastante competentes em seus propósitos. O Thrash Metal se apresenta em cada acorde e cada solo feito pelos irmãos Izquierdo e cia. Sobre o disco novo auto-intitulado, este foi lançado via Century Media Records no dia 5 de fevereiro. Sucessor do ótimo “Cabaret De La Guillotine” de 2018, “Angelus Apatrida” (2021) foi gravado no Baboon Records em Albacete, entre setembro e outubro de 2020. Foi mixado e masterizado no Planet-Z, Wilbraham, Estados Unidos. A produção ficou por conta do próprio Angelus Apatrida. O álbum teve os cuidados de gravação feitos por Juan Angel López, enquanto a mixagem ficou nas mãos de Christopher “Zeuss” Harris. A arte de capa carrega a assinatura de Gyula Havancsák. Além disso, a banda providenciou dois videoclipes para as faixas “Bleed The Crown” e “Indoctrinate”.

“Bleed The Crown”:

Algumas curiosidades representaram os dois shows que citei no início desta epístola. No primeiro show que aconteceu no dia 10 de abril de 2016 no lendário Hangar 110, em São Paulo, capital, uma das bandas que abriram o espetáculo, os paulistanos do Woslom acabaram tocando com o ‘backdrop’ do Angelus Apatrida atrás do seu próprio pano de fundo, só que o backdrop do Woslom era menor e um dos “A’s” do Angelus Apatrida ficou aparente, praticamente fazendo parte no nome Woslom. A partir daí eu comecei a brincar chamando o Woslom de “WoslomA”. Fora isso, ambas as apresentações foram matadoras. A banda que abriu as cortinas naquela excelente noite era o Red Razor de Santa Catarina, que também fez um ótimo papel. Já no segundo show realizado no dia 15 de dezembro de 2019, teve a presença das bandas: Delinquentes, Desalmado, Blasthrash e Hatefulmurder. O show aconteceu na Fabrique Club, casa de shows esta que substituiu a extinta Clash Club, porém, ainda residindo na mesma rua. Próximo do fim do evento, o guitarrista David G. Álvarez desceu do palco e foi tocar no meio da galera. Uma pena que tanto o primeiro e principalmente o segundo show foram ruins de público, evidenciando o desinteresse por novidades dentro do Rock/Metal. Mas, eu não compacto com tanta ênfase nesse aspecto por ter presenciado uma maior diversidade em questão de gerações que acompanharam ambos os shows. O público foi variado, apesar de bastante reduzido. Ditas as curiosidades, vamos ao que mais interessa que é falar da nova obra dos residentes de Albacete. É Albacete e não abacate ouviu bem, meu caro Watson?

Conforme citei no início, a banda disponibilizou dois videoclipes para as faixas “Bleed The Crown” e “Indoctrinate”. Como se trata de singles lançados antes do material completo, eu vou adiante ao processo e decifrar as outras faixas que complementam o álbum novo. E sem tornar a viagem entediante vou direto ao assunto (pegando um dos jargões famosos do consagrado jornalista José Nêumanne Pinto) sem pausar o lance o tempo todo. Calma, pois acho que merecem sim uma análise mais apurada do que simplesmente isso. O tanque de guerra está ligado e com munição de sobra. Então, aproveitando o bom momento digo que as filmagens dos vídeos tiveram resultados muito gratificantes, enquanto as faixas em si apresentam um Angelus Apatrida bem mais agressivo que em muitos momentos do disco anterior, colocando à tona os álbuns “The Call” (2012) e “Evil Unleashed” (2006) como fontes de ilustração e inspiração. A primeira estaca a ser fincada na trama carrega a doutrina de levar o ouvinte ao campo de batalha o mais rápido possível. Com uma intro daquele naipe em que você liga a guitarra e deixa ecoar aquele som estridente das cordas vibrando quase que sem querer e logo descamba para as primeiras notas raivosas da “múzga”. Com freadas bruscas típicas do estilo, o tanque de guerra espanhol coloca ordem na casa e convida a quem ouvir nota por nota a entrar no clima e despejar sua ira da melhor forma possível. Nada como um ‘headbanging’ inicial. Os solos apimentam ainda mais o cardápio por aqui. “Foda-se o que você prega / Seu discurso ditatorial / Uma lição sangrenta para ensinar / Aqui estão seus cães para domar” – em uma Era repleta de comentários vazios de quem não sabe absolutamente nada, mas que grita aos quatro cantos achando que entende de tudo, você se vê jogado no meio dessa multidão que clama por um ditador do coração e que somente o que ele prega é o que está certo. É o que serve e está justo. Porém, é totalmente o contrário. Já a segunda coloca turbo no montante cavalar que se locomove por esteiras ao invés de pneus. Passagens muito bem trabalhadas e encaixadas tornam a faixa ainda mais destruidora do que aparentava ser. Novamente os solos apresentam um requinte alto de qualidade e crueldade no bom sentido da coisa. Há um pouco de Kreator e Testament nos mínimos detalhes, o que enriquece ainda mais a obra. “A adversidade chegou / Em nome da destruição em massa / Adore o messias autoproclamado / Além do que é certo e errado / Um labirinto de pensamentos / Roda da fortuna inesperada / Para encher os corações fracos com coragem / Para beber a culpa do cálice” – uma espécie de continuação do que fora contado na canção anterior, só que voltado para a falsa importância da coroa que aparentemente é algo especial para muitas pessoas desavisadas, mas que para quem consegue abrir a mente é algo que simplesmente deve sangrar para que os oprimidos sejam vingados.

   

Após a dobradinha inicial sensacional, “The Age Of Disinformation” fecha a primeira trinca de forma magistral. A ideia passada nos dois sons anteriores é mantida, o que alegra e muito o responsável por cada palavra nesta conferência musical. Guillermo e David produzem linhas de guitarras capazes de distorcer o seu mapa mental, caso não se atente ao que está acontecendo. “É tudo sobre o falso, quanto mais você consegue, menos você lê / Sua felicidade aumenta à medida que você está sendo enganado / Repita mentiras, crie laços, a propaganda perfeita” – uma mentira contada milhares de vezes acaba por se tornar a maior das verdades e isso está se tornando cada vez mais problemático ao invadir as cabeças vazias de muitas pessoas que agem conforme seus “ídolos de barro” dizem, ao invés de procurarem saber do que realmente se trata cada acontecimento. Com a mente fechada isso dificulta muito mais. Mas, ainda há esperança para reduzir toda essa desinformação… “Rise Or Fall” mantém a banda no prumo sem entortar a parede e desfazer o esquadro. Através da massa bem feita, a construção segue de vento em polpa mostrando o Angelus Apatrida em grande fase, despejando toda sua técnica e energia no mais puro ódio em forma de música. As linhas de baixo de José Izquierdo evidenciam a experiência adquirida pela banda com o passar dos anos. Esta é a faixa mais curta do disco, possuindo 3 minutos e 37 segundos de duração. A ascensão da canção revela a queda da nação perante seus líderes obtusos e obsoletos.

“Childhood’s End” possui uma sonoridade que condiz muito bem som seu significado. Realmente consigo imaginar o fim da infância através das notas mais agudas misturadas ao peso tradicional e toda a estrutura oferecida pela banda. Todos os integrantes executam suas partes com maestria, o que vale toda a viagem feita até o presente momento. A infância acaba sendo perdida por conta da pressa em tornar adultas as nossas crianças. Já se foi o tempo em que se estourava o tampa do dedão jogando bola na rua. A molecada praticamente nasce querendo tablet. Por um lado é interessante, mas pelo outro acaba por ser frustrante. Afinal, ter infância é muito importante para a formação de cada ser. “Disposable Liberty” chega de forma mais carregada, mas com a mesma voracidade desde o princípio, mantendo o equilíbrio desse novo full length. O baterista Víctor Valera demonstra toda sua habilidade na arte percussiva sempre em alto nível. A liberdade se tornou descartável quando não se tem tempo para nenhum tipo de lazer. O campo monótono invade a vida da pessoa e a torna escrava de si mesma, e dependente dessa falsa tradição. “We Stand Alone” te coloca em um desfiladeiro pronto para mergulhar em uma guerra de riffs sem precedentes e com a confiança redobrada. Não se sabe se você sobreviverá ao desafio, mas a chance é boa. Afinal, os ótimos padrões seguem mantidos até mesmo nos solos que são destaques à parte. Estamos sozinhos nessa, mas podemos nos juntar com nossos amigos e entes queridos para prosperar e nos ajudar de certa forma. Enquanto a nossa mente estiver intacta, estaremos fortes para encarar e resolver cada questão por mais impossível que ela possa aparentar.

Atrás do vidro vemos o reflexo tanto daqueles que dizem guiar a população para o bem quanto o próprio povo cabisbaixo sem saber o que fazer ou para onde ir. Aceitando qualquer coisa dita sem questionar nada, tudo fica atrás da vidraça sem que se deseje descobrir o que por trás do que é dito e visto de fora. “Through The Glass” traz um pouco do tempero do álbum anterior e amplia o marcador em seu favor. Com suas variações cadenciadas e mais extremas e velozes, o “Angelão” da massa atravessa o horizonte com mais uma cartada certeira. Mais uma vez os solos convencem de longe e com esse desfecho até pouco antes do fim do disco, eu posso me arriscar a dizer que se trata de um dos grandes trabalhos do ano vigente. O império repleto de vergonha e nenhum feito positivo é vociferado em “Empire Of Shame”, penúltima faixa de “Angelus Apatrida” que consegue deixar o ouvinte ainda mais empolgado em fazer parte dessa aventura “muzgal”. Sim! A pancadaria continua correndo nas veias de cada integrante e é desferida aos seus fãs sem que dê tempo de falar mal mesmo que por dizer simplesmente. A corrupção dos genocidas engravatados e o conchavo dos insetos rastejantes que usam toga, sempre se achando acima do bem e do mal aumenta numa velocidade jamais vista antes. Não que seja algo novo, pois nesse país sempre foi assim, só que ficou mais explícito e com uma população cada vez mais imbecil e inóspita, tudo fica ainda mais viável para todos esses canalhas que merecem morrer incinerados imediatamente. Desculpe o pequenino desabafo, mas a vergonha é tanta que não poderia deixar de citar um dos meus dizeres costumeiros sobre os líderes tiranos desta nação.

“Indocrinate”:

“Into The Well” é a finalização ideal e fecha o disco da melhor maneira possível e foi muito bem escolhida. O fundo do poço é logo ali, diria quem vos redige. Mas, não podemos pensar simplesmente assim. Afinal, se não lutarmos por nosso bem-estar. Quem lutará por nós? Para completar temos aquele breve momento clássico da vertente narrado como se fosse um canal de TV avisando pelo pior. Até mesmo os solos possuem cara de fim do álbum, mas aquele fim digno e com classe, já colocando uma vontade extra de ouvir tudo de novo e também pela espera do álbum que sucederá esse álbum de 2021. O fim do disco se assemelha ao início do mesmo. Esplêndido! Concluo dizendo que é realmente um álbum raivoso feito em tempos extremamente difíceis e com pessoas estragando e atrasando cada boa ideia que surge sem que as mesmas possam receber os devidos investimentos. Em tempos que parece que roubar é algo comum e normal, a música continua a prevalecer e fazer tudo ainda possuir seu valor. Viver é o ideal a se fazer e viver ouvindo boa música é ainda mais prazeroso e gratificante. A luta continua, mantendo a mente leve sem se deixar levar por más influências, sejam elas líderes de nações ou pessoas ruins à nossa volta. O Angelus Apatrida está ai com um trabalho ainda mais destruidor que o anterior, e promete se firmar cada vez mais no cenário mundial. Que assim seja!

   

“Slaves, dependents, victims of technology

Exposed to a world of lies

Living through the age of disinformation”

Nota: 9,2

   

Formação:

Guillermo Izquierdo (guitarra, vocal)

David G. Álvarez (guitarra)

José J. Izquierdo (baixo)

Víctor Valera (bateria, vocal de apoio)

   

Faixas:

1. Indoctrinate

2. Bleed The Crown

3. The Age Of Disinformation

4. Rise Or Fall

   

5. Childhood’s End

6. Disposable Liberty

7. We Stand Alone

8. Through The Glass

9. Empire Of Shame

   

10. Into The Well

Redigido por: Stephan Giuliano

   
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