As brigas, discussões e disputas legais, no final das contas, acabam sendo tão marcantes quanto a qualidade musical de certas bandas. Contudo, no caso do Alcatrazz, podemos fazer esse tipo de afirmação tranquilamente.
É preciso entender o passado
Desde os tempos de Yngwie Malmsteen, Steve Vai ou Danny Johnson, o grupo sempre foi visto como um barril de pólvora prestes a explodir. Muito dessa fama podemos colocar na conta do ex-vocalista (ao menos desta versão do Alcatrazz) Graham Bonnet.
Ninguém discute a importância de trabalhos como “No Parole From Rock ‘N’ Roll” ou “Disturbing The Peace”, mas a grande realidade é que mesmo com formações extremamente competentes e contando com o talento de guitarristas que se tornaram verdadeiras lendas de seus instrumentos, o Alcatrazz não conseguiu mais do que alguns “voos de galinha” no competitivo mercado fonográfico dos anos 80.
![](https://www.mundometalbr.com/wp-content/uploads/2023/09/alcatrazz-live.jpg)
Os anos foram passando, os jovens músicos se tornaram ilustres senhores e o Alcatrazz virou uma lembrança longínqua de um momento que parecia não poder mais ser alcançado. Pelo menos até idos de 2017, quando Graham Bonnet decidiu se juntar novamente aos seus antigos colegas, o baixista Gary Shea, assim como o tecladista Jimmy Waldo, para tentar trazer a banda de volta do mundo dos mortos.
O tiro que saiu pela culatra
É claro que nem o bom desempenho de “Born Innocent”, disco que marcou o retorno do grupo em 2020, foi capaz de acalmar o espírito encrenqueiro de Bonnet e, logo depois da turnê de divulgação do novo trabalho, o cantor tentou organizar uma “reformulação” no line-up do Alcatrazz. Isso acabou dando muito errado para ele e, ao tentar retirar da jogada os músicos da atual formação, foi ele quem acabou sendo retirado de cena.
Durante muito tempo, o vocalista bradou aos quatro cantos do mundo que ele era o dono da logomarca Alcatrazz, mas Gary Shea e Jimmy Waldo não concordavam nem um pouco com tal afirmação e resolveram brigar judicialmente com Bonnet. O resultado dessa disputa foi o seguinte: não se tem elementos conclusivos para afirmar que nenhuma das partes é a detentora exclusiva do nome. Sendo assim, Gary Shea e Jimmy Waldo possuem tanto direito de ostentar a bandeira do Alcatrazz quanto Graham Bonnet.
![](https://www.mundometalbr.com/wp-content/uploads/2023/09/alcatrazz-band.jpg)
Sabendo disso, a atual formação não se sentiu constrangida ao dispensar o senhor Bonnet sem cerimônias. Obviamente, o antigo vocalista parece estar providenciando um novo álbum com uma outra formação diferente e muito provavelmente também usará o nome Alcatrazz.
Confuso? Pois é…
The Road So Far…
Por hora, saiba que este Alcatrazz ao qual estamos falando é constituído da formação de “Born Innocent”, de 2020, mas sem a presença de Graham Bonnet. Este é o Alcatrazz que está na ativa, por hora.
Em 2021 lançaram o álbum “V” e, no último dia 19 de maio deste ano, nos presentearam com este discaço chamado “Take No Prisioners”. Para o lugar de Bonnet, temos ninguém menos que Doogie White (Rainbow, Tank, Yngwie Malmsteen, Michael Schenker’s Temple of Rock e Michael Schenker Fest). Portanto, nada de sustos ou apostas. Doogie White é aquele tipo de cantor que você convida para executar um trabalho sabendo que o mesmo irá alcançar os padrões desejados de qualidade.
![](https://www.mundometalbr.com/wp-content/uploads/2023/09/alcatrazz-live-doogie-white.jpg)
Seguindo a identidade musical do álbum anterior, “V”, porém, fazendo um link mais direto e certeiro com os dois primeiros discos de estúdio dos anos 80, “Take No Prisioners” apresenta uma coleção de hinos repletos de refrãos pegajosos e andamentos insinuantes.
Começo instigante!
Desde a abertura com a energética “Little Viper”, até o encerramento com “Bring On The Rawk”, este é um disco que abre pouco espaço para qualquer demérito. Você pode gostar menos de alguma canção em específico, mas jamais conseguirá dizer honestamente que se tratá de uma faixa ruim.
Falando um pouco sobre o tracklist, depois do excelente começo com “Little Viper”, “Don’t Get Mad… Get Even” conta com a participação especial das “meninas” do Girlschool nos backing vocals e não decepciona. “Battlelines” é aquele tipo de música despretensiosa, daquelas que quando você cai em si já está cantarolando suas linhas vocais.
“Strangers” é uma aula de como se construir uma power ballad robusta e funcional. É preciso dizer que depois da metade a música ganha peso, velocidade e, por fim, apresenta solos que poderiam muito bem ter sido compostos por Yngwie Malmsteen. “Gates Of Destiny” é uma delícia de canção, uma das minhas favoritas de 2023. Ela possui de tudo um pouco, desde guitarras gêmeas, ótimos riffs, outro daqueles refrãos para se levantar o punho para o alto e cantar junto, até cavalgadas rítmicas a lá Iron Maiden.
Tracklist moldado com precisão
A canção autointitulada “Alcatrazz” traz um pouco de velocidade e soa como algo entre “No Parole For Rock ‘N’ Roll” e os primeiros dias de Malmsteen com o “Rising Force”. Muito interessante esta ligação com o guitarrista sueco, certamente, deve ser uma das grandes influências de Joe Stump, atual encarregado pelas seis cordas da banda. “Holy Roller”, “Power In Numbers” e “Salute The Colours” aparecem no final do tracklist e trazem algo em comum: ritmos groovados e linhas melódicas repletas de muito bom gosto. Uma trinca que merece repeat e audições mais cuidadosas.
No final ainda temos a majestosa “Bring On The Rawk”, que eleva o nível da audição e termina o disco em grande estilo. Veloz, direta e com backing vocals precisos, certamente, será uma das escolhidas para os shows ao vivo e deve fazer sucesso entre os fãs.
Independente de gostarmos ou querermos a presença de Graham Bonnet em um disco do Alcatrazz, é importante deixar claro que o nosso compromisso é com a boa música. E neste quesito este álbum é de uma precisão ímpar.
Obrigado, voltem sempre!
Se “V”, de 2021, não chamou muito a atenção dos críticos em geral, “Take No Prisioners” parece colocar a banda nos trilhos novamente e, o mais importante, aponta para um horizonte vasto e interessante.
Em um ano com tantos lançamentos neste subgênero em específico, o Alcatrazz era de longe um nome que não causava a menor comoção e nem gerava maiores expectativas. Chegou silencioso, causou boa impressão e, após alguns meses, é um dos álbuns mais frequentes nas minhas audições.
![](https://www.mundometalbr.com/wp-content/uploads/2023/09/doggie-white-alcatrazz-1024x576.jpg)
Não traz nada de novo, não reinventa a roda, não proporciona nenhuma grande revolução musical, assim como não se aventura por estradas temerosas. Ao contrário disso, usa e abusa dos clichês e fórmulas mais óbvias possíveis. Mas faz com extrema sabedoria e
classe.
Indicado a todos os fãs daquele Heavy Metal/Hard ‘N’ Heavy oitentista. Disco para dar play, abrir uma cerveja e mergulhar na sonoridade.
Nota: 8,7
Integrantes:
Gary Shea (baixo)
Jimmy Waldo (teclado)
Joe Stump (guitarra)
Doogie White (vocal)
Larry Paterson (bateria)
Faixas:
- Little Viper
- Don’t Get Mad…Get Even
- Battlelines
- Strangers
- Gates of Destiny
- Alcatrazz
- Holy Roller (Love’s Temple)
- Power in Numbers
- Salute the Colours
- Bring on the Rawk
Redigido por Fabio Reis