Este é um tema que causa opiniões divergentes desde que foi mencionado pela primeira vez há alguns anos atrás. Enquanto uma parte dos fãs acha uma idéia muito legal e encara como uma bela homenagem ao falecido cantor, outra parte do públuco enxerga um desrespeito com sua memória e exploração indevida da imagem de Dio.
O atual vocalista do Quiet Riot, Jezzy Pearl, cedeu uma nova entrevista ao podcast “Cobras & Fire” e acabou ressuscitando o assunto. A banda Jezzy Pearl’s Love/Hate era quem fazia o show de abertura para o o holograma na “turnê” Dio Returns, de 2019, e sobre isso o músico comentou o seguinte:
“Bem, na época, todo mundo estava meio que criticando muito a Wendy (viúva de Dio), mas eu era a banda de abertura, então senti que era meu dever defendê-la. Tenho sentimentos mistos sobre isso, admito. Whitney Houston, eles estão fazendo um holograma dela em Vegas agora, e será um show completo. Se as pessoas quiserem ir ver, tudo bem. Se elas não quiserem ir ver, tudo bem também. É como bandas como nós, Quiet Riot ou Warrant ou Night Ranger. Se você não quer ir, não vá. Se você gosta disso, divirta-se. Então esse é o meu sentimento sobre isso no momento.”
O holograma de Dio apareceu pela primeira vez no Wacken Open Air de 2016. Na ocasião, a Dio Disciples, uma espécie de banda tributo que conta com diversos músicos que tocaram com Dio em vida, executaram um set com faixas de todas as fases da carreira do falecido cantor e, no final, o holograma aparece para deleite do público tocando o clássico “We Rock” com a voz original de Dio. Veja as imagens:
O grande problema é que não parou por aí e o holograma deixou de ser apenas uma homenagem para se transformar em uma turnê oficial no ano seguinte. Os ingressos para assistir ao holograma variavam entre R$500,00 e R$1.000,00 e foi aí que muitos fãs começaram a tecer críticas ferrenhas. Muitos se lembraram que quando Dio estava vivo, algumas dessas pessoas que estavam indo ver o holograma por um preço obsceno, não pagaram valores muito mais baixos pra ver o músico em vida. E para aqueles que se justificaram dizendo que não tiveram a oportunidade de ver o show com Dio ainda vivo, a verdade precisa ser dita, o holograma não vai mudar isso. Não era ele tocando!
Wendy tem os direitos autorais sobre tudo que envolve o legado de Dio, sendo assim, ela pode fazer o que achar com a obra do músico, mas vamos ser justos, além do preço ser um tanto salgado, chamar a tour de “Dio Returns” foi algo um tanto mórbido. Ronnie se foi e nunca irá retornar, o holograma é apenas técnologia empregada em entretenimento. Ok, não é certo demonizar Wendy, até por que ela tem muitas qualidades e até podemos entender que a viúva do músico queira manter o nome em evidência, queira manter a marca e o legado vivo. Principalmente, não devemos esquecer que Wendy ainda pratica ações filantrópicas assim como seu marido. A ‘Ronnie James Dio Stand Up e Shout Cancer Fund’, por exemplo, ajuda na pesquisa e desenvolvimento de tratamentos e medicações contra o câncer.
Wendy disse recentemente ao programa Full Metal Jackie:
“Não critique se você ainda não viu. É feito com amor. A banda adora fazer isso. E nós só queremos manter viva a memória de Ronnie e sua música.”
Perceba que neste ponto trilhamos um caminho tortuoso (para não dizer perigoso). Nós sempre mantivemos a memória de nossos ídolos viva e nunca necessitamos de um holograma para isso. Vamos raciocinar, quantos artistas importantes faleceram? Seria justo termos shows com hologramas de Jimmi Hendrix, Janis Joplin, Freddie Mercury, David Bowie ou Motorhead? Até que ponto você está realmente assistindo a um show ao vivo e não um mero DVD em 3D? Se essa moda pega, imagine bandas com pessoas de verdade que vivem da música de verdade e precisam pagar suas contas e sobreviver. Certamente estas pessoas iriam perder espaço para hologramas que no final das contas irão enriquecer apenas a empresa que os fabrica e produtores de eventos. Onde está a arte nessa história? Onde está o talento musical? O que seria do futuro da música se pudéssemos recriar apresentações de Beethoven, The Beatles e tantos outros? Creio que o ideal é deixarmos os músicos descansarem em paz, é o mínimo que podemos fazer por aqueles que marcaram nossas vidas de tantas maneiras diferentes. Ninguém vai poder ver mais um show ao vivo de gente como Dio, Elvis ou Lennon. O legado ainda vive e sempre viverá, a obra é imortal e não precisamos de uma ilusão de ótica tecnológica substituindo os nossos heróis.
Definitivamente, Dio não retornou, mas se alguém quiser pagar R$1.000,00 ou mais para assistir ao holograma, isto é uma decisão bastante individual. Eu jamais pagaria. E você?